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2. INSTITUIÇÕES E O REFERENCIAL PARADIGMÁTICO DOS ARRANJOS

2.3. O Novo Institucionalismo

2.3.1. Institucionalismo Regulativo ou da Escolha Racional

O institucionalismo regulativo ou da escolha racional surge a partir do ajustamento dos postulados da economia neoclássica frente à influência da teoria institucionalista. Neste sentido, preocupa-se com as regras e sistemas de governança desenvolvidos para regular as trocas econômicas. Esses sistemas ocorrem em muitos níveis, incluindo as estruturas que regem uma economia inteira, aqueles sistemas de controle sobre um setor específico, bem como as estruturas administrativas de organizações individuais.

Para esta perspectiva, a existência de um mercado qualquer está pautada em instituições que propiciam sua criação e manutenção. Tais instituições atuam em um ambiente produtivo composto por diversos atores que convivem sob uma realidade econômica, política e social, que muda e exige respostas para acompanhar a mudança. North (1994) explica a natureza das mudanças pelos custos de transação (Coase, 1980). O cerne do argumento está no fato de que quando a existência de instituições favorece transações de baixo custo, estas passam a adquirir importância, e podem viabilizar a existência de um ambiente produtivo que propicie o desenvolvimento econômico.

os custos de transação dependem, como aprendemos com a nova economia institucional, do funcionamento do sistema jurídico (o sistema de direitos de propriedade, a aplicação dos direitos de propriedade, a capacidade de prever como

serão as decisões judiciais, e assim por diante) . Eles também dependem do sistema político, que dependem do sistema educacional, e eles estão inter-relacionados com outros sistemas sociais... A influência do nível de custos de transação em curso também é afetada por fatores tecnológicos. E um exemplo, que é muito discutido hoje, é a influência sobre os custos de transacção, e sobre a organização da indústria,

do desenvolvimento da Internet”. Disponível em:

http://www.coase.org/coaseonline.htm. Acesso em junho de 2012.

Inicialmente, ao escrever sobre os custos de transação, Coase evidenciava que uma empresa qualquer, ao produzir, incidia além dos custos dos insumos e produtos, os custos das transações econômicas que pautavam a produção, como, por exemplo, os atos de comprar e vender.

A afirmação de que a existência de uma organização deve ser objeto de questionamento foi trazida por Coase ao salientar a própria estrutura hierárquica e de subordinação de uma organização que existe, segundo ele, porque traz resultados aceitáveis e esperados. Ou seja, a sustentação de uma organização envolve custos que vão além da função de produção resultante de insumos e produtos. Envolve também o fato de entender que os custos de recorrer ao mercado, de uma produção realizada por agentes individuais, são significativos, e têm consequências para a eficiência do processo de produção. Assim como os limites que definem a existência de um mercado que coordena os mecanismos de preço também passa pelos custos de transação.

A perspectiva regulativa ou da escolha racional dá origem a uma nova corrente de pensamento econômico, chamada Nova Economia Institucional (NEI), que incorpora elementos como as estruturas organizacionais da firma e os mecanismos de governança das transações, considerados exógenos pela teoria econômica ortodoxa.

Destaca-se como referência teórica da NEI, a Economia dos Custos de Transação (ECT), que procura explicar que as decisões dos agentes na busca por maior eficiência passa pela minimização dos Custos de Transação (Williamson, 1985). Ou seja, as condições sob as quais os custos de transação passam a ser um elemento significativo nas decisões dos atores econômicos, e colaboram para a determinação de como são alocados os recursos na economia.

A NEI toma a transação como primeira unidade de análise. Neste sentido, as instituições reduzem incertezas através da confiança e de eficientes contratos que pautam as trocas econômicas. (DiMaggio e Powell, 1991).

Para a NEI, as instituições surgem e se mantêm ao longo do tempo quando conferem benefícios melhores que os custos de transação incorridos na sua criação e manutenção. Estes custos seriam os custos de negociação, execução e cumprimento das transações existentes entre as instituições.

