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1.5 O Estilo Art Déco e a modernidade no início do século XX – contextualização

1.5.2 Influências

As novas exigências promoveram manifestações da civilização industrial, influenciadas pelas vanguardas artísticas, aqui entendidas como canais que anteciparam expressões relacionadas à estética da máquina.

O Cubismo e seus novos conceitos de espacialidade e geometrização, o Futurismo e a incorporação da tecnologia moderna à arquitetura, o Neoplasticismo e a defesa do purismo, Adolf Loos e o combate ao ornamento, o Expressionismo e a exaltação da plasticidade: todos foram influências importantes na formação do universo Déco (BORGES, 2006).

Nesse contexto, o Art Noveau foi um estilo precursor de uma nova linguagem, fruto do desiderato de acabar com a imitação dos estilos do passado. Significava liberdade decorativa e invenções estilísticas, porém, sucumbiu ao domínio cada vez mais forte da máquina sobre o mundo vegetal11. O mesmo sentido libertário manifestou – se no campo da pintura, por volta

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Todas as definições transmitem a ideia de modernidade e traduzem na nomenclatura exemplificada os estilemas identificáveis aplicados à arquitetura.

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O Art Décose distinguiu do movimento historicista com clareza, e também dos princípios decorativos do Art Noveau, por sua marcada tendência à simplificação formal. Porém, para Margenat, as duas correntes possuíam

de 1905, em uma tendência totalmente nova, através do grupo de pintores Fauves12, reunido

em torno de Henri Matisse e Maurice de Vlaminck, na França, representado pelas pinceladas fortes e luminosas e pela simplificação das formas (FIGUEIRÓ, 2007).

Na arquitetura, o Expressionismo e o Neoplasticismo antecederam à tendência mundial de supressão dos elementos decorativos. Alguns outros movimentos artísticos, como o

Cubismo e o Futurismo, foram desencadeados no início dos anos 1900. Picasso (1881-1973),

um de seus representantes, em nova fase de sua carreira, que inclui a obra “Les Demoiselles

d'Avignon”, de 1907, traz à tona novas percepções, como movimento, perspectiva e

temporalidade à representação bidimensional (Figura 15).

Figura 13 – “Les Demoiselles d'Avignon”, obra de Picasso, de 1907. Fonte: <http://www.moma.org/collection/object.php?object_id=79766>.

Em seguida, o Movimento Futurista Italiano, em meados de 1910, lançou um manifesto que rejeitava vigorosamente o passado e exaltava a máquina e o futuro (FIGUEIRÓ, 2007).

estreita relação com o estilo Déco, dando continuidade à intenção de contribuir com uma nova expressão moderna (MARGENAT, 1994 apud BRUGALLI, 2003, p. 24).

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Foram chamados Fauves ou “selvagens” o grupo de pintores franceses que, após sua primeira aparição pública, em 1905, em manifestação imbuída de sentido libertário, “chocou” os críticos da época. Cores luminosas, fortes pinceladas e simplificação das formas marcavam as inovações dessa pintura (JANSON, 2001, p. 358).

Figura 14 – Torre Einstein, Postdam, Erich Mendelsohn (1920-1924). Fonte: <http://www.architecture.about.com/od/20thcenturyt rends/ig/Modern-Architecture/Neo- expressionism.htm>.

Figura 15 – Torre de água para Hamburgo, Alemanha, 1910. Hans Poelzig.

Fonte:

<http://www.archiveofaffinities.tumblr.com/post/ 4704690136/hans-poelzig-water-tower-for- hamburg-germany>.

Todas essas experiências intercambiavam entre si na busca por dialogar com as demandas da recente civilização industrial, ganhando, ao longo do tempo, força e expressão (BORGES, 2006).

A genealogia artística do Art Déco é difusa e pouco clara, mas admitem-se influências, no plano mais imediato, de algumas vertentes do Art Noveau, do Cubismo, da Bauhaus, do Fauvismo, do Expressionismo e do Neoplasticismo e, no plano mais remoto, de aspectos da arte egípcia, maia, asteca e ameríndia em geral (CONDE; ALMADA, 2000, p.11).

