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Iniciativas internacionais em prol da liberdade de expressão e acesso à

3 ASPECTOS TEÓRICO-HISTÓRICOS

3.1 Pluralidade discursiva na Biblioteca

3.1.3 Iniciativas internacionais em prol da liberdade de expressão e acesso à

Vergueiro (1987, p. 22) propõe parâmetros de resistência e luta contra a censura e a favor da liberdade intelectual nas atividades e serviços dos bibliotecários para guiá-los, além de orientações para a formulação de declarações contra a censura como a Library Bill of

Rights (Declaração de Direitos da Biblioteca) de 1939.

A American Library Association (ALA) publicou o Manual de Liberdade Intelectual para responder a questões práticas que enfrentam os profissionais da informação na aplicação dos princípios da liberdade intelectual nos serviços da biblioteca e afirma que todas as bibliotecas são fóruns de informação e ideias, apresentando uma visão geral dos problemas de hoje e os novos desafios, da Internet à privacidade e confidencialidade (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 2016a).

A publicação não garante por si só que os direitos dos bibliotecários e os usuários nunca serão desafiados ou que as dificuldades não irão surgir, mas aderir a estes princípios em cada biblioteca é absolutamente essencial se profissionais da informação e os cidadãos pretendem desfrutar de todos os benefícios da liberdade de expressão (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 2016a).

Aprovada em 1939 pelo Intellectual Freedom Committee, a Library Bill of Rights (Declaração de Direitos da Biblioteca) elege princípios básicos que devem reger os serviços de todas as bibliotecas. A declaração teve algumas modificações e a última data de 1996. No período da 2ª Guerra Mundial, imperava um período de grande ameaça à liberdade intelectual, em que governos realizavam supressão de tudo o que consideravam contrário aos seus interesses, tendo a Declaração papel importante como instrumento de resistência às pressões (WIKIPÉDIA, 2016).

As questões surgem a respeito da aplicação de princípios para práticas específicas da biblioteca. As políticas fundamentais orientaram os serviços e listam seis princípios básicos (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 1996):

I. Livros e outros recursos da biblioteca devem ser providos para o interesse, informação e esclarecimento de todas as pessoas da comunidade a ser servida. Os materiais não devem ser excluídos devido à origem, fundo, ou pontos de

vista daqueles contribuindo para a sua criação. II. As bibliotecas devem prover materiais e informações que apresentam todos os pontos de vista sobre temas atuais e históricos. Os materiais não devem ser proibidos ou removidos por causa da desaprovação partidária ou doutrinária. III. As bibliotecas devem desafiar a censura no cumprimento de sua responsabilidade de prover informação e esclarecimento. V. As bibliotecas devem cooperar com todas as pessoas e grupos preocupados em resistir à restrição da livre expressão e livre acesso às ideias. V. O direito de uma pessoa a usar uma biblioteca não deve ser negado ou abreviado por causa de origem, idade, antecedente, ou pontos de vista. VI. Bibliotecas devem se tornar espaços de exposição e salas de reuniões disponíveis para o público que servem; devem fazer tais instalações disponíveis numa base de igualdade, independentemente das crenças ou filiações de indivíduos ou grupos que solicitam a sua utilização.

Outra iniciativa, que procura se contrapor à censura, é o Committee on Freedom of

Access to Information and Freedom of Expression (FAIFE). A FAIFE é uma iniciativa no

âmbito da International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA) para defender e promover os direitos humanos básicos definidos no Artigo 19 da Declaração Universal das Nações Unidas dos Direitos Humanos:

Todo indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

O Comitê FAIFE promove a liberdade de acesso à informação e à liberdade de expressão em todos os aspectos, direta ou indiretamente, relacionada a bibliotecas e biblioteconomia. A FAIFE monitora o estado de liberdade intelectual dentro da comunidade de bibliotecas em todo o mundo, apoia o desenvolvimento de políticas da IFLA e coopera com outras organizações internacionais de direitos humanos (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2015).

