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2. INSTITUIÇÕES E O REFERENCIAL PARADIGMÁTICO DOS ARRANJOS

2.2. O Institucionalismo

As primeiras formulações acerca do institucionalismo começaram na Alemanha no final do século XIX, como produto do famoso Methodenstreit, o debate acerca do método científico e da maneira através da qual estava enquadrada a investigação acadêmica, que reduzia a economia a uma série de leis universais. A questão era se poderia existir uma ciência, além da história, que pudesse explicar a dinâmica da ação humana. Mais especificamente, refere-se a uma particular controvérsia sobre o método e o caráter epistemológico da economia exercida no final dos anos 1880 e 1890 entre os adeptos da Escola Austríaca de Economia, liderada por Carl Menger e os defensores da Escola Histórica, liderada por Gustav Von Schmoller. Este último defendia que os processos econômicos eram operados dentro de uma estrutura social, que era moldada por um conjunto de forças culturais e históricas. Carl Menger, por sua vez, era o principal defensor do pensamento clássico e defendia a utilidade de hipóteses simplificadoras e o valor do desenvolvimento de princípios econômicos ao mesmo tempo abstratos e atemporais (Jaccoby, 1988).

As ideias da escola histórica foram desenvolvidas mais tarde, na virada do século XIX, por economistas institucionais que criticavam os convencionais modelos econômicos e seus pressupostos irreais, além da desatenção para com a mudança histórica. Merecem destaque Thorstein Veblen, John Commons e Westley Mitchell.

Hughes (1936, p.180) define instituição como um “estabelecimento de relativa permanência de um estilo social distinto3.” Em 1939 (p. 297), o autor identificou seus elementos essenciais como sendo um conjunto de regras morais ou formais (ou ambas), as

quais podem ser cumpridas apenas por pessoas, agindo coletivamente, em estabelecidas capacidades ou atividades complementares. As regras expressam consistência e as pessoas expressam união ou organização.

Embora não tenha explicitado o conceito de instituição, é possível perceber nos trabalhos de Weber (1924, 1968) a existência de uma concernência para o entendimento das maneiras pelas quais as regras culturais definem as estruturas sociais e governam o comportamento social. Para Weber, a ação é social quando (e tanto quanto) a realização individual vincula um significado subjetivo em seu comportamento.

O enfoque dos institucionalistas produziu diferenças na maneira de interpretar e analisar alguns campos de estudo como, por exemplo: a economia do trabalho; as relações industriais e os fatores que afetam suas estruturas e seus processos econômicos; e a economia dos setores e suas diferentes estruturas e efeitos nas estratégias e desempenho das empresas.

As manifestações acerca da análise institucional e sua contribuição aos estudos organizacionais têm origem no período entre 1937 e 1947 (Scott, 1995), com as publicações de Gulick e Urwick (1937), Barnard (1938), Roethlisberger and Dickson (1939), Simon´s (1945/1957) e March e Simon (1958).

Uma série de estudos empíricos realizados a partir do final da década de 1940 por Merton (1940/1957), Selznic (1949), Gouldner (1954), Blau (1955), Lipset, Trow e Coleman (1956) contribuíram para o estabelecimento das organizações como um campo de estudos distinto.

Merton (1940/1957) propôs uma discussão acerca dos processos dentro das organizações que levam funcionários a orientar suas ações pelas regras até o ponto em que a principal preocupação com a conformidade da regras interfere na realização dos fins da organização.

A partir deste trabalho e dos argumentos de Durkheim, Hughes e Parsons, Merton (1957) estabelece sua visão dos processos institucionais nas organizações, afirmando que em determinadas organizações existe uma dependência emocional com relação aos símbolos burocráticos, à competência e à autoridade, envolvendo atitudes e legitimidade moral, confirmados como valores em si mesmos e não mais como meios técnicos para acelerar a administração.

Neste ínterim, Selznic (1948) inicia sua concepção sobre os processos de institucionalização nas organizações, e para isso faz uma distinção entre as organizações como estruturas de expressão de ações racionais, e a organizações como um sistema orgânico, adaptável, afetada pelas características sociais dos seus participantes, assim como pelas pressões impostas pelo seu ambiente. Assim, organizações, de forma variável, ao longo do tempo, se transformam em instituições. As conseqüências imprevistas das ações sociais intencionais, argumento de Merton´s (1936), ajudam a explicar como as ações sociais não se dissociam de seu contexto, e são limitas e moldadas pelo ambiente no qual ocorrem. Os limites das ações são impostos pela institucionalização. Como as organizações são sistemas sociais, metas e procedimentos tendem a atingir um status estabelecido, impregnado de valor.

