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LEGISLAÇÃO REFERENTE À PESSOA COM DEFICIÊNCIA E/OU NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS

RECONHECIMENTO DO ACESSO À EDUCAÇÃO FORMAL

3.1.1 LEGISLAÇÃO REFERENTE À PESSOA COM DEFICIÊNCIA E/OU NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS

No Brasil, ao longo da história, e apesar de sempre existirem bloqueios estruturais, legais, educacionais e assistenciais, as pessoas com deficiência e/ou necessidades educacionais especiais e as organizações que trabalham em prol da inclusão desses sujeitos possuem importância na defesa dos direitos das pessoas com deficiência e/ou necessidades educacionais especiais.

De acordo com Costa (2017, p.29), o movimento social das pessoas com deficiência na luta por seus direitos surge no final da década de 1970, período em que houve um avanço nas políticas públicas, em meio ao contexto ditatorial, bem como no avanço e na criação de novos movimentos sociais. O movimento, que contava com a participação de sujeitos com diferentes tipos de deficiência passam a ganhar maior espaço e visibilidade na sociedade, onde eles mesmos participavam da luta pelo reconhecimento de seus direitos sociais, participando diretamente das decisões, elaborações, implementação e garantia de resultados.

Em 1980 aconteceu o 1º Encontro Nacional de Entidades de Pessoas Deficientes onde os objetivos eram criar diretrizes para a organização do movimento no Brasil. Já em 1981 foi o ano internacional das pessoas deficientes, onde ocorreu o 2º Encontro Nacional de Entidades de Pessoas com Deficiência em Recife, e o 1º Congresso Brasileiro de Pessoa Deficientes, que teve como marco reivindicações e mudanças no sistema de atendimento às pessoas com deficiência onde também é discutido sobre educação, legislação e acessibilidade. Em 1983, em São Paulo aconteceu o 3º Encontro Nacional de Entidades de Pessoas Deficientes, onde é aprovada a organização nacional por área de deficiência. (COSTA, 2017, p.30)

Também é visível a influência de outros países no que tange aos movimentos sociais. O Movimento de Vida Independente, originado nos Estados Unidos, foi trazido para o Brasil nos anos de 1988 e tem como base uma vida independente e a luta pela cidadania e inclusão social das pessoas com deficiência, o mesmo movimento também fez parte da Assembleia Nacional Constituinte, no mesmo ano, na luta para a inserção de suas demandas na Constituição Federal de 1988. No ano de 1999, houve a criação do Conselho Nacional da Pessoa com Deficiência (CONADE), que oficializa o termo “pessoas com deficiência” aqui no Brasil e que como principais objetivos garantir a implementação da Política Nacional de Integração da Pessoa com Deficiência (COSTA, 2017, p. 30).

Podemos perceber que através da luta dos movimentos sociais, das pessoas com deficiência, de familiares dos mesmos e de simpatizantes da causa, foi possível o rompimento de muitas barreiras, o rompimento do uso de termos pejorativos, do reconhecimento da cidadania de uma enorme parcela da população brasileira e da criação de legislações no que tange a garantia de direitos e integração. Todas as legislações criadas para esse segmento da sociedade são importantes, no entanto, selecionamos as que são de maior relevância para o nosso presente trabalho, em especial, as que tratam do acesso das pessoas com deficiência e/ou necessidades educacionais especiais à educação formal a partir da Constituição Federal de 1988. Para

tornar a apresentação mais dinâmica e de fácil compreensão, iremos apresentar as leis, decretos e portarias em formato de quadro.

Quadro 1 – principais legislações brasileiras acerca da garantia de direito e acesso das pessoas com deficiência e/ou necessidades educacionais especiais à educação formal

ARCABOUÇO JURÍDICO CONTEÚDO

Lei nº 7.853/1989

Trata do apoio às pessoas com deficiência, sobre a sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde, bem como institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências, também trata da inserção da pessoa com deficiência no âmbito educacional em seu Artigo 2º. O mesmo afirma que ao poder público e seus órgãos cabe assegurar o pleno exercício dos direitos das pessoas com deficiência, entre os quais está a educação. Dessa forma, com lei, a educação especial é tratada como modalidade educativa que deve abranger desde os períodos iniciais de ensino, até a habilitação e reabilitação de profissionais, devendo ser ofertada em escolas especiais, provadas e públicas, sendo obrigatória e gratuita nessa última.

Declaração Mundial de Educação para Todos: Satisfação das Necessidades Básicas

de Aprendizagem

Aprovada pela Conferência Mundial sobre Educação para Todos da UNESCO, em Jomtien,

Tailândia, de 5 a 9 de março de 1990. Tem como

principais objetivos: Satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem; expandir o enfoque para a satisfação dessas necessidades; universalizar o acesso à educação e promover a equidade; concentrar a atenção na aprendizagem; ampliar os meios e área de atuação da educação básica; bem como, um ambiente adequado para aprendizagem; e fortalecer as alianças entre os responsáveis pela educação nacional, estadual e municipal.

Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996)

A referida lei, em seu capítulo V, trata da educação especial como sendo uma modalidade

de ensino que deve ser oferecida,

preferencialmente, na rede regular de ensino para os discentes com necessidades educacionais especiais, desde as fases educacionais iniciais até o ensino superior.

Decreto nº 3.298/1999 Regulamenta a Lei no 7.853. Dispõe também

Pessoa Portadora de Deficiência que é o conjunto de orientações normativas que tem como objetivo a garantia do pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas com de deficiência. Na sua Seção II, que trata do acesso à educação, possui destaque a inclusão da educação especial como sendo transversal à todos os níveis e modalidades de ensino, podendo ser realizada nas escolas regulares ou, se necessário, em escolas especiais, onde a educação do discente com deficiência deverá ser iniciada na educação infantil e desde o momento inicial deve contar com uma equipe multiprofissional.

Lei 10.436/2002

Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais, reconhecendo-a como meio legal de comunicação e expressão. O seu Artigo 4o afirma que os

sistemas educacionais federal, estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão da Libras nos cursos de formação de Educação Especial, Fonoaudiologia e Magistério, em seus níveis médio e superior do ensino da Libras.

Portaria MEC 2.678/2002

Aprova diretrizes e normas para o uso, o ensino, produção e a difusão do Sistema Braille em todas as modalidades de ensino, compreendendo o projeto da Grafia Braille para a Língua Portuguesa e a recomendação para o seu uso em todo o território nacional.

Portaria MEC 3.284/2003

Trata dos requisitos de acessibilidade das pessoas com deficiência, para instruir os processos de autorização e de reconhecimento de cursos, e de credenciamento de instituições, especificando assegurar às pessoas com deficiência física e sensorial condições básicas de acesso ao ensino superior, de mobilidade e de utilização de equipamentos e instalações das instituições de ensino

Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

Documento elaborado pelo Grupo de Trabalho nomeado pela portaria n. 555/2007, prorrogada pela Portaria n° 948/2007, entregue ao ministro da Educação em 7 de janeiro de 2008. Tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do

desenvolvimento e altas

habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantia do acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação

superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas.

Decreto 6.949/2009

O decreto promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007, que tem como propósito a promoção, proteção e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente

Decreto 7.612/2011

Institui o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência - Plano Viver sem Limite que possui como finalidade promover, por meio da integração e articulação de políticas, programas e ações, o exercício pleno e equitativo dos direitos das pessoas com deficiência, nos termos da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, aprovados por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008. Tem como um de seus eixos de atuação a garantia à educação, com a garantia de um sistema educacional inclusivo

Lei 13.146/2015

Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência e trata dos direitos desses sujeitos, sendo eles: direito à igualdade e não discriminação; ao atendimento prioritário; à vida, habilitação e reabilitação; à saúde, à educação; à moradia; ao trabalho; à assistência e previdência social; à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer; ao transporte e à mobilidade. O seu Artigo 27 trata do direito à educação, sendo assegurado o sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, com o intuito de alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem.

Através das legislações citadas acima percebemos que a garantia de direitos para as pessoas com deficiência e/ou necessidades educacionais especiais, entre esses, o direito à educação, visam a inclusão desse segmento social e a confirmação do que é delas por direito, bem como a construção de uma sociedade democrática e mais justa. No entanto, Lima (2018, p. 29) afirma que, mesmo sendo assegurado por lei, é visível a dificuldade de acesso à educação pelas pessoas com deficiência e/ou necessidades educacionais especiais, isso desde a educação básica à educação superior, sendo dificuldades desde o acesso/ingresso, passando pela permanência, até a conclusão dos estudos.

Interligado ao debate, a inclusão das pessoas com deficiência e/ou necessidades educacionais especiais no ensino superior significa e representa a equiparação de oportunidades, para que esses sujeitos sejam incluídos de forma plena na sociedade e desenvolvam as suas potencialidades. Assim, ao falarmos da educação inclusiva no ensino superior, devemos levar em consideração que não é a necessidade educacional especial ou a deficiência que vai limitar o sujeito desde a escolha do seu curso e até a conclusão do mesmo, nós, a sociedade, não devemos supor que a deficiência e/ou necessidade educacional especial os tornam sujeitos incapazes, nós devemos na verdade apoiá-los, pois, a inclusão se constrói coletivamente.

Dessa forma, percebe-se o intuito da legislação brasileira em proporcionar o acesso, assim como a permanência, das pessoas com deficiência e/ou necessidades educacionais especiais nas instituições de ensino superior. A seguir, iremos apontar algumas dessas leis, decretos e resoluções que amparam legalmente a inclusão das pessoas com deficiência e/ou necessidades educacionais especiais no ensino superior, como forma de traçar uma linha do tempo, passando pelas principais legislações que tangem o acesso desse segmento populacional à educação superior.