Figura 16 – Fritz Lang. Fotograma do filme “Metropolis”. 1926. Imaginário cosmopolita. Fonte: Bayer, 1992, p. 217.

Conforme Martins (2006), o estilo Art Déco foi influenciado pelos movimentos formais e vanguardas artísticas simultâneas à época, todos conectados a novas percepções da realidade e dos objetos, fragmentando a realidade, absorvendo as noções irradiadas anteriormente, de movimento, velocidade, purismo e abstração. Alguns artistas, como o inglês McKnight Kauffer, traduziram física e mecânica, na representação do movimento “zigue

zague”. As cores utilizadas foram influenciadas pelos Fauves, no uso de tons puros e

contrastantes, e, ainda, pela utilização do brilho e dos matizes dourados e prateados.

Assim, as sementes do estilo Déco foram plantadas muito antes de sua apresentação formal (FIGUEIRÓ, 2007). Em meio ao contexto entre dois grandes conflitos mundiais e de reconstrução da Europa com a paz reinstaurada, a valorização da beleza, do bem-estar, da tecnologia e da era da máquina colocou o centro da Europa, representado pela França, em reconhecido destaque como polo de irradiação cultural.

Resultado de vários movimentos artísticos e sociais de inspiração fragmentada e múltipla, o estilo foi apresentado formalmente na Exposição Internacional das Artes

Decorativas e Industriais Modernas, realizada em Paris, em abril de 1925.

Figura 17 – Exposição Internacional de Artes Decorativas Paris (cartaz). Fonte: <http://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects>.

O grande evento de celebração à modernidade ocupou uma grande área no centro de Paris e reuniu mais de vinte nações (com exceção da Alemanha), as quais participaram de uma fantástica mostra organizada ao longo do Rio Sena, de abril a outubro de 1925 (BAYER, 1992).

O início do século, desde os anos de 1900, 1902, com exposições em Paris e em Turim - Itália, entre outras ocasiões, já era marcado por uma sequência de mostras que divulgavam as novas tendências arquitetônicas de caráter modernizante, mas nenhuma teve o alcance e a repercussão da de 1925 (DIOS, 1991 apud BRUGALLI, 2003).

Figueiró (2007) afirma que, em um primeiro momento, o Art Déco se apresentou ligado ao design de móveis, vestuário e decoração. Manifestou-se como uma reformulação dos conceitos estéticos, com simplificação de formas e adornos, não se aplicando, ainda, à distribuição dos espaços. Para Brugalli (2003), a arte decorativa teve seu grande momento na Exposição e o evento foi o prenúncio do desenvolvimento internacional do design moderno, que influenciaria outros polos mundiais, como aconteceu com os Estados Unidos.

Entretanto, oposições apareceram sob forma de críticas dos defensores mais radicais da estética racionalista, encabeçadas por Le Corbusier13, o qual renegava totalmente o

elemento ornamental, o que se traduz no Pavillon L’Esprit Noveau (Figura 20), na tentativa de estabelecer padrões contemporâneos de homogeneidade.

Figura 18 –Pavillon L’Esprit Noveau, Le Corbusier, 1925. Vista. Fonte: <www.architizer.com>.

Há consenso quanto ao grande legado da mostra ser, além da intenção de exprimir novas ideias, o de introduzir uma nova estética que aliasse arte e tecnologia por meio de seus

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Para o arquiteto suíço, a modernidade já não incluía o uso de figurações tradicionais e de elementos decorativos. Essa postura moderada que incluía a ornamentação era rechaçada. “Este estilo 1925, besta, idiota, raplapá que faz os medíocres ficarem babando de felicidade.” Le Corbusier, 1930 (SANTOS, 1987 apud SEGAWA, 1999, p. 60).

edifícios, obras de arte e móveis adaptados a novos materiais, como o concreto armado e o aço, refletidos em uma grande propagação do imaginário Déco.