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4 PREPARAÇÃO PARA O TRABALHO NO ENSINO MÉDIO BRASILEIRO

4.3 ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA NO

4.3.2 Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio

Algumas formas de articulação são previstas na LDB e, assim, funcionam na implementação das ofertas dos cursos técnicos em relação a sua articulação com o ensino médio de três formas distintas: 1) integrados, quando o ensino médio é integrado à formação técnica; 2) concomitante, quando o estudante do ensino médio também pode estar fazendo um curso técnico.

O curso técnico integrado ao ensino médio é estabelecido na LDB como um curso constituído de um único currículo que envolve a formação geral do ensino médio segundo suas diretrizes curriculares nacionais (BRASIL, 2012a) e a formação técnica profissional, segundo as diretrizes curriculares nacionais do ensino técnico (BRASIL, 2012c). Trata-se, portanto, de um curso que deve articular a formação geral e profissional, incluindo o trabalho como princípio educativo, e preparar o estudante para a atuação em uma área profissional. Na prática, a experiência na implementação do ensino técnico integrado é complexa, o que leva muitas escolas a desenvolverem currículos justapostos, que acumulam os conteúdos do ensino médio

com os do ensino técnico. Portanto, em que pese a relevância da formação técnica integrada, são grandes os seus desafios, tendo em vista que ela está inserida numa cultura que tem dificuldades em integrar as dimensões da educação e do trabalho. Ao concluir o curso, o estudante recebe o certificado de conclusão do ensino médio e o diploma de técnico. Embora esta seja uma formação que amplia as possibilidades de aprendizagem e de preparação para o trabalho dos alunos, os cursos técnicos integrados ao ensino médio são responsáveis por apenas 6% do total de matrículas do ensino médio (Inep, 2017).

Os cerca de 530 mil estudantes matriculados em cursos técnicos integrados ao ensino médio no país precisam de grande esforço pessoal para cumprir os requisitos de um currículo bem mais denso que o ensino médio regular não profissionalizante. A proposta de mudança promovida pela Reforma do ensino médio (BRASIL, 2017b) busca criar maior flexibilidade curricular, a partir da criação da BNCC, que é obrigatória e tem carga horária máxima de 1800 horas. Com isso, poderá haver estratégias de organização curriculares mais flexíveis em relação à articulação do ensino médio com a formação profissional.

Uma outra forma de oferta de formação técnica prevista na LDB é via curso técnico subsequente ao ensino médio. Ele deve ser oferecido por instituições de ensino devidamente credenciadas e autorizadas a oferecer determinados cursos técnicos. Os currículos dos cursos técnicos seguintes devem seguir as diretrizes nacionais do ensino técnico, se diferenciando apenas pelo fato de ter como pré- requisito para o acesso aos cursos o certificado de conclusão do ensino médio (BRASIL, 2012c). Essa forma de oferta absorve jovens e trabalhadores que tenham concluído o ensino médio recentemente, ou mesmo os que estejam há muitos anos afastados da escola.

Os cursos técnicos representam um forma importante de preparação para o trabalho na perspectiva de profissionalização no nível médio. No entanto, o baixo índice de estudantes em cursos técnicos integrados ao ensino médio evidencia que a formação técnica não é priorizada no Brasil. Segundo os dados do censo da educação básica do ano de 2016 (BRASIL, 2017a), o país tem 1,9 milhão de matrículas na educação profissional, incluindo a educação de jovens e adultos (EJA). Como a menor parte dessas matrículas envolve alunos do ensino médio

regular, a formação técnica atende a cerca de 10% desses estudantes, evidenciando que, até então, ensino técnico não é uma opção disponível para a maioria dos estudantes do ensino médio. Nos países da Europa, por exemplo, o percentual é bem superior ao do Brasil.

Os esforços recentes para fortalecer e expandir a educação profissional levaram à criação de metas ousadas para a educação profissional no PNE. As metas 10 e 11 dizem respeito diretamente à contribuição da formação profissional para jovens e trabalhadores. A meta 10 estabelece que pelo menos 25% das matrículas nos cursos de Educação de Jovens e Adultos (ou seja, cursos de ensino fundamental para estudantes com 15 anos e mais e cursos de ensino médio para estudantes com 18 anos e mais) devem ter acesso à formação profissional. Já a meta 11 estabelece que o número de matrículas em cursos técnicos deverá ser triplicado até o final da vigência do Plano em 2024. Atualmente, não se identifica nenhuma ação por parte do Governo Federal que acene na direção de expandir o ensino técnico, conforme estabelecido no PNE.

Portanto, é grande o potencial de ampliação da educação profissional técnica no Brasil, principalmente por meio de campanhas e estudos que divulguem dados sobre a realidade dos profissionais que ocupam funções de técnicos em cargos de nível médio. Se o ensino técnico se tornar parte do itinerário formativo do sistema educacional, ele será naturalmente uma opção interessante para a maioria dos jovens, podendo tornar-se um caminho preferencial mesmo para aqueles que venham a buscar o ensino superior em um outro momento de suas vidas.

A formação técnica contribui para que o estudante conheça mais rapidamente uma determinada área profissional, antes de tomar uma decisão em relação a um determinado curso superior. A escolha de um curso técnico na área em que se deseja ingressar no ensino superior possibilita que se avalie a afinidade com a área de formação desejada. Muitos estudantes só descobrem que não têm afinidade com a área profissional escolhida após terem iniciado o curso superior, restando-lhes apenas duas opções: seguir com o curso, se esforçando para desenvolver-se na área escolhida, ou abandoná-lo para iniciar um outro. Tendo em vista os esforços envolvidos para ingressar no ensino superior e a influência de familiares e amigos, a questão fica ainda mais complexa, dificultando que se tome alguma decisão.

A dimensão da atratividade da EPT passa pelo ambiente da escola de ensino fundamental e médio. Ao tratar do tema trabalho e da educação profissional, a escola pode tornar mais ou menos atrativa a busca pela formação técnica. Levando- se em conta que a quantidade de funções técnicas de nível médio são amplamente superiores aos cargos de nível superior, na maioria das empresas, o curso técnico torna-se um diferencial para o ingresso no mundo do trabalho em uma área profissional especializada.

No âmbito da regulação e avaliação do ensino técnico no Brasil, embora sejam fatores disciplinados pela LDB e pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a EPT (BRASIL, 2012c), ainda há que se avançar nesses aspectos para que o ensino técnico possa ter o seu nível de qualidade assegurado e aperfeiçoado, a partir de um sistema de avaliação desenvolvido em regime de colaboração entre os sistemas federal e estaduais de ensino (BRASIL, 2011d). Para isso, é necessário estabelecer diretrizes para os eixos tecnológicos ou para os cursos técnicos, complementando as orientações previstas nas diretrizes nacionais do ensino técnico e no catálogo nacional de cursos técnicos (BRASIL, 2008c).