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Integração social do NSGA

No documento MÉTODO DE ANÁLISE ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE (páginas 150-153)

Modelização do agroecossistema

3) Integração social do NSGA

A integração social se refere ao conjunto de relações não mercan- tilizadas estabelecidas entre o NSGA (tomado em seu conjunto) no ambiente social em que vive e produz. Embora os parâmetros que especificam a integração social sejam igualmente relacionados à autonomia e à responsividade do agroecossistema, optou-se por realçá-los como foco de atenção específico na análise para que seja assegurado o destaque para as relações sociais de reciprocidade e para a gestão dos bens comuns, dois mecanismos de suma rele- vância para o funcionamento econômico-ecológico da agricultura familiar e dos povos e comunidades tradicionais.

Ao abordar com especificidade esse foco de análise, o método pro- cura lançar luzes sobre o papel das relações sociais nas estratégias de reprodução econômico-ecológicas adotadas pelos NSGA, em particu- lar para fortalecer a autonomia técnica e política e a capacidade de res- posta diante do universo de agentes econômicos e atores do ambiente político-institucional em que o agroecossistema opera. As diferentes práticas de integração social concorrem para a formação e a consolida- ção de redes sociotécnicas em âmbito territorial, estabilizando estraté- gias de ação coletiva e os dispositivos locais de cooperação.

O acesso dos NSGA a bens comuns é socialmente regulado por instituições territorialmente enraizadas moldadas com forte contribui- ção das referências culturais locais (mutirões, troca-dia, intercâmbios de saberes, trocas de materiais genéticos, bancos de sementes, casas de farinha, moinhos comunitários, terras coletivas, florestas comunitárias, acordos de pesca etc.). A participação ativa de membros do NSGA na vida comunitária é condição para que esses recursos sejam aces- sados e mobilizados para o seu processo de trabalho (Quadro 7). Por essa razão, esse método assume que o tempo investido nas atividades comunitárias (tempo de participação social) deve ser contabilizado como um investimento em um trabalho reprodutivo. Analiticamente, esse trabalho é assumido como uma contrapartida do NSGA ao seu direito de apropriação de bens comuns. Em outras palavras, refere-se a um trabalho investido na ampliação das fronteiras físicas e sociais do agroecossistema, por meio do qual são mobilizados recursos su- plementares ou não diretamente disponíveis para o seu processo de trabalho.

O acesso a recursos públicos redistribuídos pelo Estado é também fortemente influenciado pelas práticas de integração social do NSGA, em particular a participação em espaços de deliberação coletiva (sin- dicatos, associações, cooperativas etc.) e incidência sobre processos de elaboração e execução de políticas públicas.

Quadro 7: A gestão dos bens comuns segundo Elinor Ostrom

A cientista política norte-americana, Elinor Ostrom, Prêmio Nobel de Economia em 2009, sistematizou um conjunto de regras básicas recorrentes em arranjos institucionais bem sucedidos na gestão de bens comuns em diferentes sociedades históricas. Para Ostrom (2000), essas regras estabelecem um mapa de princípios para a criação de instituições comprometidas com a sustentabilidade. Para colocar em prática o que denomina “governo dos bens comuns”, Ostrom define um objetivo geral (ou função objetiva) que é estimular uma gestão coletiva dos recursos naturais orientada à sustentabilidade, do qual derivam os seguintes objetivos específicos (ou funções derivadas): • Estimular relações estáveis de confiança, ou seja, de fidelização.

Isso implica um compromisso simbólico com o legado cultural e ambiental.

• Estimular relações estáveis de reciprocidade, uma das motivações básicas do altruísmo.

• Estimular relações estáveis de cooperação (confiança + reciproci- dade). A cooperação significa a implicação de processos comparti- lhados de gestão dos bens comuns, inclusive o conhecimento.

Tabela 3: Parâmetros e critérios para a análise da integração social do NSGA

Parâmetro Critério

Participação em espaços político- -organizativos

Nível de interação de um ou mais membros do NSGA em organizações de caráter político-organizativo. Destacam-se nessa avaliação a parti- cipação em sindicatos, em cooperativas; associações comunitárias em grupos de mulheres e de jovens e outras organizações relacionadas ao acesso e à defesa de direitos sociais, econômicos e políticos

Acesso a políti- cas públicas

Grau de acesso a recursos redistribuídos pelo Estado por meio de políti- cas públicas. Esses recursos podem ser acessados diretamente de órgãos oficiais ou serem intermediados por organizações da sociedade civil. Considera-se nessa avaliação a diversidade de políticas acessadas, bem como a regularidade no acesso por parte de um ou mais membros do NSGA. Os recursos públicos acessados podem ser investidos dire- tamente no agroecossistema ou não. A avaliação contempla políticas agrícolas, sociais (transferências de renda, previdência, etc.), de saúde, de educação, de infraestrutura, etc.

Participação em redes sociotécnicas de aprendizagem

Interação de um ou mais membros do NSGA em processos de aprendi- zagem diretamente relacionados à qualificação do trabalho realizado na gestão do agroecossistema. Essa avaliação deve considerar os pro- cessos continuados de aprendizagem, sejam eles formais ou informais. Isso implica a participação sistemática em atividades da capacitação, intercâmbios, pesquisa participativa, seminários, oficinas e outras. Pro- cessos de educação formal proporcionados pelo Estado devem ser con- siderados no critério acesso a políticas públicas

Participação em espaços de gestão de bens comuns

Interação de um ou mais membros do NSGA em ações coletivas vol- tadas à gestão de bens comuns em âmbito comunitário ou territorial. Essa interação corresponde ao tempo de trabalho dedicado à gestão de equipamentos comunitários (bancos de sementes, casas de farinha, agroindústria, máquinas, carros, etc.), de recursos naturais de apropria- ção coletiva (pastos, terras agrícolas, sementes, animais, reservas hídri- cas, etc.), de mercados locais (feiras são expressões recorrentes desse tipo de atividade na agricultura familiar), de sistemas de trabalho coo- perativo (mutirões, trocas de dia, etc.), de poupanças comunitárias etc. Embora também correspondam a uma expressão da gestão de bens co- muns, os processos locais de construção de conhecimento são avaliados em separado por meio do critério participação em redes sociotécnicas de aprendizagem

No documento MÉTODO DE ANÁLISE ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE (páginas 150-153)