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A política brasileira de enfrentamento das DST/aids - baseada na integração entre prevenção, assistência e promoção dos Direitos Humanos – serve para fortalecer a participação do país em discussões internacionais com vistas a uma defesa intransigente do direito humano à saúde, em seu conceito mais amplo. Dessa forma, o Brasil tem-se posicionado pela afirmação da importância de abordagens integradas à epidemia, incluindo a participação da sociedade civil e a garantia dos Direitos Humanos, com destaque para os direitos de pessoas que vivem com HIV/aids e de populações vulneráveis. Dentre as ações brasileiras no cenário internacional que visam à eliminação das barreiras ao acesso universal, está a negociação em foros internacionais de medidas que permitam maior flexibilização do sistema vigente de propriedade intelectual, bem como o advocacy contra as restrições de entrada e permanência em países relacionadas ao HIV e contra a criminalização em razão do HIV, da orientação sexual e da identidade de gênero.

Uma vez que a resposta brasileira é marcada pela intensa participação da sociedade civil, isso também encontra reflexo na atuação internacional. Governos e organizações não governamentais, movimentos sociais e pessoas que vivem com HIV/aids trabalham em forte parceria no âmbito dos diversos foros multilaterais e em projetos de cooperação técnica entre países. Além disso, há um intenso diálogo com organismos internacionais e agências bilaterais, especialmente a partir do Grupo Temático do UNAIDS, para a realização de ações no âmbito nacional e de cooperação internacional.

A compreensão da primazia do direito humano à saúde em relação aos direitos de propriedade intelectual, aliada às iniciativas internacionais com perspectivas para o desenvolvimento - como a estratégia global de luta contra a fome e a pobreza -, também tem possibilitado ao Brasil uma intensa atuação para a implementação de mecanismos financeiros inovadores e o estabelecimento de referências internacionais para redução de preços e garantia de insumos de prevenção e tratamento para todos. Destaque-se a participação do Brasil na criação, em 2004, da Rede de Cooperação Tecnológica em HIV e Aids, voltada à pesquisa e desenvolvimento de insumos estratégicos; no financiamento, de forma contínua, da UNITAID – Central Internacional de Compra de Medicamentos para Aids, Tuberculose e Malária; na cooperação em vacinas anti-HIV por meio do IBAS (consórcio entre Índia, Brasil e África do Sul) e cooperação Brasil-França; no estímulo a redes regionais de pesquisa na América Latina e Caribe. Some-se a isso a atuação do país junto à Organização Mundial de Saúde, à Junta de Coordenação do UNAIDS e, mais recentemente, ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

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O Brasil teve posição de destaque durante as negociações do Grupo de Trabalho Intergovernamental da OMS para a formulação da Estratégia Global sobre Saúde Pública, Inovação e Propriedade Intelectual, que culminou com a aprovação do texto pela 61ª Assembléia Mundial de Saúde, em maio de 2008. Com apoio das delegações de diversos países em desenvolvimento, o Brasil propôs a inserção, no escopo da estratégia, de um capítulo de princípios, reafirmando a Declaração de Doha e a primazia da saúde pública sobre as questões comerciais. Atualmente, o Brasil tem apoiado a implementação da estratégia em nível global e a consolidação de uma plataforma regional para a América Latina e Caribe, em parceria com a OPAS.

Considerando que a epidemia ultrapassa fronteiras e, por isso, é necessário unir esforços para enfrentá-la, desde o início da última década de 90, o Brasil tem investido na cooperação técnica internacional em HIV/aids, caracterizada por ser uma cooperação entre países em desenvolvimento (cooperação Sul-Sul), realizada segundo o princípio da horizontalidade. A cooperação horizontal é entendida como um processo em que a relação entre os países baseia-se no respeito mútuo e as ações são definidas conjuntamente, em um processo no qual todas as etapas da cooperação são discutidas e definidas por um consenso entre as partes envolvidas, buscando-se a autonomia dos países em processos que sejam sustentáveis.

