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3 METODOLOGIA

3.1 INTERDISCIPLINARIDADE DO TEMA

Inicialmente, expõe-se aqui o conceito do método como atividade pensante e consciente e, citando Descartes, Morin (2001, p. 335) destacou ser “a arte de guiar a razão nas ciências”, acrescentando que “é a arte de guiar a ciência na razão”. Assim:

é a atividade reorganizadora necessária à teoria: essa, como todo sistema, tende naturalmente a degradar-se, a sofrer o princípio de entropia crescente, e, como todo sistema vivo, deve regenerar-se em duas fontes de neguentropia aqui, a fonte paradigmática/teórica; a fonte dos fenômenos examinados. Em todo pensamento, em toda investigação, há sempre o perigo de simplificação, de nivelamento, de rigidez, de moleza, de enclausuramento, de esclerose, de não retroação; há sempre a necessidade, reciprocamente, de estratégia, reflexão, arte (MORIN, 2001, p. 339).

Assim, referenciar análise da comunicação enredada em uma teia socioeconômica exigiu uma estratégia reflexiva num diálogo com um campo teórico interdisciplinar. A comunicação, disciplina base desta análise, se apresenta nesta investigação em um uma relação interdisciplinar, já que “nenhuma ciência se constitui mais em universo isolado de conhecimento” (NUNES, 2011, p. 23), uma prática que propõe:

O confronto dialogal, crítico e interpretativo, [...], entre disciplinas, cujas fronteiras movediças, instáveis, convidam ao debate de conceitos, no esforço de entrosá-los teoricamente para melhor compreendê-las e para melhor aproveitar-lhes os benefícios da aplicação prática que geram (NUNES, 2011, p. 23).

A pesquisa que aqui se propõe na interface comunicação e política estabelece o interdisciplinar, compreendendo produzir um conhecimento que ultrapassa a especialidade do saber, que Braga (2004) salienta não ser um espaço de dispersão, mas construtivo do conhecimento comunicacional.

Para construção da pesquisa, as ferramentas da análise crítica do discurso, da análise de conteúdo e o Knowledge Discovery in Database (KDD) foram somadas num

conjunto metodológico que se aplica a discursos (conteúdos e continentes) diversificados, oferecendo desde o enquadramento contextual até cálculo de frequências, extração de estruturas traduzíveis em modelos, análise temática dos discursos, análise lexical e sintática, incluindo assim um estudo sistemático dos vocabulários para revelar repertórios de base. (BARDIN, 2011, p. 198).

Diversificação de ferramentas necessária uma vez que: “quanto mais diversificadas forem as técnicas, mais finos serão os resultados obtidos e todos representam diferentes dimensões das práticas sociais e todos têm a sua validade própria” (FERREIRA, 1986, p. 190) ; e a análise do discurso e do conteúdo impelem um esforço da interpretação que se posiciona ora no rigor da objetividade ora na riqueza da subjetividade, sem a imposição de delinear rigidamente os elementos da análise qualitativa entre os procedimentos metodológicos.

Como ressalta Wodak:

Apenas a investigação interdisciplinar poderá lograr que relações tão complexas pareçam mais transparentes. Em uma investigação desse tipo, a análise de discurso, e mais concretamente a Análise de Discurso Crítica (ADC), não é mais que um dentre os elementos de múltiplos enfoques de que necessitamos. Não apenas devemos concentrar-nos nas práticas discursivas, mas também devemos nos ocupar de uma ampla gama de práticas materiais e semióticas. Desse modo, a investigação em ADC deve ser multiteórica e multimetodológica, crítica e autocrítica (WODAK, 2003, p. 103).

Para realizar a análise das informações foi delineada uma análise categorial que Bardin (2011, p. 199) explica funcionar “por operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógicos”. Na base de dados, os documentos foram divididos em textos individuais, por mandato, classificados por ano para análise por presidente e, posterior análise comparativa..

Três processos foram incluídos no plano metodológico para concretizar a pesquisa. Primeiramente, a realização da análise quantitativa onde foram separadas as mensagens presidenciais por ano, como recorte de unidade de análise, todas foram digitalizadas para codificação e processo de categorização, compondo um banco de dados de mineração de texto. A inferência inicial incluiu sete (07) expressões - palavras-chave: Amazônia, Hidrelétrica, Grandes Projetos, Belo Monte, Tucuruí, Balbina. Centralizou-se a busca em palavras e tema para verificar inferência no corpus de análise. O tratamento neste processo de codificação fixou-se numa regra de enumeração de natureza quantitativa, para busca da redundância dos termos nas mensagens, expressos nos indicadores e unidades de análise.

