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CAPÍTULO III ± O PROFESSOR ENTRE A INOVAÇÃO E A MUDANÇA

2. Mudar a Educação para Melhorar o Sistema

2.1 Inovar em Educação

A problemática da mudança em torno da educação tem sido uma tónica no seio dos nossos governantes nas últimas três décadas. Como refere Brites Ferreira a temática, já desde os anos 50 que passou a ser alvo de especial atenção, atenção essa que se mantém até aos dias de hoje. Assim o UHIHUH3DUGDO  TXDQGRFRQVLGHUDTXH³A escola, estando, por força da sua acção, integrada num mundo em crescente mudança inovadora, não pode alhear-se do que ocorre à sua volta, no plano tecnológico, como ao nível doVYDORUHV´

Do desajuste que o sistema apresentava na adequação ao desenvolvimento/alteração da sociedade, crescia a necessidade da mudança no seu interior.

Brites Ferreira (2001: 81-85) considera que a escola em poucas décadas passou de escola de elites a escola de massas, e as reformas foram proliferando, caracterizando a segunda metade do séc. XX como o período em que foram efectuadas mais reformas na educação, em diversos países, mas nem sempre atingindo os seus objectivos.

A alteração das estruturas familiares e o surgimento de novas necessidades de apoio. A massificação do ensino, o incremento da diversidade cultural e social dos alunos, o desenvolvimento científico e tecnológico bem como uma concepção de educação paralela que não se confina às fronteiras de uma escola fechada à comunidade, trouxe às escolas um acréscimo de funções e responsabilidades.

+RMH QD HUD GD ³pós-PRGHUQLGDGH´ que se caracteriza pelos avanços das telecomunicações e pela rápida disseminação da informação, cada vez mais se faz sentir a influência de um sistema politico economicista nas exigências ao ensino.

Verifica-se uma necessidade de mudança das estruturas e processos educativos como forma de dar resposta às necessidades e exigências da sociedade em constante desenvolvimento. O reconhecimento da necessidade da mudança face às mudanças sociais do meio envolvente é uma realidade. $RDQDOLVDUDVPXGDQoDVQRVVLVWHPDVRUJDQL]DFLRQDLVWHPRVTXHDVLWXDU´na GLPHQVmRVRFLDO´em que esta se engloba (FORMOSINHO, 2000: 18).

Felizmente a forma de operar neste campo, tem sofrido uma alteração no decorrer dos tempos. A escola como uma instituição singular, com particularidades próprias e um meio de acção específico tem ganho um lugar de destaque face à concepção anterior de escola como um prolongamento da DGPLQLVWUDomR FHQWUDO $V HVWUDWpJLDV ³verticais´ GH LQRYDomR SHUGHUDP R VHQWLGR IDFH j SHUWLQrQFLD GH XPD ³HVWUDWpJLD GH QtYHO ORFDO´, na introdução das mudanças nas escolas. (CANÁRIO, 1992: 165-167).

Parte-se do princípio, que quando se pretende inovar ou propor mudanças, seja em que domínio for é sempre para melhorar, aliás este princípio está subjacente à maioria das definições referidas.

,QRYDUp³a busca de mudanças que, de forma consciente e directa, tem como objectivo a melhoria do Sistema EGXFDWLYR´, (definição OCDE, cit. por HERNANDEZ, 2000: 21). Está subjacente a esta ideia o facto de que a LQRYDomRQmRpDSHQDVDOJRQRYRPDVWDPEpP³algo que se melhora e que SHUPLWHPRVWUDURVUHVXOWDGRVGHWDOPHOKRUD´ (idem, ibidem).

Vilar (1993: 16), neste contexto acrescenta que, a finalidade de transformar qualitativamente o trabalho na escola e a relação entre os actores HGXFDWLYRVp³XPDDWLWXGHFXOWXUDOGHLQRYDomR´.

As inovações no ensino pressupõem o restabelecimento de uma relação efectiva entre a preparação do indivíduo enquanto aluno e as exigências que a sociedade em constante desenvolvimento dele exige, num processo de socialização que à escola também compete como função. Entre a escola como organização e a inovação educativa existe uma relação estreita, porque é no seio da escola por excelência que se organiza a educação e é aí que se reúnem as condições necessárias à incidência das directrizes inovadoras (VILAR, 1993: 14), assumindo a escola um lugar privilegiado de intervenção. $ LQRYDomR HP HGXFDomR YLVD ³dar respostas DGHTXDGDV jV QHFHVVLGDGHV LQWHUHVVHV H PRWLYDo}HV GRV HGXFDQGRV«QR VHQWLGRGDVXDIRUPDomRLQWHJUDO´ (Op. cit.: 16).

Por sua vez, Pardal (1991: 10), acrescenta que, inovar implica a introdução de elementos novos e dinâmicos a vários níveis; na administração, na investigação, na organização do currículo, na dinâmica da aula e da turma, na avaliação, na formação docente.

