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A HABITAÇÃO SOCIAL MUNICIPAL EM VILA NOVA DE GAIA

4.1 A intervenção municipal

Após 1974, Vila Nova de Gaia cresceu exponencialmente, resultando no crescimento de barracas, clandestinos260 e outras situações de habitação degradada. Construíram-se grandes empreendimentos. Contudo, a falta de vontade política para alterar a Lei do arrendamento urbano deteriorou a situação.

Até à criação dos SMH (Serviços Municipais de Habitação), a actividade da Câmara de Vila Nova de Gaia, no domínio da habitação social, resumia-se, sensivelmente, à gestão de cerca de 95 fogos261 e apoiava a auto-construção, elaborando e fornecendo alguns projectos- tipo (de acordo com o Decreto Lei n° 44645, de 1962, posteriormente alterado pelo Decreto Lei n° 53/77).

Os SMH262 são criados em 1978, sob proposta do Presidente da Câmara, com o apoio do FFH a nível documental e de material necessário à sua instalação. A actividade dos SMH desenvolveu-se em duas fases. Na primeira, de 1978 a 1988, elaboraram-se projectos de loteamento para terrenos da Câmara e de Juntas de Freguesia de modo a possibilitar a construção de habitações e cedência de lotes para a auto-construção. Simultaneamente, objectiva-se a eliminação de núcleos de construção clandestina existentes no Concelho, pelo que são executados novos loteamentos. Para a execução das obras, a Câmara recorre ao financiamento de 50 000 contos ao abrigo do Decreto-Lei n°6 /84 (infraestruturação de solos). Durante este período um protocolo com o Gabinete do Nó Ferroviário do Porto permite a construção de 80 fogos destinados a realojamentos e a construção de 64 fogos atribuídos em regime de propriedade resolúvel. A actuação dos SMH passa, também, pela conservação e gestão dos fogos existentes, o apoio social das famílias e o levantamento das carências habitacionais.

Em 1988 os SMH adquirem a natureza de Divisão, integrada no Departamento de Habitação e Urbanismo. São três os sectores de actuação, com funções perfeitamente delineadas: o sector dos projectos; o sector de gestão do parque habitacional e o sector de construção.

Outro factor a salientar na actuação dos SMH foi o protocolo de cooperação assinado entre a Câmara e a Secretaria de Estado da Habitação, através do INH e do IGAPHE, para a

260 Veja-se, MATOS, Fátima Loureiro de -A construção clandestina em Vila Nova de Gaia ...op., cit 261 80 construídos em 1965 e 15 em 1977.

262 Criados nos termos do Decreto-Lei n° 797/76, de 6 de Novembro e alterações posteriores constantes

no Decreto-Lei n° 261/77, de 22 de Junho e Lei n° 84/77, de 14 de Novembro conjugados com os artigos 143°, 619° e seguintes do Código Administrativo, com funções de gestão Social, gestão Patrimonial e gestão da Conservação no campo da habitação social.

construção de 787 fogos de habitação social (quadro 24), destinados a arrendamento e venda, ao abrigo do Decreto-Lei n° 110/85 e do Decreto-Lei n° 226/87.

Quadro 24 - N° de Fogos Sociais a Construir pela Câmara, 1988

Freguesias N° de Fogos Afurada 41 Arcozelo 34 Avintes 256 Crestuma 140 Mafamude 48 Oliveira do Douro 220 Sf Marinha 16 Vilar de Andorinho 32 Total 787

Fonte: Câmara Municipal de Gaia

A elaboração dos projectos, o acompanhamento e fiscalização das obras e o lançamento dos concursos de atribuição dos fogos absorveram a actividade dos SMH. Para dar resposta a todas estas solicitações o quadro de pessoal teve de ser alargado. Com a conclusão dos vários empreendimentos verifica-se uma retracção de funcionários nos SMH.