A cooperação brasileira tem ampliado seu campo de atuação e abrange, atualmente, diversos temas relacionados à epidemia. Em 2004, foi criado o Centro Internacional de Cooperação Técnica em HIV/Aids (CICT) - iniciativa conjunta do Governo Brasileiro e do Programa Conjunto das Nações Unidas para HIV/Aids, com apoio da Cooperação Técnica Alemã (GTZ) e do Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido (DFID) – que atualmente mobiliza recursos financeiros e técnicos do governo brasileiro, organismos internacionais e agências bilaterais para a realização de atividades em mais de 20 países da América do Sul, América Central, Caribe, África e Ásia.

Em 2004, foi criada a Rede “Laços Sul-Sul”, com o objetivo de apoiar os esforços nacionais para alcançar o acesso universal à prevenção, cuidado e tratamento por meio da cooperação técnica e fornecimento de medicamentos ARV de primeira linha, produzidos por laboratórios públicos no Brasil, e testes rápidos fornecidos pelo UNICEF. A Rede reúne 8 países de língua portuguesa e espanhola: Bolívia, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Nicarágua, Paraguai, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Ademais, o Centro Internacional de Cooperação Técnica em HIV/Aids (CICT), UNAIDS, UNFPA, UNESCO e UNICEF estão ativamente envolvidos no apoio à Rede. Inicialmente focada na redução da transmissão vertical do HIV e prevenção para mulheres, crianças e adolescentes, a Rede tem crescido para abarcar outras áreas. Refletindo sua contribuição para a expansão dos serviços de cuidado e tratamento e prevenção por meio da Cooperação Sul-Sul, a Rede foi premiada pelas Nações Unidas, em dezembro de 2008, na Exposição sobre Cooperação Global/Sul-Sul.

Desde 1995, o Brasil faz parte do Comitê de Prevenção e Controle de HIV/Aids das Forças Armadas e Polícia Nacional da América Latina e Caribe (COPRECOS LAC),

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que atua como uma plataforma regional de resposta à epidemia do HIV na área de defesa e segurança. Para a consecução desse objetivo, o COPRECOS LAC adotou como estratégias: a) estabelecer relações igualitárias, bilaterais e multilaterais, desenvolvendo projetos de cooperação técnica que ofereçam benefícios mútuos e tenham os custos compartilhados entre os países envolvidos; b) promover o intercâmbio de experiências e tecnologias visando soluções conjuntas para as epidemias de aids e de outras doenças sexualmente transmissíveis. O COPRECOS LAC está constituído pelos COPRECOS dos diferentes países da América Latina e Caribe. O Brasil, por meio do Ministério da Defesa, foi um dos seus fundadores e exerceu a Presidência do Comitê no período de 2005-2007. O COPRECOS LAC contou com o apoio do CICT, entre outras organizações, para a elaboração de proposta de financiamento para a Oitava e a Nona Rodada do Fundo Global de Luta contra a Aids, Tuberculose e Malária. Na segunda oportunidade, a proposta apresentada foi avaliada positivamente pelo Comitê de Revisão Técnica, e deverá receber financiamento a partir de 2010.

Diante da necessidade de fomentar e fortalecer iniciativas de integração regional em torno da resposta ao HIV/aids, desde 1995, o Brasil participa do Grupo de Cooperação Técnica Horizontal em HIV/Aids (GCTH), que reúne os programas de aids da América Latina e do Caribe e representantes das redes comunitárias regionais. A iniciativa tem proporcionado avanços importantes no acesso universal à prevenção, ao tratamento, aos cuidados e ao apoio, por meio da realização de Consultas Regionais, capacitações e eventos técnico-científicos, promovendo a ampliação e diversificação do intercâmbio entre os países da região. Outro fórum importante para o país é a Comissão Intergovernamental de HIV/Aids do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) que, em 2008, acordou estratégias regionais voltadas à prevenção e ao controle da epidemia junto a populações vulneráveis, uma vez que a realidade da região é de epidemias concentradas.

