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CURSO DE PEDAGOGIA

3.4 Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos e procedimentos selecionados para a coleta de informações nesta pesquisa foram, respectivamente, a entrevista semiestruturada e a análise documental. Eles foram selecionados de acordo com os pressupostos do método fenomenológico, e em harmonia com a abordagem qualitativa adotada na busca pelas respostas às questões principais desta pesquisa: quais as razões para o alto desempenho dos alunos de dois cursos de Pedagogia do Enade 2008 na visão de gestores, professores e alunos e que percepções eles possuem a respeito do Enade?

a) Entrevista semiestruturada

Essa pesquisa utilizou como principal instrumento de coleta de dados a entrevista semiestruturada com objetivo de apreender os sentidos que o Enade tem para gestores, professores e alunos e quais razões eles atribuem ao alto desempenho dos alunos no Enade de 2008.

Esse tipo de entrevista permite uma maior liberdade de expressão ao entrevistado e ao pesquisador, pois possibilita captar a descrição realizada na medida em que as perguntas são abertas e representam apenas um roteiro a ser seguido.

Para Manzini (1990, 1991) a entrevista semiestruturada focaliza um assunto por meio de algumas perguntas principais, que compõem apenas um roteiro e podem ser complementadas no transcurso da entrevista, na medida em que houver necessidade de se esclarecer ou expandir algum aspecto do tema abordado. Para o referido autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais livre, visto que as respostas não estão condicionadas a alternativas previamente definidas.

Para que a elaboração do roteiro da entrevista e sua execução sejam percorridos com eficiência, é preciso considerar alguns aspectos recomendados por Lakatos e Marconi (1996), Mansini (2003) e Trivinõs (1987):

 As perguntas do roteiro da entrevista precisam estar de acordo com os objetivos. É preciso verificar se para cada objetivo proposto há pelo menos uma pergunta correspondente;

 É necessário que a linguagem utilizada seja precisa, evitando o uso de jargão ou de alguma palavra não específica ou vaga;

 A forma de elaboração das perguntas deve estar em consonância com o método selecionado. Por exemplo: num método fenomenológico as perguntas que favorecem a descrição têm uma grande importância para a descoberta dos sentidos atribuídos pelos sujeitos ao fenômeno pesquisado. Elas precisam ser suficientes para captar a abrangência do fenômeno, mas não muitas pois neste método se exige uma análise longa e profunda da falas dos sujeitos;

 A sequência dos questionamentos também precisa ser planejada num encadeamento lógico, sendo recomendável a elaboração de alguma pergunta inicial com o propósito de deixar o entrevistado mais à vontade, podendo ser questões referentes a sua formação acadêmica e trajetória profissional. Elas devem ir das mais fáceis até as mais difíceis, podendo ser agrupadas em blocos temáticos;

 Mesmo que haja um roteiro com perguntas previamente definidas, esse não deve tolher o pesquisador, pois é preciso que haja um clima informal, tranquilo para que a abertura do diálogo e a abordagem de assuntos mais complexos e delicados aconteçam de forma natural;

 O pesquisador deve ficar atento para direcionar a entrevista para o foco desejado se porventura o entrevistado desviar-se do tema, podendo também fazer perguntas adicionais para elucidar as questões que não ficaram claras.

 É melhor que a entrevista seja gravada em áudio, sendo necessário obter a permissão dos entrevistados registrada tanto na gravação como por escrito.

 Precisa ser marcada com antecedência, de preferência realizada num local tranquilo sem interrupção.

A entrevista semiestruturada é uma das fontes de informação mais importantes para se coletar dados nas pesquisas realizadas em Ciências Sociais, em especial no tipo de pesquisa selecionado para o estudo de caso (GIL, 2009, YIN, 2010). No caso dessa pesquisa, o fato de se ter investigado mais de um caso é denominado por Yin (2010) de casos múltiplos, sendo considerado como variante da mesma estrutura metodológica do estudo de caso.

Oliveira (2008) confirma essa relevância ao afirmar que:

[...] os discursos provenientes dos questionários e das entrevistas são importantes, pois ampliam e complementam o cotidiano observado, possibilitando a visualização de um contexto dialeticamente estruturado, em

que os interlocutores explicitam suas perspectivas quanto às situações vivenciadas (p. 59).