O objetivo global da IFLA/FAIFE é aumentar a conscientização da correlação essencial entre o conceito de biblioteca e os valores da liberdade intelectual. Para alcançar este objetivo, a IFLA/FAIFE reúne e divulga documentação e visa estimular um diálogo dentro e fora do mundo das bibliotecas (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2014).

Para a FAIFE, a liberdade de acesso à informação através de instituições públicas como bibliotecas visa garantir as mesmas oportunidades individuais para encontrar a liberdade de expressão. A boa qualidade de serviços de bibliotecas constitui um elemento essencial do acesso universal. Um compromisso com a liberdade intelectual é uma

responsabilidade central para a biblioteca e profissionais da informação (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2014).

Na Declaração da IFLA sobre as Bibliotecas e a Liberdade Intelectual (1999), as bibliotecas e seus funcionários devem, portanto, aderir aos princípios da liberdade intelectual, do livre acesso à informação e à liberdade de expressão e reconhecer a privacidade dos utilizadores das bibliotecas (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 1999).

A FAIFE promove eventos e formaliza documentos em prol da resistência a qualquer tipo de restrição de liberdade intelectual e acesso à informação. Apoia e coopera com organismos internacionais, organizações ou campanhas relevantes, como a UNESCO, PEN

International, Article 10, Index on Censorship, International Freedom of Expression Exchange (IFEX) e Amnesty International (INTERNATIONAL FEDERATION OF

LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2015).

Um movimento que concede espaço e voz aos discursos silenciados é o Banned Books

Week, um evento anual, realizado durante a última semana de setembro, que comemora a

liberdade de ler. Destaca o valor de acesso livre e gratuito à informação, reúne todos os atores que envolvem o livro − bibliotecários, livreiros, editores, jornalistas, professores e leitores de todos os tipos − para apoiar e partilhar a liberdade de procurar e de expressar ideias, mesmo àqueles considerados pouco ortodoxos ou impopulares (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 2016b).

A semana de livros banidos foi iniciada em 1982, pelo ativista bibliotecário Judith Krug. O evento é patrocinado pela ALA, a American Booksellers Association, American

Booksellers Foundation for Free Expression (ABFFE), American Society of Journalists and Authors, Association of American Publishers, National Association of College Stores e

aprovado pelo Centro do Livro da Library of Congress (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 2016b).

A proposta da semana é chamar a atenção para o perigo e dano que existe quando as restrições são impostas sobre a disponibilidade da informação em uma sociedade livre. Os livros apresentados durante a semana foram todos alvos de remoção ou restrições em bibliotecas e escolas. Enquanto os livros têm sido e continuam a ser proibidos, parte da celebração da Banned Books Week é o fato de que, na maioria dos casos, os livros têm permanecido disponíveis (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 2016b).

Nos eventos públicos, os livros proibidos são lidos em voz alta e comumente realizadas as leituras para comemorar o evento. Isso acontece graças aos esforços de

bibliotecários, professores, estudantes e membros da comunidade (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 2016b).

O evento também direciona a atenção para indivíduos que ainda são perseguidos por causa dos escritos que produzem, circulam ou leem. Os documentos no site concentram casos por ano, que mostram pessoas que foram mortas, encarceradas ou de outra forma perseguidas pelas autoridades nacionais em todo o mundo, e exortam as pessoas a "tomar medidas" para ajudá-las em parceria com a Rede de Ação Urgente (RAU), entrando em contato com as autoridades sobre as violações dos direitos humanos (WIKIPÉDIA, 2015).

Todas essas reflexões e iniciativas concedem uma nova perspectiva a decisões e processos referentes ao acesso à informação e à oferta da pluralidade discursiva. As práticas e políticas de informação podem possibilitar a democratização cultural e entendemos que a seleção tem um potencial de "orquestração" da pluralidade de discursos. Esta é uma função típica do desenvolvimento de coleções, tema da próxima seção.