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Instrucções militares que contém os princípios geraes de tactica 1 Edição paleográfica

EDIÇÕES E GLOSSÁRIOS

4.1. Instrucções militares que contém os princípios geraes de tactica 1 Edição paleográfica

[fól. 7r]

Instrucções militares90 91Capitulo I.

Da Tactica em geral.92

Os Gregos, eos Romanos, esses grandes mestres da Antigui 05 dade, dérâo as leys ao mundo, esubjugárão as Naçoens bar

baras e ainda as mais cultas; não porque as excedessem no valor, mas sim pela sua bõa constituição militar, e pelas excellentes instituiçoens, que compozérão para as su as tropas: Elles forão os que estudárão methodicamente 10 a sciencia da guerra, a qual dividîrão em diversos ramos,

a que dérão differentes nomes; e aeste de formar as tro pas em ordem para combater, chamárão Tactica.

~.~.~.~93 Artigo I.

Definição da tactica e de outros termos mi

15 litares.

A Tactica (hessois)= a arte de formar tropas, movelas,

90 O que está em negrito aparece escrito com letra maior que a do corpo do texto.

91 Entre o título “Instrucções militares” e “Capitulo 1.” aparecem duas linhas retas horizontais e paralelas. 92 O que está em negrito aparece escrito com letra maior que a do corpo do texto.

93 Ao longo da fonte documental original, linhas onduladas seguidas de ponto aparecem traçadas no intuito de separar

capítulos, parágrafos, subcapítulos, seções e/ou idéias contidas no texto. Para esta edição, optou-se por manter indicadas as suas representações gráficas e não as consideramos como linha a ser contada.

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e ordenalas de novo em todos os acontecimentos possiveis, na disposição conhecida por mais vantajoza. = O Barão dusse nil Durand adefine em breves palavras=A Tactica he 20 a sciencia da ordem.

A opperação, que muda a ordem das

tropas conforme as circunstancias, chamase =manobra= ea =evolução= he aquelle movimento, que huma tropa ex ecuta sem mudar a sua dispozição, eformatura=

25 Alinhamento:=he huma linha determinada

por dous pontos dados; entre os quaes se devem tomar o utros intermediarios, que indispensavelmente se pre cisão para evitar todo o engano, e se naõ torcer a direc çaõ.=

30 Linha das espadoas= he huma recta supposta

tirada entre os pontos exteriores, e os mais distantes dos hombros do soldado.=

Vanguarda:= he o rectangulo supposto di

ante de huma tropa, de maneira que dous dos seos 35 lados sejaõ parallelos á linha das espadoas; e os

outros dous perpendiculares aella.= Rectaguarda= he o rectangulo supposto de

traz de huma tropa, de maneira que dous dos seos lados sejaõ parallelos á linha das espadoas, eos outros 40 dous perpendiculares aésta linha.=

Flancos=saõ os lados do mesmo rectangulo, que saõ perpendiculares á linha das espadoas.= Tropa = he hum termo militar, que signi

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significa hum ajuntamento de homens destinados para 45 combater.=

Colunna=he hum ajuntamento de tropas humaz detrás das outras: colunna com distancias = he aem que as tropas que acompoem, tem entre si huma dis tancia igual á sua frente, contada de eixo aeixo, mais 50 o intervallo, que devem conservar formadas em linha:

Colunna serrada, ou macissa, = he aquella, em que as tropas que acompoem, nâo tem ésta distancia; o que as inipede de meter em linha por quartos de conversão. Meter em linha= he desfazer a colunna.=

55 Fila=chamase aos homens postos huns detras dos ou

tros, de forma, que as duas linhas das espadoas sejão paralle las, eque huma só perpendicular as divida todas em dous angulos rectos.=

Fileira= são os homens postos aolado huns dos 60 outros, de forma que sereunão todas as linhas das es padoas aésta precisão geometrica, deve se fazer toda

adiligencia porque se lhe aproxime. Fundo=he aexpressão do numero de ho

mens, que formão huma fila. = e assim dizemos que huma 65 tropa está formada atres de fundo para significar que cada fila he de tres homens.

Intervallo= he oespaço, que fica entre duas tropas sobre huma mesma linha.=

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Distancia = heo espaço que ha entre as tropas so 70 bre differentes linhas. =

Ordem singéla= exprime as tropas formadas a tres de fundo; tambem se lhe chama= a ordem do fogo= Ordem profunda= exprime as tropas com mais

fundo; etambem selhe chama = ordem de attaque= 75 Romper huma tropa= he formada em colunna para se mover com mais facilidade.=

Prolongamento= significa novos pontos,

ou huma nova linha tomada, ou supposta em huma das extremidades de outra dada, eque forme com ella 80 amesma recta= ou= a continuação da mesma

linha dada atté os novos pontos.=

Conversão= he arevolução, que fáz huma tropa sobre hum dos seos pontos, que permanece firme, ao qual se chama eixo, ou pião.=

85 Voltear= he uma conversão com eixo movente= movimento utilissimo nas marchas de

costado, enas de colunnas com distancias, para se evitar asegmentação dellas; e he indispensavel toda a vôz que o fundo formayor que afronte.