Considerando a atuação regional na luta contra a epidemia de aids, uma das principais preocupações dos países que formam o bloco econômico conhecido como MERCOSUL diz respeito à organização dos serviços de prevenção e cuidados nas regiões de fronteira, considerando o fluxo de pessoas e bens nessas áreas, assim como a fragilidade das estruturas locais. Desde meados dos anos 1990, têm-se desenvolvido ações isoladas, que se tornaram mais integradas nos últimos anos, incluindo a proposta da Comissão Intergovernamental de HIV/Aids do MERCOSUL no sentido de desenvolver projetos específicos nessa temática. Em 2008, o projeto, que foi preparado pelo Centro Internacional de Cooperação Técnica em HIV/Aids (CICT) em conjunto com representantes do MERCOSUL e GTZ, foi aprovado pelo Encontro de Ministros de Saúde do MERCOSUL, garantindo maior sustentabilidade política para o projeto e também maior integração regional das ações, que antes eram executadas de maneira isolada.

A partir do projeto, foram estabelecidos e/ou consolidados Comitês/Grupos de trabalho em HIV/aids nas áreas de fronteira que, por sua vez, elaboraram subprojetos

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e planos de trabalho locais. A missão dos Comitês/Grupos de trabalho é propor e acompanhar ações e atividades de controle e prevenção das DST/HIV/aids nessas áreas. Existem Comitês/Grupos de trabalho nas fronteiras do Brasil com a Argentina, Bolívia, Colômbia, Guiana, Paraguai, Uruguai e Venezuela. Em 2009, o projeto foi objeto de avaliação e seus resultados foram compartilhados entre os países, de forma a estabelecer uma estratégia para a continuidade e sustentabilidade das ações. Também nesse ano foi dado início ao planejamento de ações na fronteira com a Guiana Francesa.

Recentemente, o Brasil tem buscado reunir os países cooperantes em torno de temas específicos. Com base em demandas feitas pelos países, o foco de atuação recaiu nas seguintes áreas de atuação: enfrentamento da feminização da epidemia, vigilância epidemiológica, qualificação da informação e produção de conhecimento.

Em 2008, o CICT, em parceria com o UNICEF, o UNAIDS e o Ministério da Saúde do Brasil, além do apoio da Embaixada dos Países Baixos no Brasil, deu início ao projeto “Respondendo às Vulnerabilidades de Jovens em Situação de Rua ao HIV/ Aids: a Cooperação Sul-Sul como eixo de articulação”, por meio da cooperação entre Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru. A iniciativa considera a realidade comum entre esses países, relacionada ao contexto de violência e exclusão dos jovens em situação de rua e de fragilidade ou ausência de ações e políticas que atendam às necessidades dessa população (meninos e meninas em situação de rua), tornando-a fortemente vulnerável às DST/aids. A partir da iniciativa, têm sido promovidas e/ou fortalecidas a parceria e integração de ações entre as áreas de saúde e proteção às crianças e adolescentes dos países envolvidos, com vistas à implementação de planos de trabalho para o enfrentamento da epidemia junto a essa população, atualmente em fase de elaboração.

Também entre as iniciativas de cooperação estão projetos sobre harmonização de políticas públicas para a educação sexual e a prevenção do HIV/aids no ambiente escolar e apoio à Rede Pastoral da Aids, além de iniciativas temáticas junto à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Dessa forma, a cooperação técnica e o diálogo promovido pela atuação internacional do Brasil contribuem para o fortalecimento da resposta nacional. Ao tempo em que se tem conseguido identificar boas práticas de organizações governamentais e não governamentais brasileiras e de países parceiros, tem sido possível encontrar diferentes respostas a problemas semelhantes no campo do enfrentamento do HIV/aids. Isso permite estimular a criatividade no desenho e implementação de estratégias frente à epidemia e, principalmente, gerar oportunidades e fortalecer alianças para responder a uma questão comum.

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