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A INFLUÊNCIA DA ATRATIVIDADE FÍSICA NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO

CALENDÁRIO

A INFLUÊNCIA DA ATRATIVIDADE FÍSICA NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO

Everton Luiz de Oliveira41; Carla Spolavori42; Adriana Paula Fuzeto43. Centro

Universitário UNIFAFIBE / Bebedouro – S.P. Brasil.

Resumo

A presente pesquisa teve como objetivo verificar se a atratividade física dos alunos com deficiência auditiva poderia influenciar nas expectativas dos professores que atuam no Atendimento Educacional Especializado (AEE) - Salas de Recursos Multifuncionais (SRMs) em uma cidade de médio porte. Para compor a amostra foram selecionados um total de vinte professores que atuavam em um município do interior do estado de São Paulo como especialistas vínculados ao serviço de AEE da rede pública municipal de ensino. Os participantes realizaram uma atividade envolvendo a previsão de resultados para o atendimento educacional especializado de alunos com deficiência auditiva. Como estímulos utilizaram-se fotografias de crianças, de ambos os sexos, com diferentes níveis de atratividade física. Os resultados apontaram que em face do atendimento educacional especializado, as maiores expectativas incidiram em sua maioria sobre aqueles com alta atratividade física e apenas para as meninas foi encontrado resultados com significância estatística, denunciando que a variável sexo teve efeito sobre os resultados. Conclui-se que a atratividade física dos alunos atendidos na Educação Especial deve ser investigada com rigor e trabalhada junto aos cursos de formação inicial para professores e profissionais que atuam nessa área, objetivando oferecer melhores atendimentos, relacionamentos e situações de aprendizagem para os alunos com deficiência.

Palavras-chave: Educação Especial. Atendimento Educacional Especializado.

Atratividade Física. 41 oliveira-everton@hotmail.com 42 carla.spolavori@terra.com.br 43 dri.fuzeto@hotmail.com

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Introdução

Muitas pessoas ficam perplexas ao encontrar pessoas com deficiências que não apresentam deformidades visíveis ou feiura aparente. Sobre a pessoa com deficiências recaem estigmas e estereótipos que promovem e reforçam o seu distanciamento de características, virtuosismos e performances comumente associadas às pessoas enquadradas nos padrões de beleza e atratividade física forjada cultural, social e historicamente (OMOTE, 1993).

Rosenthal e Jacobson (1973) trouxeram contribuições valiosas para as pesquisas sobre estereótipos, mostrando que o sucesso/fracasso tem relação direta com as expectativas depositadas sobre as pessoas. Ao simular a aplicação de um teste de QI, os pesquisadores entregaram aos professores uma lista de alunos que supostamente teriam maiores chances de “sucesso” escolar. As expectativas positivas depositadas pelos professores, traduzidas em mais entusiasmo e motivação para ensinar esses “alunos especiais”, colocaram a profecia autorrealizadora em ação. Ao final do ano letivo os estudantes com o nome na lista mostraram, em média, um aumento de mais de 12 pontos em seus QIs, diferenciando-se da média das outras crianças que foi de 8 pontos.

Ao evidenciar que as percepções, projeções e expectativas positivas traçadas inicialmente para um determinado conjunto de alunos podem favorecer as conquistas e aprendizagem dos mesmos em sua trajetória escolar (ROSENTHAL; JACOBSON, 1973), pode-se pensar como a beleza poderia refletir um importante contexto para a investigação deste fenômeno, pois as pessoas percebidas como atraentes desenvolveriam qualidades desejáveis em resposta às expectativas de outras pessoas/grupos/sociedade (OMOTE, 1990, 1991, 1997; LEE-MANOEL et al., 2002).

O trabalho de Rosenthal e Jacobson (1973) originou o modelo da expectativa, base conceitual que tem sido proposta para explicar as diferenças nos julgamentos dirigidos às pessoas atraentes e não atraentes. As expectativas formadas a partir de estereótipos ocorrem automaticamente, sem reflexão e sob o efeito da máxima “o bonito é bom”, imprimindo características

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socialmente desejáveis às pessoas atraentes (BORDIERI; SOTOLONGO; WILSON, 1983; OMOTE, 1991b; LEE-MANOEL et al., 2002).

