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A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é uma estratégia que busca uma produção sustentável que integra tais atividades na mesma área, em um cultivo rotacionado, consorciado ou em sucessão, contemplando as viabilidades econômicas e adequações

12 Capacidade de suporte refere-se à taxa de lotação em pastagem, durante um período de tempo determinado, no qual se observa a máxima produção animal por área, sem causar a degradação da pastagem. A capacidade de suporte das pastagens pode sofrer variações em função do solo, clima, estação do ano e espécie ou cultivar forrageira.

ambientais e sociais. Dentro da estratégia de ILPF, existem quatro modalidades: integração lavoura-pecuária (agropastoril), integração lavoura-pecuária-floresta (agrossilvipastoril), integração pecuária-floresta (silvipastoril) e lavoura-floresta (silviagrícola) (VILELA et al., 2011).

Os agroecossistemas do século XXI têm o grande desafio de maximizar a quantidade e qualidade dos produtos agrícolas e, ao mesmo tempo, conservar os recursos do sistema, reduzir a erosão e a perda de fertilidade dos solos, assim como utilizar alternativas para mitigar as emissões de gases de efeito estufa. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa (VILELA et al., 2011):

“O desenvolvimento agrícola sustentável depende da formulação de uma agenda que contemple os seguintes aspectos: a) conservação da biodiversidade e dos serviços ambientais; b) redução da poluição/contaminação do ambiente e do homem; c) conservação e melhoria da qualidade do solo e da água; d) manejo integrado de insetos-praga, doenças e plantas daninhas; e) valorização dos sistemas tradicionais de manejo dos recursos; f) redução da pressão antrópica na ocupação e uso de ecossistemas e ambientes frágeis; e g) adequação às novas exigências do mercado”.

Para Macedo (2009), os sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) são alternativas para recuperação de áreas degradadas e que melhoram as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Nas últimas décadas, a atividade pecuária vem mudando o modelo de produção, priorizando tecnologias intensivas em capital, que vem gerando resultados significativos quanto ao ganho de produtividade e, consequentemente, um expressivo efeito poupa-terra (MACEDO, 2009).

Este último efeito advindo de ganhos de produtividade na ILP, principalmente devido à pecuária, é visto como fator-chave para potencializar a expansão de alimentos e biocombustíveis no país com mínima pressão sobre a vegetação nativa (MACEDO, 2009).

Dentro do contexto de expansão da produção em larga escala de cana-de-açúcar e preocupação com áreas de vegetação nativa, o sistema de integração vem para contribuir com um modelo de desenvolvimento, com menor impacto ambiental, sem afetar a produção e rentabilidade das duas atividades (SPAROVEK, 2009).

A partir do sistema integrado entre os setores sucroenergético e pecuária, espera-se uma redução de área para produção animal, liberação de área para expansão da produção de cana- de-açúcar, aumento da produtividade do rebanho, além da redução de emissões de GEE (TAUBE et al., 2010; SPAROVEK, 2009; EGESKOG et al., 2011; NASSAR & MOREIRA, 2013).

A partir do estudo de TAUBE et al. (2012), alguns cenários de integração cana-pecuária foram avaliados. Com a instalação de uma destilaria, a área de pasto seria reduzida em 30%, considerando a mesma produção de carne. Neste cenário, para que tenha ganho de produtividade, a ração deveria ser composta por, no mínimo, 5% de bagaço. A Figura 5 apresenta o esquema de integração considerado por TAUBE et al. (2012), excluindo o esterco direcionado para o biodigestor, utilizado para adubo e produção de biogás.

Figura 5 - Interação entre a produção de cana-de-açúcar e pecuária Fonte: Elaboração própria a partir de Taube et al. (2012).

Destaca-se que, do total de terra disponível, parte é utilizada para produção de cana-de- açúcar, parte para pastagem. Do total destinado para a destilaria, uma pequena parte é utilizada para produção de soja/ milho, que são utilizados na suplementação da alimentação bovina. O bagaço hidrolisado, juntamente com os ingredientes (soja/milho) produzidos, será destinado para o gado em confinamento (TAUBE et al., 2012).

Devido à intensifcação da produção de carne, o tempo médio de abate pode diminuir. De forma conclusiva, TAUBE et al. (2012), evidencia que mesmo sem considerar outras técnicas de melhoria da pecuária (como adubação do pasto , outros suplementos, entre outros) é possível manter a produção de carne mesmo com a expansão da área ocupada pela cana-de- açúcar.