137 [fól. 9 r]

90 Artigo II

Principios geraes de Tactica 1º.

Toda a manobra deve ter hum objecto de utilidade.

95 2º.

Para mover huma linha he necessario fraccionala em muitas tropas; porque cada tropa se faz me nos dependente das outras, eadquire maior facilida de, ecomodidade na sua marcha: por conseguinte, 100 o dobrar, o desdobrar as pequenas fracçoens he ome io mais vantajozo.

3º.

Como nem todos os terrenos permittem huma gran de frente; toda a tropa deve saber fraccionar-se até 105 o ultimo termo, que he a unidade, para poder passar em toda a sorte de desfiladeiros.

4º.

As fracçõens, que formão huma colunna de mar cha com distancias, devem telas iguaes, afim de po 110 derem meterse emlinha com hum quarto de con versao.

138 [fól. 9 v]

5º.

Cada fracção occupará de huma aoutra hum terre no igual á sua frente, comprehendido o intervallo, 115 que deve conservar em linha, econtado da sua vanguarda á da fracção immediata: por consequen

cia, toda atropa em colunna de marcha deve occu par hum terreno igual ao que deve occupar em linha menor afrente da ultima fracção: Ou hum terre 120 no igual ao que deve occupar em linha comprehendi do hum espaço supposto sobre avanguarda da pri

meira fracção, igual á sua frente. 6º.

Nas colunnas de marcha, devendose meter em 125 linha sobre avanguarda dellas, quanto menor dis tancia levarem entre si as fracçoens, mais se abre

viará a manobra. 7º.

As colunnas de attaque devem seunir de forma, que 130 os soldados possão somente andar á direita, e á esquer da sem se embaraçarem.

8º.

Huma tropa em colunna com distancias iguaes á frente das fracçoens, pode meterse em linha so 135 bre avanguarda da colunna por diagonaes, sem augmentar as distancias.

139 [fól. 10 r]

9º.

Huma colunna deve poder formarse pela direita, esquerda, ou centro; isto he, fazendo atesta da 140 colunna hum destes pontos.

10º.

Nunca se deve partir de hum ponto, ou de huma formatura, sem designio de chegar aoutro tal ponto, ou aoutra formatura: por conseguinte, o meter 145 em linha deve ser o objecto, ou causa primi

tiva, que determine o formar antes esta colunna do que aquella

11º.

As colunnas que tem a propriedade de se desfa 150 zerem sobre mais linhas differentemente dadas, são

preferiveis ás que senão poderem desfazer senão sobre huma.

12º.

O fim de huma manobra he sempre mais ar

155 riscado que o seu principio; pelo que, he preciso na quelle instante maior força, eordem: epela mes ma rasão, principiando-se ameter em linha, he ne cessario concluir com brevidade.

13º.

160 Como a força de huma tropa não he outra cou za mais que a somma total de todos os individuos,

140 [fól. 10v]

que acompoem, quanto mais desunidos estiverem es tes, tanto menor força tem a tropa.

14º.

165 Nunca deve haver modos differentes de fazer precizamente a mesma couza.

15º.

Huma tropa posta em movimento deve sempre ter huma direção determinada por dous pontos. 170 16º.

Os pontos de direcção, ede alinhamento, assim co mo os pontos intermediarios, que servem ao prolon gamento das linhas, devem ser immoveis.

17º.

175 Os ajudantes deverão ser particularmente encarrega dos de tomar os alinhamentos dados; para o que devem elles mesmo servir de pontos intermediarios e postar-se sobre o prolongamento dos pontos de vista. 18º.

180 Todas as vezes que huma tropa chega sobre hum novo alinhamento de pé firme, os officiaes dos lados devem adiantarse alguns passos, e alinharem-se primitivamente elles mesmos; de forma que a tropa não precise mais que ir postarse entre elles.

141 [fól. 11 r]

185 19º.

Devem-se tomar todas asprecauçoens para ali nhar entre sios officiaes, eos eixos, ou pioens das tro pas; e huma vêz tomado este alinhamento, devese deixar ficar como estiver; porque as emendas só pó 190 dem ter lugar entre estes pontos immoveis, que

fazem a sua base invariavel 20º.

Quando se não indicar a tropa, que deve fazer a direc ção, será sempre a do centro.

195 21º.

Na colunna serrada- se nada, não se determinando outra direc ção, se olhará para o lado sobre que se formou.

