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CAPÍTULO 3 O AVANÇO NEOPENTECOSTAL

3.3 A Teologia da Prosperidade

3.3.1 O início de tudo

Como pontuamos na seção anterior, a teologia da prosperidade teve sua origem na década de 40 nos Estados Unidos e passou a ser reconhecida como doutrina apenas na década de 70, quando se difundiu pelo meio evangélico. Sempre detentora de um forte cunho de auto-ajuda e valorização do indivíduo, a TP reúne crenças sobre cura, prosperidade e poder da fé através da confissão da "Palavra" em voz alta e "No Nome de Jesus" para recebimento das bênçãos almejadas; por meio da Confissão Positiva, o cristão compreende que tem direito a tudo de bom e de melhor que a vida pode oferecer: saúde perfeita, riqueza material, poder para subjugar Satanás, uma vida plena de felicidade e sem problemas.

Em contrapartida, dele é esperado que não duvide minimamente do recebimento da bênção, pois isto acarretaria em sua perda, bem como o triunfo do Diabo. A relação entre o fiel e Deus ocorre pela reciprocidade, o cristão semeando através de dízimos e ofertas e Deus cumprindo suas promessas. (SOUZA e MAGALHAES, 2002).

A dúvida é ladra da bênção de Deus. A dúvida vem da ignorância da Palavra de Deus. A incredulidade é quando alguém sabe que há um Deus que responde às orações, e ainda assim não crê em Sua Palavra. E não crer nas promessas é duvidar do caráter de Deus. (MILHOMENS, 1993).

Para contextualizar tal corrente doutrinária, podemos recorrer à própria história do seu fundador: Kenneth Hagin (Texas, EUA, 1918). Hagin é considerado o ícone

dessa forma de viver o evangelho, pois, ele mesmo, sofreu várias enfermidades e pobreza na juventude. Aos 16 anos de idade, Hagin diz ter recebido uma revelação de Deus quando lia o evangelho segundo Marcos, especificamente o capítulo 11 e os versículos 23 e 24100:

Porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito. Por isso vos digo que todas as coisas que pedirdes, orando, crede receber tê-las-eis. (BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Edição revista e atualizada).

No desenvolvimento da teologia da prosperidade, Hagin absorveu muitas das idéias de Essek William Kenyon101, de quem foi discípulo. De acordo com Hanegraaff (1996), Kenyon sofreu influência das seitas metafísicas como Ciência da Mente, Ciência Cristã e Novo Pensamento. É o pai do chamado "Movimento da Fé". Na realidade, a sistematização da teologia da prosperidade a partir dessas seitas foi gradual, onde uns são tidos como unicistas102, outros deificam o homem, e outros ainda apresentam um Jesus exótico, estranho ao Novo Testamento, se caracterizando todos eles por pregarem saúde e prosperidade como instrumentos mensuradores da vida

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Na contracapa do livro de Hagin “Compreendendo a unção” podemos ler que o autor usou esse texto como a tônica da sua vida e ministério. Completa que ele creu, pela primeira vez, nestas declarações surpreendentes dos lábios de Jesus quando jazia totalmente paralisado e completamente confinado à cama por causa de um coração deformado e uma doença sanguínea incurável. Os médicos não esperavam que ele chegasse ao 17º aniversário. Mas que depois de 16 meses confinado à cama, Hagin creu que aquelas Escrituras significavam aquilo que diziam – e agiu à altura delas com uma fé simples – e levantou-se curado.

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Essek William Kenyon nasceu em 24 de abril de 1867 em Saratoga, Nova York – EUA e faleceu em 19 de março de 1948. Os seus ensinos foram propagados nos anos 30 a 40. Segundo Pieratt (apud GONDIM, 1993, p.44) ele tinha pouco conhecimento teológico formal. "Kenyon nutria uma simpatia por Mary Baker Eddy" fundadora do movimento "Ciência Cristã", que afirma que a matéria e a doença não existem. Tudo depende da mente. Kenyon disse que muito se poderia aproveitar do ensino de Mary Baker Eddy e se empenhou nas campanhas pregando salvação e cura em Jesus Cristo dando ênfase aos textos bíblicos que falam de saúde e prosperidade. Aplicava a técnica do poder do pensamento positivo.

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A doutrina Unicista está baseada nas seguintes verdades bíblicas: A primeira verdade bíblica é que há somente um Deus e a segunda é que Jesus é Deus. Destas duas verdades, os unicistas deduzem que Jesus Cristo é Deus em sua totalidade, sendo assim, Jesus tem que ser o Pai, o Filho e o Espírito Santo, desprezando a doutrina da Trindade.

espiritual do cristão. Normalmente baseiam as suas linhas de argumentação na Bíblia, nas revelações de seus líderes e na palavra da fé.

Kenyon influenciou amplamente a Hagin. Sua forma de propagação da mensagem religiosa era ancorada pela técnica do poder do pensamento positivo. Paralelamente, ele ministrava orações pelos enfermos e muitos foram salvos e curados, mas outros tantos, não. Não era pentecostal, mas pastoreou várias igrejas e fundou outras. Com efeito, hoje Kenyon é reconhecido por muitos como o pai do Movimento Confissão Positiva, que posteriormente passou a ser também conhecido como Teologia da Prosperidade, Palavra da Fé ou Movimento da fé. Seus ensinos afirmam que tudo o que você pensar e disser se transformará em realidade, por isto há tanta ênfase no "Poder da Mente".

Hagin estudou exaustivamente os escritos de Kenyon divulgando os ensinos

kenyanos em livros, cassetes e seminários, destacando a confissão positiva, inclusive chegando a ser acusado de plágio, pois seus livros tinham uma visível semelhança aos de Kenyon, todavia, Hagin defendia-se dizendo que não era plágio, que os recebera diretamente de Deus. Em 1974 montou o Centro Rhema de Adestramento Bíblico, em Oklahoma. Muitos pastores e movimentos foram influenciados por Hagin. Em 1979, Hagin, Kenneth Copeland, Frederick Price, Charles Capps e alguns outros, fundaram a Convenção Internacional de Igrejas da Fé, em Tulsa, Oklahoma.

Para fundamentar a Teologia da Prosperidade, seus expoentes apresentam um Jesus rico e muito próspero financeiramente quando esteve entre nós. Chegam a defender que Jesus vivia numa casa grande, administrava muito dinheiro, por isso

precisava de um tesoureiro, e usava roupa de grife. (SOUZA, 2004).

Portanto, a teologia da prosperidade postula que não importa o grau de dificuldade ou a real necessidade do fiel, até mesmo para a obtenção de prazeres e

vaidades pessoais, ou mesmo que seja para satisfação de interesses e ambições materiais, Deus interferirá e providenciará o que o fiel deseja, tão somente porque, segundo Hagin, esta é vontade de Deus.

Uma das tarefas mais difíceis no ministério é fazer com que as pessoas compreendam que Deus deseja que prosperem e sejam bem sucedidas. Na verdade, Deus deseja muito mais a prosperidade das pessoas do que elas mesmas. (...) Muitos cristãos não prosperam atualmente porque não obedecem ao chamado divino, ou porque não seguem uma instrução específica que Deus tenha lhe dado. Outros precisam simplesmente corrigir a maneira de pensar e, então, começara a pensar, falar e agir de acordo com a Bíblia no tocante à prosperidade. (HAGIN, 2000, p.07).

As idéias de Hagin que deram origem a teologia da prosperidade nos moldes em que a conhecemos hoje, podem ser divididas em três pontos principais: a autoridade espiritual, as benções e as maldições da Lei e a confissão positiva.