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Decisões legais sobre o princípio de esgotamento

6. Síntese conclusiva

Num estudo que se assume como uma análise exploratória de dados, seria prematuro falar de conclusões. É certo que não se partiu de um desconhecimento absoluto, dada a familiaridade prévia relativamente ao quotidiano de cada um destes grupos, mas, como o dita a necessidade ci- entífica de romper com o senso comum (mesmo que para mais tarde confirmá-lo, em parte ou no todo), a informação recolhida e o que ela permite revelar num sentido quantitativo confrontam- nos com a necessidade de proceder à criação de um conjunto de hipóteses que possam, em futuras pesquisas, guiar-nos de forma mais segura.

Encerramos por isso este artigo com uma síntese das hipóteses que foram sendo sugeridas pelas análises acima apresentadas.

num determinado dia e o envolvimento para esse mesmo período: quanto mais posts, maior o envolvimento para cada um dos posts nesse mesmo dia.

Hipótese A1: Especificamente para estes dois grupos, ainda que um maior número de posts num dia tenda em ambos os casos a gerar maior envolvimento para cada um dos posts, e portanto se some maior envolvimento nesse mesmo dia, a tendência é mais significativa no caso do grupo IUFBLMUD do que na TCTVT.

Hipótese B: Assumindo uma categorização binária entre temas «factuais» e «subjectivos», estes últimos geram, em ambos os grupos, maior envolvimento.

Hipótese B1: Este acréscimo no grau de envolvimento dá-se, no caso da TCTVT, muito mais ao nível dos comentários do que dos likes.

Hipótese B2: Este acréscimo no grau de envolvimento dá-se, no caso da IUFBLMUD, muito mais ao nível dos likes do que dos comentários.

Hipótese C: A atividade destes grupos não é geradora de diálogo consistente e continuado. Hipótese C1: Ainda assim, diálogo é mais significativo nas publicações que lançam o tema do que nas que correspondem à atividade mais comum (publicar links para vídeos de acordo com o tema diário proposto).

Hipótese D: Entre os utilizadores ativos de ambos os grupos (e desprezando o contributo dos likes), há uma tendência para que estes se distribuam entre «publicadores», «comenta- dores», e aqueles que, pertencendo a ambos os subconjuntos, podem ser classificados como «publicadores-comentadores».

Hipótese D1: Essa interseção de «publicadores- comentadores» aparenta ser maior no caso da TCTVT, que pelo menos segundo estas métricas (número de posts e número de comentários por utilizador) poderá ser considerado um grupo mais coeso.

Trata-se, recordemo-lo, de hipóteses que se aplicam exclusivamente aos grupos que nos propusemos estudar, ainda que acreditemos que possam servir de primeiro guia a outros inves- tigadores que pretendam, como foi o presente caso, concentrar-se na dinâmica dos grupos do Facebook, por contraste por exemplo com as páginas institucionais. Reservamos para esse caso uma última hipótese, de caráter mais global, e que formulamos assim.

Hipótese global: Parece haver nestes grupos, salvaguardada a excepção dos outliers38, um

tipo de interação diferente da que é associada às páginas39. Ainda que em ambos os casos a

facilidade – ou mesmo descomprometimento – dos likes não deixe de ser a modalidade domi- nante, quando nos focamos nos comentários é de supor que estes gerem uma dinâmica mais «intensa» (i. e., longas discussões entre múltiplos utilizadores) nas páginas e mais «dispersa» (i. e., mais condensados) nos grupos. Em contrapartida, haverá nos grupos uma tendência para maior regularidade na interação, que se liga a uma sensação de pertença, por contraste com uma interação mais pontual e distanciada no caso das páginas.

38. Como o que isolámos acima, no final do ponto 4.

Referências

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Élmano Ricarte de Azevêdo Souza & Rita Maria Brás Pedro Figueiras

elmricarte@gmail.com / ritafigueiras@fch.lisboa.ucp.pt Universidade Católica Portuguesa (U.C.P.)