Ao longo dos tempos, alguns estudos têm demonstrado que as impressões e expectativas de professores e outros profissionais, cunhados a partir de estereótipos orientados pela aparência/atratividade física podem ser decisivos no desenvolvimento e “sucesso” dos alunos. Crianças reconhecidas e/ou consideradas atraentes, comumente, são vistas como socialmente mais competentes e com maior potencial intelectual e acadêmico (CLIFFORD; WALSTER, 1973; SALVIA; ALGOZZINE; SHEARE, 1977; KENEALY; FRUDE; SHAW, 1988; KNAPP; HALL, 1999).

Omote (1990, 1991a, 1991b, 1993, 1993/94, 1997, 1999) ao direcionar seu foco analítico para uma investigação epistemológica centrada na atratividade física e a relação estreita com percepções, estereótipos e relações interpessoais no contexto da Educação Especial, contribuiu para a compreensão da realidade vivida e experimentada pelas pessoas com deficiências.

Mediante a aplicação de suas investigações relacionando atratividade física e deficiência Omote (1990, 1993), identificou que as pessoas com baixa atratividade física facial (AFF) podem ser, frequentemente, identificadas como possuindo menor competência acadêmica, intelectual e social. Podem também ser admitidas como apresentando determinadas deficiências (OMOTE, 1993/94) e possuindo características negativas, comportamentos desviantes e outras desvantagens ou “desvirtudes” (OMOTE, 1991b).

Outros estudos também investigaram os efeitos da atratividade física sobre os julgamentos de profissionais (ROSS; SALVIA, 1975; ELOVITZ; SALVIA, 1982) e acabaram sinalizando para resultados que demonstraram que as crianças com baixa atratividade física recebiam mais indicações para ocupar classes especiais para alunos com deficiência mental44 do que aquelas que tinham níveis elevados de atratividade física.

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No Brasil já se faz presente nas políticas educacionais e outros documentos e textos legais novos/outros termos para se referir às pessoas com deficiência mental; contudo, manteremos o

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Ao admitir que os níveis de atratividade física possam estruturar o percurso escolar e acadêmico de alunos em face das expectativas forjadas por professores e outros profissionais (CLIFFORD; WALSTER, 1973; SALVIA; ALGOZZINE; SHEARE, 1977; ELOVITZ; SALVIA, 1982; KENEALY; FRUDE; SHAW, 1988; LEE-MANOEL et al., 2002), deve-se pensar também como esta realidade se apresenta para os alunos com deficiências, apreendidos histórica e culturalmente como pessoas não atraentes ou feias (AMARAL, 1988, 1995), colaborando com os estudos e discussões acerca da realidade social, política e educacional envolvendo as pessoas com deficiências.

Diante do exposto, o presente estudo objetivou verificar a relação entre a atratividade física facial e o prognóstico feito por professores que atuam no atendimento educacional especializado - “Salas de Recursos Multifuncionais” – para alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.

Método

Este estudo é de caráter quantitativo e de cunho descritivo, do tipo transversal, intentando por meio de seus procedimentos teóricos e metodológicos, apresentar e descrever a relação entre atratatividade física e o prognóstico para o atendimento educacional especializado de crianças com deficiências.

Foram identificados e selecionados todos os professores de um município de médio porte do interiro do estado de São Paulo (Brasil) que atuam em Salas de Recursos Multifuncionais, destinadas ao atendimento de alunos com deficiências, totalizando vinte professores. Como critérios de inclusão elegeram-se: a) Disponibilidade e interesse em colaborar e/ou participar do estudo; b) Atender alunos com deficiências matriculados no ensino regular; c) Assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

referido termo para estar em diálogo estreito com as obras que foram utilizadas no presente estudo.