Selznic (1949) preocupou-se com as distinções que desenvolvem o caráter específico de uma organização, com os processos pelos quais, com o tempo, uma organização

desenvolve suas estruturas, capacidades e responsabilidades distintas. Para o autor, as organizações não são as estruturas racionais que pretendem ser, mas veículos que vão incorporando valores pois suas estruturas e metas são transformadas ao longo do tempo pelos seus participantes e pelas exigências impostas pelo seu ambiente.

A respeito das forças institucionais e as organizações, Parsons (1960) argumenta que as relações entre as organizações e o seu ambiente se dão pelas maneiras através das quais os sistemas de valores da organização são legitimados por suas conexões com os principais padrões insitutionais em diferentes contextos funcionais. Em sua análise sobre as organizações, o autor chama a atenção para a dimensão objetiva por meio da qual um sistema de normas define como as relações dos indivíduos devem ser. Esta estrutura normativa serve para legitimar a existência das organizações além de legitimar os principais padrões funcionais das operações que são necessárias para implementar os valores. Neste sentido, organizações que operam em diferentes setores funcionais são legitimadas por valores diferentes, apresentam diferentes padrões adaptativos, e são regidas por diferentes códigos e padrões normativos.

Ao descrever como as estruturas organizacionais trabalham para simplificar e dar apoio à decisão dos indivíduos nas organizações, Simon (1957) mostrou níveis mais elevados de comportamento consistente e limitadamente racional do que seria possível. Ou seja, tais rotinas reduzem muito o critério da maioria dos participantes de modo que levam-nos a fazer menos escolhas e as escolhas que fazem são mais circunscritas pela premissas de valor, molduras cognitivas, regras e rotines, considerados pelo autor ingredientes que conduzem as pessoas a se comportarem de forma racional. Essa visão privilegia as características e funções micro das formas institucionais.

O trabalho de Simon sobre o comportamento nas organizações foi paralelo aos desenvolvimentos na psicologia e na sociologia como campos de estudo que experimentoram a revolução cognitiva. O impacto da teoria cognitiva está na ênfase nas deficiências individuais no processamento de informação e tomada de decisão. Psicólogos cognitivos têm reconhecido que os indivíduos participam ativamente no sentido de perceber, interpretar e agir no mundo. (Markus e Zajonc, 1985).

Por outro lado, sociólogos tendem a dar primazia aos efeitos de fatores estruturais, vendo os indivíduos mais como passivos, em conformidade com as exigências de seus sistemas e papéis sociais A Teoria da Identidade emerge dando uma atenção renovada às ações e reflexões dos indivíduos que criam, sustentam e mudam as estruturas sociais. .(Rosenberg, 1979; Styker, 1980; Burke e Reitzes, 1981). Através da construção e manutenção das identidades sociais, os indivíduos constroem uma base para a ação em situações sociais. Nesta visão, os indivíduos agem de acordo com seus interesses, em vez de simplesmente se submeter à estrutura social que os envolve.

Portanto, observa-se que os autores apresentados trazem a análise institucional aos assuntos dos estudos organizacionais. Para os seguidores da Teoria Institucional as decisões dos agentes econômicos tendem a seguir critérios maximizadores de ganhos, considerando para isso, o ambiente institucional no qual as organizações estão inseridas. Esse entendimento implica em reconhecer que as instituições são restrições construídas pelos indivíduos, e estruturam a interação social, econômica e política. Segundo North (1991, p.97) essas restrições podem ser informais (sanções, tabus, costumes, tradições e códigos de conduta) e formais (constituições, leis e direito de propriedade). Ao considerar, então, o ambiente

institucional uma construção social, admite-se um ambiente que pode ser modificado pela ação dos indivíduos.

O Novo Institucionalismo, abordagem mais moderna da teoria institucional, será tratado no próximo item.

2.3 – O Novo Institucionalismo

A introdução dos argumentos institucionais no estudo da estrutura e do comportamento das organizações foi feita mais recentemente pelos chamados neoinstitucionalistas econômicos, que desenvolveram seus trabalhos durante a metade dos anos 1970.

O novo institucionalismo, segundo Hall e Taylor (1996), é dividido em três perspectivas de análise: o neoinstitucionalismo da escolha racional, o neoinstitucionalismo histórico, e o neoinstitucionalismo sociológico. Scott (1995) também divide a abordagem neoinstitucionalista em três perspectivas: regulativa, normativa e cognitiva. Apesar de receberem nomenclaturas distintas, as abordagens não diferem muito entre si. Para este trabalho será usada a nomenclatura de ambos os autores.

O novo institucionalismo tornou-se um campo multidisciplinar de estudos, que engloba pesquisas bem diversificadas. Neste sentido, os novos institucionalistas da vertente regulativa ou da escolha racional observam os novos ideais de influência das instituições para uma adequação dos postulados da economia neoclássica. Assim, a análise da influência das instituições é voltada para o comportamento econômico dos agentes. Os novos