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No seu clássico História da Imprensa no Brasil (1999), Nelson Werneck Sodré estabelece a seguinte divisão temporal ou fases para a história da imprensa no Brasil10:

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Outros autores importantes estabelecem diferentes divisões temporais para a história da imprensa brasileira. Juarez Bahia (1990) considera as seguintes fases: Fase Inicial; Fase da Consolidação; Fase Moderna; e Jornalismo Contemporâneo. Já Carlos Rizzini (1946) prefere estabelecer uma cronologia de implantação da imprensa no Brasil, dividindo-a em três fases: 1808-1811, 1821, 1824-1852, tomando por referência a data em que as atividades de impressão tipográfica passaram a funcionar regularmente em cada região do país. Para Roberto Seabra (2002), são cinco as fases para o desenvolvimento do jornalismo brasileiro: jornalismo literário; jornalismo informativo estético; jornalismo informativo utilitário; jornalismo interpretativo; e jornalismo plural.

1. A imprensa colonial

2. A imprensa da independência

3. O Pasquim

4. A imprensa do Império; e

5. A grande imprensa.

No período por ele denominado de Imprensa Colonial, Sodré destaca o controle da informação e as dificuldades que a imprensa vivia mesmo em Portugal. Os impressos tinham de passar por diferentes instâncias responsáveis pela censura, como a Inquisição e a Censura Régia. A mudança da corte para o Rio de Janeiro não altera em nada essa realidade. O diário que passa a ser publicado aqui permanece submetido às mesmas condições impostas pela censura.

As demais publicações que vão surgir ainda nesse período, como A Idade de

Ouro do Brasil, em Salvador e outros títulos de vida efêmera, vão formar o que

Sodré chama de Imprensa Áulica. Segundo esse autor, esse período se constitui na proto-história do jornalismo brasileiro, relevante unicamente do ponto de vista cronológico e que tinha como motivação apoiar o absolutismo como forma de governo, que em declínio precisava ―ver proclamadas as suas virtudes, de difundir os seus benefícios, de, principalmente, combater as ideias que lhe eram contrárias‖ (SODRÉ, 1999:29).

Esses periódicos do elogio e da louvação ao rei têm como principal motivação para suas existências opor-se ao Correio Braziliense, de Hipólito da Costa. Ainda segundo Sodré (1999:30), surgem como ―folhetos de tipo panfletário e completando- se, logo depois, como órgãos específicos de jornalismo‖. Alguns eram impressos nas oficinas da Impressão Régia e chegavam a ser enviados a Lisboa, onde passaram a circular depois da expulsão dos franceses.

Para Sebastião Breguez (2000), o jornalismo brasileiro se desenvolveu da seguinte maneira: jornalismo opinativo e ideológico; jornalismo informativo e jornalismo interpretativo.

É o próprio Sodré quem resiste em reconhecer este tipo de periódico como imprensa. Para ele, o único critério possível para enquadrá-los nesta categoria é o cronológico. E conclui: ―a fase serve, entretanto, para caracterizar a adversidade de condições políticas para o estabelecimento da imprensa. Porque, na verdade, as condições materiais começavam a surgir‖ (Ibidem:34), referindo-se à proliferação das oficinas artesanais de impressão que se verifica na colônia.

Entretanto, os números levantados por Marques de Mello indicam que durante o período em que a corte portuguesa esteve no Rio de Janeiro, somente duas cidades, Rio de Janeiro e Salvador, contavam com tipografias que funcionavam regularmente. Nas demais cidades, apenas depois de 1821, ou seja, após a Revolução do Porto, foram instaladas oficinas tipográficas. Mesmo assim, em algumas regiões mais remotas, levou mais de trinta anos para que os serviços de impressão estivessem disponíveis, como em Manaus, por exemplo, que só foi contar com esse tipo de atividade em 1852.

(...) a dinamização da imprensa em terras brasileiras só vai ocorrer depois da abolição da censura prévia no Reino. Se, até 1821, funcionaram regularmente tipografias em apenas 2 cidades (Rio e Salvador), a partir daquele ano mais quatro receberiam os seus benefícios (Recife, S. Luís, Belém, Vila Rica) (MELO, 1973:91).

Mas as tais condições políticas surgiriam sob a forma de um movimento revolucionário que se dá na cidade do Porto, em 1820. Uma das consequências mais importantes deste levante (que envolve não só os cidadãos, mas também parte da guarnição militar) é a discussão sobre a liberdade de expressão em Portugal e, por fim, o próprio processo de independência do Brasil.