Resumo

Apresenta-se um dos eixos de uma investigação em curso nas Ciências da Comunica- ção sobre o fenómeno das Marchas Populares de Lisboa. A realização das festivida- des dá-se no mês de junho. As Marchas representam os bairros da capital portuguesa em um desfile anual de competições, trazendo as características singulares de cada comunidade.

Este trabalho é resultado da parte contextual de um estudo em curso de doutoramento sobre o fenómeno em análise. Aqui, apresenta-se sucintamente o metaprocesso de mediatização das Marchas Populares ao longo do tempo.

A base teórico-metodológica da pesquisa está nos estudos da mediatização, a qual analisa a relação dos fenómenos sociais com os media. Assim, buscamos destacar a importância de mapear esse metaprocesso e clarificar como o modus operandi mediá- tico é presente nesse fenómeno folclórico ao longo dos anos de realização. Tentamos perceber desde quando e como as Marchas têm-se relacionado com os media. Palavras-chave: Ciências da Comunicação; Mediatização; Folkcomunicação; Mar- chas Populares de Lisboa.

1. Introdução

O presente trabalho tem como fonte empírica de estudo as Marchas Populares de Lisboa. As Marchas são representações dos bairros da capital portuguesa em honra aos santos celebrados no mês de junho no contexto social profano e sagrado em homenagem aos santos António, João e Pedro (celebrados nos dias 13, 24 e 29 de junho respectivamente no calendário litúrgico católico). É importante dizer, inicialmente, que as Marchas Populares de Lisboa (como elemento do campo empírico) são encaradas como um meio de comunicação local e popular, o qual, com o passar do tempo, mediatiza-se e tange vários media. Como objetivo de investigação, portanto, temos a análise dessa inter-relação (Hepp, 2014) mediática interdependente, como diria Elias (2008), entre as Marchas e os media.

Esse trabalho faz parte de nossa investigação em nível de doutoramento de Ciências da Co- municação ainda em curso. E para compreender como ocorre tal fenómeno, estudamos as confi- gurações comunicativas (Hepp, 2014) produzidas a partir da inter-relação com os media no pre- sente momento. Porém, aqui no 9º congresso da Associação Portuguesa de Ciências da Comu- nicação – SOPCOM 2015, apresentamos apenas algumas notas contextuais de nossa pesquisa.

Vamos expor aqui de forma breve o eixo diacrónico, o qual serve como suporte complementar para nossa análise com a abordagem sincrónica desenvolvida no âmbito do doutoramento. Ou seja, é, pois, nosso objetivo neste trabalho, apresentar de maneira sucinta o metaprocesso de mediatização das Marchas Populares ao longo do tempo.

Como principal ferramenta metodológica para observar a história das Marchas Populares de Lisboa com os media, tomamos como referência principal os estudos da mediatização, a qual é operacionalizada por Hepp (2014: 57). O autor afirma que «(...) a midiatização está interessada na inter-relação entre a mudança da mídia e da comunicação, por um lado, e a mudança da cultura e da sociedade, por outro lado (...)».

1.1 Estudos sobre o metaprocesso de mediatização

Hepp (2014) lembra-nos de que outros pesquisadores já observaram o fenómeno de medi- atização no meio social anteriormente com variações de nomenclatura. Um exemplo deles é Manheim (1933: 11, tradução nossa) apud Hepp (2013), que como cientista social, constatou as transformações nas relações sociais na modernidade a partir dos media, citando haver uma «mediatização dos relacionamentos humanos imediatos1». Sendo assim, Hepp (2014: 47, grifos

originais) divide tais estudiosos em duas tradições de estudos sobre a mediatização: institucio- nalista e socioconstrutivista.

Ambas diferem em seu foco sobre como teorizar a midiatização: enquanto a tradição institucional tem, até recentemente, estado interessada principalmente na mídia tra- dicional de massa, cuja influência é descrita como uma lógica de mídia, a tradição socioconstrutivistaestá mais voltada às práticas de comunicação cotidianas – espe- cialmente aquelas relacionadas à mídia digital e à comunicação pessoal – e enfoca a construção comunicativa em transformação da cultura e da sociedade.

