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I

O desenvolvimento acirrado de novos aparatos tecnológicos em dispositivos que se dizem mais funcionais e o acesso a eles cada vez mais facilitado vão criando novos potenciais de comunicação e de dominação totalmente diferentes dos até então existentes. Essas tecnologias, quando inseridas em meios sociais e superadas em relação à apropriação técnica, proporcionam maneiras de incluir e novas abordagens de utilização para, por exemplo, ganhar votos.

Essas tecnologias digitais são responsáveis por, de forma igualitária, possibilitar o acesso à informação por parte de qualquer público “plugado”, uma vez que as deficiências, as condições especiais ou as diferenças acabam ficando em segundo plano. Desta forma, possibilitam que todos tenham os mesmos direitos e sejam vistos da mesma maneira como clientes impulsivos. Francisco Rüdiger complementa que:

“Contrariamente ao ecumerismo liberal, bem intencionado e cheio de bom-mocismo defendido por Levy, a crescente imposição da ideia de hipertexto e sua circulação pelas redes de computadores resulta em que, paulatinamente, vai deixando de haver „diferenciação entre diversas formas de conhecimento‟ [...]. Os estudos de comunicação, reverberando-o, tendem, segundo cremos, a seguir esse padrão, a esse pensamento que está passando a imperar na cultura e que, privilegiando o movimento, a velocidade, a colagem e o fluxo das sensações, em detrimento do conteúdo e sentido das ideias, torna sempre mais difícil, senão inviabiliza, qualquer reflexão de natureza objetiva sobre a existência, incluindo os supostos objetos da comunicação” (RÜDIGER, 2002, p. 93-94).

Decerto, a utilização desses aparatos proporciona maior exclusão, onde não há de forma direta uma discriminação de qualquer natureza, tornando-se um espaço de

“igualdade”, embora carregado com a riqueza da diversidade de dados e simples imagens espetaculares. Debord confere que:

“Quando o mundo real se transforma em simples imagens, as simples imagens tornam-se seres reais e motivações eficientes de um comportamento hipnótico. O espetáculo, como tendência a fazer ver (por diferentes mediações especializadas) o mundo que já não se pode tocar diretamente, serve-se da visão como o sentido privilegiado da pessoa humana – que em outras épocas fora o tato; o sentido mais abstrato, e mais sujeito à mistificação, corresponde à abstração generalizada da sociedade atual” (DEBORD, 2006, p. 18).

II

A criação de um perfil no Twitter pode ser considerada uma ferramenta que esteve ainda longe de obter uma quntidade maciça de votos na campanha eleitoral do ano de 2012, em São Paulo, que é a cidade mais desenvolvida em termos de tecnologia de acesso no Brasil. Esta estratégia cria certa notoriedade ao político, pois demonstra que ele está tentando, de certa forma, relacionar-se com os cidadãos “plugados”, mas ainda não mostra eficácia na aquisição dos votos, pois nem Celso Russomanno nem José Serra ganharam as eleições municipais. Ronald A. Kuntz explica muito bem que a parafernália tecnológica e as novas técnicas apenas conferem só uma pequena ajuda aos meios tradicionais de fazer campanha:

“Portanto, aconselho a qualquer candidato a qualquer cargo ou em qualquer município: não tenha receio de gastar a sola de seus sapatos; sorria, cumprimente e acene aos eleitores, mesmo que seus filhos ou amigos reprovem esta atitude; abrace e aperte todas as mãos que conseguir; erga tantas criancinhas ao colo quanto a força de seus braços o permitir; visite os eleitores em suas casas, nos bares e em qualquer local onde puderem ser encontrados” (KUNTZ, 2010, p. 52).

A rede social também pode ser um caminho para prestar contas. Há uma parte do eleitorado que tem o direito de cobrar o que acontece nos poderes executivo e legislativo; é uma forma de discutir as questões relacionadas à política no país de maneira livre, sem restrições, mas muito incipiente, talvez por estar presente somente em parte da população.

Infelizmente isso está muito longe de acontecer. Aos que delegam o seu voto a algum político, cabe estreitar o contato com o mesmo por meio dessas redes sociais ou

sites que ele possui, pois esse político/máquina que tem um olhar de vídeo virtual e que faz shows de efeitos especiais sem ideal algum, nos quais faz promessas futuristas e não as cumpre, parece mais um garoto propaganda que quer vender seu produto e não ideias em uma sociedade de consumo, transformando seu eleitor em mero cliente.

Ainda há um caminho longo a ser percorrido neste novo cenário político, mas o que se pode relatar é que os primeiros passos já foram dados. Conforme a evolução natural imposta da tecnologia há que se considerar que a Internet veio, de certo modo, incrementar a ações para conquista de votos, da admiração e do envolvimento que se afirmam diretamente dos candidatos como uma ferramenta mercadológica-estratégica com os eleitores. As novas mídias digitais desempenharão um papel fundamental na transformação da opinião pública. Por isso, fica cada vez mais evidente a importância de conhecer realmente os políticos e seus planos de governo, saber de seu passado, suas propostas, e o que está sendo comentando dele na realidade presencial e no meio impresso, pois a web jamais será a saída como um campo suposto, chamado de “ideal”, para buscar essas informações.

Na primeira eleição com a campanha liberada na Internet, os dois principais candidatos à presidência criaram ligação com os eleitores por meio de sites e redes sociais, os quais serviram para divulgar a campanha e arrecadar parte de votos. Na análise deste artigo, é visto que José Serra, Celso Russomanno e, por fim, Fernando Hadad aproveitaram a oportunidade para fazer propaganda eleitoral, não somente no

rádio e na TV, mas também na web, que garantiu um acesso rápido e fácil a pequenas informações e muitas imagens em qualquer lugar do mundo.