De acordo com Bueno (2002 apud CHAHINI, 2016, p.50), a inclusão de discentes com deficiência e/ou necessidades educacionais especiais por meio da educação especial nas instituições de ensino superior se deu através da promulgação da Lei nº 5.692/1971 que define a elevação progressiva na formação dos professores e especialistas para o ensino nos antigos 1º e 2º graus. No ano de 1981, o Conselho Federal de Educação autoriza a extensão do prazo máximo para conclusão dos cursos de graduação para os discentes com deficiência física, congênita, afecção ou adquirida, sendo de responsabilidade das instituições de ensino superior a concessão do aumento do prazo para conclusão do curso de graduação. Já no ano de 1996, o aviso circular de

nº 277/ME/GM dirigido aos reitores das instituições de ensino superior trata da criação de condições de acesso, desde o vestibular, ao ingresso e permanência dos discentes com deficiência e/ou necessidades educacionais especiais, solicitando uma execução adequada de uma política educacional voltada para esse público.

O Decreto nº 3.298/1999, citado anteriormente, trata do acesso das pessoas com deficiência ao ensino superior, desde o momento do processo seletivo à conclusão do curso:

Art. 27. As instituições de ensino superior deverão oferecer adaptações de provas e os apoios necessários, previamente solicitados pelo aluno portador de deficiência, inclusive tempo adicional para realização das provas, conforme as características da deficiência.

§ 1o As disposições deste artigo aplicam-se, também, ao sistema geral do

processo seletivo para ingresso em cursos universitários de instituições de ensino superior.

§ 2o O Ministério da Educação, no âmbito da sua competência, expedirá

instruções para que os programas de educação superior incluam nos seus currículos conteúdos, itens ou disciplinas relacionados à pessoa portadora de deficiência.

No ano de 2001, a Lei nº 10.172, de 9 de janeiro, que aprova o Plano Nacional de Educação, cita o ensino superior em escala nacional, estabelecendo que as diretrizes curriculares ofertadas nas instituições de ensino superior sejam mais flexíveis e diversificadas para que atendam às necessidades educacionais especiais dos estudantes, bem como a criação de políticas que possibilitem o acesso à educação superior por parte desse segmento social e de programas que compensem as deficiências da formação escolar. Na mesma Lei também é citada a melhoria das condições de acesso e permanência dos estudantes com deficiência e/ou necessidades educacionais especiais no ensino superior (CHAHINI, 2016, p.56).

Em meados da primeira década dos anos 2000, toma destaque a discussão sobre a inserção de afrodescendentes, indígenas e discentes egressos de escolas públicas no ensino superior por meio de cotas, colocando em pauta a inserção das pessoas com deficiência nessas instituições, dessa forma, dá-se início o processo da reserva de vagas para pessoas com deficiência nas instituições de ensino superior por meio de cotas, que até o ano de 2008, foi adotada por sete universidades federais.

Vale ressaltar, como bem afirma Gomes (2015 apud CHAHINI, 2016, p.62), que as ações afirmativas são o conjunto de políticas públicas ou privadas que possuem um caráter voluntário, facultativo ou compulsório, que tem como intuito o combate à discriminação, seja ela de raça, gênero, entre outros, e minimizar os efeitos causados pela mesma, garantindo a igualdade de acesso à bens. Segundo Lima (2018), as políticas de ações afirmativas para as pessoas com deficiência tomam como base a de

que esses indivíduos, no decorrer de suas vidas, enfrentaram e enfrentam barreiras para a garantia de sua inclusão em basicamente todas as esferas da vida social, como por exemplo o acesso à educação, devido ao despreparo das instituições de ensino no acolhimento e recebimento dos mesmos.

Nesse sentido, a Lei nº 13.409, de 28 de dezembro de 2016, altera a Lei nº 12.711 de 20 de agosto de 2012, que dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências, e agora garante a reserva de vagas para pessoas com deficiência nos cursos técnico de nível médio e superior das instituições federais de ensino.

“ Art. 3º Em cada instituição federal de ensino superior, as vagas de que trata o art. 1º desta Lei serão preenchidas, por curso e turno, por autodeclarados pretos, pardos e indígenas e por pessoas com deficiência, nos termos da legislação, em proporção ao total de vagas no mínimo igual à proporção respectiva de pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência na população da unidade da Federação onde está instalada a instituição, segundo o último censo da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

...” (NR)

“ Art. 5º Em cada instituição federal de ensino técnico de nível médio, as vagas de que trata o art. 4º desta Lei serão preenchidas, por curso e turno, por autodeclarados pretos, pardos e indígenas e por pessoas com deficiência, nos termos da legislação, em proporção ao total de vagas no mínimo igual à proporção respectiva de pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência na população da unidade da Federação onde está instalada a instituição, segundo o último censo do IBGE.

...” (NR) (BRASIL, 2016).

Nos próximos tópicos iremos tratar especificamente da adoção da referida Lei na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como se a mesma se efetiva, como se dá o acompanhamento dos discentes que ingressaram por meio das cotas para pessoas com deficiência e uma análise dos dois anos de adoção da reserva de vagas para pessoas com deficiência na instituição.

3.2 A ADOÇÃO DA RESERVA DE VAGAS PARA PESSOAS COM