Segundo Fullan (cit. por HERNANDEZ, 2000: 29), inovar em educação pode passar pela utilização de novos materiais; pelo uso de novas actividades ou estratégias de ensino; ou pela alteração de crenças ou pressupostos subjacentes a novas políticas ou programas educativos. Assim, e partindo destes pressupostos considera-se que uma inovação ocorre quando novas áreas de aprendizagem são introduzidas no currículo (uso de computadores,

educação para a paz, para o consumo, etc.), ou práticas alternativas às já existentes são desenvolvidas.

Inovar não se compadece com actos isolados de individualismo. É antes o resultado da relação de um conjunto de factores que caracterizam a teia de relações que envolve o sistema educativo que permite o conhecimento prévio do contexto da sua aplicação e promove a sua introdução, disseminação e assunção. Como refere Hutmacher (1995: 53) ³as novas práticas são inventadas, conquistadas, construídas colectivamente, e não no LVRODPHQWRLQGLYLGXDO´ .

Apesar da acção individualizada do Professor, como agente da mudança ser importante, esta não pode ser encarada como fruto de uma acção individual. Thurler (1994: 64), é de opinião que ³o desenvolvimento organizacional põe a tónica sobre a implementação de uma verdadeira cultura GHFRODERUDomRHQWUHRVGLYHUVRVDFWRUHV´³a eficácia do sistema escolar não obtém com a resolução de problemas pessoais, mas sim com a confrontação GDV UHSUHVHQWDo}HV GH XQV H GH RXWURV j YROWD GR RItFLR GH SURIHVVRU´ (Op. cit.: 68).

Já, Canário (1992: 60) quando aborda a questão da implementação de mudanças na escola/ organização salienta a importância de a conceber como um sistema29, encarando-D³não como uma soma de elementos, constituindo, SHORFRQWUiULRXPWRGRLUUHGXWtYHOjVRPDGDVSDUWHV´, onde a implementação da mudança jamais se compadece com a conquista individual dos professores para práticas inovadoras na sua sala de aula. Esta é segundo o mesmo autor XPD³ilusão pedagógica´ 2SFLW: 61), já que o funcionamento pedagógico de uma escola não resulta de um somatório de práticas LQGLYLGXDLV VmR DQWHV ³processos de acção colectiva, parcialmente determinadas por dados estruturais que não dependem principalmente da DFomRGHFDGDLQGLYtGXR´ (idem, ibidem).

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Canário quando se refere a sistema, partilha da definição de outros autores como: 6DXVVLHUH³Uma totalidade organizada, formada por elementos solidários que não podem ser

GHILQLGRVXQVHPUHODomRDRVRXWURVVHQmRHPIXQomRGRVHXOXJDUQHVWDWRWDOLGDGH´e Joel

de Rosnay ³XP FRQMXQWR GH HOHPHQWRV HP LQWHUDFoão dinâmica organizados em função de XPDILQDOLGDGH´ (CANÁRIO, 1992: 60-61).

Recorrendo a outros autores, referimos que, Leite (2005: 138), na PHVPDSHUVSHFWLYDGL]TXHDLQRYDomRWHPTXHVHU³sustentada numa equipa guiada por uma visão comum´. Não obstante as influências exógenas que intercedem na implementação da mudança no contexto escolar, os actores que intervém no processo educativo têm também um papel preponderante na aceitação ou resistência a este processo, reflexo da cultura escolar e pessoal que os envolve, dos seus receios e incertezas, numa expressão, das ³GLQkPLFDVTXHRVDFWRUHVFRUSRUL]DP´ (FORMOSINHO, 2000: 18). Daí que a dimensão pessoal da mudança não possa ser subestimada.

Segundo Ferreira, (1996: 329-330), um sistema inovador caracteriza-se pela existência de:

x Comunicação entre planejador e executor da inovação; x Vinculação entre os implicados e a inovação;

x Informação esclarecedora entre os envolvidos;

x Conflito como sinónimo de necessidade de inovação; x Incorporar na prática novas iniciativas;

x Diversidade e flexibilidade de papéis;

x Revisão continua;

x Comparar formas de aplicabilidade.

Inovar e mudar implica uma acção sistematizada, planeada e continuada, cujo sucesso requer:

´R GHVHQYROYHU XPD YLVmR FRPXP H FRP sentido moral, reforçar a ligação ao meio envolvente, estabelecer parcerias, procurando oportunidades para conjugar esforços com outros, integrando um movimento mais amplo que visa desenvolver uma comunidade de aprendizagem com os DOXQRVHSDLV´ )(51$1'(6, 2000: 50).

Evoluir na administração das escolas depende de um processo de conjugação dos princípios da autonomia com as práticas inovadoras.