• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 5 MALAS PARA A BAGAGEM E PÉ NA ESTRADA: ESCOLHAS

5.2 Instrumentos para a produção de material empírico

Nesta pesquisa, que contou com duas fases distintas (conforme apresento mais adiante), a produção e a coleta de material e dados empíricos realizaram-se por meio de questionários, observação participante, entrevistas semi-estruturadas, trabalho com grupo focal, rodas de conversa e documentos, instrumentos passíveis de utilização em estudos de natureza qualitativa ou mista (BOGDAN & BIKLEN, 1994). A seguir, detalho estes instrumentos.

5.2.1 Questionários

Os questionários configuram-se como uma técnica de investigação que apresenta questões por escrito a serem respondidas pelos pesquisados, objetivando melhor inferir sobre suas opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas e situações vivenciadas (GIL, 1999, 2008).

De acordo com Cohen; Manion; Morrison (2007a) há diferentes perfis de questionários para distintos perfis de público de pesquisa. Eles assinalam que para um grupo de pesquisa numeroso, o questionário mais indicado é do tipo mais estruturado, fechado e numérico, ao passo que para um grupo de pesquisa menos numeroso, como foi o caso do grupo de pesquisa desse trabalho, corresponde um questionário menos estruturado e, portanto, mais aberto, mais baseado em palavras.

Os autores ainda ressaltam que questões abertas possibilitam que os pesquisados possam escrever livremente, usando suas próprias palavras, podendo então explicar e qualificar suas respostas, o que não ocorre com um questionário fechado, cujas categorias de respostas já são pré-estabelecidas pelos pesquisadores. Tais características justificaram a escolha de questionários semi-abertos nesta pesquisa.

Tendo em vista esses aspectos, planejei, preparei e apliquei dois questionários semi- abertos na primeira fase da pesquisa, sendo o primeiro de sondagem e o segundo de aprofundamento.

5.2.2 Observação participante

A observação é uma técnica de pesquisa na qual o investigador examina, de modo sistemático, uma situação, guiado por seu(s) objeto(s) de investigação (LAVILLE & DIONNE, 1999).

Ainda de acordo com os autores, uma observação, para ser validada como investigação científica, requer planejamento e preparação prévios por parte do investigador-observador.

Bogdan e Biklen (1994) citam Gold (1958) para discutir alguns dos possíveis papeis que os observadores podem vir a desempenhar: (1) observador completo – é quando o investigador não participa de nenhuma das atividades do ambiente em que se dá a pesquisa; (2) observador participante completo – é quando o investigador apresenta um envolvimento completo com a instituição, havendo somente uma pequena diferença capaz de discernir seus comportamentos dos comportamentos dos sujeitos. Para os autores, os investigadores de campo estão em algum lugar entre esses dois extremos.

Neste trabalho, assumi a postura de observadora participante (BOGDAN & BIKLEN, 1994), integrando-me ao contexto, tornando-me mais ou menos parte natural do cenário. Estive, portanto, envolvida diretamente com o processo e com os demais sujeitos da pesquisa, o que me permitiu melhor analisar o que foi produzido, observado e registrado.

Outrossim, esse tipo de observação possibilitou o registro de informações (por meio de notas de campo) na presença dos participantes, sendo que estes foram feitos no momento em que as observações ocorreram, propiciando assim a reconstrução de diálogos que pudesse vir a considerar como fundamentalmente relevantes.

Ser observadora participante proporcionou-me ainda investigar-me como educadora ao voltar o olhar reflexivo para a minha própria prática docente, o que, por uma perspectiva freireana, reside no reconhecimento do inacabamento do ser.

Nesse trabalho de pesquisa, a observação foi utilizada em todo o processo pedagógico, incluindo-se a primeira fase da pesquisa (estudo exploratório) e a segunda fase (intervenção).

Assim, esse instrumento esteve presente em todos os encontros com os alunos do grupo de pesquisa, assim como também com os encontros com os alunos do grupo focal. Apesar de trazer maiores detalhes sobre esses grupos em seções/subseções posteriores, penso caiba aqui um breve parêntese a esse respeito: o grupo de pesquisa foi formado pelos 11 alunos que integravam a turma do 3º ano “A” do Colégio GAIA. Já o grupo focal foi composto por 5 desses 11 alunos, dos quais 3 pertenciam ao gênero feminino e 2 ao gênero masculino.

5.2.3 Entrevistas

Bogdan e Biklen (1994) definem a entrevista como uma conversa intencional, uma troca de visões, entre duas ou mais pessoas, sobre um assunto de interesse mútuo, podendo ser utilizadas em conjunto com a observação participante, análise documental e outras técnicas.

As entrevistas podem variar quanto ao seu grau de estruturação. Algumas, apesar de serem relativamente abertas, estão centradas em tópicos determinados ou podem ser guiadas por questões gerais. As entrevistas permitem ao entrevistador levantar uma série de tópicos, oferecendo ao pesquisador a oportunidade de moldar o seu conteúdo, sem, contudo, impedir o entrevistado de contar a sua história em termos pessoais, pelas suas próprias palavras (BOGDAN & BIKLEN, 1994).

Para Bogdan e Biklen (1994); Laville e Dionne (1999) e Cohen; Manion; Morrison (2007b) há pelo menos três tipos de entrevistas: (1) estruturadas ou formais – baseadas em um

roteiro, com questões pré-formuladas, que é seguido à risca; (2) semi-estruturadas ou menos formais – baseadas em um roteiro, porém com flexibilidade para alterações de sequência, exclusão ou inclusão de perguntas; (3) em profundidade, não-estruturadas, informais ou abertas – em que o entrevistador não parte de um roteiro de entrevista com questões formuladas, estabelecendo com o entrevistado uma conversa sobre os tópicos desejados.

