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Incidentes de uniformização de jurisprudência e de assunção de competência

3 OS PRECEDENTES JUDICIAIS

4 O PAPEL DOS PRECEDENTES NA EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

4.1 O PRECEDENTE JUDICIAL NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

4.1.1 Técnicas de aceleração de julgamento e técnicas de uniformização da jurisprudência

4.1.1.2.3 Incidentes de uniformização de jurisprudência e de assunção de competência

Igualmente sem natureza recursal, o CPC traz, em seus arts. 476510

508 O referido dispositivo foi reproduzido ipsis literis pelo parágrafo único do art.

948 do NCPC.

509 MONNERAT, Fábio Victor da Fonte. 2012, p. 401.

510 Art. 476. Compete a qualquer juiz, ao dar o voto na turma, câmara, ou grupo

de câmaras, solicitar o pronunciamento prévio do tribunal acerca da interpretação do direito quando:

e 555, § 1º, outras duas técnicas de uniformização de jurisprudência. Com, efeito, o denominado incidente de uniformização de jurisprudência do art. 476 teria tudo para constituir-se no mais importante instrumento de consolidação da jurisprudência no âmbito dos tribunais ordinários, uma vez que, conforme dispõe o art. 479, “O julgamento, tomado pelo voto da maioria absoluta dos membros que integram o tribunal, será objeto de súmula e constituirá precedente na uniformização da jurisprudência”.

Contudo, esse incidente nunca se mostrou de grande aplicabilidade e, consequentemente, não surtiu os efeitos esperados. De acordo com Evaristo Aragão Santos, isso se deu em razão do excesso burocrático que acompanha o incidente, pois:

Do ponto de vista do volume de serviço, o procedimento já se mostra pouco viável: provocar o presidente do tribunal e a maioria absoluta de seus membros para dirimir cada divergência de questão jurídica que surja entre os órgãos fracionários, é algo, em si, impraticável.511

Outro percalço burocrático que se pode citar em relação ao referido incidente é o fato de que, reconhecida a divergência, será lavrado o acórdão, remetendo-se os autos ao presidente do tribunal para que o Plenário ou o Órgão Especial decida sobre a interpretação a ser observada.

I - verificar que, a seu respeito, ocorre divergência;

II - no julgamento recorrido a interpretação for diversa da que Ihe haja dado outra turma, câmara, grupo de câmaras ou câmaras cíveis reunidas.

Parágrafo único. A parte poderá, ao arrazoar o recurso ou em petição avulsa, requerer, fundamentadamente, que o julgamento obedeça ao disposto neste artigo.

511 SANTOS, Evaristo Aragão. 2012, p. 165. De acordo com Rodolfo de Camargo

Mancuso (2007, p. 241): “O incidente de uniformização de jurisprudência, da forma como acabou disciplinado no vigente CPC, não ficou bem delineado em termos conceituais, já que o custo representado pela suspensão o julgamento em trâmite no órgão fracionário não parece vir suficientemente compensado, porque: 1) a futura emissão de súmula é apenas uma virtualidade, para o caso da tese vir a ser tomada, no Plenário ou órgão especial, por maioria absoluta; 2) mesmo nessa melhor hipótese, tal súmula, a rigor, não se reveste de força obrigatória em face dos casos pendentes e futuros, subsumidos em seu enunciado. Ante esse contexto, não estranha que o incidente previsto nos arts. 476 a 479 do CPC tenha tido parca aplicação na praxis forense, e também por aí se compreende que as súmulas dali derivadas tenham deixado a desejar em termos de eficácia prática, justamente à míngua de força vinculativa”.

Em seguida, os autos retornam ao órgão competente para apreciar o recurso, que só então o julgará, mas de forma vinculada ao que restou decidido no incidente. Há, portanto, um vai e vem que não condiz com a efetividade que o próprio incidente busca proporcionar. José Rogério Cruz e Tucci, com quem se concorda nesse ponto, imputa a pouca utilização desse instituto no âmbito dos tribunais ordinários ao “infundado receio de submissão ao pensamento da maioria”.512

Verificando a pouca utilidade prática do incidente de uniformização do art. 476, a Lei nº 10.352/2001513, ao acrescentar o § 1º ao art. 555 do CPC, instituiu outra técnica de uniformização de jurisprudência: a denominada assunção de competência. Eis o teor do referido dispositivo:

Ocorrendo relevante questão de direito, que faça conveniente prevenir ou compor divergência entre câmaras ou turmas do tribunal, poderá o relator propor seja o recurso julgado pelo órgão colegiado que o regimento indicar; reconhecendo o interesse público na assunção de competência, esse órgão colegiado julgará o recurso.

Esse instituto, conforme lembra Sidnei Agostinho Beneti, foi recebido com entusiasmo pelos comentaristas da reforma processual, entre eles Luiz Rodrigues Wambier e Teresa Arruda Alvim Wambier514, “especialmente porque seu procedimento mostra-se mais simples e célere do que o pouco prestigiado incidente de uniformização de jurisprudência, previsto no art. 476 do CPC”.515

Como vantagens que a assunção de competência possui em relação ao incidente de uniformização do art. 476, pode-se citar desnecessidade

512 TUCCI, José Rogério Cruz e. Parâmetros de eficácia e critérios de

interpretação do precedente judicial.In: ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (coord.). Direito Jurisprudencial. São Paulo: RT, 2012, p. 115.