Dessa forma, a primeira tem como premissa a «lógica de mídia» fundamentada por Altheide e Snow (1979), os quais argumentam que a mídia possui um enquadramento gradual para as formas de comunicar no meio social. Porém, foi somente Asp (1990) quem trouxe uma rela- ção com tal lógica e o termo mediatização. Hepp (2014) considera que, nesta tradição, houve uma maior aplicabilidade do termo nas análises sobre política (Schrott, 2009; Strömbäck, 2011; Donges, 2008; Imhof, 2006; Kepplinger, 2002; Mazzoleni, 2008 e Vowe, 2006). E ainda, em menor proporção, em outras áreas como ciências (Rödder e Schäfer, 2010; Weingart, 1998) e religião (Hjarvard, 2012).

Porém, para Hepp (2014), Hjarvard (2008; 2012; 2013) foi quem mais difundiu e aprofundou a perspectiva da tradição institucionalista nos estudos da mediatização. Hjarvard (2012) defende a mídia como instituição semi-independente, observando os relacionamentos dela com outras instituições sociais. Nos estudos de Hjarvard (2012: 64, grifos originais), a nomenclatura

[...] midiatização é utilizada como conceito central em uma teoria sobre a importância intensificada e mutante da mídia dentro da cultura e da sociedade. Por midiatização da sociedade, entendemos o processo pelo qual a sociedade, em um grau cada vez maior,

1. Da Língua Inglesa traduzido do original em Língua Alemã por Hepp (2013): «mediatization of direct human relationships».

é caracterizado por uma dualidade em que os meios de comunicação passaram a estar integrados às operações de outras instituições sociais ao mesmo tempo em que também adquiriram o status de instituições sociais em pleno direito.

Já a segunda tradição, a socioconstrutivista, é mais focalizada «no interacionismo simbólico e na sociologia do conhecimento, mas também integra algumas considerações fundamentais da teoria de mídia» (Hepp, 2014: 48). Nela, a sociedade é observada de um ponto de vista histórico, analisando os usos e desenvolvimentos com os media em sociedade. Hepp (2014: 49, grifos originais), afirma sobre esta tradição que:

O intuito desse tipo de pesquisa é investigar a inter-relação entre a mudança da comu- nicação midiática e a transformação sociocultural como parte das práticas de comuni- cação cotidianas, e como a alteração dessas práticas está relacionada à construção da realidade comunicativa em mudança. Em consideração aqui está não apenas a mídia de massa clássica, mas especialmente a assim chamada nova mídia da internet e da comunicação móvel.

Como uma forma de operacionalizar os estudos com base na mediatização, Hepp (2014: 56) não «toma partido» de uma das tradições e traça linhas de análise diacrónica e sincrónica sobre o que ele chama de «configurações comunicativas de mundos mediatizados». Sendo assim, o autor oferece uma forma de analisar não um tipo de mídia, mas uma esfera de media ao longo do tempo, unindo as duas tradições. E pode ser investigada ainda tal configuração em uma «perspectiva trasmedial», uma vez que: «Uma configuração comunicativa raramente é baseada em um único meio: normalmente fundamenta-se em vários».

Para chegar a tal definição, Hepp (2014) aproxima-se do pensamento sociológico de Elias (2008), o qual observa, em nossa sociedade do final do século XX e início deste, uma forte inter- dependência entre as várias instituições e indivíduos e também a formação de redes interativas de relacionamentos sociais. De suas análises, ficam as ideias de que tais relacionamentos interde- pendentes criam entrelaçamentos (Elias, 2004), sendo estudados a partir da investigação de suas configurações. Em outras palavras, nossa sociedade tem várias «estruturas sociais» como «cida- des e aldeias, universidade e fábricas, estados e classes, famílias e grupos operacionais[...]» nas quais os «indivíduos particulares» estão entrelaçados, formando «[...] teias de interdependência ou configurações de muitos tipos [...]» (Elias, 2008: 15-16).

