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Em relação à pecuária brasileira, as pastagens ocupam uma área que representa 167 milhões de hectares (LAPIG, 2016), abrigando o segundo maior rebanho de gado de corte do mundo. Nos anos 2000, o país se consolidou como potência na produção e exportação de carne bovina, assumindo a primeira colocação dentre os exportadores em 2004, atendendo a demanda de 201 países (HARFUCH et al., 2016; ABIEC, 2016).

As exportações de carne bovina atingiram os US$ 5,5 bilhões, com 1,4 milhão de toneladas. Apesar de sua heterogeneidade, a pecuária brasileira está aliada ao desenvolvimento de novas técnicas e boas práticas nos sistemas produtivos. Os principais destinos das exportações de carne bovina brasileira são: Hong Kong, com US$ 1,145 bilhão e 331 mil toneladas; China, com US$ 706 milhões e 166 mil toneladas; e, União Europeia, com US$ 739,3 milhões e 117 mil toneladas (ABIEC, 2016).

O Brasil hoje é o segundo maior consumidor de carne bovina do mundo, atrás somente dos Estados Unidos. O país produz aproximadamente 15% da carne bovina do mundo. Além disso, projeções indicam que até 2020, o Brasil pode ser o maior produtor de carne bovina do mundo, superando os Estados Unidos (OCDE-FAO, 2016).

Em 2016, o PIB do agronegócio alcançou R$ 1,25 trilhão, representando 20% do PIB total brasileiro. O PIB da agropecuária representa 25% do agronegócio brasileiro. O ramo pecuário do Brasil movimentou aproximadamente R$ 400 bilhões em 2016 (CEPEA, 2017). Dos 29,6 milhões de animais abatidos em 2016, considerando apenas os principais estados produtores, 60% concentram-se na região centro-sul, ou seja, aproximadamente 17,8 milhões de cabeças foram abatidas nesta região (IBGE, 2017).

As projeções para 2027 indicam que haverá uma queda da área de pastagem para aproximadamente 158 milhões hectares, juntamente com um aumento e intensificação da

produção de 9,5 milhões de toneladas para 11 milhões de toneladas, como pode ser observado na Tabela 2, e aumento da taxa de lotação10 (MAPA, 2017).

Tabela 2 - Projeção da produção de carne bovina no Brasil (mil toneladas, 2017/2027)

Ano Projeção 2017 9.500 2018 9.374 2019 9.865 2020 10.018 2021 10.365 2022 10.542 2023 10.882 2024 10.927 2025 11.134 2026 11.248 2027 11.444

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do MAPA (2017).

Em um cenário de desenvolvimento sustentável, a pecuária tem que enfrentar grandes desafios relacionados à recuperação de pastagens, redução da pressão por novos desmatamentos, emissões de GEE e obstáculos à intensificação. Para 2030, existem previsões de redução das áreas de pastagem no Brasil, liberando aproximadamente 15 milhões de hectares para outras culturas, florestas plantadas e restauração sob a Lei de Proteção da Vegetação Nativa (HARFUCH, 2016).

Em relação à produtividade, através da intensificação da pecuária, recuperação de pastagens e adoção de boas práticas, projeções apontam que em 2030, o rebanho bovino irá atingir em média, 6 arrobas11/hectare/ano (GTPS, 2014). De acordo com a Empresa Brasileira

de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), aproximadamente 95% da produção de carne no Brasil é sob pastagem de forma extensiva, e apenas 5% é produzida sob confinamento. Estes dados revelam o potencial de crescimento da atividade pecuária bovina brasileira (MEDEIROS et

al., 2015).

A produção de carne nos próximos anos será uma combinação entre intensiva (quando além da pastagem e da suplementação, o regime alimentar inclui também terminação dos

10 A taxa de lotação pode ser definida como o número de animais no pasto por unidade de área em um determinado tempo. Ou seja, a taxa de lotação é o número de animais ou unidade animal (UA, que é igual a 450 kg de peso vivo) pastejando uma unidade de área (hectare, ha).

animais em confinamento) e, ainda grande parte extensiva (quando o regime alimentar é exclusivamente pastagem).

