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2.1 Televisão Digital Interativa

2.1.3 Interatividade

Sendo tecnologia a aplicação do conhecimento técnico e científico das artes em geral, de acordo com a definição no dicionário Aurélio (http://www.aureliopositivo.com.br/), pode- se afirmar que qualquer instrumento desenvolvido com o objetivo pré-definido ou pós- definido para um fim, em termos gerais, é um aparato tecnológico. O fascínio pela tecnologia torna-se mais atrativo nos dias atuas, pois o que antes parecia ser ficção , nos dias de hoje é uma realidade. Várias áreas da tecnologia têm se destacado com novas descobertas. Uma que vem se destacando e sendo aperfeiçoada é a área da comunicação. A comunicação, no que diz respeito à propagação da informação, tem passado por diversos aperfeiçoamentos. Para muitos a informação chega de várias formas, seja ela escrita, através de jornais e revistas, digitalizada como um e-mail e Really Simple Syndication - RSS através da internet, ou áudio visual que é o caso da TV.

A TV a um longo tempo vem sendo o foco das atenções, juntamente com a Internet, e, bem mais recente, os dispositivos móveis como: smartphones e tablets. Todas essas tecnologias estão em constante evolução, como é o caso da TV. A digitalização dos dados no “ciclo de vida” da produção e recepção do conteúdo televisivo, dentre outros fatores que serão abordados mais adiante, deu origem ao termo “TV Digital”.

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A TV Digital traz consigo a possibilidade e as vantagens do que Montez (2005) chama de convergência de tecnologias. O computador, sendo utilizado na produção e codificação de vídeo, possibilita aos telespectadores assistir TV pelo computador. Muitos dispositivos móveis já agregam os dispositivos de TV Digital e funcionalidades de um PC, chegando a ser melhor em termo de processamento de dados, que vários computadores de alguns anos atrás. Mais recentemente a TV Digital passa a agregar as funcionalidades desses outros dispositivos, como é o casso do acesso à internet pela TV, os telespectadores passaram de meros apreciadores e consumidores de programas televisivos a construtores do seu conteúdo, interagindo com esse dispositivo. Para Montez (2005), a possibilidade de interagir com a TV, dá ao telespectador um papel mais ativo diante do aparelho de TV.

Essa combinação de diversos dispositivos, como o computador passando a convergir com diversas mídias (rádio, jornal, imagens, sons, televisão e cinema), possibilita novas formas de interação. Semelhantemente a TV Digital Interativa que passa por similar situação (CAPELARI, 2008). Sendo a interatividade segundo Feitosa (2008) a ferramenta do diferencial para o sucesso da TV Digital.

A interatividade envolve diversos fatores, não sendo limitada apenas ao aparato de uma determinada tecnologia agregada a um dispositivo. De acordo com Silva (1995), a interatividade envolve muito mais do que uma relação entre homem/dispositivo, sendo um processo bastante complexo onde os envolvidos participam de forma atuante ao intervir de forma mais profunda onde as funcionalidades da palavra permitem ser aplicada tanto para a internet quanto para a TV Digital. Montez cita que a TV interativa é mais do que internet e TV e sim vários fatores que a circundam.

TV interativa não é uma simples junção ou convergência da internet com a TV, nem a evolução de nenhuma das duas. É uma nova mídia que engloba ferramenta de várias outras, entre elas a TV como conhecemos hoje e a navegabilidade da internet. (MONTEZ, 2005, p.39)

A interatividade, segundo Feitosa (2008), proporcionou à TV uma alteração no seu estado de unidirecionalidade, que antigamente era amplamente criticada, pois a TV era vista como um simples emissor e o telespectador como um receptor, sendo que a interação com a

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emissora só podia ser efetuada a partir de um dispositivo externo tipo: celular, carta, e-mail, etc. Com a interatividade, na TV Digital (CAPELARI, 2008), a TV e telespectador passam a ter uma ralação mais ampla entre sujeito-objeto, onde o objeto pode proporcionar uma infinidade de interações. Devido à evolução tecnológica da TV, Lemos (1997 apud Montez, 2005) destaca a interatividade na TV em vários níveis listados abaixo:

• Nível 0: a TV se resume na exibição de imagem preto e branco com a programação de apenas um ou dois canais. Neste nível, as atuações dos telespectadores eram bastante resumidas, se limitando apenas a alterar algumas funções da TV como: volume, contraste, brilho e sintonia de canal.

• Nível 1: neste nível, há uma maior disponibilização de emissoras, podendo serem selecionadas por controle remoto e as imagens passaram a ter cor. Com o controle remoto surge o antecedente à navegação contemporânea na web: o zapping. O zapping consiste em navegar entre as diversas emissoras e seus canais. Com isso o telespectador passa a ter certa autonomia sobre a programação televisiva.