E tendo como referencial este pensamento de Elias, Hepp (2014: 56) aborda o conceito das «configurações comunicativas», argumentando:

[...] podemos falar de configurações comunicativas como padrões de processos entre- laçando o que existe ao longo de várias mídias2e em um «enquadramento temático»

que orienta a ação comunicativa. Assim, é possível dizer que uma única rede de comunicação já constitui uma configuração comunicativa específica: isso envolve a ação comunicativa entrelaçada articulada na interação midiatizada pelo uso da mídia.

E destacamos mais uma vez que, para operacionalizar tal conceito, o autor apresenta duas perspectivas complementares: a diacrónica e a sincrónica. Isto é, a primeira projeta a análise

2. O termo «mídias» é mais usual na Língua Portuguesa no Brasil. Em Portugal, usa-se o plural media, aproximando-se do termo singular no latim médium.

ao longo do tempo e a segunda observa a coexistência de vários media. E é importante lembrar que as configurações comunicativas são assim expostas como ferramenta de análise, pois, como adverte Hepp (2014), o estudo em mediatização não está interessado em analisar a mídia em si e suas mudanças separadamente, mas de forma inter-relacionada com a mudança da cultura e da sociedade. Por isso, analisam-se as transformações das configurações comunicativas nos mundos mediatizados.

Portanto, pensamos que as Marchas apresentam um mundo mediatizado, no qual ela é uma forma de expressão comunicação, e possui um percurso, passando, ao longo de sua construção histórica, por um metaprocesso de mediatização. Ou seja, passa por um relacionamento com os media tradicionais (cinema, jornal impresso, rádio, televisão, marketing) e também com os

mediado ambiente da internet. E frisamos mais uma vez que analisamos em nosso estudo de

doutoramento o viés sincrónico e, aqui, trazemos um apanhado do diacrónico, o qual é impor- tante como contexto histórico naquele estudo.

2. Desenvolvimento

Dando continuidade sobre a forma como aplicar os estudos da mediatização, Hepp (2014) operacionaliza suas ideias sobre as «configurações comunicativas». O autor apresenta dois ei- xos complementares para se analisar as configurações comunicativas em mundos mediatizados: diacrónico e sincrónico, expostos resumidamente por nós na figura 01:

Figura 01. Esquema de Hepp (2014: 58) sobre a operacionalidade do conceito de mediatização em dois eixos de análise: diacrónico e sincrónico.

mediatização das Marchas sob a perspectiva diacrónica, a qual é contextual para nossa investiga- ção de doutoramento. O que quer dizer: não vamos fazer um aprofundamento das configurações em si, do antes e do depois, da análise da força de moldagem que a presença de um tipo de mídia acarretou para o fenómeno social em análise. É apenas contextual, pois, de acordo com Hepp (2014: 57), a pesquisa diacrónica da mediatização leva em conta detalhadamente uma «compa- ração no tempo: investigamos as configurações comunicativas de certos mundos midiatizados em diferentes pontos no tempo, e comparamos os resultados».

2.1 Marchas Populares de Lisboa e os media

O nascimento das Marchas remonta às madrugadas, nas quais se saía de festa com amigos e familiares, molhavam-se os rostos nas bicas e seguiam pelos logradouros públicos a cantar e dançar em comemoração pelo bom tempo e em homenagem aos padroeiros populares (Abel, 2006). Diversas destas fontes de águas públicas ainda estão espalhadas pela cidade como mostra a figura 02. Mas, agora, apenas como relicários das memórias daqueles tempos. São hoje monumentos do património público.

Com o passar do tempo, cada bairro e sua organização comunitária assumiram a adminis- tração de um grupo de pessoas com a função de realizar as coletividades. Como recorda Abel (2006), todos os anos, durante os meses de maio, junho e julho, vários grupos seguiam para a Praça do Comércio, no centro da capital portuguesa, e dançavam ao som de músicas folclóricas naquelas noites mais claras de primavera e verão. Eram enormes arraiais ao céu aberto com várias comidas locais a exemplo da sardinha, pescado em abundância nesta época do ano no he- misfério norte. Juntavam-se aos grupos lisboetas, ranchos folclóricos de vários lugares do país. Seus figurinos remontavam aos camponeses e seus trabalhos feitos na lavoura no interior ou nos portos urbanos de Portugal. Segundo Abel (2006), tais festividades ocorriam desde meados do século XVII. Podiam ser comparadas como grandes festas pagãs em agradecimento pelo bom tempo e pelo resultado de sucesso nos trabalhos daqueles grupos. Daí, começaram algumas das rivalidades entre as comunidades dos bairros para ser a melhor coletividade apresentada, a mais organizada, etc.