2.4.1 Pecuária no estado de São Paulo

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, em 2015, o rebanho do estado de São Paulo estava estimado em 10 milhões de cabeças, ocupando a 9º posição entre os maiores estados pecuários do Brasil. Com baixa representação, de 4,80% do rebanho do estado no total nacional, 5 milhões de hectares de pastagem são ocupados pelo rebanho no estado paulista. Nos últimos nove anos, o crescimento do rebanho paulista obteve queda de aproximadamente 21% (IBGE, 2016).

Em relação ao rebanho bovino brasileiro, foram abatidas aproximadamente 29,6 milhões de cabeças em todo o país em 2016, concentradas 76,6% nos estados do Mato Grosso (15,4%), Mato Grosso do Sul (11,1%), São Paulo (9,41%), Goiás (9,5%), Pará (9,2%), Minas Gerais (8,32%) Rondônia (7,26%) e Rio Grande do Sul (6,4%) (IBGE, 2016). Na Tabela 3, pode-se observar a quantidade de animais abatidos e sua divisão entre os principais estados produtores (IBGE, 2016).

Tabela 3 - Principais estados produtores de bovinos (2016)

Bovinos Animais abatidos (cabeças) % Produção Nacional 29.668.976 100%

Principais estados produtores

Mato Grosso 4.577.459 15,43%

Mato Grosso do Sul 3.292.279 11,10%

São Paulo 2.792.350 9,41%

Goiás 2.821.463 9,51%

Pará 2.731.398 9,21%

Minas Gerais 2.469.873 8,32%

Rondônia 2.155.315 7,26%

Rio Grande do Sul 1.897.834 6,40%

Total 22.737.971 76,64%

A entrada da cana-de-açúcar no estado paulista levou a uma fuga dos criadores de gado, principalmente para a região Centro-Oeste, devido ao baixo preço da terra e clima propício para a criação de gado (OLIVEIRA, 2014).

Apesar de pouca representatividade entre os principais estados produtores de bovinos, o estado de São Paulo é a sede das principais indústrias frigoríficas nacionais. O estado tem alta capacidade de abate, considerando os serviços de inspeção federal (SIF), estadual (SIE) e municipal (SIM), ocupando a segunda posição entre os estados brasileiros, atrás somente de Mato Grosso (IBGE, 2016).

De acordo com dados do IBGE, São Paulo tem capacidade de abater 24.308 cabeças por dia, com participação, principalmente para os abates relacionados ao SIF, com 85%, e 14% para os abates SIE (IBGE, 2016). Além disso, o estado de São Paulo tem grande participação nas exportações de carne bovina brasileira. Em 2016, foram exportados, a partir do porto de Santos, aproximadamente 740 mil toneladas, correspondente a 55% das exportações nacionais (SECEX, 2017).

2.4.2. Confinamento e alimentação animal

No Brasil, a produção do gado de corte ocorre, em sua maioria, de forma extensiva, devido ao baixo custo de produção das forragens tropicais. Porém, os baixos índices de desempenho dos animais (ganho de peso e conversão alimentar) e pouca energia ingerida na fase da terminação aumenta a idade média de abate, adicionados a um acabamento de carcaça (espessura de gordura subcutânea) ausente ou escasso, não atendendo as exigências da indústria frigorifica (RESENDE et al., 2014).

Estratégias têm sido adotadas por criadores de todo país, buscando-se aumentar a eficiência e a produtividade da bovinocultura de corte brasileira. O confinamento, o semi- confinamento e a suplementação no período seco são algumas alternativas que favorecem a redução do ciclo de produção, obtenção de um melhor acabamento de carcaça e consequentemente uso mais sustentável da terra e dos recursos naturais (RESENDE et al., 2014).

O número de bovinos confinados em território nacional ainda é baixo, com uma participação de 2,41% (5,05 milhões de cabeças) (ABIEC, 2016). Porém, em longo prazo, existe uma tendência no crescimento do número de animais confinados aumentando a produtividade/intensificação, com redução no tempo de abate. Ou seja, a tendência para os

próximos anos é um crescimento do número de bovinos terminados em sistema de confinamento ou semi-confinamento (CARVALHO et al., 2017).

