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7 PESQUISA QUALITATIVA

7.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PESQUISA QUALITATIVA

7.1.7 Indicadores Educacionais e Processo Pedagógico (Gestores e Docentes)

Quanto ao tema relacionado ao uso de indicadores educacionais como retenção, abandono e egresso, com fins de aperfeiçoamento pedagógico da escola, na maioria das escolas entrevistadas, gestores e docentes afirmam que os dados são coletados e empregados para cumprir as exigências do Censo Educacional do Inep ou dados solicitados pela Secretaria de Educação. No entanto, os dados da escola não são utilizados como insumo para o aperfeiçoamento pedagógico e curricular, pois ficam restritos à administração da escola.

As escolas entrevistadas revelaram não terem nenhum mecanismo de acompanhamento sistematizado dos seus egressos. Elas se baseiam apenas nos estudantes que seguem para o ensino superior, pois são os que costumam manter contato com a escola, após a conclusão do curso. Alguns entrevistados identificaram que fazer acompanhamento e estudos de egresso pode ser uma importante ferramenta de apoio, que pode ser promovida pela escola ou pelo sistema de ensino.

Percebe-se, portanto, que não há cultura de tratamento de dados e indicadores educacionais por parte da escola e dos docentes. Há carência de coleta de dados e de análises destes, com vistas ao aperfeiçoamento pedagógico.

A seguir, são apresentados alguns trechos das falas dos entrevistados sobre esse tema:

Alunos que vão para universidade retornam para escola como monitores. Mas a escola não tem esse controle sobre egressos. Você aventando isso, é algo até pra gente implantar. (G1)

Até então, não há levantamento de estudo de egressos. (G2)

Nós não temos nenhuma ferramenta que possa indicar qual a vida pós ensino médio. (G3)

As escolas poderiam criar alguma coisa pra acompanhar os alunos egressos. O Estado poderia oferecer alguma ferramenta. Porque todos os dados podem estar num banco nacional. (G3)

A escola não tem informações sistematizadas. Isso seria algo importante, mas eu não sei como seria feito formalmente pela escola, dadas as inúmeras funções da escola. (D1)

Talvez de 10 a 20% você saiba o que fazem os estudantes, porque foram para universidade. (D2)

Esse acompanhamento sistemático a gente não tem. A gente não tem contato com quem não vai para o ensino superior. (D4)

O Enem tem dados muito interessantes. Os professores deveriam analisar esses dados. (D2)

Gestores e docentes avaliam como relevante a utilização dos indicadores, mas reconhecem que não há essa prática por parte das escolas. O trabalho com indicadores limita-se a cumprir exigências formais da Secretaria de Educação. É notório o desconhecimento do que acontece com os estudantes que se afastam da escola, seja durante o curso (abandono), seja após a conclusão dele (egresso).

Embora haja carência quanto à sistematização dos dados e indicadores da escola, há dados disponíveis sobre resultados do Enem e do PAS que são fornecidos à escola para análise e aperfeiçoamento pedagógico. Aparentemente, os docentes não têm utilizado tais dados como insumo para o aperfeiçoamento do ensino, mesmo que seja exclusivamente voltado para os exames de acesso ao ensino superior. Isso revela a falta de uma cultura institucional que valorize a análise de dados e indicadores como instrumento de aperfeiçoamento do processo pedagógico.

A utilização de indicadores educacionais de fonte primária ou secundária poderia auxiliar a escola a compreender melhor a sua realidade e, assim, aperfeiçoar o seu processo de ensino. Com base nas declarações dos docentes, embora as escolas estejam sendo periodicamente avaliadas, elas ainda não incorporaram a utilização de indicadores educacionais como instrumento de apoio pedagógico.

7.1.8 Processo de Trabalho da Escola (Gestores e Docentes)

A categoria processo de trabalho da escola foi avaliada por meio de algumas dimensões, a saber: a escola, propriamente dita, como um espaço de trabalho; a relação da escola com os pais/responsáveis; as regras educacionais e disciplinares da escola.

Os gestores concordam que a escola é um espaço de trabalho, embora não a vejam como um espaço que possa contribuir para a preparação básica para o trabalho dos estudantes.

A maioria dos docentes foi receptiva à ideia de os estudantes participarem de atividades voltadas para a preparação para o trabalho no próprio ambiente da escola. Alguns propuseram ações que poderiam ser implementadas, reforçando a ideia de que seria algo positivo para os estudantes.

