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Informação e conhecimento: dois conceitos distintos ou sinóni mos?

e mobilidade das bancas nas teses de programas brasileiros de pós-graduação

2. Informação e conhecimento: dois conceitos distintos ou sinóni mos?

Ao adotarmos tanto a perspetiva semântica e cognitiva, como a pragmática na abordagem do fenómeno infocomunicacional, consideramos que informação e conhecimento, apesar de re- lacionados, não são sinónimos, pois não basta aceder à informação, ainda que modelada, para satisfazer eficiente e/ou eficazmente as necessidades individuais de acesso, uso, processamento e produção de nova informação.

Estas perspetivas foram ilustradas por Brascher e Café (2008: 3-4) ao afirmarem que “para além da visão veiculada pelas Teorias Matemáticas em relação ao conceito de Informação é necessário englobar aspectos no nível semântico (cognitivo) e pragmático (real), incluindo assim as propriedades relativas tanto ao conteúdo e significado como à sua função social”:

— Na perspetiva semântica ou cognitiva, a fonte de alimentação do conhecimento é a in- formação, daí o caráter efémero do conhecimento, em permanente atualização e revisão. A informação diz respeito ao “conteúdo do conhecimento e os juízos de valor fixados na informação, sem relação com as necessidades e interesses do sujeito, que avalia a informação em termos de sua veracidade, confiabilidade, conhecimento, adequação dos juízos de valor e assim por diante” (Fogl, 1979: 22); e “em ambos extremos de um sistema de comunicação (emissor e receptor) se produzem processos cognitivos” (Fer- nández Molina, 1994: 323);

— A perspetiva pragmática “estabelece uma relação direta entre a informação e a satisfa- ção de necessidades do ser humano, estando por isso intrinsecamente ligada ao contexto e à realidade circundante” (Capurro e Hjorland, 2003), “sendo a utilidade dos itens de conhecimento e dos juízos de valor registrados na informação para o sujeito que avalia a informação” (Fogl, 1979: 22). Esta perspetiva recupera a visão económica de valor de Adam Smith, o value-in-exchange and value-in-use. “A primeira aceção de valor, value-in-exchange, diz respeito à chamada análise custo-benefício, ao retorno, ao lucro, que advém de uma determinada transação. . . . A segunda, value-in-use, relaciona-se, e mais uma vez, com a necessidade de contextualizar o conceito de valor, analisando-o em relação com o uso” (Marques, 2012: 162). Assim a quantidade/qualidade da informa- ção disponível pode, ou não, estar relacionada com a tomada de decisões acertadas, as quais dependem, direta e indiretamente do Conhecimento e da experiência acumulada, e, sobretudo, do ambiente (interno e externo) do momento da tomada de decisão. A informação é vista como a matéria-prima do conhecimento, a sua fonte de energia. Ine- rente a esta visão está o conceito de desenvolvimento sustentável, o qual implica, através de uma permanente aprendizagem, um processo infocomunicacional conducente à tomada de decisões conscientes e sábias em relação aos desafios da sociedade global.

Também consideramos que “a informação que se transforma em capital intelectual é aquela que a partir das fontes codificadas pelo tratamento é mapeada aprendida e apreendida, criada ou recriada e finalmente comunicada” (AUN, 12); numa palavra, o seu uso não é um processo mecânico, objetivo ou facilmente medido, pois depende do ser humano que conhece, pensa, emociona-se, tem caraterísticas únicas e insere-se num contexto específico.

Esta nossa distinção entre os conceitos de Informação e de Conhecimento, ainda que apoiada em autores como Bell (1985), Le Coadic (1996), Pantzar (2000), Gadotti (2005), não é abso- lutamente consensual, pois existe falta de clareza na delimitação de conceitos de importância nuclear para a evolução e sedimentação da CI.

Para Bell (1985: 154), a informação diz respeito às “notícias, factos, estatísticas, relatórios, legislação, códigos de impostos, decisões judiciais, resoluções e coisas pelo estilo”, enquanto o conhecimento é “a contextualização da informação, a sua interpretação, a exegese”. Ou seja, a informação são os factos e o conhecimento são as teorias, as interpretações decorrentes das relações estabelecidas entre os factos.

Segundo Le Coadic (1996: 10-11, 27 e 39), a informação comporta um elemento de sentido e existe um “Ciclo Social da Informação, o qual é constituído por três fases: a construção, a comunicação e o uso da informação, que se sucedem e se alimentam recíprocamente pela socie-

Neste contexto, o objetivo final de um serviço e/ou de um produto de informação, deve ser pen- sado em termos dos usos dados à informação e dos efeitos resultantes desses usos nas atividades dos usuários. A função mais importante do sistema de informação é, portanto, a forma como a informação modifica a realização dessas atividades”.

Também Pantzar (2000: 230-236) afirma que a informação só gera conhecimento quando ajuda a resolver os problemas humanos, a reduzir a pobreza, o desemprego, a solidão, os crimes, as guerras.

Gadotti (2005: 45-46) refere claramente que “mais do que a era do conhecimento, devemos dizer que vivemos a era da informação, pois percebemos com mais facilidade a disseminação da informação e a manipulação de dados, muito mais do que a generalização da oportunidade de criar conhecimento”.

De acordo com estas opiniões, podemos reafirmar que informação e conhecimento não são sinónimos, pois não basta aceder à informação para, automaticamente, possuir conhecimento. É necessário um processo longo de aprendizagem que vai muito além do saber empírico e das crenças e que procura fundamentar, provar, demonstrar, evidenciar, criticar, nos mais variados contextos, a informação que foi acedida e comunicada. Assim, apenas o conhecimento constitui uma ferramenta necessária para o empreendedorismo, o qual conduz à criatividade e a uma série de inovações sociais, institucionais, tecnológicas, organizacionais, económicas, ambientais e políticas.

Perfilham também esta distinção entre os dois conceitos autores como Fogl (1979: 21-22), Fernandez Molina (1994: 328), Pellicer (1997: 88), Rezende e Abreu (2000: 60), Davenport (2000: 12), Wilson (2002), Albagli (2005: 4), Varela (2006: 19), etc.

Assim, parece-nos que a divisão tipológica entre os conceitos de conhecimento tácito e co- nhecimento explícito, de conhecimento subjetivo e conhecimento objetivo, de conhecimento tático e conhecimento estratégico para justificar a possibilidade de gerir a informação e o conhe- cimento como se se tratasse de conceitos sinónimos, é bastante artificial e muito pouco funda- mentada, ou, como afirma Wilson (2002), a nonsense.

Os autores que consideram a informação como sinónimo de conhecimento, desconstroem o binómio em análise. É o caso de Fernández Marcial, Silva e Martins (2006: 4), apoiados nos resultados da pesquisa em Neurociências e em Psicologia Cognitiva: “a informação . . . compreende o conjunto estruturado de representações mentais e emocionais codificadas (signos e símbolos) e modeladas com/pela interacção social, passíveis de serem registadas num qualquer suporte material . . . e, portanto, comunicadas de forma assíncrona e multi-direccionada”.

Partindo dos trabalhos de Wilson, Silva (2012) desenvolve uma abordagem cognitivista, info-comunicacional e sistémicae “defende a existência de um conhecimento intermédio entre o conhecimento tácito e o explícito – o conhecimento implícito, que pode ser expresso, tornando- se explicíto e, enquanto tal, podendo ser assumido como sinónimo de informação”. Assim, quanto mais conhecimento se tem, mais informação se produz e vice versa.