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O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da UFSCar sob o Parecer nº 174.748, estando em conformidade com a Resolução nº 196, que trata das Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos (BRASIL, 1996). Como instrumentos foram utilizados: _ Formulário para caracterização dos participantes; _ Termo de Concentimento Livre e Esclarecido; _ Seleção de trinta fotografias (em preto e branco) com diferentes níveis de atratividade, sendo 15 de meninas (cinco de AA, cinco de AM e cinco de AB) e 15 de meninos (divididas também em AA, AM e AB) (OMOTE, 1991a).

Resultados

A partir da Tabela 1 é possível identificar as características de cada participante deste estudo. Os participantes são todos do sexo feminino e possuem uma média de idade de 39 anos. Todos possuem formação acadêmica em nível superior e já lecionam junto à área de Educação Especial no espaço mínimo de quatro anos. Cabe ressaltar ainda que todos possuem habilitação em Educação Especial e grande parte desses já fez cursos de especialização, mestrado ou doutorado.

Tabela 1- Caracterização dos professores de salas multifuncionais ou de

recursos Sujeit os Se xo Idad e Nível de Formação ExpE d.Esp .(ano s) Exp. EE(a nos) Formação em Ed.Esp. Qtde Alun o SRM Equip adas SRM Local Adequ ado

A F 41 Superior 17 5 Habilit./Espec. 17 Sim Sim

B F 43 Superior 17 3 Habilitação 9 Sim Sim

C F 58

Superior/Ma

gist. 17 2 Habilitação 12 Sim Sim

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E F 28 Superior 4 2 Habilit./Espec. 34 Sim Sim

F F 39 Superior 13 5

Habilit./Mestr./Dou

t. 32 Não Sim

G F 37 Superior 13 5 Habilit./Espec. 12 Sim Sim

H F 29 Superior 4 4 Habilitação 18 Sim Sim

I F 31

Superior/Ma

gist. 5 0,5 Habilit./Mes.* 43 Sim Sim

J F 41 Superior 7 7 Habilitação 4 Sim Sim

L F 47

Superior/Ma

gist. 16 3 Habilitação 10 Sim Sim

M F 42 Superior 7 2 Habilit./Espec. 15 Sim Não

N F 32 Superior 8 8 Habilit./Espec. 19 Não Não

O F 44 Superior 25 3 Habilitação 1 Sim Sim

P F 46

Superior/Ma

gist. 6 6 Habilitação 28 Sim Sim

Q F 41

Superior/Ma

gist. 16 1

Habilit./Mestr.e

Dout.* 11 Sim Sim

R F 31 Superior 2,5 1

Habilit./Espec.*/M

es. 16 Sim Sim

S F 46

Superior/Ma

gist. 20 4 Habilitação 10 Sim Sim

T F 40

Superior/Ma

gist. 17 4 Habilitação 20 Não Não

U F 33 Superior 9 9 Habilit./Espc. 15 Sim Sim

*Representa formação em outras áreas de atuação e/ou especialidade acadêmico-profissional.

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Os resultados obtidos com o teste One-Sample Kolmogorov-Smirnov

Test, evidenciaram que o nível de significância assintótica bi-caudal da distribuição das indicações de acordo com níveis de atratividade física facial (AA, AM e AB) não aconteceu em padrão de normalidade, seja com relação às

meninas ou aos meninos. Justifica-se assim a utilização de análises estatisticas

não paramétricas que indiquem a existência (ou não) de significância estatística relevante.

A Tabela 2 mostra que a maior incidência de escolhas e/ou indicações acerca dos alunos que teriam os resultados mais favoráveis no decorrer do atendimento educacional especializado e, portanto, o melhor resultado no atendimento especializado direcionou-se para aqueles/as alunos/as com atratividade alta (AA), seguidos daqueles/as com atratividade média (AM) e em menor quantidade de indicações de sucesso estavam aqueles/as alunos/as com baixa atratividade (AB).

Tabela 2- Descrição da frequência de escolhas dos alunos que teriam o melhor

prognóstico para o atendimento educacional especializado.

MENINOS MENINAS