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CAPÍTULO III METODOLOGIA

3.5 INSTRUMENTOS DE COLETA UTILIZADOS NA PESQUISA

Neste tópico, abordaremos os instrumentos de pesquisa utilizados na coleta de dados. Primeiramente, ressaltamos que, segundo Oliveira, M. (2007), amparada em Legendre (1993), não devemos, em uma pesquisa, utilizar apenas um método, pois é necessário analisar de diversas formas os dados da realidade.

Desse modo, optamos por lançar mão do uso de observações, de diário de campo e de entrevistas, conforme explicaremos mais a fundo na sequência. Antes disso, gostaríamos também de esclarecer que, além de a pesquisa bibliográfica44 ter nos amparado na análise dos dados, em alguns momentos, utilizaremos a pesquisa documental como subsídio de análise, uma vez que tivemos acesso ao Projeto Político Pedagógico da escola onde o projeto de parceria entre as escolas polonesa e brasileira é desenvolvido e a trechos de documentos colhidos, como o Protocolo de Intenções relativo ao projeto de intercâmbio, que nos ajudam a pensar sobre as políticas linguísticas da cidade. Por isso, antes de partirmos para os outros instrumentos, vale dizer que a pesquisa documental, de acordo com Oliveira, M. (2007), é

Bastante semelhante à pesquisa bibliográfica, [...] caracteriza-se pela busca de informações em documentos que não receberam nenhum

tratamento científico, como relatórios, reportagens de jornais,

revistas, cartas, filmes, gravações, fotografias, entre outras matérias de divulgação (OLIVEIRA, M., 2007, p. 69).

Além disso, por se constituírem como uma fonte natural de dados, esses documentos, na opinião de Lüdke e André (1986), “não são apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo contexto” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 39).

44 “A pesquisa bibliográfica é uma modalidade de estudo e análise de documentos de domínio

científico tais como livros, enciclopédias, ensaios críticos, dicionários e artigos científicos.” (OLIVEIRA, M., 2007, p. 69).

Conforme já explicado anteriormente e pautando-se no fato de as observações geralmente serem utilizadas em estudos de pesquisas qualitativas e em estudos etnográficos, utilizamos, nesta pesquisa, as observações de práticas linguísticas e culturais, uma vez que não observamos apenas aulas, mas também apresentações folclóricas, missas, apresentação de cantos, sempre buscando participar dos eventos promovidos pela comunidade que, de uma forma ou outra, geralmente envolvem o uso da língua polonesa.

Em relação à observação, segundo Lüdke e André (1986),

Para que se torne um instrumento válido e fidedigno de investigação, a observação precisa ser antes de tudo controlada e sistemática. Isso implica a existência de um planejamento cuidadoso do trabalho e uma preparação rigorosa do observador. (LÜDKE, ANDRÉ, 1986, p. 25).

A partir desse entendimento, buscamos sistematizar nossas observações de forma a nos ater ao que diz respeito a nossos questionamentos de pesquisa. Por isso explicamos que, em se tratando das observações das aulas de polonês oferecidas pela igreja, as quais somaram trinta horas de observação, nosso foco não se pauta exatamente na metodologia de ensino da professora, na discussão do material por ela oferecido, mas, sim, no andamento dessas aulas em relação a pontos e falas específicos, buscando trazer a visão dos envolvidos sobre a importância desse curso, as dificuldades, as facilidades, as motivações, entre outros fatos que eles julgaram importantes.

Esse posicionamento baseia-se no fato de que

A observação direta permite também que o observador chegue mais perto da ‘perspectiva dos sujeitos’, um importante alvo nas abordagens qualitativas. Na medida em que o observador acompanha in loco as experiências diárias dos sujeitos, pode tentar apreender a sua visão de mundo, isto é, o significado que eles atribuem à realidade que os cerca e às suas próprias ações. (LÜDKE, ANDRÉ, 1986, p.26).

Além disso, entendemos que os dados das observações não podem ser vistos de forma isolada, uma vez que se relacionam ao contexto mais amplo (OLIVEIRA, M., 2007). Por isso, em nossa discussão, do próximo capítulo, optamos por não separar nossa análise dos dados por instrumento de coleta -

nem por participante, mas, sim, por temáticas, a partir das quais é possível organizar os dados para cumprir os objetivos a que nos propomos.

Ressaltamos que, devido a nossa postura de pesquisa, nossas observações foram participantes. Nesse modo de observação, segundo Oliveira, M. (2007),

o pesquisador deve interagir com o contexto pesquisado, ou seja, deve estabelecer um relação direta com grupos ou pessoas, acompanhando-os em situações informais ou formais e interrogando- os sobre os atos e seus significados por meio do constante diálogo. (OLIVEIRA, M., 2007, p. 81)

A autora complementa dizendo que, a partir dessa observação, ocorre uma análise do que foi observado. Todos os dados referentes à coleta por meio das observações, sejam elas realizadas em situações formais, como a de ensino, ou as realizadas em conversas informais, aparecerão na análise por meio das reflexões registradas no diário de campo.

Torna-se necessário esclarecer que, de acordo com Lüdke e André (1986), o diário de campo pode possuir duas partes, a descritiva e a reflexiva. Na primeira delas, detalha-se o campo de observação, registrando a descrição dos sujeitos; a reconstrução de diálogos; os comportamentos do observador; e a descrição de locais, de eventos especiais e de atividades. Já na parte reflexiva, estão inclusas as reflexões analíticas; as reflexões metodológicas; os dilemas éticos e conflitos; as mudanças na perspectiva do observador; e os esclarecimentos necessários. Com isso, podemos ver que o diário de campo possibilita ao pesquisador registrar aspectos essenciais para serem retomados na análise, por isso, optamos por utilizar esse instrumento de coleta.

O outro instrumento de coleta, conforme já explicitado, é a entrevista, vista como um dos instrumentos básicos para a coleta de dados nos estudos qualitativos (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). É importante esclarecer que cada participante respondeu a entrevistas com roteiros diferentes, apenas com alguns questionamentos em comum, uma vez que as entrevistas surgiram a partir das observações e de conversas informais com os participantes de pesquisa. Assim, acreditamos que mais formas de olhar para as políticas linguísticas da cidade podem ser contempladas, considerando que nossos participantes de pesquisa têm diferentes relações com o pensar sobre as

políticas linguísticas, assim, as entrevistas também precisam ser adequadas aos participantes.

Contudo, há alguns temas que destacamos como recorrentes em todas as entrevistas. O primeiro deles é o modo como os participantes discutem suas relações com a língua polonesa, questão essa que nos permite refletir sobre o vínculo com a língua e com a cultura polonesa. O segundo é em relação à visão que eles acreditam que os descendentes de poloneses, em geral, têm sobre a língua e a cultura polonesa, e a visão que os não descendentes têm, uma vez que a busca por problematizar isso, unida ao primeiro tema trazido acima, nos permite discutir a questão identitária relacionada à questão polonesa. Já o terceiro tema que esteve presente em todas as entrevistas diz respeito ao modo como os participantes veem o uso da língua polonesa nos próximos anos na cidade de Itaiópolis, de modo que essa questão possibilita pensarmos em ações de agentes de políticas linguísticas nesse espaço específico.

Destacamos que buscamos partir de uma entrevista semiestruturada, ou seja, de perguntas que podiam ser alteradas se o participante e/ou a pesquisadora sentissem essa necessidade. Além disso, conforme pode ser visto nas páginas 197, 208 e 210, buscamos dar mais liberdade para que nossos participantes efetivamente pudessem falar e não fossem guiados por questões que limitassem suas respostas.