• Nível 2: a TV passa a incorporar outros dispositivos como: videocassetes, consoles de videogames e câmeras. O acoplamento dessas novas tecnologias realiza uma ponte para o telespectador apropriar-se do objeto televisão, não apenas ficar preso a uma programação das emissoras, e sim, assistir vídeo e jogar videogame além de poder gravar programas para vê-los e revê-los quando quiser. Desta forma o telespectador não mais fica atrelado a temporariedade e ao fluxo da TV.

• Nível 3: aqui surgem os primeiros sinas de interatividade de características digitais. O telespectador pode interferir no conteúdo do programa de determinada emissora através de telefones, e-mail ou fax.

• Nível 4: consiste no estágio da chamada televisão interativa. Aqui o telespectador pode interagir participando da escolha de um conteúdo em tempo real, pode optar por um ângulo diferente de uma câmera e realizar diferentes encaminhamentos de informação para prestadoras do serviço televisivo.

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Apesar da consideração do nível 4, para Lemos (1997), ser a real TV Interativa, para Montez (2005), ainda não constitui o termo “televisão interativa”, pois o telespectador não possui um controle absoluto sobre a programação .Para Urso (2008) o verdadeiro programa interativo é aquele que reage as ações dos telespectadores em tempo real, modificando o conteúdo televisivo. De acordo com essa afirmação Lippman (1998 apud Montez, 2005) apresenta cinco características necessárias para ser qualificado como interativo.

1. Interruptibilidade: o usuário deve possuir a capacidade de interromper o processo e realizar ações de acordo com o seu desejo. Desta forma o usuário se torna liberal, interferindo no procedimento ao qual a programação está inserida. Mas essa interferência deve se dar de forma contextualizada e não de forma arbitrária; sem nenhum pretexto.

2. Granularidade: faz menção a uma resposta instantânea do sistema. Em um diálogo, por exemplo, pode ocorrer uma interrupção ou uma pausa pode ser solicitada durante a conversação. Desta forma o sistema deve informar de maneira rápida e eficiente que houve uma ação de parada no diálogo. Isso é essencial para que os usuários não pensem que houve um erro e travou o sistema.

3. Degradação suave: essa característica consiste no comportamento do sistema com questionamento do qual não possui uma resposta no momento. O sistema deve possuir outras possibilidades como solução alternativa, quando um questionamento ou atividade do usuário não for atendida. A solução alternativa deve possuir algum referencial ao contexto da indagação do usuário, tipo uma ajuda àquele questionamento.

4. Previsão limitada: o sistema interativo deve estar preparado para resolver todas as indagações possíveis, muitas vezes pode surgir alguma indagação que o sistema não havia previsto. Mesmo assim, o sistema interativo deve estar preparado para responder a essas ocorrências, transparecendo assim a característica de banco de dados infinito. 5. Não-default: o sistema não deve prender o usuário a um roteiro linear e

determinístico. Deve ter a possibilidade de escolher caminhos aleatórios dentro do mesmo. O usuário tem livre arbítrio para escolher as possibilidades de fluxos da

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informação ou redirecionamento, ou seja, o usuário deve possuir a liberdade de interação.

A TVDI envolve muitos aspectos para que se torne possível o real interativismo, passando desde a digitalização do sinal até o desenvolvimento de softwares para tal fim. As alterações na mídia televisiva percorrem o caminho da produção do conteúdo. Diferentemente da TV analógica, foram incrementados a esse modelo o armazenamento e edição de mídias na forma digital. A transmissão desses dados também vem sofrendo alterações. No lado emissor, novos aparelhos tiveram que ser adquiridos. Em consequência, o lado receptor teve que passar pela mesma adaptação, também com a compra de novos aparelhos para decodificação do sinal. Claro que a aquisição desses novos aparelhos só é obrigatória para quem deseja receber o sinal digital.

Uma vez definida a estrutura da TV Digital com a transmissão de áudio, vídeo e dados e agregando serviços de internet, surgem recursos de interatividade. Desta forma o usuário torna-se mais ativo diante da TV, passando a ter uma participação na construção do conteúdo e a possuir maior grau de liberdade que o permite se envolver e modificar a antiga programação linear através de um canal de retorno (KULESZA, 2006).

Aqui no Brasil a TV digital passou por várias etapas. Nos dias atuas ela está regulamentada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, que define as especificações para codificação, transmissão e o middleware para o SBTVD (ABNT NBR 15606-1, 2007) e foi implantada em 26 de novembro de 2003, através do Decreto Nº 4.901- 2003 (BRASIL, 2003).

