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Capitulo II – A língua gestual e a educação das crianças surdas

2.2. Inclusão da criança surda

A inclusão da criança com deficiência auditiva/surdez na sala de aula necessita que se faça uma boa preparação tanto da criança quanto da escola, para que ambos se sintam habilitados a participar dessa inclusão. A comunicação é a primeira das várias barreiras que o professor encontra quando se depara com um aluno surdo na sua sala de aula. Para que a inclusão da criança surda na escola regular seja efetiva é necessário ter em conta alguns aspetos, nomeadamente a nível da integração, da comunicação, do conteúdo, das

metodologias, das relações sociais, dos materiais pedagógico-didáticos e da avaliação dos alunos surdos. Assim, segundo Bautista (1997), a nível da integração, deve-se ter em conta que a informação que o aluno surdo recebe é-lhe alcançável através da visão: leitura labial, informação escrita, informação do quadro de expressões faciais, corporais, entre outros e, por tal motivo, a posição do aluno surdo na sala de aula deve permitir-lhe olhar diretamente e de frente para o professor diminuindo, assim, o seu esforço na leitura labial e dando-lhe a possibilidade de utilizar pistas visuais. O professor deve também possibilitar ao aluno Surdo a orientação relativamente aos companheiros, segundo a atividade a realizar. Um outro fator a ter em conta é não expor a criança de frente para a luz, uma vez que ela conseguirá ler melhor nos lábios se a luz estiver por trás. Importante também é que o ambiente onde o aluno se insere seja calmo e esteja longe de zonas ruidosas.

A criança surda deve estar devidamente informada de tudo o que se passa ao seu redor. O professor deve assegurar-se sempre que o aluno surdo compreende as regras e normas partilhadas pela turma, tal como as possíveis modificações de atividades, modificações de horário, atividades extracurriculares, entre outros aspetos, sendo necessário que essa informação seja apresentada por escrito.

No que diz respeito à comunicação é necessário obedecer a algumas regras essenciais para trabalhar com o aluno surdo. Assim, e segundo Bautista (1997), é essencial que o professor esteja sempre em frente do aluno, para permitir a leitura labial, não devendo voltar-se para o quadro enquanto fala ou passear de um lado para o outro à medida que explica um conteúdo ou tarefa. Importa ainda referir que deve ser preocupação do professor falar pausadamente e de forma clara.

O professor deve verificar se o aluno segue corretamente a sequência da explicação, colocando, por exemplo, questões sobre o conteúdo exposto e sobre as dificuldades encontradas na compreensão do tema ou dos conteúdos, etc. É importante que o professor e os colegas consigam perceber qual a melhor forma de comunicar com o aluno surdo.

Relativamente aos conteúdos, deve-se ter igualmente em conta alguns aspetos importantes nomeadamente o professor deve planificar e ter em conta vocabulário novo que vai utilizar bem como alguns termos técnicos que o aluno surdo possa ter mais dificuldade em perceber. Para colmatar estas possíveis dificuldades o professor poderá criar um documento escrito com os conteúdos que vai lecionar de forma a dar ao aluno surdo mais possibilidades de perceber os temas ou a aula na sua globalidade. Se o

professor notar que o aluno surdo está com dificuldades em perceber o seu discurso, deve reformular e explicar por outras palavras.

No que à metodologia diz respeito há também alguns aspetos a ter em conta. Podemos destacar por exemplo o cuidado de colocar o aluno surdo junto de um colega com facilidade em tomar apontamentos, para que o aluno surdo consiga, simultaneamente, ir copiando as informações.

Relativamente às relações sociais, o professor deve proporcionar o trabalho em pequenos grupos, já que este beneficia a relação e participação social do aluno surdo. Para além disso o professor deve facilitar aos colegas do aluno surdo, informação simples e objetiva acerca da surdez, da sua normalidade e das suas implicações.

No que ao material diz respeito, Bautista (1997) diz que os apoios visuais são vantajosos, devendo fazer-se uso de retroprojetor, uso do quadro, de documentos escritos, de quadros sinópticos, de gráficos, etc. O professor, quando utiliza o quadro para transmitir informação, deve fazê-lo de forma ordenada e cedendo sempre indicações ao aluno surdo, para que este consiga seguir a informação. O professor poderá assim, sublinhar as palavras mais importantes, assinalar com o dedo, utilizar cores distintas, entre outras estratégias.

Finalmente, no que diz respeito à avaliação, Bautista (1997) afirma que se torna necessário ter em conta alguns aspetos importantes, nomeadamente: cuidar em avaliar os alunos surdos na mesma base dos alunos ouvintes e adotar uma avaliação contínua.

Qual a importancia de incluirmos a criança surda na escola regular? Sem dúvida que a inclusão da criança surda vai permitir que este a tome contacto com a sociedade e com o mundo em que vive, incluindo outras culturas existentes na escola. Para além disso, os alunos ouvintes também beneficiam desta inclusão, uma vez que, ao contactarem com os alunos surdos, aprendem que somos todos diferentes e, por isso, devem respeitar a diversidade, aceitar o Outro e conviver com a diferença, ou seja, aprendem que independentemente de serem diferentes têm sempre alguma coisa de valor para dar e receber uns aos outros.

Segundo Silva (2009), o caminho percorrido até à inclusão foi marcado por um conjunto de decisões e medidas tomadas no seio de organizações e agências internacionais, como as Nações Unidas e a Unesco, que tiveram um papel extremamente importante na introdução progressiva da inclusão. De salientar, a Declaração Mundial de Educação para todos (1990), as Normas sobre a Igualdade de Oportunidades para pessoas com Deficiência (1993), a Declaração de Salamanca (1994), a Carta de Luxemburgo (1996), o

Enquadramento da acção de Dakar (2000), a Declaração de Madrid (2002) e, mais

recentemente, a Declaração de Lisboa (2007). De notar que, o movimento a favor da inclusão foi fortemente impulsionado pela Declaração de Salamanca, aprovada por 92 países e 25 organizações internacionais que se comprometeram a introduzir o princípio fundamental das escolas inclusivas.

A inclusão permite também um maior desenvolvimento académico e social da criança, devido às interações estabelecidas entre essas crianças e as outras. Prepara a criança para a vida em sociedade, pois quanto mais tempo a criança conviver com os outros, compreendendo as diferenças, melhor será a sua realização a nível educacional, social e ocupacional. (Correia, 2008)

Por fim, a inclusão contrapõe-se à exclusão, na medida em que a escola inclusiva possibilita aos alunos a interação, a cooperação e o respeito pela diferença, combatendo os aspetos negativos da exclusão que, por vezes, são patentes nas crianças que vivem fechadas no seu mundo, sem interagirem com as outras crianças não sendo preparadas para a vida futura na sociedade.