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Ao falarmos sobre a inclusão da pessoa com deficiência no ensino superior torna-se imprescindível fazermos uma breve análise acerca da evolução histórica da Educação Especial e Educação Inclusiva no Brasil, para que percebamos que a forma como as pessoas com deficiência e/ou necessidades educacionais especiais são tratadas e percebidas atualmente é reflexo da história da humanidade e dos avanços presentes nela. Dessa forma, iremos fazer um breve histórico da Educação Especial desde a Antiguidade, passando pela Idade Média e Moderna, chegando na Contemporaneidade; do reconhecimento da escolarização desses sujeitos aqui no Brasil e a Educação Inclusiva, bem como da busca pela equiparação de oportunidades e os embates sobre a integração da pessoa com deficiência e/ou com necessidades educacionais especiais, garantindo o acesso dentro das particularidades de cada indivíduo.

Porém, antes de adentrarmos especificamente no debate exposto acima, iremos abordar os conceitos de pessoa com deficiência e de pessoa com necessidades educacionais especiais e explicar, de forma breve, alguns determinados tipos de deficiência, tudo isso com o intuito de tornar o presente tópico mais claro.

O conceito de pessoa com deficiência possui diversas abordagens, entre elas estão a abordagem clínica e a abordagem social. De acordo com a abordagem clínica a deficiência está diretamente relacionada a um problema físico e/ou orgânico, essa concepção ganhou enorme destaque durante a Idade Moderna devido ao enorme avanço nos estudos e pesquisas, diferentemente da Antiguidade onde as pessoas com deficiência eram vistas como abominações e grande parte eram mortos durante a infância ou após o nascimento; e diferente também da Idade Média, onde através da influência da Igreja na sociedade, as pessoas com deficiência não eram vistas enquanto imagem e semelhança de Deus, mas sim como figuras demoníacas, e passavam a viver novamente às margens da sociedade da época (PIMENTEL, 2013, p.8).

De acordo com a abordagem social de deficiência, sendo a mesma relacionada a limitações de caráter físico ou intelectual, ela se torna potencializada devido ao contexto ao qual a pessoa com deficiência encontra-se inserido. A interação das limitações do próprio sujeito e das barreiras postas pela sociedade impedem a sua efetivação plena comparada aos demais sujeitos sociais. Pode-se afirmar que essas barreiras sociais são relacionadas à tecnologia, fatores econômicos, culturais, arquitetônicos, entre outros;

dessa forma, observa-se que a deficiência não é vista mais como algo inerente ao sujeito, mas sim da sociedade:

Não são as limitações individuais as raízes do problema, porém as limitações da própria sociedade, para prestar serviços apropriados e para assegurar adequadamente que as necessidades das pessoas com deficiência sejam levadas em conta dentro da organização social (PALACIOS, p. 103-104 apud PIMENTEL, 2013, p.8).

Diversas mudanças foram vistas ao longo dos tempos nos termos utilizados para se referir às pessoas com deficiência. Por séculos, as mesmas eram tratadas e chamadas de “inválidas” por serem consideradas pessoas impossibilitadas de levarem uma vida normal e produtiva, isso em todos os âmbitos; já no século XX até meados dos anos de 1960, o termo utilizado era “incapacitados”, a mídia fazia bastante uso dessa nomenclatura para se referir aos soldados que voltavam da guerra com algum tipo de sequela. Os termos “excepcionais” e “deficientes” passaram a ser utilizadas entre as décadas de 1960 a 1980, limitando o primeiro termo para pessoas com deficiências intelectuais e o segundo para pessoas com deficiências físicas. Ainda com a visão limitada, em meados da década de 1980 passam a utilizar o termo “pessoa deficiente” como sendo a deficiência uma característica do sujeito (ALENCAR, 2013, p.20).

Por meio da visão mais social de deficiência, é que a partir dos anos de 1988 que o termo “pessoa portadora de deficiência” passa a ser utilizado legalmente no país, sendo visto em trechos da Constituição de 1988. A partir da década de 1990 o termo “pessoa com deficiência” passou a ser mais utilizado, pois ele não é um termo pejorativo, ao mesmo tempo, é esclarecedor e possui uma visão social, e não clínica, sendo oficialmente determinado através da Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência em 2003.

