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CAPÍTULO 3 O AVANÇO NEOPENTECOSTAL

3.2 O ethos, as crenças e a estrutura do movimento neopentecostal

(1986), dentre muitas outras. O discurso base dessa corrente é a Teologia da Prosperidade94, pela qual o cristão está destinado à prosperidade terrena e a cura divina.

3.2 O ethos, as crenças e a estrutura do movimento neopentecostal

Como já esclarecemos anteriormente, neopentecostalismo é o nome que se dá aos pentecostais da terceira geração. Diversos autores os têm designado de maneiras diversas95, entretanto, neste trabalho, assim os chamamos, porque é possível perceber que eles diferem muito dos pentecostais históricos e dos da segunda geração, além do que o termo neopentecostal vem ganhando terreno nos últimos anos entre os pesquisadores brasileiros para classificar as novas igrejas pentecostais. Dessa forma, semelhantemente a Mariano (1995), acreditamos tratar-se realmente de um novo pentecostalismo, transformando as igrejas da terceira onda em igrejas neopentecostais.

O prefixo neo mostra-se apropriado para designá-la tanto por remeter à sua formação recente como ao caráter inovador do neopentecostalismo.

comportamental, é a mais liberal. Haja vista que suprimiu características sectárias tradicionais do pentecostalismo e rompeu com boa parte do ascetismo contracultural tipificado no estereótipo pelo qual os crentes eram reconhecidos e, volta e meia, estigmatizados. (MARIANO, 2004, p. 124).

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A Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra é uma Igreja Evangélica neopentecostal do Brasil. Atualmente, o Ministério Sara Nossa Terra conta com um canal de televisão, TV Gênesis e uma rádio, Sara Brasil FM, com programação diária, voltada para a família. A Rádio Sara Brasil FM e a TV Gênesis estão presentes em diversas cidades brasileiras, tanto em TVs por assinatura, como UHF. O jornal Sara Nossa Terra e a revista Sara Brasil, também são instrumentos de comunicação da denominação. A Sara Nossa Terra conquistou espaço na mídia por ser freqüentada por vários jogadores de futebol e algumas sub-celebridades, que se converteram e "mudaram sua vida".

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Estaremos discorrendo sobre o conceito mais adiante.

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Algumas das diferentes denominações segundo os autores: “agência de cura divina” (MONTEIRO, 1979), “sindicato dos mágicos” (JARDILINO, 1994), “pentecostalismo autônomo” (BITTENCOURT, 1994), “pentecostalismo de segunda e terceira ondas” (FRESTON, 1993), “neopentecostalismo” (MARIANO, 1995), “pós-pentecostalismo” (SIEPIERSKI, 1997).

Embora recente entre nós, o termo neopentecostal foi cunhado há vários anos nos Estados Unidos. Lá na década de 70, ele designou as dissidências pentecostais das igrejas protestantes, movimento que posteriormente foi designado de carismático. Como deixou há muito de ser empregado nas tipologias norte-americanas, não confunde nem atrapalha nossa tarefa de classificação. (MARIANO, 1995, p 33).

Os neopentecostais pregam principalmente a prosperidade como meio verdadeiro de vida para os crentes. Acreditam também que o mundo está completamente tomado por demônios que lutam para destruir a abundância de Deus, e tentam de forma sistemática e resignada a expulsão destes demônios de suas vidas.

Entre os neopentecostais encontramos não apenas o dualismo “Deus x Diabo”. Acreditam também que o universo está dividido em dois reinos, o reino espiritual e o reino material. O reino espiritual é habitado por seres espirituais: Deus, o Diabo, anjos e demônios, em luta constante. O reino material é este nosso mundo, habitado pelos homens e pelo restante da criação divina. É o campo de batalha da guerra espiritual. E pelo seu domínio que se trava a guerra. E mais: o reino espiritual é mais real que o material, dizem eles. O que ocorre neste mundo em que vivemos é reflexo dos acontecimentos da ordem espiritual. (AZEVEDO JÚNIOR, 1994).