22º.

Na colunna por quartos de conversão com distancias 200 se perfilará pelo lado, que foi firme; ena marcha

se olhará para o lado, que deve servir de pião para for mar em linha.

23º.

Quando muitas tropas marchão juntas em bata

205 lhoens, ou em colunnas, he preciso indicar ahuma del las huma direcção, sobre a qual se tomarão dous

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pontos de vista; e as outras tropas terão cuidado dese alinharem por aquella, que se determinou pa ra a direcção.

210 24º.

Quando muitas tropas marchão em colunnas; e que estas sedevão meter em linha sobre as suas vanguardas; guardarão entre si os intervallos, para se formarem quando se lhes mandar.

215 25º.

Toda a manobra sedeve exprimir de hum modo claro, conciso; e com palabras sonoras, efaceis de pronunciar.

26º.

220 O mandamento geral do Commandante he para os officiaes commandantes das fracçoens, a quem per tence o conhecimento do mechanismo da manobra, e o fazer executar á sua tropa o movimento, que cada huma deve.

143 [fól. 12 r]

225 Artigo III.

Dos alinhamentos, pontos de di recção; e modo de os tomar

A direção he tão essencial, que sem ella senão pode mo ver huma linha, nem inteira, nem fraccionada, sem operigo de 230 extraviar-se do terreno, em que se pretende tomar huma nova

posição; assim como o alinhamento, para que ésta se tome entre os pontos determinados para cobrir os flancos; pelo que se deve pôr grande cuidado na sua exacção.

Para determinar, pois, huma direcção sobre

235 qualquer terreno, he preciso tomar dous pontos de vista, como

arvores, quintas, caxas,etcoetera: (Estratégia Iª) esendo em hum vasto campo, com a precisão geometrica não he tão necessaria, bas

tará tomar huma aldea, hum arvoredo, monte, etcoetera. Dous pontos assim tomados marcão tambem as extremidades da

240 linha, que se quer determinar para alinhamento (Figura 1ª. Estratégia Iª) Se a tropa está postada fora de hum des

tes pontos, e se quer traçar a linha sobre o ponto opposto, he preciso, que hum official, postando-se no primeiro ponto,

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dirija a sua vista ao segundo; e que hum official inferior se co 245 loque arbitrariamente entre estes dous pontos, parando na direc

ção, que lhe indicar o official, que do primeiro ponto olha pa ra o segundo: então o official inferior fica immovel, e enco brindo odito ponto se tira a linha, que se pertende, indicada por tres pontos: ésta de qualquer delles se póde continuar 250 sobre hum prolongamento recto, mas he absolutamente neces

sario, que haja sempre dous pontos a hum dos lados da linha sobre que se quer prolongar o alinhamento das tropas.

Muitas vezes succede darem-se pa

ra alinhamento dous pontos de vista exteriores á tropa, e 255 de tal forma distantes, que se não póde usar do principio

estabellecido: neste caso, para determinar a opperação, e acharse os pontos intermediarios, o major, e ajudante irão meter-se no dito alinhamento, para servirem daquelles á tropa, que se alinhará pelos pontos achados.

260 He regra geral, que entre dous pon

tos dados para alinhamento he preciso começar sempre por estabellecer hum ou mais pontos intermediarios, sem os qua es se não póde racionavelmente exigir que hum official, par tindo de hum ponto, se dirija em linha recta sobre o outro. 265 Segue-se deste principio, que para se alinhar huma fileira

por hum dos seos lados, he preciso passar a vista ao lado op posto, e vêr se este se acha sobre oprolongamento da linha formada pelos primeiros quatro, seis ou dez soldados.

145 [fól. 13 r]

Daqui se pode inferir o absurdo dos que 270 querem partir somente do primeiro soldado do lado

para alinhar toda a fileira, quando este homem não póde ser considerado senão como hum ponto.

Não he menos o deixar o lugar do primei

ro ponto, que estiver assinalado, para andar exteriormente 275 alinhado a fileira; pois só do lado he que pode haver

huma base certa; tomando, como fica dito, a linha formada pelos primeiros homens da sua tropa.

Todas as vezes, pois, que as tropas

chegão sucessivamente sobre huma nova linha, de que 280 ellas hão de occupar oprolongamento, bastará postar

bem exactamente a primeira que chega, sobre alinha dada, para ella regular o prolongamento da segunda, e ésta o da terceira; e assim as mais.

O commandante da primeira tropa

285 para alinhar, não deve limitar-se a determinar a li nha das espadoas do primeiro soldado; ésta linha não he sufficiente: he preciso postar o soldado do lado de forma que possa descobrir dous pontos sobre o alinhamento; e depois indicar este lado para se olhar ao perfil, e se ali 290 nhar de maneira, que a linha das espadoas do ultimo

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soldado do lado opposto vá dar á linha das espadoas do primeiro, e se confunda com todas as linhas das es padoas intermediarias.

