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INTRODUÇÃO 23 1 CAMINHOS DESTA PESQUISA

3 INTELIGÊNCIA CULTURAL EM PUBLICAÇÕES DA COMUNIDADE CIENTÍFICA INTERNACIONAL

3.5 A INTELIGÊNCIA CULTURAL E A ATUAÇÃO CIENTÍFICA NO COMBATE À POBREZA

No artigo Using Dialogic Research to Overcome Poverty: from principles to action, publicado no European Journal of Education, Valls e Padrós (2011) apresentam a metodologia comunicativa crítica como forma de se alcançar conhecimento científico que possibilite superar problemas sociais prementes, em âmbito mundial e europeu, tais como a pobreza. Segundo as autoras, essa metodologia vem sendo recomendada pela Comunidade Europeia, por oferecer profunda e acurada compreensão dos complexos elementos que levam à exclusão social, como também por apresentar caminhos para reduzir desigualdades e informar políticas baseadas em conhecimentos científicos. Nesse sentido, Vals e Padrós (2011) se dedicam, em seu artigo, a demonstrar como a metodologia comunicativa crítica, adotada pelo Projeto Includ-ed, pode contribuir para a erradicação da pobreza por meio da educação escolar, ao colocar no centro da pesquisa as vozes das pessoas mais afetadas pelas diversas privações sociais.

Valls e Padrós (2011) partem da apresentação das dificuldades do cenário europeu para se alcançar a meta de redução em 25% até 2020 do número de pessoas vivendo na linha da pobreza, o que correspondia em 2008 a quase 85 milhões de europeus na UE-25.136 Entre outras informações, as autoras destacam que as políticas públicas da Comunidade Europeia vêm centrando seus esforços para se promover um crescimento rápido, sustentável e inclusivo. No entanto, de acordo com as autoras, para se lidar com dificuldades como esta, deve se levar em conta a natureza multifacetada da pobreza, identificando suas derivações sofridas em termos de saúde, educação e padrões de habitação.

Nessa perspectiva, foi selecionado o Projeto Includ-ed que, segundo as autoras, está entre os que oferecem as melhores respostas sociais e políticas relativas à prioridade de se usar a educação para reforçar a inclusão social. As autoras esclarecem que, em todos os projetos, vêm-se analisando desde os sistemas escolares de todos os Estados-membros, na Europa, e as teorias que sustentam seu trabalho, suas reformas educacionais e seus benefícios, recorrendo-se à metodologia comunicativa crítica, cuja orientação se apoia em três elementos fundamentais: o diálogo igualitário, como procedimento central; a identificação de atuações de êxito, como objetivo e resultado do diálogo igualitário; e a informação de políticas, como elemento crucial de conhecimento científico para a melhoria da realidade.

No tocante ao diálogo igualitário, Valls e Padrós (2011) realçam que cada pessoa, independentemente de repertório cultural, habilidades e competências linguísticas, pode

136 A UE-25 se refere aos Estados-Membros da União Europeia, entre os quais estão incluídos países como Espanha, França, Itália, Reino Unido, Chipre.

participar no diálogo e contribuir para a validação do conhecimento. Para explicarem essa premissa, as autoras resgatam as contribuições da teoria da ação comunicativa (HABERMAS, 2001) pela qual se afirma a capacidade universal de linguagem e ação. São também mencionadas as elaborações de Chomsky (1985),137 quando estabelece a linguagem como característica humana universal, apesar de que se manifestem diferenças no desempenho linguístico das pessoas. Adicionalmente a essas ideias, as autoras assinalam os argumentos de Beck (1992)138 acerca da crescente reflexividade como característica da modernidade contemporânea, e as explicações de Sen (2005)139 sobre a centralidade do diálogo inclusivo para se alcançar melhores níveis de democracia na Índia.

Ao se referirem à identificação das atuações de êxito, Valls e Padrós (2011) assinalam que a metodologia comunicativa crítica rompe com a tradição sociológica de se descrever a reprodução da pobreza e das desigualdades sociais ou de propor inovações ainda não realizadas. Nesse sentido, essa metodologia propõe que se volte para as atuações que comprovadamente alcançaram os melhores resultados onde foram implantadas e que, nessa comprovação, incluam-se as vozes das pessoas de grupos vulneráveis para garantir o rigor científico e a utilidade social do conhecimento produzido.

Em relação à informação de políticas efetivas, Valls e Padrós (2011) mencionam que, em diferentes partes da Europa, vêm sendo amplamente divulgadas as recomendações oferecidas pelo Projeto Includ-ed e, desse modo, que os governos vêm promovendo importantes mudanças nos seus sistemas educacionais e incorporando as atuações educativas de êxito nas práticas pedagógicas de suas escolas. Segundo as autoras, em 2009, o Parlamento Europeu adotou, em resolução sobre a educação das crianças migrantes, a rejeição a qualquer medida, temporária ou permanente, que se apoie na segregação, e, ao mesmo tempo, realçou a necessidade de envolver esses estudantes em um amplo espectro de atividades extracurriculares. (VALLS; PADRÓS, 2011, p. 180).

Em seu artigo, as autoras enfatizam que a redução dos índices de pobreza na Europa revela-se como importante desafio ao qual a educação pode responder em coordenação com outras áreas sociais. Segundo as autoras, ao se incorporarem efetivamente as vozes das pessoas que vivem em situações de risco social e de pobreza, por meio da metodologia comunicativa crítica, possibilita-se promoverem mudanças socialmente relevantes, como também constituir conhecimento científico mais eficiente. Nessa perspectiva, o Projeto

137 CHOMSKY, N. (1985). Knowledge of Language: its nature, origins, and use (New York, Praeger). 138 BECK, U. (1992) Risk Society: towards a new modernity (London, Sage Publications).

Includ-ed permite não apenas compreender em profundidade os episódios que afetam a sociedade atual, mas também promover atuações que conduzam às melhorias na vida social e que, ao serem integradas às políticas públicas, contemplem os direitos de todas as pessoas a uma existência mais digna.

Em vista desse artigo, observam-se as possibilidades de se promover o diálogo igualitário em torno das problemáticas sociais mais relevantes, e de se recorrer à inteligência cultural para aprofundar o rigor e a acuidade em pesquisas no campo da educação. Nesse sentido, possibilita-se fornecer conhecimentos que efetivamente embasem as políticas públicas voltadas para a inclusão dos grupos socialmente vulneráveis.

3.6 A INTELIGÊNCIA CULTURAL NAS PARCERIAS PARA SUPERAÇÃO DE