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Linha do tempo do agroecossistema

No documento MÉTODO DE ANÁLISE ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE (páginas 109-113)

As informações sobre a trajetória do agroecossistema levantadas na primeira etapa da entrevista deverão ser registradas (ou transpostas) em uma planilha eletrônica (disponível em http://aspta.org.br/2015/05/ metodo/) preparada especificamente para esse exercício com o objetivo de padronizar o ordenamento e facilitar a comunicação dos conteúdos sistematizados (Figura 9).

Além de ordenar os fatos mais significativos da trajetória segundo uma lógica predeterminada por variáveis internas e externas ao agroe- cossistema, facilitando a compreensão do encadeamento entre elas, o instrumento proposto para a sistematização do processo evolutivo do agroecossistema tem por objetivo padronizar a organização das infor- mações, facilitando a comunicação dos conteúdos sistematizados para pessoas que não participaram da entrevista.

A organização encadeada das informações significativas sobre a evolução do agroecossistema contribui para o discernimento das es- tratégias de reprodução colocadas em prática pelo NSGA em função das condições objetivas que encontrou no decorrer do tempo. Portanto, a função do registro dos principais eventos/acontecimentos da traje- tória do agroecossistema na linha do tempo é identificar o processo histórico que encadeia coerentemente os fatos identificados e não o de produzir uma relação de fatos desconectados entre si.

Uma importante análise que poderá ser realizada com o apoio da linha do tempo é a participação/contribuição diferencial entre os membros do núcleo familiar (homens, mulheres/jovens e adultos) na definição da trajetória do agroecossistema. Para tanto, torna-se impor- tante identificar a participação diferencial dos membros do NSGA nas mudanças significativas registradas na linha do tempo.

O princípio da ignorância ótima deve ser colocado em prática nesse exercício. Um detalhamento da trajetória poderá se mostrar necessário em uma fase posterior. Nesse primeiro momento de descrição e aná-

lise, são suficientes as informações-chave para que sejam correlacio- nadas as variáveis que influenciaram as decisões significativas tomadas no decorrer da trajetória do agroecossistema. Não há regras gerais para a definição do nível adequado de detalhamento. É natural (e desejável) que haja uma maior quantidade de informações nos períodos mais recentes da trajetória. O detalhamento depende das especificidades (grau de complexidade, tempo de existência, etc.) do agroecossistema analisado. Uma atitude de bom senso por parte dos(as) entrevistadores(as) é essencial para que o exercício seja capaz de captar o essencial para o entendimento da atual configuração do agroecossistema, sem prejuízo das demais questões abordadas na entrevista.

Caso o NSGA seja um núcleo familiar, sugere-se que a linha do tempo tenha como ponto de referência inicial o momento do casa- mento que deu origem à família. Caso seja um núcleo comunitário, torna-se necessário definir o momento passado que será assumido como referência histórica para o início da análise. Esse procedimento metodológico permite dar visibilidade às estratégias de acesso aos re- cursos produtivos empregados no decorrer do ciclo de vida do NSGA. Esses recursos (terra, infraestruturas, equipamentos etc.) podem inte- grar o patrimônio do núcleo, constituir parcela de bens comuns ge- ridos comunitariamente (áreas coletivas, unidades de beneficiamento comunitárias, reservatórios hídricos etc.), ou ainda ser acessados pela via dos mercados (aluguel, arrendamento, parcerias, etc.).

A interpretação das informações registradas na linha do tempo pode ser realizada em dois sentidos complementares.

1) No sentido longitudinal, no decorrer dos anos, são identificadas as mudanças ocorridas na trajetória. Há trajetórias que sofrem mudanças abruptas (positivas ou negativas) em momentos determinados da his- tória do agroecossistema. Essas mudanças reorganizam o processo de trabalho do NSGA em função de novas oportunidades ou restrições às suas estratégias de reprodução econômica. Esses momentos críti- cos costumam ocorrer quando o NSGA amplia o seu acesso à terra

(por compra ou por políticas distributivas), acessa novos mercados, dá início a uma nova atividade econômica, perde um membro familiar (por morte ou migração), ou quando ocorrem mudanças drásticas de natureza ambiental e/ou de mercados etc. É importante que esses pontos de inflexão sejam identificados na análise longitudinal da linha do tempo. Além disso, é também importante atentar para evoluções mais sutis resultantes da paulatina incorporação de inovações técnicas, econômicas e sócio-organizativas que, no decorrer do tempo, alteram significativamente a forma de gestão do agroecossistema. Esse exercício permite a identificação da dinâmica evolutiva do agroecossistema bem como suas tendências, tomando-se como referência as oportunidades e restrições para a reprodução econômica e social dos NSGA.

2) No sentido transversal, a análise está orientada a identificar fatores que condicionam as mudanças no agroecossistema. Por meio dela é possível correlacionar as variáveis da linha do tempo para com- preender as decisões estratégicas adotadas pelos NSGA no decorrer do seu ciclo de vida. Nesse caso, é importante compreender como os NSGA valorizam os recursos internos do agroecossistema e res- pondem a mudanças no entorno político-institucional em que opera. Dois elementos-chave podem ser analisados nesse exercício:

• as relações sociais estabelecidas entre o NSGA e a comunidade na organização do trabalho para a produção, beneficiamento e co- mercialização, no acesso a novos conhecimentos, no acesso a bens da natureza de gestão coletiva, na mobilização de poupanças comunitá- rias por meio da reciprocidade etc.;

• a incidência das políticas públicas na estrutura e no funciona- mento dos agroecossistemas. Nesse caso, é importante ressaltar que o agroecossistema é condicionado tanto pelas políticas especificamen- te dirigidas à agricultura (financiamento, fomento, Ater, seguro etc.) quanto por políticas sociais (previdência, benefícios continuados, fo- mento a infraestruturas, saúde, educação etc.).

No documento MÉTODO DE ANÁLISE ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE (páginas 109-113)