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5 EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS DE PREPARAÇÃO PARA O TRABALHO

6.2 A PESQUISA EM EDUCAÇÃO

O desenvolvimento da pesquisa científica tem como ponto de partida a curiosidade humana, que busca utilizar-se de sua capacidade racional e dos conhecimentos acumulados da humanidade ao longo do tempo para encontrar possíveis respostas para as questões que se propõe a responder. Essencialmente, são utilizadas três formas básicas de raciocínio: o indutivo, o dedutivo e a combinação entre ambos. Embora nenhuma das formas seja perfeita, as descobertas científicas transformaram e continuam transformando os modos de viver da humanidade.

Segundo Cohen, Manion e Morrison (2007), dentre as características da pesquisa científica, algumas merecem destaque, tais como: 1) trata-se de uma ação sistemática e controlada, baseando seu desenvolvimento no modelo de raciocínio indutivo e/ou dedutivo; 2) compreende uma etapa empírica, ou seja, requer experimentação e verificação de fatos e situações na realidade para sua validação; 3) estabelece que seus procedimentos e resultados sejam apresentados ao público e colocados à prova, avaliados e criticados por especialistas no tema pesquisado, possibilitando que resultados incorretos sejam descartados. A pesquisa é uma combinação de experiência e raciocínio e deve se basear em abordagens bem-sucedidas para que possa conduzir a descobertas relevantes.

A pesquisa em educação utiliza várias características das ciências sociais, o que inclui as visões tradicional e interpretativa. A primeira aborda a pesquisa social e seus elementos (indivíduos e sociedade), com o objetivo de descrever e explicar o

comportamento de forma similar ao que ocorre nas pesquisas relacionadas às ciências da natureza, identificando, sempre que possível, padrões e leis universais. A segunda questiona a visão tradicional no que tange ao tratamento dos indivíduos de forma equivalente aos elementos da natureza, dada a capacidade de agir com intencionalidade, algo que não ocorre na maioria dos fenômenos naturais, pelo que se sabe até então.

Uma outra diferença relevante entre a visão tradicional e a visão interpretativa de pesquisa diz respeito ao pressuposto quanto à relação dos seres humanos com a natureza. Nas ciências sociais, o ser humano é ao mesmo tempo sujeito e objeto de estudo. Isso possibilita, por um lado, uma compreensão de que ele responde mecânica e deterministicamente ao seu ambiente, sendo, portanto, produto do ambiente e, por outro lado, que ele tem livre-arbítrio para agir com criatividade, tomar suas próprias decisões e, assim, produzir o seu próprio ambiente (COHEN; MANION; MORRISON, 2007).

As diferentes perspectivas em relação às ciências sociais e à educação influenciam diretamente nas abordagens metodológicas do pesquisador. A visão objetiva, determinística, também chamada positivista, trata o mundo social da mesma forma como se tratam os fenômenos do mundo natural, entendido como rígido e externo ao indivíduo. A pesquisa, nessa perspectiva, adota metodologias que envolvem experimentos e busca de relações quantitativas entre variáveis, visando à descoberta de leis gerais. Já a visão interpretativa, mais subjetiva, também chamada antipositivista, trata o mundo social de uma forma mais maleável, moldada pela ação humana e pela experiência subjetiva. Busca-se compreender como o indivíduo cria, modifica e interpreta o seu próprio mundo. Nessa visão, a pesquisa adota metodologias qualitativas e quantitativas, buscando interpretar casos particulares, e não leis gerais ou universais.

As questões de pesquisa utilizando a abordagem objetiva ou subjetiva estão diretamente relacionadas a questões epistemológicas, associada à forma como o pesquisador interpreta as questões relativas ao conhecimento na busca da verdade científica. Assim sendo, as decisões tomadas pelo pesquisador decorrem do seu próprio paradigma em relação às duas abordagens.

Ainda segundo Cohen, Manion e Morrison (2007), a abordagem científica que adota a visão positivista envolve os seguintes princípios: determinismo, empirismo, parcimônia e generalidade. O determinismo estabelece a existência de uma relação de causa e efeito entre os eventos. Assim, a ocorrência de um evento torna-se condição suficiente para determinar a ocorrência do evento seguinte, estabelecendo uma ligação causal. Isso permite que um evento torne-se explicável em função dos seus antecedentes. Além da ligação causal, pode haver também regularidade ou padrão na forma como os eventos ocorrem, sejam eles naturais ou não. Nesse paradigma científico, o principal objetivo do cientista é formular leis que esclareçam os acontecimentos da realidade, possibilitando que tenha uma base firme para se fazer predição e controle do evento.

O empirismo, ou meio pelo qual se pode verificar algo via observação da realidade, considera que certos tipos de conhecimentos, para serem confiáveis, precisam derivar da experiência. Assim, para ser científica, uma teoria ou hipótese depende das evidências empíricas que a suportam.

A parcimônia busca fazer com que um fenômeno científico seja explicado da forma mais simples possível. Deve-se focar o que é essencial para se compreender um fenômeno científico, evitando torná-lo complexo desnecessariamente.

A generalização está associada às diferenças entre os casos particulares e concretos e os casos gerais e abstratos. Essa diferença levou a duas formas de se buscar a verdade científica: o raciocínio indutivo, ou empírico, e o raciocínio dedutivo, ou racional. O raciocínio indutivo inicia-se pela observação de casos particulares, que levam o cientista a elaborar hipóteses que busquem generalizar suas descobertas, como uma forma de explicação para o fenômeno. Para lidar com fenômenos que envolvem seres humanos, a generalização torna-se um desafio ainda maior do que com os fenômenos naturais, inanimados. O raciocínio dedutivo tem o sentido inverso: partindo de uma hipótese geral, busca encontrar situações específicas que corroboram as hipóteses.

Cabe destacar que há outras abordagens para a pesquisa em educação, mas, em termos gerais, elas buscam compreender problemas de pesquisa, seja com vistas a projetar os resultados para outros indivíduos, seja limitando os achados da pesquisa aos membros que dela participam.