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CAPÍTULO V – A TRANSIÇÃO SE COMPLETA OU NÃO

5.5 TIPIFICAÇÃO DAS AÇÕES SOCIAIS PRESENTES NA ATIVIDADE

5.5.2 O Jornalista

No que refere ao jornalista, aquele responsável pela construção do discurso jornalístico, identificamos três aspectos que nos permitem avaliar suas ações sociais nos diferentes modelos de jornalismo aqui analisados. São eles:

a) Origem

No jornalismo partidário, a origem dos jornalistas era predominantemente ligada à elite. Eram figuras destacadas no ambiente político, provenientes, em sua maioria, de famílias ricas, normalmente com interesses na agricultura e desempenhando importantes funções junto à burocracia imperial. Quase todos são advogados por formação.

Por outro lado, os jornalistas que atuaram no jornalismo informativo tinham uma origem mais diversificada, com representantes da elite (a maioria deles atuando como dirigentes nas empresas) e com profissionais oriundos de classes intermediárias, filhos de comerciantes e de funcionários públicos que compunham parte considerável de uma sociedade que se urbanizava rapidamente.

b) Formação

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No período que antecede ao jornalismo informativo no Brasil não havia o

jornalista. Os jornais eram feitos por idealistas, doutrinadores de viés iluminista, que

usavam os jornais para defender suas ideias ou simplesmente influir nos acontecimentos políticos.

A formação dos jornalistas do período partidário acompanhava o que acontecia em outros setores da sociedade. A maioria era de bacharéis em Direito. Alguns poucos tinham outra formação superior (médicos e engenheiros). E havia, ainda, um pequeno número de jornalistas oriundos das escolas militares.

Esse tipo de formação dava aos jornalistas uma visão muito particular dos problemas. As divergências eram, em grande parte, em relação a aspectos conjunturais. Na essência, a posição e a visão de mundo eram muito parecidas, independente do posicionamento político dos jornais para os quais escreviam.

Com a imprensa informativa a formação dos jornalistas se altera. Apesar de ainda existir um número considerável de bacharéis, já é possível encontrar profissionais que aprenderam o ofício nas próprias redações (Irineu Marinho e Roberto Marinho são exemplos típicos).

Invariavelmente, a formação desse novo jornalista começava muito cedo. Era preciso ter certa competência linguística para garantir o acesso à corporação. O mais comum era o jovem aspirante à jornalista empregar-se como revisor.

A revisão era uma tarefa que tomava muito tempo e exigia uma quantidade razoável de pessoas, principalmente por conta do processo de composição manual dos textos que gerava muitos erros que precisavam ser corrigidos antes da impressão.

A leitura regular dos textos produzidos pelos jornalistas veteranos dava aos jovens revisores uma familiaridade com as expressões e com os arranjos discursivos utilizados na construção das matérias, o que os credenciava a partir, eles próprios, para a redação das notícias.

E assim se dava a formação dos novos profissionais, acompanhados de perto pelos jornalistas mais experientes, que identificavam e apadrinhavam aqueles que julgavam dotados de vocação e disposição para a profissão.

A preocupação em oferecer uma formação específica para os jornalistas surge ainda no início do século XX, quando a Associação Brasileira de Imprensa discute a questão e tenta implantar os primeiros cursos de jornalismo, o que só iria ocorrer na década de 1930 na Universidade do Distrito Federal.

Com o predomínio do jornalismo informativo as redações passam a valorizar o trabalho dos jornalistas profissionais, que se dedicam permanentemente à atividade, o que irá exigir competências e habilidades àqueles que se dispunham a atuar na área, reforçando a necessidade de uma formação específica.

c) Rotinas

Quando nos referimos às rotinas, temos em mente as tarefas regularmente desempenhadas pelos jornalistas em suas atividades. No período partidário, essas tarefas eram realizadas quase que totalmente nas redações. Eram os chamados ―jornalistas de gabinete‖. Boa parte do tempo dedicado ao trabalho jornalístico era dispendida em atividades internas, como a leitura e a pesquisa de informações, além do tempo reservado à redação e à revisão dos textos.

Com as mudanças trazidas pela implantação do jornalismo informativo alteram-se, definitivamente, as atividades desempenhadas pelos jornalistas. O trabalho nos jornais deixa de ser um ―bico‖, uma complementação de renda para exigir maior dedicação.

Repórteres, redatores e revisores passam a compor um quadro fixo de funcionários que cumprem uma rotina de trabalho bem delineada, segundo uma lógica administrativa que privilegia a especialização e a divisão racional das tarefas.

Os profissionais passam a exercer atividades específicas de acordo com o setor do jornal em que estão inseridos. Havia os redatores encarregados de acompanhar e redigir as notícias internacionais e nacionais que chegavam em forma de telegramas, enviados pelas agências de notícia sobre acontecimentos no exterior ou em outros estados.

Aos repórteres competia ir às ruas em busca da informação factual, principalmente os crimes e fatos inusitados de interesse da população. Passavam boa parte do dia percorrendo delegacias, hospitais, cemitérios, além de manter

contato com os serviços públicos essenciais à vida do cidadão (transportes, energia e abastecimento de água). Ao final da tarde, retornavam às redações onde repassavam os dados e informações recolhidas ao longo do dia aos redatores.

d) Reconhecimento Social

Por se tratar de atividade conduzida especificamente pela elite, o reconhecimento social de que gozavam os jornalistas durante o período partidário era alto. Esse prestígio estava relacionado, principalmente, à posição social daqueles que exerciam o jornalismo: oriundos da aristocracia, membros da alta administração pública e dos partidos, integrantes da Maçonaria e das Ordens e Irmandades católicas.

Tinham ainda em comum a educação formal: advogados, médicos, engenheiros, padres e militares, dotados de uma certa erudição e de visões muito particulares dos problemas que afligiam o país e seus concidadãos. E eram lidos, majoritariamente, por comerciantes, clérigos, militares, médicos, cirurgiões, senadores, deputados e funcionários públicos. Daí decorria o grande prestígio que gozavam os jornalistas dessa fase.

A profissionalização da atividade jornalística, já no período do jornalismo informativo, abriu as portas das redações a pessoas oriundas dos segmentos intermediários da sociedade. São, na maioria, jovens estudantes que buscam no jornalismo uma forma de ganhar algum dinheiro ou prestígio para conseguir um cargo público.

A atividade paga muito mal e esses novos jornalistas acabam por desenvolver hábitos e comportamentos que os distingue socialmente. Frequentam ambientes comuns e, a pretexto de obter informações e notícias, transitam com desenvoltura pelos submundos da boemia e da marginalidade.

Com a proliferação de repórteres, cresceram em número e importância os chamados ―cafés em pé‖ – na verdade, balcões onde a infusão era infinitamente mais valorizada do que nos ambientes em que ―café‖ se tornara apenas a senha para a reunião de boêmios em torno de uma mesa. Isso significa que a profissionalização de jovens jornalistas alterou, progressivamente, a relação do estrato de intelectuais com o espaço urbano (CARVALHO, 2012:50).

Assim, não é difícil entender porque a profissão perde prestígio social, apesar da importância cada vez maior da atividade jornalística para uma sociedade que se urbanizava e crescia rapidamente.