Reconhecendo a importância da entrevista semiestruturada na abordagem e método adotados para esta pesquisa, foi selecionado este instrumento como principal fonte de coleta de informações, por favorecer maiores possibilidades de se captar a realidade.

b) Análise documental

Primeiramente é importante apresentar o conceito do que seja um documento. Bell (1993) o designa como uma impressão deixada pelo homem em algum objeto físico, podendo apresentar-se sobre forma de fotografia, filme, endereço eletrônico, imprensa – a forma mais comum –, dentre outros.

A análise, por sua vez, consiste, de acordo com Flores (1994), em uma investigação educativa com objetivo de detectar unidades de significado num texto e no estudo de relações entre elas e em relação ao todo.

Segundo Bell (1993) a análise documental pode ser utilizada de duas formas: i) servir para complementar informações obtidas por outros instrumentos; ii) ser o método de pesquisa central ou mesmo exclusivo, em cujo caso os documentos são alvo de estudos por si próprios

Na presente pesquisa recorremos à primeira situação ao realizar um procedimento de levantamento de informação, para além do instrumento principal, a entrevista semiestruturada. Isto também possibilitou o estabelecimento de comparação entre os discursos dos sujeitos entrevistados e o conteúdo registrado nos documentos da instituição, como forma de confirmação, complementação, ampliação e maior compreensão dos sentidos percebidos.

A análise documental pode ser constituída por duas etapas: a primeira sendo seleção e recolhimento de documentos, e a segunda a análise deles.

Para que a seleção dos documentos seja realizada com eficiência Bell (1983) apresenta algumas recomendações:

 selecionar materiais pertinentes e relevantes para o estudo do fenômeno;  saber a quem se deve recorrer para que seja efetuada a pesquisa;

 selecionar material compatível com o tempo disponível;

 não selecionar os documentos com base na forma como eles apoiam seus pontos de vista;

Em relação à realização da análise documental é importante ressaltar que o pesquisador, depois de uma primeira leitura dos documentos selecionados, deve separar as informações coletadas, classificando-as de acordo com as unidades de significado anteriormente definidas. Após esse procedimento poderá confrontá-las com os discursos analisados, servindo-se delas para complementar, esclarecer, confirmar ou mesmo contradizer o que foi percebido nas falas dos sujeitos entrevistados.

O procedimento de análise documental que, para Ludke e André (1986), se constitui “numa técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos, seja complementando as informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema” (p. 38), possibilitou obter informações por meio de registros que foram utilizados como fonte de dados acerca do objeto da pesquisa..

Durante a pesquisa de campo, tivemos acesso ao Plano de Desenvolvimento Institucional e ao Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia das duas instituições, os quais foram utilizados na busca das respostas às questões levantadas, e para comprovação documental dos dados levantados nas entrevistas. Também tivemos acesso às atas de reunião do colegiado das instituições e, de forma específica na FACAM, pudemos também analisar a ata das reuniões do Núcleo Docente Estruturante (NDE).

Na AGES havia ainda outro documento, intitulado Plano de Trabalho Institucional (PTI) do Curso de Pedagogia, no qual era descrita toda a programação para o semestre seguinte referente ao Ensino, Pesquisa e Extensão, além de cronograma de reuniões e o programa de Orientação Pedagógica e Educacional. Obtivemos a informação de que esse programa é construído coletivamente na mesma reunião em que se avalia o PTI do semestre ora finalizado.

Por meio da análise desses documentos e de atas do colegiado foi possível estabelecer paralelos entre o conteúdo do discurso e o registro de ações ou concepções encontradas nesses documentos, percebendo-se coerência entre as duas fontes de informação e em outros casos, contradições entre o que se fala e o que está documentado. Entendemos como Ludke e André (1986), que a análise documental é uma:

[...] fonte poderosa de onde podem ser retiradas evidências que fundamentam afirmações de declarações do pesquisador. Representam ainda uma fonte “natural” de informação. Não são apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo contexto (p.39).

A análise desses documentos contribuiu também para levantar dados referentes ao conceito do que seja avaliação institucional e do que se entende por qualidade, na ótica das instituições. Também possibilitou oportunidades de verificação de dados referentes à estrutura e à organização do curso, bem como a percepção da instituição em relação ao Enade, ao se identificar as ações que ela realizou tendo em vista esse exame.