513 Referida Lei também acrescentou o § 3º ao art. 475 do CPC, que dispõe não

haver sujeição ao duplo grau de jurisdição, nas sentenças de interesse da União, Estado, Município, se a sentença estiver fundada em jurisprudência do plenário do STF ou em súmula do STF ou do tribunal superior competente.

514 ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. WAMBIER, Luiz Rodrigues. Breves

comentários à 2.ª fase da reforma do Código de Processo Civil. 2. ed. São Paulo: RT, 2002.

515 BENETI, Sidnei Agostinho. Assunção de competência e fast-track recursal.

de remessa dos autos ao presidente do tribunal e de julgamento pelo Plenário ou Órgão Especial. Além disso, José Carlos Barbosa Moreira, vendo com bons olhos o referido instituto, observou que:

Trata-se de mais um expediente ordenado à uniformização da jurisprudência, que naturalmente se espera seja mais eficiente do que o regulado nos arts. 476 e ss. do CPC. Pode-se até supor que ele venha a ser preferido na prática judicial, subtraindo ao outro instituto parcela de sua importância já diminuta. Uma vantagem prática decerto se manifesta aqui. O órgão a que se remete a matéria não se limita a enunciar a solução da quaestio juris, mas procede ao julgamento que competia ao outro. [...] não há a devolução ao órgão de origem: tudo se resolve naquele que recebe o recurso. Evita-se assim o vaivém, causa de maior demora.516

Sidnei Agostinho Beneti assevera, ainda, que o referido instituto é de alcance mais amplo do que o incidente de uniformização de jurisprudência, pois, enquanto este exige que já se tenha verificado a divergência entre câmaras ou turmas do tribunal, a assunção de competência é cabível mesmo quando ainda não existe, no tribunal, decisões divergentes sobre o tema.517

No entanto, assim como ocorre com o incidente de uniformização de jurisprudência previsto no art. 476 do CPC, a assunção de competência não vem sendo utilizada com a frequência que se esperava, de modo que “os tribunais brasileiros não vêm retirando do instituto todo o rendimento que poderia ter”.518

A realidade, contudo, é diversa no Superior Tribunal de Justiça. Ressalta-se que, tanto o incidente de uniformização de jurisprudência519, quanto um instituto semelhante ao da assunção de competência520,

516 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo

Civil. 11 ed. vol. 5.Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 653.

517 BENETI, Sidnei Agostinho. 2009, p. 7. 518 BENETI, Sidnei Agostinho. 2009, p. 4.

519 Art. 118. No processo em que haja sido suscitado o incidente de uniformização

de jurisprudência, o julgamento terá por objeto o reconhecimento da divergência acerca da interpretação do direito.

520 Art. 14. As Turmas remeterão os feitos de sua competência à Seção de que são

encontram-se previstos no Regimento Interno daquela Corte Superior, que lhes vêm fazendo maior uso e tirando proveito da possibilidade não só de compor, mas também de prevenir divergências interna corporis. Do mesmo modo, observa-se que o Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal521 também possui a previsão de procedimento semelhante ao da assunção de competência e que, não raras vezes, é utilizado pela Corte Suprema.

Ressalte-se que o legislador manteve no NCPC, sob novas vestes e, em capítulo próprio, apenas o incidente de assunção de competência, que, de acordo com o art. 947, § 1º ao §4º, será admissível quando o julgamento “de recurso, da remessa necessária ou de causa de competência originária envolver relevante questão de direito, com grande repercussão social”, bem como quando for “conveniente a prevenção ou a composição de divergência entre câmaras ou turmas do tribunal”, mas desde que a questão não se repita “em múltiplos processos”. Esta exceção deve-se ao fato de que, as questões de direito que se repitam em múltiplos processos no âmbito dos tribunais, serão objeto de uma nova técnica de uniformização de jurisprudência inserida pelo legislador no NCPC, denominada de incidente de resolução de demandas repetitivas e que será objeto de análise adiante. Diferentemente do que ocorre no CPC atual, onde pode ser proposta apenas pelo relator do recurso, a assunção de competência, tal como prevista no NCPC, poderá ser proposta também por requerimento da parte, do Ministério Público ou da Defensoria Pública. Por fim, também de forma inovadora, o acórdão proferido neste incidente “vinculará todos os juízes e órgãos fracionários, exceto se houver revisão de tese”.

II - quando convier pronunciamento da Seção, em razão da relevância da questão, e para prevenir divergência entre as Turmas da mesma Seção; III - nos incidentes de uniformização de jurisprudência (art. 118).

Art. 16. As Seções e as Turmas remeterão os feitos de sua competência à Corte Especial: [...]

III - quando suscitarem incidentes de uniformização de jurisprudência;

IV - quando convier pronunciamento da Corte Especial em razão da relevância da questão jurídica, ou da necessidade de prevenir divergência entre as Seções.

521 Art. 22. O Relator submeterá o feito ao julgamento do Plenário, quando houver

relevante arguição de inconstitucionalidade ainda não decidida. Parágrafo único. Poderá o Relator proceder na forma deste artigo:

a) quando houver matérias em que divirjam as Turmas entre si ou alguma delas em relação ao Plenário.

b) quando em razão da relevância da questão jurídica ou da necessidade de prevenir divergência entre as Turmas, convier pronunciamento do Plenário.

4.1.1.2.4 Súmula vinculante e súmula da jurisprudência