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A Lei de Execução Penal traz em seu texto legal que as instituições penais serão aquelas cuja finalidade seja alojar os condenados ou aqueles que devam aguardar no regime fechado a sentença, seja esta condenatória ou absolutória. Estes estabelecimentos se dividem conforme a gravidade do delito praticado: as penitenciárias, que abrigarão os condenados ao regime fechado, por consequência condenados perigosos; as colônias agrícolas e industriais, que tem a função de abrigar aqueles condenados ao regime semiaberto, ou que progrediram do regime

fechado; a casa do albergado, específica para condenados ao regime aberto ou que progrediram do regime semiaberto, e por fim os hospitais de custódia e de tratamento psiquiátrico, destinados a inimputáveis ou semi-imputáveis e aqueles que necessitam realizar tratamento contra substâncias químicas.

O regime mais conhecido e ao qual a pesquisa se deterá é o regime fechado, o qual é aplicado dentro das penitenciárias brasileiras. Este regime é o mais gravoso e ao mesmo tempo danoso ao condenado, e mais ainda aos presos provisórios, em virtude de que usa uma metodologia de aplicação inadequada. Neste sistema, os presos permanecem privados de sua liberdade por diversos anos, longe de sua família e amigos, passando a conviver com pessoas de diversos costumes e índoles. O condenado ao regime fechado necessita aprender a sobreviver dia-a-dia dentro do sistema, em virtude dos diversos tipos de violência que ocorrem em seu interior.

A prisão não assegura aos apenados os mesmos direitos dos cidadãos em liberdade, legitimados através da Constituição de 1988. Os direitos e as garantias fundamentais são asseguradas a todos os cidadãos, inclusive os presos, pois, ao serem presos lhes é retirada legitimamente a liberdade. Infelizmente, na prática, o direito a vida digna, saúde e educação também são retiradas no momento que ingressam em uma penitenciária para cumprir sua pena. Conforme Carvalho (2008, p. 53) descreve a penitenciária é uma sociedade dentro de outra sociedade, as quais não possuem as mesmas garantias e os mesmos direitos, ele refere que o sistema penitenciário brasileiro é totalitário:

No interior deste sistema social anômalo, no qual relações doentias de poder se (re)produzem, contata-se a absoluta incapacidade de garantias de direitos, em decorrência da inviabilização do direito à legalidade através de mecanismos de obstrução da jurisdição. Sendo assim, Carvalho (2008, p. 154) demonstra a triste situação do condenado, que após a sentença adentra o sistema sem que sejam observados seus direitos e garantias fundamentais as quais são asseguradas a todos os cidadãos não importando em qual ambiente estejam vivendo:

A experiência na execução penal demonstra uma cruel historiografia: depois de prolatada a sentença penal condenatória, o apenado

ingressa em ambiente desprovido de garantias. Desta forma, a decisão judicial condenatória exsurge como declaração de „não cidadania‟, como formalização da condição de apátrida do autor do fato-crime.

Muito se evoluiu na questão prisional com a Constituição de 1988, principalmente no que diz respeito à dignidade da pessoa humana quando se refere ao apenado brasileiro. A carta de 1988 constitucionalizou os direitos do preso, os quais eram garantidos pela LEP, de maneira que, a fiscalização até mesmo por parte do judiciário se efetivou, no intuito de garantir o que dispõe a Constituição, nas palavras de Carvalho (2008, p. 154):

No entanto somente com o advento da Carta de 1988 é que o tratamento da execução penal adquiriu feição constitucional. A Constituição, como instrumento de reconhecimento de direitos e garantias individuais, sociais e difusos, bem como recurso de interpretação da legislação ordinária (locus hermenêutico), possibilitou verdadeiro redimensionamento na leitura dos assuntos referentes ao processo penal executório. Como em nenhum outro estatuto nacional, a Constituição de 1988 introduziu expressamente direitos ao preso, rompendo com a lógica belicista que tornava o sujeito condenado mero objeto nas mãos da administração pública.