Nos estudos de observação participante, como a dessa pesquisa, o investigador geralmente já conhece os participantes, o que faz com que a entrevista, muitas vezes, se aproxime de uma conversa entre amigos. (BOGDAN & BIKLEN, 1994).

Nesse trabalho, optei pelo uso da entrevista semi-estruturada. Tal escolha se justificou pelo fato de suas características melhor dialogarem com a abordagem qualitativa desse trabalho, que pretendia obter informações personalizadas e, portanto, não-padronizadas, sobre a visão dos educandos que foram entrevistados. Como reforçam Bogdan e Biklen (1994), é na construção da rede dialógica, estabelecida entre educador-educandos e entre educandos- educandos que se dá o contato com diversos pontos de vista e opiniões, assim como vem à tona sentimentos, emoções, valores culturais e ideológicos, o que justifica essa escolha metodológica.

Planejei e realizei duas entrevistas, sendo uma junto ao grupo de pesquisa e outra junto ao grupo focal, a fim de “recolher dados descritivos na linguagem própria do sujeito” (BOGDAN & BIKLEN, 1994, p. 134), o que me permitiu fazer inferências ao desenvolver de maneira observacional e intuitiva ideias acerca de como os educandos interpretavam aspectos do mundo.

Bogdan e Biklen (1994) atentam para o constrangimento que a gravação em áudio ou vídeo pode causar ao entrevistado e, por isso, a fim de eliminar (ou pelo menos diminuir) tal constrangimento, procurei estabelecer um clima de bate-papo (diálogo) como forma de deixar os entrevistados mais descontraídos e motivá-los mais a participar do que estávamos discutindo.

5.2.4 Grupo focal

Kind (2004, p. 125) conceitua grupo focal como “uma entrevista em grupo, que atende

a fins específicos em dada investigação. Não se trata, contudo de investigar indivíduos num mesmo espaço físico”.

Por utilizar a interação grupal, propicia a produção de dados e insights que, dificilmente, seriam conseguidos fora do grupo. Por se tratar de uma estratégia de abordagem qualitativa, as informações obtidas por meio do grupo levam em consideração o processo do

grupo, que é visto como algo maior que a soma das opiniões, sentimentos e pontos de vista de cada um dos indivíduos em jogo, conforme pontuam Bogdan e Biklen (1994).

[...] o grupo focal é um procedimento de coleta de dados no qual o pesquisador tem a possibilidade de ouvir vários sujeitos ao mesmo tempo, além de observar as interações características do processo grupal. Tem como objetivo obter uma variedade de informações, sentimentos, experiências, representações de pequenos grupos acerca de um tema determinado. (KIND, 2004, p. 126).

Kind (2004) pontua que é uma técnica importante para o conhecimento de crenças, hábitos, valores, restrições, preconceitos e linguagens acerca de alguma temática ou questão, sendo, por isso, um dos objetivos da entrevista em grupo focal o de conhecer o pensamento dos indivíduos sobre determinado assunto ou tópico e como eles chegaram a esses pensamentos. Além disso, propicia a compreensão de ideias partilhadas pelos indivíduos sociais em seu cotidiano e dos modos de influência que um indivíduo pode exercer sobre o outro.

Quando utilizado na fase exploratória da pesquisa e ao final da intervenção, aliado a outros instrumentos de pesquisa utilizados em abordagem qualitativa, permite traçar um paralelo entre as informações obtidas em ambos os momentos, podendo o investigador avaliar se houve ou não alteração na visão dos indivíduos em relação ao(s) seu(s) objeto(s) de investigação.

O grupo focal desse trabalho, conforme já antecipado na seção 5.2.2, foi formado, em abril de 2012, após a escolha do grupo de pesquisa, de maneira voluntária. Composto por 5 alunos do 3º ano “A”, dos quais 2 eram do gênero masculino e 3 do gênero feminino.

Com o grupo focal, realizei em maio de 2012 uma entrevista intencionando sondar os educandos em relação: (a) às suas concepções sobre a natureza das ciências; (b) à imagem que possuíam dos cientistas; (c) à visão que tinham sobre o papel da pesquisa científica na sociedade; (d) à importância/contribuição das disciplinas ciências da natureza e biologia para suas vidas e (e) ao uso de filmes e de História e Filosofia das Ciências no ensino das ciências da natureza e no ensino de biologia.

5.2.5 Documentos

Lüdke e André (1986); Alves-Mazzotti (1999) e Ludwig (2003) consideram que quaisquer materiais ou registros escritos que constituem fontes de informação podem ser considerados como documentos.

Os documentos, enquanto elementos de pesquisa, são valorosas fontes de informações, uma vez que: (a) além de fundamentar as afirmações do pesquisador, podem complementar informações que foram obtidas por meio de outras técnicas; (b) são uma fonte “natural” de informação, posto que surgem num determinado contexto para o qual fornecem informações (LUDKE & ANDRÉ, 1986).

Nesse trabalho investigativo considerei como documentos os questionários, a transcrição do áudio dos encontros e das entrevistas e as produções dos educandos (ilustrações, redações, roteiros de peças teatrais, tirinhas, charges, etc.), cujas análises serviram para dar maior clareza sobre o objeto de estudo por: ou fornecer novas informações ou aprofundar aquelas obtidas através de outros instrumentos de pesquisa.