Os custos de transação são todos os custos que podem compor as operações em um sistema econômico. Esses custos definem a coordenação e operação de um sistema econômico, e vão determinar a distribuição dos benefícios, das informações e, em última análise, do desempenho dos agentes. Representam atributos de valor qualitativo que irão repercutir em valores quantitativos em uma dada transação.

O que torna os custos de transação significativos é o reconhecimento de que a simetria de informações (hipótese da economia clássica de que tanto o comprador quanto o vendedor conhecem todas as especificidades do objeto da troca em toda e qualquer transação) é

substituída por fatores que determinam custos que não podem ser negligenciados em uma troca, como, por exemplo, a racionalidade humana limitada, o ambiente complexo e incerto no qual são realizadas as trocas, o oportunismo e a especificidade de ativos.

A racionalidade humana limitada está relacionada à limitação da capacidade humana de acumular e processar informações, bem como à capacidade de transmitir informações, segundo H.Simon (1955), que reconhece estas limitações e as relaciona à questão dos custos de transação, já que caso a racionalidade humana fosse ilimitada, os contratos que regem as transações poderiam antecipar qualquer circunstância futura.

Associado à racionalidade limitada, o ambiente complexo e incerto, no qual há várias possibilidades de decisões para os vários agentes que compõem esse sistema, geram as assimetrias de informação para os agentes, ou seja, uma informação chega de maneira diversa para os atores envolvidos em uma dada transação.

Outro fator importante é o fato de que existem diversos interesses que permeiam a difusão de informações entre os atores, o oportunismo, ou seja, a manipulação das informações, que são assimétricas, com o objetivo de apropriar lucros futuros.

Além do oportunismo, outro fator significativo para a Teoria dos Custos de Transação é a especificidade de ativos, que é o relacionamento exclusivo, ou quase exclusivo, entre dois atores, a partir de um investimento em um ativo específico. Se um ator é o único a produzir um insumo que satisfaz às necessidades especificas do outro ator, ambos estão ligados por esse ativo específico.

Esses quatro fatores evidenciados, quais sejam, a racionalidade humana limitada, o ambiente complexo e incerto no qual são realizadas as trocas, o oportunismo e a especificidade de ativos, refletem em custos de transação, que geram dificuldade de troca entre os atores envolvidos em uma transação.

A mensuração dos custos de transação é imprevisível e, assim, há a necessidade de definir variáveis a serem consideradas quando se pensa em custos de transação. De acordo com North (1994), essas variáveis são: o alto custo das informações, o tamanho do mercado, o cumprimento das obrigações assumidas, e as atitudes ideológicas e percepções. Assim, a seguir será apresentada uma discussão sobre o ambiente institucional da aglomeração produtiva de calçados de Franca, partindo-se das variáveis citadas.

O custo da quantificação está relacionado ao nível de acesso às informações necessárias às transações. Assim, diferentes níveis de acesso às informações podem explicar como alguns atores conseguem se beneficiar frente aos outros em suas relações de troca.

Diante dessa constatação, determinados atores podem filtrar as informações e organizar suas relações de troca de forma a se beneficiar da distribuição dos benefícios advindos dessas relações. Mas, essa estrutura institucional não necessariamente terá como resultado o desenvolvimento econômico, podendo resultar, ao contrário, em estruturas que impedem o desenvolvimento econômico.

Fatores como os atributos do bem ou serviço oferecido em suas dimensões físicas e em dimensões dos direitos de propriedade (como uso, renda potencial, alienação), ou o desempenho do ator em suas atividades isoladas vão constituir o custo da quantificação,

considerado como a chave dos custos de transação. Esses custos, considerados imprevisíveis, são especificados de maneira incompleta, evidenciando, assim, a racionalidade limitada, e podendo levar ao oportunismo.