Apesar de todos estes direitos garantidos ao preso, a situação das penitenciárias brasileiras beira ao inacreditável. O Brasil, por exemplo, por diversas vezes foi assunto internacional, em razão do caos instaurado no Presídio de Pedrinhas no estado do Maranhão, sofrendo a intervenção da ONU (Organização das Nações Unidas), por violação às normas do Tratado Internacional de Direitos Humanos. Na referida Casa Prisional ocorreram violentas rebeliões, acompanhadas de terror generalizado, ocorrendo decapitações em massa de presos acusados de serem de outra facção, canibalismo, além de todo o tipo de violência corporal, inclusive sexual. As violências do Presídio de Pedrinhas acontecem todos os dias na maioria das instituições carcerárias, em proporções menores, com menores requintes de crueldade, mas violando da mesma maneira as garantias individuais do preso brasileiro (CONECTAS, 2014; BBC BRASIL, 2015).

O preso sofre de diversos tipos de violências tanto psicológicas, através das perturbações que o estabelecimento e outros presos ocasionam em seu

comportamento, muitos deles em razão do assédio sexual frequente dentro dos presídios, aos quais muitos detentos são obrigados a praticar atos sexuais em troca de favores. E ainda efeitos psicológicos que advenham dos efeitos negativos que a prisão deixa, na indecisão do que acontecerá quando sair, de como sua família está e por quanto tempo ainda terá que permanecer privado da liberdade (BITENCOURT, 1993).

O que acontece na maioria das penitenciárias de todo mundo é a falta de investimento por parte do governo:

A manifesta deficiência das condições penitenciárias existentes na maior parte dos países de todo mundo, sua persistente tendência a ser uma realidade quotidiana, faz pensar que a prisão encontra-se efetivamente em crise. [...] fala-se da crise da prisão, mas não como algo derivado estritamente de sua essência, mas como o resultado de uma deficiente atenção que a sociedade e, principalmente, os governantes têm dispensado ao problema penitenciário, que nos leva a exigir uma série de reformas, mais ou menos radicais, que permitam converter a pena privativa de liberdade em um meio efetivamente reabilitador (BITENCOURT, 1993, p. 145).

Esta carência de investimentos no sistema penitenciário agregada à crise „humana‟ do condenado, o qual vê esquecidos seus direitos, em especial a garantia da dignidade da pessoa humana. Os presos convivem em celas superlotadas, as quais não possuem instalações sanitárias adequadas, o cheiro é insuportável, a umidade é tanta que dá origem a doenças, principalmente respiratórias, em virtude de que a maioria das celas não recebe sol e são escuras, sem iluminação, não há tratamento médico, nem odontológico adequado, até mesmo a alimentação é precária. Além das violências sofridas pelo apenado citadas anteriormente, ainda existem as violências sexuais, que ocorrem rotineiramente, por mais que o assunto ainda seja pouco discutido e tende ser camuflada, a violência sexual além de ser uma afronta aos direitos da pessoa humana, acarreta inúmeras consequências físicas e psicológicas para a vítima do assédio. Não há, portanto, como esse ambiente manter um conjunto mínimo de direitos que assegure a dignidade humana do preso (BITENCOURT, 1993).

Boschi (2002, p. 123-124), descreve as consequências negativas que o indivíduo é exposto ao ingressar na prisão:

O ingresso na penitenciária produz a redução do indivíduo ao seu estado inicial mediante a destruição de seu senso de identidade de auto-estima. Já não tem mais a liberdade que tinha “na rua”, perde a família, o emprego e, não raro, a propriedade de seus bens. Na prisão, é vítima de abusos sexuais e sofre todas as violações que dizem com a sua intimidade, dando ensanchas ao aparecimento de distúrbios sexuais e de conduta, enfermidades físicas e mentais, estas de tipos depressivos, que se aproximas de uma verdadeira dissolução da personalidade. Fala-se, inclusive, em psicose carcerária! Esse termo, há muito tempo, é empregado para designar os distúrbios mentais no interior das instituições totais.

Este trágico cenário demonstra que o indivíduo, após condenado a pena privativa de liberdade se vê abandonado e esquecido, ao entrar na prisão além de perder sua liberdade, perde sua honra, sua dignidade e sua moral, em razão do tratamento degradante a que é submetido diariamente.

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