Além disso, destacam que a integração traz benefícios para ambas as atividades como melhoria dos indicadores zootécnicos pecuários, adubação com biofertilizantes e ganhos financeiros. De acordo com TAUBE et al. (2010), existe a oportunidade do fornecimento de

Terra

Produção de cana - de-açúcar Destilaria Confinamento Gado (venda de lotes) Pastagem Rotação de culturas (soja/milho)

ração completa à base de resíduos processados da cana-de-açúcar, como o bagaço hidrolisado, levedura e melaço.

Os benefícios envolvidos no sistema de integração estão relacionados à sua totalidade, ou seja, a eficiência coletiva das duas atividades degrada menos os recursos naturais se comparado à atuação independente de cada uma das partes. A integração de energia e alimentos é considerada uma alternativa promissora para a expansão da demanda por biocombustíveis e segurança alimentar (SPAROVEK, 2009; SPAROVEK et al., 2008).

A integração cana-pecuária é um arranjo produtivo que busca garantir maior produção de cana-de-açúcar, aliada a uma significativa redução de área necessária para produção de carne. A proposta desta integração é vincular a produção de energia à de alimentos (SPAROVEK, 2009; TAUBE et al., 2010; EGESKOG et al., 2011; MATHEWS et al., 2015).

A melhor forma de realizar este tipo de integração é por meio da usina, que já está plenamente desenvolvida e disponível. Para isso, haveria a necessidade de adaptação na planta da indústria canavieira para a produção de ração destinada ao gado, a partir dos resíduos do processo de produção sucroenergético (SPAROVEK et al., 2008).

A principal fonte para ração a ser utilizada é o bagaço. Por meio da hidrólise com pressão de vapor, o bagaço da cana-de-açúcar sofre uma alteração digestível, elevada de 30% para 65%, tornando-se o principal ingrediente da ração. Ao combinar o bagaço com outros resíduos, como a levedura13, torta de filtro, vinhaça, bagaço cru e suplementado com proteínas

e minerais, o bagaço hidrolisado pode ser utilizado como parte da ração para gado de corte (SPAROVEK, 2009).

A partir deste modelo de sistema integrado aproximadamente 17,59 milhões de hectares de pastagens degradadas poderiam ser intensificadas e melhor utilizadas (TAUBE et al., 2010).

Com base em dados de 2012, a alimentação com bagaço hidrolisado tem um custo em confinamento menor se comparada com a alimentação com silagem de milho. As duas dietas possuem os mesmos nutrientes quanto ao concentrado proteico, alterando apenas as quantidades. Ao utilizar o bagaço hidrolisado, o custo total por arroba é de 63,60 R$/arroba, frente a 81,92 R$/arroba da dieta com silagem de milho (considerando também os custos operacionais) (ANUALPEC, 2013).

13 A levedura é um dos componentes da ração utilizada no confinamento do bovino de corte, porém alguns cuidados devem ser tomados para evitar a intoxicação por álcool etílico (BRUST, 2011) e, além disso, alta dosagem que podem causar problemas no desempenho produtivo em ruminantes (SARTORI, 2016).

Porém, para viabilizar a integração, ainda existem alguns desafios. Entre eles, a necessidade de intensificar a produção pecuária, com elevação do nível tecnológico, ou seja, devem ser feitos investimentos para a melhoria e capacitação técnica, para que haja posterior ganho de eficiência no sistema (SPAROVEK, 2009).

De acordo com PICOLI (2017), mesmo após identificar possível atratividade econômica e ambiental, os principais desafios estão relacionados ao diálogo entre os setores envolvidos e os usos alternativos do bagaço de cana-de-açúcar, principalmente cogeração de energia, que pode ser o grande concorrente direto para viabilidade deste modelo de integração.

A integração cana-pecuária pode ser apontada como uma das alternativas para garantir a sustentabilidade de ambos os setores. Através dessa integração, espera-se uma redução da área de criação animal, liberação de área para produção de cana-de-açúcar ou outras atividades, aumento de produtividade e rentabilidade do rebanho, além da redução de emissões de gases de efeito estufa e emissões indiretas do uso da terra (ILUC), dependendo da categoria de impacto analisada (PICOLI, 2017).

3 METODOLOGIA

Este terceiro capítulo tem como objetivo apresentar a metodologia utilizada neste trabalho, além do modelo básico de insumo-produto, assim como os sistemas, rotas tecnológicas e premissas consideradas neste estudo.