O tamanho do mercado determina se as trocas entre os atores são pessoais ou impessoais. No intercâmbio pessoal existem fatores que estabelecem limites ao comportamento dos atores, como contatos constantes, lealdade pessoal, amizades, ligações de parentesco. Em um lado oposto a esses fatores estão as trocas impessoais, nas quais não há nenhum impedimento entre as partes para a realização das trocas, ou seja, a concorrência efetiva é a força limitativa.

O cumprimento das obrigações assumidas descreve o comportamento humano como ações limitadas pelo sistema jurídico, limitação esta que causa custo para as transações, mas que também são pautadas por uma lógica que permite a realização das transações econômicas, do contrário, estas últimas não se viabilizariam, por conta dos altos custos de fiscalização necessários ao cumprimento de tais obrigações, e que teriam implicações inclusive no desenvolvimento econômico pautado pela especialização econômica. Essa lógica é constituída de atitudes ideológicas e percepções que os sujeitos carregam e transferem para as suas ações do cotidiano e do trabalho. São um arquétipo subjetivo que “controla” o modo como os indivíduos enxergam e atuam na realidade. Essas percepções individuais moldam o julgamento das regras do jogo nas quais os indivíduos estão imersos, e têm consequências para a execução de contratos. O ponto central dessa discussão é que se os custos de avaliação e execução de contratos fossem baixos, pouco importaria as diferentes ideologias que constroem as atitudes dos indivíduos, pois estaria garantido o resultado esperado ao se

estabelecer um contrato. Mas, como esses custos apresentam-se como bastante relevantes, a ideologia tem sim importância para a determinação dos custos de transação.

Abaixo, segue uma tabela que relaciona os fatores que geram os custos de transação e as variáveis que ajudam a definir estes fatores.

Tabela 1. Relação entre os fatores que geram os custos de transação de Coase (1937), e as variáveis de North (1994), que ajudam a definir esses fatores

Fatores que geram custos de transação Variáveis que ajudam a definir os custos de transação

Oportunismo

Racionalidade humana limitada

Alto custo das informações

Ambiente complexo e incerto no qual são realizadas as trocas

Tamanho do mercado

Especificidade de ativos Cumprimento das obrigações assumidas e

atitudes ideológicas e percepções Fonte: Elaborada pela autora

De acordo com Williamson (1975, 1985) os custos de transação aumentam em função de duas condições: quando a racionalidade individual, que é limitada, é confrontado pela complexidade e incerteza, e quando oportunismo individual, que é sempre uma ameaça possível, é acoplado com ausência de parceiros de troca altrenativos.

Williamson (1991) introduziu uma agenda de pesquisa que permitiu a junção entre os estudos do ambiente institucional e das estruturas de governança, empurrando-os para além da comparação de mercado versus empresa. Considerou uma ampla variedade de sistemas de governança, variando de mercados para formas híbridas, tais como franchising ou formas de

aliança, de formas hierárquicas, como empresas e corporações unificadas multidivisionais.

Para os teóricos da escolha racional as instituições são sistemas de governança que representam construções racionais estabelecidas pelos indivíduos que procuram promover ou proteger seus interesses (Scott, 1995). Ou seja, são estruturas que emergem e tomam forma específica porque resolvem problemas de ação coletiva e, assim, facilitam ganhos. É uma extensão da NEI.

O estudo da relação entre instituições e desenvolvimento econômico pode ser considerado uma análise macro, principalmente quando observamos os trabalhos de North neste sentido. Ao surgir como um campo de estudo, a abordagem da Nova Economia Institucional (NEI) se apresentava de duas maneiras com relação ao papel as instituições: a primeira contempla o ambiente institucional e, portanto, as instituições em um nível macro; e a segunda contempla, por sua vez, as estruturas de governança e, portanto, as instituições em um nível micro.

Quando trata das instituições em um nível macro, a NEI procura compreender as relações humanas a partir das macroinstituições criadas para a sustentação destas relações. No entanto, quando trata das instituições em um nível micro, a NEI procura compreender as relações humanas a partir de microinstituições que regulam uma transação específica.