Inicialmente, a revolta não pugnava por mudanças radicais. Nem mesmo pretendia estabelecer um regime republicano. O objetivo era transformar Portugal de monarquia absolutista em monarquia constitucional, obrigando o rei a jurar uma constituição que ainda estava para ser escrita.

Os revolucionários liberais eram, de qualquer modo, moderados. Não cogitaram da instauração de um regime republicano. Queriam, apenas, criar uma monarquia constitucional, mantendo a casa reinante e preservando, se possível, a maior parte das instituições.

Vedavam os revolucionários excessos ou abusos para não assustar, talvez, o Soberano, que queriam de volta à Metrópole, e para não afastar certos grupos moderados, cujo apoio era indispensável. Os liberais do Porto, em suma, lutavam pela instauração de um regime, no qual a constituição assegurasse que El‘Rei ouviria seu bem-amado povo nas coisas da governação pública (COSTELLA, 1970:27).

Com relação à imprensa, o governo provisório que se instalou em Portugal estabelece que ―aos redatores dos periódicos e papeis que se imprimam nestes reinos, serão responsáveis à Justiça pelos ataques e insultos feitos a pessoas particulares‖, isso quando ficasse comprovado que os periódicos haviam inserido cartas, notas ou comunicações anônimas. Assim, o jornalismo português toma grande impulso, com o surgimento de várias publicações e o aumento exponencial do número de leitores. ―Sente-se que em Portugal não mais havia censura‖ (Ibidem:29).

A questão da liberdade de imprensa tomou grande vulto e ocupou boa parte das discussões da assembleia constituinte portuguesa. O projeto apresentado em 5 de fevereiro de 1821, e que tratava da liberdade de expressão em Portugal, tinha como inspiração a legislação espanhola sobre o assunto.

Assim, a liberdade de imprensa ganhava a condição de ―salvaguarda da constituição‖, que no seu artigo 1º estabelecia que ―todo português tem direito de publicar os seus pensamentos sem necessidade de censura prévia‖.

Mesmo prevalecendo a ideia de que a liberdade de imprensa era uma questão fundamental para o fim do absolutismo em Portugal, a assembleia constituinte achava-se dividida quanto ao controle que o Estado deveria exercer sobre jornais, livros, panfletos e outras formas de expressão política.

Parte da assembleia pleiteava a completa liberdade de imprensa, sem nenhum mecanismo de controle ou de coerção. Outro grupo aceitava, de forma genérica, a liberdade de imprensa, admitindo, porém, a censura nos escritos que atacassem os dogmas e a moral católica (chamada de ―censura dos bispos‖) e havia, ainda, outra parcela que pretendia a censura prévia a toda e qualquer forma de expressão escrita.

D. João VI protelou o quanto pode responder aos liberais do Porto, o que os levou a criar um governo provisório tendo como referência a constituição espanhola

de Cádiz. Este documento faz alusão direta à liberdade de imprensa, garantindo que todos os cidadãos tinham a liberdade de escrever, imprimir e publicar suas ideias políticas, sem necessitar de licença ou autorização prévia (Ibidem:29).

No Brasil, o movimento do Porto repercutiu imediatamente. D. João questionou a legalidade das medidas tomadas pelo governo provisório, principalmente a convocação de uma assembleia constituinte. A questão maior girava em torno da volta do rei a Portugal, condição apresentada pelo governo provisório como fundamental para que o processo de transformação do país numa monarquia constitucional se desse sem maiores conflitos.

Ao hesitar, D. João deixava claro que seu desejo era o de permanecer no Brasil, mas sabia dos riscos que corria se tal decisão prevalecesse, com a muito provável perda dos privilégios da nobreza portuguesa. Foi nessas condições que começaram a circular no Rio de Janeiro e em Lisboa panfletos que reproduziam a correspondência de conselheiros e membros do gabinete português com argumentos contra e a favor da volta do rei a Portugal.

Segundo Isabel Lustosa (2000), foram esses panfletos que deram início, no Brasil, à prática de utilização de impressos para discutir os problemas do país, aproveitando-se do fim da censura prévia.

O que tornaria bastante comum após a liberação da imprensa e seria adotado tanto por personalidades como José da Silva Lisboa, quanto por gente de extração mais simples, como João Soares Lisboa e Stephano Grondona, entre outros. Era nesse tipo de prática que [o Visconde de] Cairu, um dos mais próximos colaboradores do rei, localizaria justamente o perigo da liberdade de imprensa (LUSTOSA, 2000:91).