Para eles, doenças, pobreza e sofrimento são coisas que têm sua origem em Satanás. Por isso, os cultos neopentecostais são, em sua maioria, carregados de forte emoção e costumeiramente objetivam uma libertação deste mundo satânico. Portanto, para os neopentecostais a saída é o exorcismo96, a freqüência constante aos cultos e a aplicação das várias terapias97 criadas e recomendadas pelas igrejas pertencentes ao movimento.

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O exorcismo vem a libertar as pessoas do diabo e ainda funciona como uma maneira de se delimitar campos e forças aparentemente misturadas, que impedem a saúde, sucesso e prosperidade.

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Tais terapias consistem em espécies de rituais que se confundem por uma tênue linha que separa a magia e a religião, incluem atividades como passar a Bíblia no local de enfermidade, colocar um copo d'água em cima do rádio ou televisão quando estiver se fazendo oração e depois beber desta água, apresentar documentos ou roupas para serem ungidas com óleo, ou passar em portais montados nos templos para transformar a realidade vivida, entre outras.

O fato é que o neopentecostalismo coloca em primeiro lugar a saúde do corpo, a prosperidade e a solução dos problemas psíquicos, obviamente como resultado imediato da busca do sagrado. Com efeito, um dos temas mais importantes e significativos no discurso neopentecostal é o da saúde. Afinal, como argumenta Peña- Alfaro (2006, p. 97) o trabalho religioso de cura, de modo geral, é oferecido especificamente como ingrediente nas mensagens de alguns grupos de pentecostais e na maioria dos grupos neopentecostais – que, por definição, buscam a cura divina.

Para ilustrar tal conjuntura, na sua pesquisa sobre a Igreja Universal, o autor catalogou uma lista de 24 doenças (físicas e psíquicas) “curadas” em reuniões da referida igreja, a saber: câncer: três tumores; perda do olfato; perda da visão de um olho; loucura; estrabismo: duas crianças; depressão; hemangioma subglótico (tipo de tumor linfático nas vias respiratórias); aids; hepatite B: (a filha), caroços no seio (a mãe); homossexualismo; dependência de drogas; coração; ataque epilético; paralisia facial; desmaios; dores na coluna; alcoolismo; resgate da auto-estima; lúpus; impulsos suicidas; síndrome do pânico; cianose periférica (doença do sangue azul); dor de cabeça crônica. (PEÑA-ALFARO, 2006, p. 97-98).98

Neste caso, ficam em segundo plano as preocupações teológicas e escatológicas e até mesmo a glossolalia. A idéia de uma vida reta e santa para agradar a Deus ficou restrita apenas as religiões já existentes. O que agora se vê é uma procura para agradar o homem, independentemente do agrado a Deus; Ele que se adapte à nova filosofia.

Devido à disposição das igrejas pentecostais de acolherem os dons de profecias e profetas, sem uma ortodoxia bíblica, criou-se um ambiente mais do que propício para a

instauração da teologia da prosperidade, onde os pregadores se colocam como sujeitos

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Registra-se nesta amostra um total de 24 tipos diferentes de doenças curadas na Universal, retiradas pelo autor, apenas da seção de reportagens das atividades da igreja numa coleta das edições 590 até 653.

referenciais: “depois que eu entreguei minha vida pra Jesus,(...) nunca me faltou nada!”. A sua experiência passa a respaldar a estrutura discursiva das suas próprias falas. Dessa forma, o plano temporal é marcado pelo espontaneísmo dos pregadores que falam sobre si mesmos, substituindo, na maioria das vezes, o lugar da reflexão teológica. Ao apresentarem-se como modelos, também aboliram os tradicionais e estereotipados usos e costumes de santidade; e se definem pela tríade: cura, exorcismo e prosperidade. (PATRIOTA, 2003).

De acordo com Romeiro (2005, p. 49), as novas igrejas e seus líderes multiplicam-se rapidamente, sempre com a introdução de novidades na liturgia e na teologia que professam. Obviamente tal dinamismo do campo neopentecostal tem tornado o tema cada vez mais amplo e complexo.