Podemos destacar que, até 1932, alguns jornais (como por exemplo: Século; Mercúrio) abordavam em suas páginas sobre o tema das festas e dos ranchos na cidade, porém não faziam parte da organização de tais festejos e assim tão pouco faziam as entidades públicas. Eram, pois, festividades populares espontâneas. Porém, em 1932, os jornais Diário de Lisboa e o Notícias Ilustradodecidem organizar o primeiro desfile das, então, Marchas Populares de Lisboa junto a Sociedade Avenida Parque.

Aquela iniciativa foi «comandada» por José Leitão de Barros na cadeira da direção do jornal Notícias Ilustrado. Ele tinha também outras atividades como a de promotor cultural e era ainda realizador de cinema. E, em seu círculo de amizades e trabalho, estava António Ferro, criador do Secretariado da Propaganda Nacional e coordenador da política cultural do Estado Novo em Portugal (1933-1974). Outra figura nesse círculo era Campos Figueira Gouveia, da direção da Sociedade Avenida Parque. Estas três figuras juntas apropriaram-se das festas populares

Figura 02. Fonte antiga de «ágoas livres» do município de Lisboa.

Esta é localizada na Avenida Estrada de Benfica, no bairro de São Domingos de Benfica: Foto: Élmano Ricarte de Azevêdo Souza/ 2015.

espontâneas e organizam os primeiros desfiles. O primeiro teve como participação apenas das coletividades dos bairros de Campo de Ourique, Bairro Alto e Alto do Pina.

Naquela época, houve uma enorme promoção da iniciativa organizada por tal grupo nos jornais locais. Uma mostra disso é a figura 03, capa do extinto jornal Diário de Lisboa no dia 12 de junho de 1932.

Figura 03. Capa do jornal Diário de Lisboa, edição do dia 12 de junho de 1932. Fonte: Arquivo Digital da Fundação Mario Soares.

Disponível em: www.fmsoares.pt. Acesso em: 19 de dezembro de 2012.

Em 1934, a Câmara Municipal de Lisboa, com apoio de parceiros privados, passou a promo- ver os desfiles das Marchas Populares como um grande evento na cidade, unindo todos os grupos em desfiles competitivos. Entretanto, vale mencionar que, durante aquele período, Portugal pas- sava por um regime de ditadura e a organização dos desfiles proporcionaria a visibilidade de um povo festivo, fraterno e pacífico, com uma identidade e consciência próprias sobre ela.

Desde então, na noite de 12 de junho, véspera do dia de Santo António, os participantes de vinte grupos (podendo variar tal número para mais ou menos) de Marchas descem a Avenida da Liberdade (antigo limite da cidade entre mouros e cristãos, hoje, grande avenida de comércio de luxo e turismo com lojas das principais marcas internacionais como, por exemplo, «Louis Vuitton», «Gucci», «Dolce & Gabbana» e «Prada» e ainda com teatros e cinemas como «Cinema São Jorge» e «Teatro Tivoli») até a Praça dos Restauradores. Ao todo, é um percurso de mais de mil e duzentos metros, feito aos olhos dos lisboetas, bairristas ou não, e de turistas.

Nesse percurso, há vários tipos de veículos de comunicação sejam eles emissoras de televi- são, de rádio ou jornais impressos assim como agências mediáticas nacionais e internacionais. E, apesar de terem nascido em Lisboa, segundo Abel (2006), as Marchas estão, atualmente, em todo Portugal como ilustra a figura 04 com cartazes de desfiles na cidade de Coimbra (centro do país) e no município de Faro (sul):

Figura 04. Cartazes dos desfiles das Marchas Populares em algumas cidades de Portugal.