O pacote legislativo lançado pelo Governo em 1993, PER - Programa Especial de Realojamento - vai absorver novamente a actividade dos SMH e exigir um reforço de pessoal. O levantamento exigido para a adesão ao programa, nomeadamente, a localização das barracas e caracterização socioeconómica completa do agregado familiar, envolveu por completo a actividade destes serviços.

O levantamento proporcionou o conhecimento de mais de 3 600 casos que constituíram a base do processo de candidatura, apresentado à Secretaria de Estado da Habitação em finais de 1994. A assinatura do Acordo Geral de Adesão irá permitir a construção dos cerca de 3 600 fogos em dez anos num investimento superior a 20 milhões de contos (ver a Programação financeira no Anexo D)

Ora, todo o trabalho de aquisição de terrenos, elaboração de projectos, construção e atribuição dos fogos (objectivos muito ambiciosos e de grande envergadura) irá absorver,

263 Com financiamento do Estado (2 358 000 contos), sendo uma parte a fundo perdido e o restante a

pagar no prazo de vinte e cinco anos, como consta do protocolo assinado pela autarquia e a Secretaria de Estado da Habitação, em Março de 1988.

novamente, a actividade dos SMH. Simultaneamente, estes serviços continuam a gerir os cerca de 400 fogos arrendados.

Segundo o PDM de Vila Nova de Gaia, entre 1988 e 1992, seriam construídos 195 fogos e concluídos 228 lotes para auto-construção, para o ano de 1992 previa-se a construção de 358 fogos, e perspectivava-se a construção de mais 871 fogos, para 1993 (595 dos quais ao abrigo de um Contrato de Desenvolvimento de Habitação de iniciativa privada). Todavia, os resultados ficaram aquém destes objectivos. Dos 195 fogos previstos apenas 141 foram concluídos para arrendamento e venda, concluindo-se também 228 lotes para auto-construção. Quanto aos 871 fogos, apenas foram concluídos 59.

Os dados fornecidos pelos serviços camarários (quadro 25), permitem verificar que a maior promoção se registou nos anos de 1993 e 1995 (se contabilizarmos os lotes para auto- construção). Os anos de 1998 e 1999 registaram a maior promoção para arrendamento. De 1993 a 1999 o número de fogos para arrendamento foi de 409 e cerca de 277 destinados a venda. Se atendermos às carências habitacionais, a oferta continua extremamente reduzida.

Quadro 25 - Promoção de Habitação Social

Ano Arrendamento Venda Auto-

construção Total até 1987 187 25 48 220 || 1988 16 48 22 86 1989 7 - 72 79 1990 - - - - 1991 - - - - 1992 41 - - 41 1993 47 123 - 170 1994 8 16 - 24 1995 24 110 58 192 ! 1996 71 28 42 141 1997 14 - - 14 1998 145 - - 145 1999 100 - - 100 1 Total 660 350 242 1 250 |

Fonte: Câmara Municipal de Gaia

Os diversos programas instituídos para a construção de habitação de custos controlados para venda e arrendamento, como os Contratos de Desenvolvimento Habitacional (CDH), os empréstimos às Câmaras Municipais e, particularmente, os programas criados para

a erradicação das barracas e outras formas de alojamento precário nas áreas metropolitanas, deram um novo impulso a este tipo de construção.

Entretanto, com a alteração da direcção política da Câmara Municipal em 1998, é criado um novo organismo - Gaia Social, E.M.264 - com o objectivo de agilizar a promoção e gestão do Parque Habitacional Municipal Social do concelho de Vila Nova de Gaia. Este novo organismo iniciou a sua actividade em Maio de 2000 tendo como principais objectivos: promover uma gestão integrada e participada nos empreendimentos; promover a melhoria das condições de vida; promover uma adequada administração patrimonial e social, designadamente organizando e mantendo actualizado o cadastro dos bens imóveis e uma base de dados relativa aos residentes; assegurar a manutenção dos edifícios e respectivos espaços exteriores; promover acções de formação e informação junto das populações dos empreendimentos; promover a execução de obras de reparação nas habitações e edifícios necessárias para garantir um bom estado de conservação.