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Cançado (1994), rememorando Erickson (1981), apresenta duas fontes consideradas principais na obtenção de um corpus: “olhar” e “perguntar”. Assim, tendo como base esses princípios e buscando atingir os objetivos traçados nesta pesquisa, três instrumentos foram idealizados e utilizados para a geração dos dados, sendo o primeiro o questionário online11, depois a observação de aulas dos professores selecionados e, por fim, a entrevista semiestruturada.

O questionário online, que pode ser visualizado no Apêndice 1, foi elaborado a partir da adaptação do material apresentado em El Kadri (2011) e Souza, Barcaro e Grande (2011). Esse instrumento foi preparado para ser utilizado na primeira etapa da geração de dados, com o propósito de traçar um perfil dos professores respondentes, bem como um perfil de sua concepção de inglês como língua franca e de sua prática pedagógica. Assim, como defendem Marconi e Lakatos (2003), foi elaborada uma carta para acompanhar esse instrumento, informando a natureza da pesquisa, sua importância, bem como a necessidade e a relevância da obtenção das respostas.

A partir das 20 (questões), fechadas e abertas, a intenção, de forma geral, era detectar:  como os docentes descreviam a sua situação de ensino;

 qual a sua realidade de uso da língua;

 como eles definiam o termo inglês como língua franca e se acreditavam que a problematização desse tema seria relevante para a formação de professores de língua inglesa;

 como eles viam o ensino de ILF e se acreditavam ser possível inseri-lo em nossas escolas;

 se viam diferença em ILE e ILF;

 se identificavam alguma influência no desenvolvimento da identidade de seus alunos a partir da escolha de um modelo específico de inglês;

 se percebiam a língua que lecionavam como um meio de empoderamento de seus alunos e de que forma a aplicavam em sua prática pedagógica.

A escolha por um questionário online representa mais praticidade aos docentes durante o preenchimento, bem como facilita o meu trabalho de categorização e análise das respostas. O

fato de as respostas recebidas serem agrupadas numa planilha permite não apenas uma melhor visualização e análise qualitativa de todos os registros, mas, também, possibilita a análise quantitativa das questões fechadas gerando dados estatísticos e gráficos.

Após a análise dos dados recebidos a partir do preenchimento do formulário online pelos professores, passei para o segundo momento do trabalho de campo com a observação de aulas dos professores selecionados. Vale relembrar que, considerando o tipo de pesquisa utilizado nesse trabalho investigativo, como previamente lembrado, os dados podem ser gerados a partir de um número reduzido de informantes, uma vez que uma grande quantidade de registros será obtida ao final da etapa de geração de dados (CANÇADO, 1994).

Conforme Quevedo-Camargo e Scaramucci (2014, p. 223), “a observação é um dos métodos de pesquisa mais antigos e importantes” que “envolve a coleta de impressões sobre aspectos específicos do mundo que nos cerca de forma sistemática, com o propósito de aprender um determinado fenômeno”. Para Marconi e Lakatos (2003, p. 190), “não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar”. Assim, esta fase tem como finalidade verificar in loco a prática dos professores, a fim de conhecer a sua realidade de maneira mais ampla e traçar uma possível comparação com os dados apresentados na fase inicial da pesquisa. O registro dessa etapa foi realizado fazendo uso de notas de campo e gravação das aulas quando permitido pelos docentes.

Visando à triangulação dos dados, na terceira fase da pesquisa de campo, foi realizada uma entrevista semiestruturada com cada um dos professores participantes da etapa anterior, utilizando um roteiro contendo 20 (vinte) questões (Apêndice 2). Esse tipo de entrevista, como se sabe, permite que o pesquisador guie a conversa, permitindo que o professor entrevistado possa participar de maneira mais espontânea, como também que alguns tópicos sejam aprofundados caso seja relevante para a pesquisa. A transcrição foi feita apenas de trechos considerados relevantes para o debate das questões vinculadas aos objetivos e perguntas de pesquisa e será disponibilizada no Anexo 3.

Para a realização da entrevista, o roteiro elaborado com as seguintes questões foi utilizado de forma indireta, com o propósito de fazer com que esse momento com o professor fosse mais voltado para uma conversa descontraída do que para uma arguição formal.

1. Como é a sua relação com a língua inglesa atualmente? Faz uso frequentemente da língua? De que maneira?

2. Fale sobre os motivos que o/a levaram a escolher o inglês para lecionar? 3. Fale sobre sua trajetória como professor(a) de inglês.

4. Como você vê o seu papel de professor(a) de inglês no atual contexto mundial?

5. Por sua experiência, o que é importante para se tornar um(a) bom/boa professor(a) de inglês?

6. Qual sua carga horária semanal?

7. Como são as suas condições de trabalho em relação ao número de alunos / número de turmas?

8. Você dispõe de horário específico para o seu planejamento de aulas? 9. Quais os principais desafios que você enfrenta na sua prática diária?

10. Como você descreveria o seu ensino da língua inglesa (variável(eis), objetivo(s), etc.)?

11. Você consegue inserir nas suas aulas aspectos culturais de países falantes de LI, seja como língua materna, seja como língua oficial?12

12. O que chama mais sua atenção: o que seus alunos falam ou a maneira como eles falam?

13. O que vem a sua mente quando mencionamos o termo “inglês como língua franca”?

14. Você vê diferença entre o inglês como língua estrangeira (ILE) e o inglês como língua franca (ILF)? Em caso afirmativo, quais seriam as premissas e implicações dessa distinção?

15. Você acredita que a problematização do ILF é importante para a formação de professores? Por quê?

16. É possível ensinar ILF no seu contexto? Se sim, como seria? 17. Você consegue inserir o ILF em suas aulas? De que forma?

18. Optar por uma perspectiva de ensino voltada para o padrão do falante nativo ou com a função de língua franca, por exemplo, afetaria o desenvolvimento da identidade de seus alunos? Quais seriam as principais implicações de cada escolha em sua opinião?

19. Você percebe a língua adicional que leciona (inglês) como um meio de empoderamento de seus alunos? Se sim, de que forma você discute em sua prática pedagógica a língua com esse sentido?

20. Fique à vontade para fazer seus comentários finais.

Quevedo-Camargo e Scaramucci (2014, p. 223) apresentam vantagens e desvantagens no uso de entrevistas.

São muitas as vantagens quando se utilizam entrevistas. Entre elas está a possibilidade de esclarecimento e aprofundamento de pontos específicos quando necessário, a abordagem mais personalizada do entrevistado, e a possibilidade de se obter pistas não verbais relevantes para a pesquisa. Entre as desvantagens, incluem-se possíveis dificuldades de agendamento com os participantes, a necessidade de deslocamento do pesquisador ou entrevistador

12 A pergunta 11 apresentada no roteiro era “O que conhece sobre a cultura dos falantes de língua inglesa, seja

como língua materna, seja como língua oficial?”. Entretanto, ao longo da realização da primeira entrevista, percebi que o ideal não era saber o que o professor sabia sobre a cultura do outro, mas como ele trabalhava esses aspectos culturais em sua prática diária. Por isso, a reformulação da pergunta.

até o local onde o entrevistado está, mais lentidão na coleta e análise dos dados (no caso de entrevistas gravadas e suas transcrições) e limitações quanto ao número de entrevistados a serem incluídos na investigação.

Mesmo diante das dificuldades elencadas acima, acredito que a realização das entrevistas é relevante para a conclusão da análise feita a partir dos dados gerados nas fases anteriores. Por isso, optei em fazer a entrevista com todos os professores participantes, a fim de garantir uma maior confiabilidade na análise dos dados gerados ao longo do trabalho investigativo.