Estes principios, que servem para o

295 alinhamento de hum batalhão, são os mesmos para ode huma brigada, ou divisão de exercito: mas nestas grandes extensoens de terreno bastará alinhar bem oprimeiro batalhão sobre os pontos dados, e este ser virá de base para o alinhamento de todos os mais; com 300 tanto, que se olhe sempre para o ultimo, que chega, do lado opposto do batalhão ja alinhado; no que devem ter grande cuidado os majores, e ajudantes; e para mais facilidade, eprontidão de alinhamento, deverião os

lados de cada tropa serem occupados pelos officiaes inferi 305 ores mais intelligentes; porque em estando estes pontos

sobre o alinhamento geral, as faltas, que houver entre ca da lado ou pião particular, não podem perjudicar essencial mente este alinhamento.

Para alinhar as outras fileiras detrás

310 da primeira; he preciso, que a vista esteja acustumada a tomar huma distancia igual, e parallela em hum dos lados, e então alinhados os primeiros sinco, ou seis soldados, se alcança facilmente hum prolongamento exacto.

147 [fól. 14 r]

Tambem se podem ter marcado com offici

315 aes-inferiores éstas parallelas, pondo a cada hum dos lados seu e hum no centro como intermediario; ou em cada intervallo. De pois de tomado o alinhamento, póde perfilarse por qualquer dos lados, ou pelo centro, segundo estes principios.

Quando huma linha houver de marchar,

320 se indicará o batalhão de alinhamento, eso lhe determinará a direcção, dando aos portabandeiras dous pontos de vista, entre os quaes se colocarão os intermediarios sobre adirecção dada, que serão marcados com officiaes inferiores, ese irão retirando, eprolongando a mesma linha, em ordinaria distancia, para 325 não se parecer engano. (figura 2ª. Estratégia Iª.)

Os officiaes superiores dos mais batalhoens

os farão marchar sobre o prolongamento daquelle, fazendo postar os ajudantes no intervallo immediato ao lado da di recção.

~.~.~.~.~.~.

330 Capitulo II

Da escolha, e ensino do soldado; e do seu ~armamento, e fardamento ~

148 [fól. 14v]

grande machina de hum exercito; he preciso que cada 335 hum delles saiba moverse uniformemente, para que toda

amachina se mova com regularidade, esem tanto pezo. ~.~.~.~.~.~

Artigo I.

Da estatura, e figura do soldado.

O soldado para a infanteria não deve baixar de sessenta 340 ehuma polegada, ao menos, no nosso payz: deve ser

grosso, ebem fornido de membros para poder soffrer o trabalho, e sustentar nos braços, com abayoneta na boca d'ar ma, oimpeto do choque dos cavallos: deve ser direito de pernas para poder marchar com desembaraço; eseria 345 huma providencia bem util o trazêlo na escolla de en

sino alguns dias antes de se lhe assentar praça, para ver a sua aptidão, ou defeitos occultos.

Em cada regimento ha huma es

colla de ensino, onde as recrutas apprendem a mar 350 char em ordem, e o passo militar; e he de grande conse

quencia, que ella seja inspeccionada por hum official de conhecida capacidade, porque dellê pende, como

149 [fól. 15r]

cauza primitiva, o bom estado de hum batalhão. Para o soldado saber marchar, he preciso 355 fazêlo ser senhor do seu corpo, e do seu passo, ensinan

do-o a ganhar oequilibrio; pois em o soldado podendo sos ter opé no ar o tempo, que quizer tambem opode pôr no chão quando os outro soldado immediato, e em igual distancia; ese elle deu hum passo demaziadamente 360 largo, ou muito pequeno, póde remedialo no seguinte.

94Passa o soldado a ser senhor do seu corpo, e

do seu passo, he preciso que em cada hum delles sustente o corpo aprumo, e com equilibrio, sobre o pé que está no chão; porque estando assim sobre elle, pode mover o outro á sua 365 vontade, e levalo para diante com avelocidade, extensão,

que quizer.

Deve-se-lhe, pois, ensinar a ter acabe

ça, eo corpo aprumo sobre os rins sem constrangimento. Diz M. de Keralio (1) que toda apozição, que o soldado não po 370 de conservar sem hum continuado esforço, he falsa, emá, ainda que ella fosse dos Césares, dos Condes, e do mesmo [Furenna].

A sua figura deve ter huma pozição firme,

ecommoda: éstas duas condiçoens são reciprocamente necessari as; porque aquelle, que não está aprumo sobre a sua base, can 375 çase, para se soster; da mesma sorte que quem está em huma

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