Aqui no país, a oficialização se deu por meio do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência – CONADE, com a Resolução nº 1, de 15 de novembro de 2010:

Art. 2º – Atualiza a nomenclatura do Regimento Interno do CONADE, aprovado pela Resolução no 35, de 6 de julho de 2005, nas seguintes hipóteses: I – Onde se lê ‘Pessoas Portadoras de Deficiência”, leia-se “Pessoas com Deficiência’ (Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência, 2010 apud ALENCAR, 2013, p.22)

No que tange os tipos de deficiência, pode-se afirmar que a deficiência visual, de forma simplificada, é a perda parcial ou total, congênita ou adquirida da visão, que varia de acordo com o nível e a propensão do olho na diferenciação dos detalhes, o que compromete o funcionamento visual; sendo dividida em cegueira, que seria e perda total

ou a visão mínima, e baixa visão, que é caracterizada por uma significativa alteração da capacidade funcional que diminuem o desempenho visual, sendo conhecida também como ambliopia, visão reduzida e visão subnormal. No caso da deficiência física, a mesma ocorre através do comprometimento do sistema locomotor, que é composto por sistema osteoarticular, sistema nervoso e sistema muscular, devido a doenças ou lesões que afetem algum desses sistemas, acarretando na perda ou redução na mobilidade corporal (como a paralisia, a falta de coordenação motora ou a perda relativa da força muscular) (DE MELO, 2013, p. 63).

Com relação à deficiência auditiva, a mesma caracteriza-se como um distúrbio, no processo de audição normal, sendo causas vindas antes do nascimento, durante o nascimento ou após o nascimento em qualquer período da vida do sujeito; o tipo da deficiência auditiva é classificado de acordo com a localização da alteração no aparelho auditivo, se a alteração é localizada na orelha externa e/ou orelha média é chamada se deficiência auditiva condutiva e pode ser reversível ou parcialmente reversível com tratamento e/ou cirurgia; se a alteração encontra-se na orelha interna e é de caráter

irreversível, é chamada de deficiência auditiva sensorioneural; se localizada na orelha externa e/ou média e na orelha interna é denominada deficiência auditiva mista; e no caso da deficiência auditiva central, ela é caracterizada pela alteração do tronco cerebral (DE MELO, 2013, p. 128).

A deficiência intelectual é caracterizada por consideráveis limitações no funcionamento intelectual e na forma de se comportar e se adaptar do sujeito, no entanto, deve-se levar em consideração o processo de maturação do sistema nervoso, baseado nos elementos biológicos, sociais, fisiológicos e culturais próprios do indivíduo, pois é esse processo que indica ou não a deficiência intelectual (DE MELO, 2013, p. 161).

No que tange as necessidades educacionais especiais, o termo pessoa com necessidades educacionais especiais ganhou destaque por meio da Conferência Mundial Sobre Necessidades Educacionais Especiais, na cidade de Salamanca na Espanha. Segundo a Declaração de Salamanca, o conceito de necessidades educacionais especiais não irá abarcar somente as crianças, jovens e adultos com deficiência, mas também aqueles que estejam passam por dificuldades, sejam elas permanentes ou temporárias, na escola, ou que por motivos diversos estejam fora da mesma; dessa forma, ela afirma que “o termo ‘necessidades educacionais especiais’ refere-se a todas aquelas crianças ou

jovens cujas necessidades educacionais especiais se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem” (BRASIL, 1994).

De acordo com as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, os discentes que apresentam necessidades educacionais especiais são os que ao longo do processo educacional apresentam significativas dificuldades na aprendizagem ou no acompanhamento do currículo escolar. As necessidades educacionais especiais podem ser ocasionadas por causa orgânica (condições, limitações, disfunções ou deficiências) ou não; e a altas habilidades/superdotação. As referidas pessoas podem, em qualquer momento de suas vidas, apresentarem alguma necessidade educacional especial, podem ser a mesma vinculada ou não à deficiência, e sendo temporária ou permanente, como bem afirma a Declaração de Salamanca (CHAHINI, 2016, p.43).

3.1 O PROCESSO HISTÓRICO E LUTA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

E/OU NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS PELO