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CAPÍTULO III METODOLOGIA

3.4 PESQUISA QUALITATIVA

Como já dito, inserindo-se nos estudos de LA, esta pesquisa se enquadra na abordagem qualitativa, considerando que, de acordo com Moita Lopes (2013), "A LA no Brasil é quase totalmente de natureza qualitativa, com preocupações com o idiossincrático, o particular e o situado (Moita Lopes, 2012)." (MOITA LOPES, 2013, p. 17).

Nesse mesmo sentido, Fabrício (2006) afirma que a LA com a perspectiva da criação, da multiplicidade do significado e da valorização dos contextos de uso da linguagem instigou o uso de metodologias que possibilitam a discussão sobre a relação entre linguagem, cultura, sociedade e subjetividade. Assim, nesta seção abordaremos as características da pesquisa qualitativa, a fim de justificar o modo como conduzimos este trabalho.

Lüdke e André (1986) buscam explicar o que caracterizaria a pesquisa qualitativa apoiadas em Bogdan e Biklen (1982). Estes autores trazem cinco características básicas desse tipo de estudo. Segundo eles, a pesquisa qualitativa:

a) Tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento;

b) Os dados coletados são predominantemente descritivos;

c) A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto; d) O “significado” que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de

atenção especial pelo pesquisador;

e) A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo.

Para que isso seja possível, esse modo de conceber pesquisa pressupõe, segundo Lüdke e André (1986), baseadas ainda em Bogdan e Biklen (1982), “o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada [...]” (LÜDKE, ANDRÉ, 1986, p. 11). Nesse mesmo sentido, Oliveira, M. (2007), em estudos mais recentes do que os citados anteriormente, confirma o já apresentado, ao também trazer as mesmas características relacionadas à pesquisa qualitativa. A autora também

explica que “Em pesquisas de abordagem qualitativa todos os fatos e fenômenos são significativos e relevantes”. (OLIVEIRA, M., 2007, p.38)

Por isso, podemos depreender o que Lüdke e André (1986) afirmam ao dizer que “A pesquisa, então, não se realiza numa estratosfera situada acima da esfera de atividades comuns e correntes do ser humano” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 2). Dessa forma, o pesquisador precisa lançar mão dos métodos de coleta disponíveis a fim de não negligenciar nenhum dado que venha a ser esclarecedor no futuro, pois

Todos os dados da realidade são considerados importantes. O pesquisador deve, assim, atentar para o maior número possível de elementos presentes na situação estudada, pois um aspecto supostamente trivial pode ser essencial para a melhor compreensão do problema que está sendo estudado. (LÜDKE, ANDRÉ, 1986, p. 12).

Além disso, como ponto em comum da discussão de Oliveira, M. (2007) e Lüdke e André (1986) temos o fato de as autoras afirmarem que, na pesquisa qualitativa, há uma preocupação com o significado que os participantes dão às coisas, assim, indo ao encontro de Oliveira, M. (2007), afirmam que:

Nesses estudos há sempre uma tentativa de capturar a ‘perspectiva dos participantes’, isto é, a maneira como os informantes43

encaram as questões que estão sendo focalizadas. Ao considerar os diferentes pontos de vista dos participantes, os estudos qualitativos permitem iluminar o dinamismo interno das situações, geralmente inacessível ao observador externo. (LÜDKE, ANDRÉ, 1986, p. 12).

Essa citação elucida muito do desenvolvimento desta pesquisa, uma vez que o objetivo é trabalhar com diferentes olhares sobre as políticas linguísticas da cidade de Itaiópolis, por isso, essa abordagem, possibilita-nos discutir justamente o dinamismo interno dessas situações.

Mais uma relação que podemos estabelecer entre a pesquisa qualitativa e a LA é a necessidade de se considerar saberes de diversas áreas, conforme

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Achamos pertinente esclarecer desde já que, apesar de o termo informante aparecer na citação das autoras Lüdke e André (1986), em nosso trabalho, não utilizamos essa nomenclatura, e, sim, participante da pesquisa, uma vez que concebemos todos os envolvidos diretamente com a pesquisa como tendo um papel relevante para o desenvolvimento dessa e não somente como uma fonte de dados para a pesquisa. Na sequência, abordaremos de forma mais direta essa visão.

já apontamos anteriormente, pois, de acordo com Oliveira, M. (2007),

a abordagem qualitativa se preocupa com uma visão sistêmica do problema ou objeto de estudo. Tenta explicar a totalidade da realidade através do estudo da complexidade dos problemas sociopolíticos, econômicos, culturais, educacionais, e segundo determinadas peculiaridades de cada objeto de estudo (OLIVEIRA, M., 2007, p. 58).