A seguir mostraremos os quadros referentes aos resultados (apuração) parcial e final das eleições municipais na cidade de São Paulo:

Quadro I: Resultados do 1º Turno das Eleições Municipais 07. Out. 2012

Total de Eleitores: 8.619.170

Candidato (Partido)

%

Votos

José Serra (PSDB)

30,75

1.884.849

Fernando Haddad (PT)

28,98

1.776.317

Celso Russomanno (PRB)

21,60

1.324.021

Demais candidatos

18,67

1.143.470

Brancos

5,43

381.407

Nulos

7,35

516.384

Válidos

87,22

6.128.657

Ausentes

18,48

1.592.822

Votantes

81,52

7.026.348

Quadro II: Resultados do 2º Turno das Eleições Municipais 28. Out. 2012

Total de Eleitores: 8.619.170

Candidato (Partido)

%

Votos

Fernando Haddad (PT)

55,57

3.387.720

José Serra (PSDB)

44,43

2.708.768

Brancos

4,34

299.224

Nulos

7,26

500.578

Válidos

88,40

6.096.488

Ausentes

19,99

1.722.972

Votantes

80,01

6.896.198

Fonte: TSE – Tribunal Superior Eleitoral

No próximo capítulo traremos a pesquisa de campo para compor esta tese. A pesquisa se volta a analisar, nas redes sociais digitais, as falas dos Twitters dos candidatos utilizando-se de uma ferramenta metodológica com enfoque qualiquantittivo chamado Discurso do Sujeito Coletivo, para poder assim analisar a campanha política às eleições municipais na Cidade de São Paulo.

Capítulo IV

A Nova Política: Análise de Discurso do Sujeito

Coletivo no Twitter nas Campanhas Eleitorais da

Capítulo IV

A Nova Política: Análise de Discurso do Sujeito Coletivo no Twitter nas

Campanhas Eleitorais da Cidade de São Paulo - 2012

Neste capítulo, será apresentada a pesquisa de campo realizada e a posterior análise das informações coletadas. O corpus foi obtido nas redes sociais digitais; consistindo das falas dos Twitters dos candidatos à prefeitura da cidade de São Paulo tendo como agendamento o transporte urbano na cidade. Foram tabuladas analisadas as relações de comunicação nessas redes, expressas num discurso único para cada candidato e categoria, pelo tempo da campanha. Também traz aspectos do desenvolvimento das novas tecnologias da informação na sociedade na Web 3.0, e questiona até que ponto essas falas trazem de utilidade para a sociedade no aspecto, por exemplo, de programas de gestão, custos, meio ambientes nesse tema. Pretendeu-se elucidar os entraves da caminhada política nessas eleições, mais especificamente, no

Twitter, inseridos nas novas linguagens desses novos aparatos tecnológicos.

1.

Procedimento de coleta

A pesquisa de campo foi realizada por meio de dados coletados das falas nos

Twitter, que serão denominadas de tweets, dos candidatos à gestão da prefeitura da cidade de São Paulo no período entre 2013 a 2017 e que mais se destacaram na campanha eleitoral: Fernando Haddad, Celso Russomanno e José Serra.

O período de coleta ocorreu entre 7 de agosto de 2012 e 7 de dezembro de 2012, abrangendo dois meses antes do primeiro turno, o intervalo entre os turnos e um mês após o segundo turno, ou seja, a coleta aconteceu antes, durante e após as eleições, num total de quatro meses.

A escolha da cidade de São Paulo se deu pelo fato de se tratar da mais importante do país, como, também, por essa cidade ter uma das mais concorridas eleições do país.

Entre os temas dos tweets foi selecionado o tema “transporte urbano”, por se tratar de um assunto bastante polêmico, tanto para os candidatos quanto para a população da Cidade de São Paulo. Tendo em vista que o tema “transporte urbano” é muito amplo procurou-se analisar os tweets dos candidatos referentes a:

a) relação custo-beneficio do transporte público; b) diagnóstico e avaliação do transporte público; c) propostas de impacto ambiental;

d) agilidade no tempo de locomoção; e) infraestrutura para o transporte urbano; e

f) propostas de gerenciamento urbano que impactam o transporte público.

Os tweets foram transcritos literalmente do Twitter de cada político. Os tweets de Fernando Haddad encontram-se registrados no Anexo I; os de Celso Russomanno, no Anexo II, e os de José Serra, no Anexo III.

A metodologia de pesquisa científica utilizada para a pesquisa de campo foi o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Segundo Fernando Lefevre:

“O DSC consiste num conjunto de instrumentos destinados a recuperar e dar a luz às Representações Sociais, mormente as que aparecem sob a forma verbal de textos escritos e falados, apresentando tais representações sob a forma de painéis de depoimentos coletivos”

Os tweets representam a opinião dos candidatos referentes às propostas de governo apresentadas nas eleições, que dizem respeito ao conceito de Discurso do Sujeito Coletivo (DSC).

Tendo em vista a dificuldade em se fazer a coleta no Twitter, usamos o ferramental do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) para entender o emaranhado de frases com até 140 caracteres, as quais nem sempre apresentam as ideias de forma clara. Para Lefevre:

“O DSC filia-se assim à aquelas correntes do pensamento contemporâneo que valorizam o múltiplo, o complexo, o diferente, mas considerando, com o mesmo grau de importância, que esse diferente, múltiplo e complexo convive em tensão dialética com o semelhante, com o uno com o simples” (LEFEVRE, 2010, p. 28).

Desta forma foi feita uma categorização procurando analisar os tweets.