O confinamento é uma alternativa que vem crescendo no Brasil e esta medida permite a desocupação de áreas de pastagens no período da terminação. No entanto, alguns questionamentos são levantados quanto ao uso do confinamento devido ao alto gasto com infraestrutura, instalações, custo operacional, custo das dietas e adaptação alimentar (CARVALHO et al., 2017).

Em um relatório divulgado pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne - ABIEC (2016) nota-se que a nutrição é o fator que representa maior participação nos custos de uma fazenda de ciclo completo (para aquelas de maior produtividade). Por isso, o confinamento acaba sendo um limitante na bovinocultura de corte intensiva.

Em condições de melhores preços de grãos, o uso da dieta de alto concentrado torna o confinamento mais rentável, pois proporciona maior ganho de peso diário. Por outro lado, o aumento no custo total da alimentação, mesmo proporcionando um melhor nível nutricional e maior desempenho animal, pode afetar a rentabilidade da atividade (MEDEIROS et al., 2015).

A alimentação animal é muito dependente da variação de preços dos insumos. No ano de 2016, de acordo com o CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), a ração animal sofreu aumento de 11,80% nos preços, principalmente devido ao aumento de preços do milho, com variação de 49,08% em comparação com 2015, e farelo de soja. Por isso, os produtores buscam alternativas para reduzir os custos com alimentação animal (CEPEA, 2017).

Em relação ao "manejo alimentar" para bovinos, a dieta de um animal varia conforme a fase de desenvolvimento e a oferta dos ingredientes disponíveis (período das águas e escassez). Em relação ao confinamento, o Brasil confina principalmente animais na fase de terminação, sendo necessário formular uma dieta com base na exigência do animal (MEDEIROS et al., 2015).

A cana, neste caso, é utilizada como fonte de carboidrato, principalmente fonte de fibra (teor de FDN – fibra em detergente neutro e FDA – fibra em detergente ácido), podendo ser in natura, silagem ou bagaço hidrolisado. Na fase de semi-confinamento, o bagaço e derivados da cana-de-açúcar costumam ser utilizados na época de seca/estiagem da chuva (período de maturação e colheita da cana coincide com o de escassez de pasto), para substituir a forragem do pasto, sendo fornecida junto com alimento concentrado (MISSIO, 2016).

Existem vários benefícios de se alimentar o gado com bagaço da cana e seus subprodutos. Dentre elas, devido à alta produção de matéria seca (MS) por hectare, o que dilui custos por unidade de MS produzida e proporciona elevada taxa de lotação animal por área. Além disso, exige poucos tratos culturais, ou seja, relativa simplicidade no estabelecimento e manejo da cultura e manutenção do valor nutritivo durante o período de até seis meses após a maturação (MISSIO, 2016; ABDEL-AZIZ et al., 2015).

O bagaço de cana-de-açúcar possui baixo custo por quilo de MS produzida e pode ser uma alternativa de menor custo para rebanhos de baixa a alta produtividade. Somado a isso, tem grande disponibilidade na época seca, boa aceitação pelos animais quando devidamente suplementada e, com alta capacidade suporte12. Apesar de todos estes benefícios, deve-se ressaltar que os produtos da cana-de-açúcar possuem baixos teores de proteína, não podendo ser utilizada como única fonte de alimento (SIQUEIRA et al., 2012).

A indústria sucroenergética nacional gera grande quantidade de resíduos, principalmente devido à progressiva diminuição da queima da palha de cana e ao aumento da colheita mecanizada. O uso dos resíduos na alimentação animal é uma alternativa para reduzir custos de produção do gado de corte e, além disso, contribuir para a redução do impacto ambiental negativo gerado pelo acúmulo desses resíduos no campo (DUARTE, 2009).

O criador de gado em condições de criação extensiva passa por um grande desafio no período seco, devido à queda na oferta de proteína para a alimentação dos animais. Embora exista possibilidade de recuperação do peso do animal, a partir de uma melhor alimentação no período da chuva, esta situação retarda e dificulta o desenvolvimento do rebanho. É o conhecido efeito “boi sanfona”, em que o gado engorda quando há chuva e emagrece na seca. Este problema, geralmente, é enfrentado com uma suplementação alimentar (MEDEIROS et al., 2015).