A seguir, são apresentados alguns trechos das falas dos entrevistados sobre esse tema:

O processo de ensino-aprendizagem é antes de tudo um trabalho. Somos trabalhadores intelectuais. (G1)

A escola é o primeiro trabalho. O lugar que você vai construir essa imagem de trabalho, é a escola. E o aluno é um trabalhador, intelectual, mas é. (G4) Concordo que a escola é sim o primeiro ambiente de trabalho desses jovens que aqui ingressam. (G3)

É uma questão de romper paradigmas, tem que ter esta mudança. Aqui os meninos não podem fazer nada. É como se houvesse trabalho menos ou mais degradante. (D1)

Esse tipo de ação contribuiria bastante também com o pedagógico, pois acaba criando um vínculo do estudante com a instituição. O aluno fica aqui na escola por cinco horas. Mas se você pensar, em várias situações talvez o aluno não gostaria de estar aqui. Um tipo de ação dessas poderia criar um vínculo do aluno com o ambiente. (D2)

Aqui você tem um microcosmo do trabalho, você tem todas as relações de uma complexidade muito grande. Como é difícil administrar uma escola! (D3)

Inserir o aluno em todo processo como, por exemplo, como funciona a secretaria ou mais gestão, a coordenação pedagógica. Seria uma forma de inserir o estudante. Mas não acontece. (D5)

Com relação à participação da família dos estudantes, todos os entrevistados afirmam que ela é um fator importante para o trabalho da escola, mas insuficiente. Eles compreendem que falta engajamento das famílias, tanto na relação com a escola quanto no acompanhamento da aprendizagem dos filhos. Sendo este fator importante para que a escola realize melhor o seu processo de trabalho, seria preciso haver ações ativas de apoio à escola promovidas via parceria com as áreas de assistência social, por exemplo.

A seguir são apresentados alguns trechos das falas dos entrevistados sobre esse tema:

Temos uma participação maior [dos responsáveis] quando há eventos culturais, eleição do corpo dirigente, mas a participação é baixíssima. Isso nos entristece porque você não consegue ter uma parceria mais realista, mais efetiva com a comunidade. (G3)

O pai, ele está contente com a escola pública, para minha tristeza. Os pais precisam querer mais, precisam participar mais. Os alunos perdem muitas aulas e os pais não cobram, não fazem mobilizações, não chamam a imprensa. (G1)

Em casa também os pais não acompanham. Por dois motivos: primeiro pela formação, alguns pais não conseguem acompanhar, em função da condição acadêmica. E outra, porque grande parte da sociedade hoje não tem credibilidade com educação pública. (G3)

A forma como as escolas abordam pedagogicamente a questão das regras escolares e disciplinares junto aos estudantes também foi avaliada no intuito de compreender de que modo a escola realiza o seu processo de trabalho. Buscou-se avaliar como a escola lida com questões que envolvem a imposição de limites e padrões de convivência próprios da cidadania, pautados em direitos e deveres dos estudantes.

Todas as escolas entrevistadas possuem regras disciplinares que são conhecidas dos estudantes. Mas, na maioria delas, parece não haver articulação de maneira eficiente com o sentido maior do trabalho escolar que leve ao desenvolvimento dos estudantes com dificuldades em lidar com as regras. Em algumas situações, a escola aciona os responsáveis. Nos casos em que os responsáveis não conseguem remediar a situação, a escola pode aplicar penalidades brandas ou severas, que vão até a expulsão do estudante. Esse aspecto evidencia que a escola tem um processo de trabalho bem mais amplo do que o processo de ensino propriamente dito e que tais processos se relacionam com a preparação intelectual, comportamental e moral dos estudantes, o que representa, também, uma forma de preparação para o trabalho. A seguir são apresentados alguns trechos de falas dos entrevistados sobre esse tema.

A gente sabe que isso é importante porque a condução ética dos alunos é necessária e importante no mercado trabalho. (G3)

O adolescente é muito imediatista. Ele quer fazer as coisas na hora dele, quando ele quer. (D2)

A gente sempre tenta falar o porquê da regra, associando a vida futura dele. (D2)

Tendo em vista o processo de trabalho, verifica-se que os entrevistados consideram a escola como um local de trabalho que poderia servir de referência

para a aprendizagem dos estudantes. Há uma boa receptividade dos entrevistados para que os estudantes possam desenvolver habilidades de trabalho no âmbito da própria escola, tendo experiência em seus diversos setores.

O processo de trabalho que envolve a participação dos pais ou responsáveis no acompanhamento escolar dos estudantes é um fator bastante relevante, mas a escola precisaria ser auxiliada para que houvesse uma maior aproximação dos pais do processo de ensino, deixando de atribuir apenas à escola o processo de formação dos estudantes. Nesse sentido, a escola precisa de maior apoio da sociedade, pois, sozinha, ela tem dificuldades para induzir um melhor acompanhamento dos pais e responsáveis no processo de aprendizagem dos seus filhos.

No que tange às regras escolares e disciplinares, a maioria dos entrevistados considera que elas sejam necessárias e também um importante componentes de formação da cidadania dos estudantes, sendo também um componente de preparação para o mundo do trabalho. Para alguns, no entanto, a escola não aplica as regras de forma que ela tenha efeito pedagógico para os estudantes, contribuindo para o desenvolvimento da sua cidadania e a compreensão dos seus direitos e deveres.

7.1.9 Trabalho Docente, Formação Continuada e Uso de Tecnologias (Gestores e