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CAPÍTULO 5 MALAS PARA A BAGAGEM E PÉ NA ESTRADA: ESCOLHAS

5.4 Etapas da pesquisa

5.4.2 Segunda Fase – intervenção didática

Na fase de intervenção didática, todos os encontros ocorreram no turno contrário ao de estudos dos educandos, pelos motivos que anteriormente foram explicitados.

Essa fase contou com a colaboração e a participação do professor Kzart que ministrava aulas de história para o grupo. Antes do primeiro encontro, contei ao professor sobre a pesquisa que estava desenvolvendo e, juntos, conseguimos conceber interseções entre biologia e história na pesquisa proposta e, com isso, após os encontros, o professor Kzart estava disponível para conversar com os alunos sobre as questões sócio-histórico-filosóficas abordadas.

Foram realizados doze encontros durante os meses de maio a dezembro do ano de 2012, com a duração média de três horas.

Cada encontro e cada atividade foram cuidadosamente planejados e registrados, sendo alguns registros feitos em cadernos de notas e outros em gravações de áudio.

Considero que as anotações que registrei em meu caderno de notas, que carinhosamente chamo de diário de bordo, foram extremamente importantes para relembrar e melhor compreender o contexto em que se deram as informações registradas em áudio, pois, como apontam Bogdan e Biklen (1994), por mais que o gravador seja amplamente recomendado para o registro de dados discursivos verbais, esse instrumento não é capaz de registrar as expressões faciais de cada participante da pesquisa nos momentos discursivos, bem como registrar as impressões do investigador durante uma primeira análise, simultânea, dos encontros, além também de não ser capaz de registrar determinados ruídos, como por exemplo, comentários feitos por outros participantes longe do discurso em foco.

Bogdan e Biklen (1994) afirmam que toda análise de dados se faz sob o filtro dos autores, sendo, portanto, o próprio registro de notas do investigador em seu caderno de campo uma primeira etapa analítica, uma vez que a estes cabe escolher o que será ou não registrado.

Na intervenção, planejei trabalhar com os filmes The Last Man on Earth (O último

homem sobre a Terra/Mortos que matam), The Omega Man (A última esperança sobre a

Terra) e I am Legend (Eu sou a lenda), todos baseados no livro de horror e ficção científica, I

Matheson, publicado pela primeira vez em 1954 e lançado em português em 2007 em virtude do enorme sucesso que o filme homônimo, protagonizado pelo ator Will Smith, fez em nosso país.

A obra de Matheson, I am Legend (Eu sou a lenda), trata da infecção da população por um microorganismo capaz de transformar os sobreviventes da dizimação no que se poderia chamar de vampiros. Na obra, o protagonista (Robert Neville) é o último homem (conhecido) não infectado. A obra é atemporal, podendo ser ambientada em qualquer época, em qualquer lugar.

Em relação aos filmes, apresento a seguir uma caracterização comparativa entre eles (Quadro 6), considerando-se os seus principais elementos.

Quadro 6. Descrição comparativa dos filmes31. (Continua)

Elementos para

análise The Last Man on Earth

The Omega Man I am Legend

Ano do filme 1964 1971 2007

Período histórico e

mote do filme Medo da guerra bacteriológica causada pela Guerra Fria Conflitos mundiais; Festival de Woodstock; sociedades alternativas; era hippie; contracultura do final da década de 1960 e início da década de 1970 Engenharia Genética; transgênicos e cura para o câncer

Personagem/ator Robert Morgan (Vincent Price) Robert Neville (Charlton Heston) Robert Neville (Will Smith) Infectados Vampiros-zumbis, com baixo nível de

inteligência e desorganizados. Humanos-albinos, inteligentes e cônscios de seu estado, organizam- se em um tipo de seita fanática. Zumbis, em sua maioria irracionais. Vivem em um tipo de colônia, sendo liderados por um membro mais forte

e mais racional.

Vulnerabilidade Luz solar, alho, água, cruz e pavor ao ver sua imagem

refletida em espelhos Fontes luminosas (naturais ou artificiais) Luz solar

31 The Last Man on Earth (O último homem sobre a Terra/Mortos que matam); The Omega Man (A última

Quadro 6. Descrição comparativa dos filmes. (Conclusão) Elementos para

análise The Last Man on Earth

The Omega Man I am Legend

Não infectados Sobrevivem graças a uma vacina que

deve ser tomada diariamente. Os infectados veem Morgan como um inimigo, por matar

membros do seu grupo.

Alguns jovens e crianças não são infectados até determinada idade Aproximadamente 1% da população não é infectado de nenhuma forma

Apesar da ficção científica não ter sido um dos gêneros apontados como preferidos pelos estudantes, minha escolha por esse “gênero” fundamentou-se no fato de que:

(a) conforme apontam Gomes-Maluf e Souza (2008), as produções literárias e cinematográficas que envolvem a FCi constituem-se em uma fonte de informação no tempo real – em que os autores e suas obras apresentam ao público o que é discutido atualmente nas ciências da natureza e os respectivos direcionamentos apontados pelas pesquisas – e no tempo imaginário – em que a FCi realiza o futuro, ou seja, transforma o caminhar das pesquisas científicas em “futuro realizável” ao oferecer a possibilidade de fazer ciências por meio da antecipação dos resultados a serem alcançados;

(b) há uma íntima relação entre FCi e cinema, relação essa que pode auxiliar a nós, educadores em e sobre ciências, a problematizar, em sala de aula, as ciências da natureza e suas tecnologias por meio de uma abordagem histórico-filosófica das ciências.

Abaixo apresento um panorama descritivo e sucinto da intervenção. Os dois primeiros encontros aconteceram em maio de 2012. Os demais foram programados somente para o segundo semestre letivo, quando os alunos retornaram às aulas após um breve recesso, tendo ocorrido, portanto, entre os meses de julho e dezembro do mesmo ano.

Encontro 1 (maio/2012) – Apresentação detalhada do projeto de pesquisa e

levantamento das concepções prévias dos alunos sobre os cientistas e as ciências.

Encontro 2 (maio/2012) – Investigação sobre o que é(são) ciência(s) e aproximação

entre áreas do conhecimento.

Encontros 3-6 (julho-setembro/2012) – Exibição de filmes com posterior discussão

Encontro 7 (outubro/2012) – Debate sobre as obras Eu sou a lenda (em livro) e Eu

Encontro 8 (outubro/2012) – Debate sobre os filmes e as outras obras analisadas.

Encontros 9 e 10 (novembro/2012) – Produção de trabalhos, em linguagens diversas,

pelos alunos, acerca da imagem das ciências e dos cientistas nas obras lidas em confronto com aspectos sócio-histórico-filosóficos.

Encontro 11 (dezembro/2012) – Apresentação dos trabalhos elaborados pelos alunos.

Encontro 12 (dezembro/2012) – Avaliação do trabalho desenvolvido.