Na busca por um panorama a respeito dos discursos dos ex-presidentes sobre o objetivo desta pesquisa, essa seleção inicial foi de indicadores de expressões que pudessem ser significativas no plano do discurso político oficial. Também houve a preocupação em identificar as relações que estabelecem os termos-chave com outras expressões no discurso do Executivo para compreender o diálogo que este pretendia com a sociedade, apontando referentes simbólicos que, do ponto de vista valorativo, transformam-se em indicadores basilares da mensagem política.

Foram utilizados os softwares TMS e Sobek como ferramentas para análise quantitativa do conteúdo dos discursos, quantificando as palavras, identificando as frequências com que se propagam nos discursos e como se relacionam textualmente. Para Vilela e Neiva (2011), os programas de codificação de texto, somados a abordagem qualitativa e quantitativa de modo sinérgico, certificam as hipóteses, obtém percepções novas que simplesmente uma análise qualitativa não conseguiria realizar. Essa mensuração é, portanto, uma ferramenta facilitadora da análise porque permite avaliar a intensidade e ainda o significado das palavras em determinado contexto de discurso, que definem o horizonte da ênfase discursiva.

A segunda parte metodológica é onde se situa a análise de conteúdo, ideal para descrição e interpretação de toda classe de conteúdo documental e de textos. Método que conduz a descrições sistemáticas, qualitativas e quantitativas, na busca da interpretação de mensagens. O objetivo é a compreensão dos significados, especialmente no campo das investigações sociais. Bardin (2000, p. 09) classifica a análise de conteúdo não com um método, mas como um “conjunto de instrumentos metodológicos”, úteis para a compreensão do significados explícitos nos textos. Para ela, a análise de conteúdo tem duas funções que podem ou não se separar: a função heurística, para explorar descobertas; e a função e prova, para comprovar/verificar hipóteses.

Para Kolbe e Burnett:

a análise de conteúdo é um método de pesquisa observacional que é usado para avaliar sistematicamente o conteúdo simbólico de todas as formas de comunicação registrada. Essa comunicação pode ser analisada em vários níveis (imagens, palavras, papéis etc.), criando assim uma ampla gama de oportunidades de pesquisa (1991, p. 243).

Bardin complementa que a análise de conteúdo se apresenta como

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (2000, p. 42).

Para o autor, o método de analisar o conteúdo pode ser conceituado como parte de uma abordagem investigativa e descritiva, sem encobrir as influências sócio espaciais e o contexto econômico, social, cultural e político em que estão inseridos os discursos. Considerando ainda a subjetividades do pesquisador, que se relaciona no processo ao realizar a intepretação de dados, incluindo deduções lógicas na análise qualitativa.

Essa fase da pesquisa é, portanto, de natureza qualitativa, secundária, fundamental no plano inferencial, para interpretação das tendências de conteúdo percebidas no objeto de pesquisa. Um enfoque analítico que considera a presença ou ausência de ocorrências significativas para alinhar a análise aos objetivos e hipóteses descritos na tese.

O corpus da pesquisa nesse momento passa por três fases: a pré-análise, com a organização do material, que inclui a seleção dos documentos e do objetivo; quando se enumeram as características do texto; a exploração do material com a classificação e codificação das fontes, que é a etapa descritiva onde se concentram as operações lógicas; e o tratamento dos resultados, através da dedução e da interpretação dos dados.

A terceira fase da metodologia está inserida o uso da análise crítica do discurso. O sentido do termo crítico, nos estudos da linguagem, expõe as conexões entre os textos e os fatores que os permeiam, como o contexto histórico e social de produção e compreensão textual. É o ponto da análise em que “a crítica [...] torna transparente o que previamente estava oculto, e, ao fazer isso, inicia um processo de reflexão própria, nos indivíduos ou em grupos” (CONNERTON, 1976, p. 20). Para esta análise foram descritas as trajetórias políticas de cada presidente, contexto político/econômico dos mandatos para posterior descrição dos discursos. Primeiro foram analisadas as frequências léxicas e suas relações nos documentos, posteriormente os documentos foram aplicados, determinaram as citações sobre Amazônia, Hidrelétricas, Belo Monte, Tucuruí e Balbina, quantificando as menções, correlacionando no texto com o contexto, qualificando os discursos de acordo com van Dijk e analisando criticamente os textos.

É o estágio da pesquisa em que observa as informações – aparentes ou não - que se revelam, ou que silenciam, na análise sobre elementos que amparam e ajudam a construir os textos. Podendo, assim, reconhecer os posicionamentos a partir dos discursos, ou seja,

compreender o que circunda o óbvio, o promove, o silencia. É fase que fornece ferramentas perceptivas para avaliação do discurso.