De acordo com o BRASIL (2006), que dispõe sobre a implantação do Sistema Brasileiro de TV Digital Terestrial - SBTVD-T, este irá dispor da transmissão digital em alta definição HDTV e SDTV, além da transmissão simultânea para recepção fixa, móvel e portátil. Irá dispor ainda de serviços de interatividade, no intuito de proporcionar a inclusão social, democratização da informação estimulando a pesquisa, proporcionando a expansão tecnológica e a educação a distância (BRASIL, 2003).

O SBTVD-T utiliza o mesmo padrão de modulação japonês o ISDB-T (ABNT NBR 15606-1, 2007), mas adotou outro padrão para a codificação de áudio e vídeo. O SBTVD-T

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adotou o padrão MPEG-4 Audio Decode (ISO/IEC 14496-10, 2007) para codificação de áudio. E para a codificação de vídeo foi adotado H.264/AVC (Advanced Video Coding) (LIAO, 2010), também conhecido como MPEG-4 AVC (ISO/IEC 14496-10,05). Esse é um padrão mais recente, com os esforços de desenvolvimento pertencentes à Joint Video Team – JVT, formado por especialistas da Video Coding Expert Group – VCEG e especialistas da MPEG (SOARES & BARBOSA, 2008).

De acordo com Soares e Barbosa, (2008), o padrão H.264/AVC é capaz de proporcionar boa qualidade de vídeos com taxas relativamente baixas a se comparar com os padrões anteriores, como o MPEG 2, além de reduzir bastante a sua complexidade. Desta forma o padrão H.264/AVC procura facilitar a implementação barata e eficiente, fornecendo flexibilidade suficiente para permitir que o padrão tenha aplicação em uma ampla gama de sistemas com taxas de transmissão altas e baixas, além de resoluções de vídeo também com taxas altas e baixas. Isso só é possível graças as suas técnicas de compressão de vídeo que é bem mais eficiente e flexível.

A codificação de vídeo para o sistema brasileiro de televisão digital terrestre é representada de acordo com a Tabela 1.

Tabela 1. Codificação de vídeo para o SBTVD.

Fonte Soares & Barbosa (2008).

O SBTVD adotou o middleware desenvolvido no próprio país. O middleware Ginga (ABNT NBR 15606-2, 2007) tem como objetivo garantir a interoperabilidade das aplicações com diferentes implementações de plataformas suportadas pelo Ginga. O middleware Ginga possui aplicações que podem ser desenvolvidas com características de natureza declarativa ou imperativa (procedural). Desta forma são definidos dois ambiente de aplicação: para

Receptores Fixos e Móveis Receptores Portáteis

Padrão ITU-T H.264 (MPEG-4 AVC) ITU-T H.264 (MPEG-4 AVC)

Nível @ Perfil HP@L4.0 BP@L1.3

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aplicações declarativas é definido o ambiente Ginga-NCL e para aplicações imperativas temos o Ginga-J.

• Ginga-NCL: consiste em um subsistema Ginga que realiza o processamento de documentos escritos da linguagem declarativa NCL e inclui interpretadores Cascading

Style Sheets - CSS e ECMAScript além da máquina de apresentação Lua responsável

por interpretar scripts Lua (ABNT NBR 15606-2, 2007). O NCL é uma aplicação

eXtensible Markup Language – XML que tem como referência o modelo Nested Context Model – NCM, modelo conceitual baseado na composição e sincronização de

objetos midiáticos como: vídeo, áudio, imagem, texto, etc e é baseado no paradigma de causa e efeito (SOUZA, 2008).

• Ginga-J: da mesma forma que o Ginga-NCL, o Ginga-J também é um subsistema Ginga, é responsável por processar aplicações Java para TV. Além de ser um ambiente de aplicação procedural, o Ginga-J ainda possui uma máquina de execução procedural composta pela Máquina Virtual Java – JVM (ABNT NBR 15606-2, 2007).

Os padrões que fazem referência ao sistema nipo-brasileiro de TV digital terrestre e o

middleware Ginga estão representados na Figura 11.

Figura 11. Padrão de referência do SBTVD-T

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Como definido no Decreto N° 5.820 de junho de 2006 (BRASIL, 2006), o Brasil terá um período de dez anos para realizar a transição do sistema analógico para o sistema digital. Neste período continuará sendo transmitido tanto o sinal analógico quanto o digital. É definido também que as emissoras receberão um canal de radiodifusão com largura de banda de 6 MHz. Desta forma cada emissora pode transmitir seis canais SDTV ou um HDTV.

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