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3. CARACTERIZAÇÃO DO APL CALÇADISTA DE FRANCA E SEU AMBIENTE

3.2. O setor calçadista no Brasil

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) classifica como setor de calçados o conjunto de indústrias que têm como produto principal de sua atividade a produção de todos os tipos de calçados para homens, mulheres e crianças, exceto os calçados com finalidade ortopédica ou de segurança.

A chegada dos primeiros imigrantes alemães no Rio Grande do Sul, em 1824, deu início à indústria calçadista brasileira. Além da agricultura e da criação de animais, estes imigrantes confeccionavam artesanalmente artigos de couro, mais precisamente no Vale do Rio dos Sinos.

Esta confecção era caseira e na sua maioria composta de arreios de montaria. Com a guerra do Paraguai, em 1864, esta produção se ampliou, impulsionando o surgimento de curtumes e a produção de máquinas, tornando, assim, a produção mais industrializada.

A produção do couro nos curtumes, por sua vez, impulsionou a fabricação de calçados, no início incipiente, mas que aos poucos foi ganhando importância à medida que foi conquistando mercado. Devido a sua expansão produtiva, atualmente o Vale dos Sinos é uma região que abriga empresas de todo os elos da cadeia produtiva do calçado, considerada um “supercluster” (ABICALÇADOS, 2012).

A configuração da indústria calçadista no Brasil apresenta concentrações regionais, os polos industriais. Tais concentrações apresentam também uma especialização da produção, e estão localizadas nas regiões Sudeste e Nordeste do país. Na região sudeste destacam-se os pólos do Rio Grande do Sul, na região do Vale dos Sinos, conhecido como grande produtor de

calçados femininos e Franca, no estado de São Paulo, que apresenta grande representatividade na fatia da produção de calçados masculinos de couro no total da produção de calçados brasileiros. Ainda no estado de São Paulo, Jaú é outro pólo de concentração calçadista que tem sua produção voltada para os calçados femininos. Birigui se destaca pela maior produção nacional de calçados infantis. Já Nova Serrana produz tênis, tanto infantis como para adultos. Na região nordeste os estados da Paraíba, Ceará e Bahia aparecem como pólos insdustriais calçadistas emergentes.

3.2.1. A produção do calçado

A indústria calçadista é caracterizada por apresentar uma estruturação da produção de modo tradicional, quando comparada, por exemplo, à indústria automobilística, que apresenta percentuais de produtividade e mecanização bem superiores aos da indústria de calçados. É o que ressalta Costa (1993, p.1), quando afirma que a produção calçadista “caracteriza-se por constituir um processo de trabalho de natureza intensiva em mão de obra, com tecnologia de produção que guarda ainda acentuado conteúdo artesanal”.

Outra característica da indústria calçadista é o processo de produção intermitente: cada unidade produzida é transformada individualmente; a produção é medida por unidade; a principal transformação do produto fabricado é na sua forma; e o trabalho é que determina o ritmo da produção. Castro (1997, p. 13) afirma que

“O processo de fabricação é descontínuo e o fluxo de produção ocorre por meio de estágios distintos: modelagem, corte, costura, montagem e acabamento. Os estágios de modelagem e costura concentram 80% da necessidade de mão de obra e as possibilidades de automação são limitadas”.

Castro (1997), por exemplo, cita que são necessárias 75 operações para o feitio do calçado. De qualquer forma, fica evidente o perfil intensivo em mão de obra desse setor tradicional da indústria.

A indústria de transformação calçadista faz parte de um setor tradicional da economia. De acordo com informações obtidas em artigo publicado no BNDES Setorial (CORRÊA e ANDRADE, 2001), seu produto, o sapato, é considerado de fácil fabricação.

O processo produtivo da indústria calçadista apresenta, então, máquinas dedicadas, trabalhadores semiqualificados, produtos padronizados e linha de montagem do produto.

A produção total de calçados no Brasil em 2011, segundo o Sindifranca, foi de 819,1 milhões de pares, que representaram um valor de produção de 21,8 bilhões de reais, situando o Brasil entre os maiores produtores mundiais de calçados, atrás apenas da China e da Índia, posição que se mantém desde 2003, de acordo com dados da Abicalçados.

Entretanto, em milhões de pares exportados, o Brasil situa-se na 6ª posição mundial, atrás da China, Vietnã, Itália, Indonésia e Bélgica. De acordo com a resenha estatística da Abicalçados, em 2011 o Brasil apresentou uma queda expressiva nas exportações de calçados, com uma redução de 21% em quantidade de pares, e 12,8% em valor com relação a 2010. Esse foi o pior resultado depois do início da década de 1990, com a abertura da economia brasileira.

O gráfico abaixo apresenta a série histórica das exportações brasileiras de calçados desde 1970, ano em que iniciaram-se as estatísticas do segmento. No gráfico constam os

valores, o número de pares, o preço médio e a variação percentual entre um ano e outro, em valores.

Segundo informações da resenha estatística da Abicalçados (2012), a alta constante das importações de calçados no Brasil, a preços muito abaixo dos praticados no mercado interno, é um alto risco para o desenvolvimento da indústria local, podendo, inclusive, “ocasionar um processo de desindustrialização do setor, com sérias consequências econômicas e sociais.”.

As medidas antidumping7 aplicadas à China, maior exportadora de calçados mundial,

estabilizaram as importações de calçados no Brasil em 2009 e 2010. Entretanto, em 2011 houve uma retomada de crescimento das importações, representando um aumento de 18,5% da quantidade de calçados importados de outros países asiáticos, como Vietnã e Indonésia.

O Relatório Setorial da Indústria de Calçados do Brasil, divulgado em maio de 2012 (http://www.abicalcados.com.br/noticias_brasil-calcados-2012-relatorio-revela-o-esempenho- do-setor-calcadista.html), apontou que 3,3% dos trabalhadores alocados na produção industrial em 2011 foram procedentes do setor de calçados. Os empregos diretos somaram 335,5 mil postos de trabalho no mesmo ano. Contudo, este saldo foi 3,2% menor em relação a 2010, quando a indústria de calçados empregou 348 mil trabalhadores. A pesquisa também indicou que o setor calçadista nacional reduziu em 8,4% o volume de calçados produzidos em 2011 em comparação com o ano anterior. Heitor Klein, diretor executivo da Abicalçados, declarou que esses dados comprovam a importância da adoção de políticas de

7 Dumping é uma prática de comércio caracterizada quando uma empresa exporta um produto a preço inferior ao praticado no mercado doméstico (de destino), podendo ocasionar prejuízos à indústria local e ao seu

desenvolvimento que impeçam a desindustrialização do setor, hoje estimulada pelo desequilíbrio cambial e pela entrada acentuada de calçados importados.