Essa autora também considera imprescindível que se conheça o contexto histórico do local onde se realiza a pesquisa, pois, para ela, a pesquisa qualitativa pode ser entendida como um processo de reflexão e de análise da realidade que busca, por variados métodos, a compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico, o que “implica em estudos segundo a literatura pertinente ao tema, observações, aplicação de questionários, entrevistas e análise de dados, que deve ser apresentada de forma descritiva” (OLIVEIRA, M., 2007, p. 37).

Devido a isso, para a mesma autora, o material obtido nessas pesquisas acaba por ser rico em descrições, seja de pessoas, situações ou acontecimentos. Também “inclui transcrições de entrevistas e de depoimentos, fotografias, desenhos e extratos de vários tipos de documentos.” (LÜDKE, ANDRÉ, 1986, p. 12).

Em resumo, podemos dizer, amparados em Oliveira, M. (2007), que a pesquisa qualitativa envolve um estudo detalhado de um fato, objeto, grupo de pessoas e fenômenos da realidade. Assim, busca informações fidedignas para “explicar em profundidade o significado e as características de cada contexto em que encontra o objeto de pesquisa”, utilizando dados obtidos por meio de “uma pesquisa bibliográfica, entrevistas, questionários, planilhas e todo instrumento (técnica) que se faz necessário para obtenção de informações” (OLIVEIRA, M., 2007, p. 60). Os métodos utilizados para este trabalho, dentre os que a pesquisa qualitativa dispõe, serão explicados na sequência.

Antes disso, é necessário frisar que, apesar de esta pesquisa não seguir todos os critérios da abordagem etnográfica trazidos por Firestone e Dawson (1981 apud LÜDKE, ANDRÉ, 1986), pode ser entendida como uma pesquisa qualitativa de cunho etnográfico, uma vez que a etnografia se refere à “descrição de um sistema de significados culturais de um determinado grupo”

(LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 14) e esta pesquisa também se dedica a esse aspecto.

Nesse sentindo, entendemos, amparados em Telles (2002), que a pesquisa qualitativa de cunho etnográfico é utilizada a fim de buscar compreender os diferentes comportamentos e relações entre grupos de pessoas, podendo ser, por exemplo, professores, alunos, pais, entre outros, dentro de um contexto social específico, como a escola, a comunidade etc. “Seu propósito é descrever e interpretar a cultura e o comportamento cultural de pessoas e grupos". (TELLES, 2002, p. 102-103).

Assim, em se tratando desta pesquisa em específico, também buscamos compreender os diferentes comportamentos e ações de membros da comunidade - na sequência explicaremos os critérios que definiram a participação na pesquisa e o perfil dos participantes - em relação aos objetivos da pesquisa, em um contexto específico, conforme já descrito acima.

Ressaltamos que Oliveira, M. (2007) também vai ao encontro do afirmado por Telles (2002) e por Lüdke e André (1986). Segundo essa autora, a etnografia se refere ao estudo descritivo de grupos de pessoas em relação a suas características sociais, políticas, educacionais, entre outras. Em outras palavras, “a etnografia quer dizer o estudo e a descrição dos povos, sua língua, raça, religião... (FERREIRA, 1988, p. 280). Trata-se, portanto, de um estudo sobre cultura [...]” (OLIVEIRA, M., 2007, p. 73).

Em relação aos métodos de coleta de dados frequentemente utilizados nessas pesquisas, Lüdke e André (1986) afirmam que há dois métodos básicos,

a observação direta das atividades do grupo estudado e entrevistas com os informantes para captar suas explicações e interpretações do que ocorre nesse grupo. Mas esses métodos são geralmente conjugados com outros, como levantamentos, histórias de vida, análise de documentos, testes psicológicos, videoteipes, fotografias e outros. (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 14).

Nos tópicos seguintes, buscaremos explicitar e justificar nossas opções sobre os métodos utilizados, contudo, gostaríamos de registrar que, segundo Telles (2002), a análise dos dados, em pesquisas que partem de pressupostos da etnografia, tem cunho interpretativista.