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O interesse pelos estudos relacionados àquilo designado como Organização do Conhecimento no âmbito da CI me17 acompanha desde o bacharelado em

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Na escrita científica é recorrente a orientação de se evitar o uso de linguagem na primeira pessoa do singular e, se privilegiar a redação na terceira pessoa do singular, já que por meio dessa ação demonstra-se neutralidade/impessoalidade sobre o conteúdo apresentado. Entretanto, esse fato tem sido fortemente questionado, inclusive por autoridades no assunto, como a American

Psychology Association (APA), já que o texto foi escrito por um indivíduo e representa não só o

levantamento teórico por ele realizado, mas também seu posicionamento sobre a questão. Essa pesquisa foi escrita na terceira pessoa, uma vez que essa é a forma na qual os trabalhos em CI são, em sua maioria, apresentados, mas por se tratar de um relato baseado estritamente na experiência de vida da autora, nessa seção se manteve a primeira pessoa do singular. Sugere-se

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Biblioteconomia, concluído em 2005, na Universidade Federal de Minas Gerais. À época tive a oportunidade de participar do Programa de Iniciação à Docência (PID) como monitora na disciplina de Classificações Bibliográficas, o que me permitiu conhecer possibilidades de estudos e de atividades relacionados à OC para as práticas desenvolvidas na Biblioteconomia e na CI e, também, na interface destas com outras áreas do conhecimento.

Em função dessa trajetória, comecei a me questionar sobre o conceito, surgimento e desenvolvimento da OC. Essa provocação resultou em pesquisa sobre categorias e facetas que desenvolvi em nível de mestrado, estudo que contribuiu para que eu compreendesse melhor as bases teóricas dos modelos categoriais na OC.

Contudo, por meio da pesquisa de dissertação também pude perceber que, em muitos casos, como no estudo realizado das categorias de Ranganathan18, os modelos categoriais são descritos como soluções aplicáveis a todo e qualquer domínio, o que me trouxe inquietudes sobre o caráter sociodiscursivo da OC.

Em continuidade a esses questionamentos e, com a presença nesse ambiente dinâmico e incerto por meio do qual a OC tem se desenvolvido – inovações tecnológicas, instabilidade de suportes, questões sobre o acesso à informação, entre outras – procurei me aprofundar no entendimento da relação existente entre esta área e a linguagem. Nesse sentido, realizei disciplinas vinculadas à temática na Faculdade de Ciência da Informação (FCI), durante a fase inicial do doutorado em Ciência da Informação, na Universidade de Brasília.

Desses estudos, pude perceber que a vinculação tradicional entre a OC e as questões linguísticas tem sido construída por meio de aportes morfológicos, sintáticos, semânticos, terminológicos, sociolinguísticos e, também, vinculados à análise do discurso (AD), com predominância daquela, por alguns/as designada, como AD de linha francesa (FREITAS, 2010; SILVA; BAPTISTA, 2015).

A AD respondia a muitas de minhas inquietações e encontrei trabalhos nos quais ela foi abordada com grande maestria, como os de Freitas (2010, 2001), mas ainda que o tema seja retomado na CI, pois, como defendido nesse trabalho, a mudança discursiva é uma das formas de transformação das práticas sociais e de empoderamento dos indivíduos.

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Shiyali Ramamritam Ranganathan: Bibliotecário e matemático indiano considerado o pai dos fundamentos teóricos da classificação, em especial pela publicação da obra Prolegomena to library

assim não me senti satisfeita. Acredito que essa insatisfação se deva ao fato de que a relação existente entre conhecimento – linguagem – representação tem se tornado cada dia mais complexa e desafiante, em especial para os profissionais da informação – classe em que me situo, na medida em que trabalhamos com sistemas e acervos bastante demandados pela sociedade. Não nos basta organizar, é preciso organizar para promover o acesso – ações, incondicionalmente, vinculadas à OC. Com o propósito de maior entendimento das relações existentes entre a OC e a linguagem, busquei assimilar conteúdos relacionados à temática, ainda que externos ao programa da FCI. Nesse sentido, tive acesso ao Centro de Estudos Multidisciplinares (CEAM) e ao Instituto de Letras da UnB, ambientes nos quais cursei disciplinas em que linguagem, discurso, conhecimento e pesquisa social constituíam a temática central.

Entre os conteúdos apreendidos situa-se a Análise de Discurso Crítica (ADC) que me pareceu muito interessante devido a forma com que, em nível teórico, considera o caráter dinâmico da linguagem, bem como pelas aplicações analíticas percebidas na literatura, na interação com as professoras e, também com os/as colegas de classe. Nesse momento, junto com a orientadora, decidimos expandir os estudos linguísticos da OC, baseados na AD, por meio do emprego da ADC de linha britânica.

Uma vez que não foram recuperados trabalhos no âmbito da Biblioteconomia e da CI que tivessem utilizado a ADC como método, o desafio se fez grande, inclusive pela complexidade envolvida na aplicação de categorias linguísticas e sociais, por uma não linguista.

Nesse aspecto, o problema foi amenizado pelas leituras realizadas, já que o próprio estudioso pioneiro na estruturação da ADC a aponta como uma possibilidade teórico-metodológica para linguistas e não linguistas (FAIRCLOUGH, 2003), e que pode ser adaptada às necessidades de cada estudo.

Assim, o desafio foi assumido e tal como a Organização do Conhecimento é parte hoje da minha vida profissional e pessoal, a ADC assim tem se tornado, já que acredito que ambas me possibilitam ter uma postura mais cidadã, crítica e posicionada em relação à complexidade da vida contemporânea.

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Acrescento ainda como motivação e ganho pessoais desse estudo o entendimento de que tanto a OC, quanto a ADC são amplamente exploráveis, pois informação, conhecimento, linguagem e discursos medeiam nossa existência.