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O Município como agente do desenvolvimento social

O PAPEL DOS MUNICÍPIOS NA POLÍTICA HABITACIONAL E A QUESTÃO DO REALOJAMENTO

03 habitação social •Disponibilização gratuita de terrenos para si e

2.4 O Município como agente do desenvolvimento social

Como vimos, e de acordo com numerosos estudos, a concentração de estratos populacionais de baixos rendimentos com comportamentos desviantes num mesmo espaço

18 O RMG (Decreto Lei n° 19-A /96, de 29 de Junho) atribui a responsabilidade da gestão dos

problemas e dos recursos concretos às instituições desconcentradas do Estado, nomeadamente, Segurança Social, Educação, Formação e Emprego e Saúde, às autarquias, parceiros sociais e às instituições de solidariedade social. Esta política de luta contra a pobreza é uma política Central mas é gerida ao nível territorial dos municípios em que a intervenção dos diversos parceiros converge, portanto, para uma abordagem multisectorial. O RMG associa uma prestação pecuniária de apoio ao rendimento a um programa de inserção. Este é negociado e contratualizado entre as famílias beneficiárias e a comunidade. Neste sentido, as famílias abrangidas pelo RMG são responsabilizadas pela assiduidade escolar dos filhos ë estão integradas em programas que vão desde a frequência de um curso alfabetização, formação profissional ou simplesmente de gestão doméstica. Isto é, o contrato de inserção deve consubstanciar o percurso que conduz à ruptura.

físico gerou um acréscimo substancial de comportamentos marginais e de estigmas sociais, que conduziram a uma socialização negativa. A questão do alojamento das populações dos segmentos sociais mais baixos requer a atenção de responsáveis políticos, de diferentes sectores da sociedade civil, da comunidade científica e uma gestão atenta aos conflitos, às mudanças e à adaptação aos novos contextos socioeconómicos.

O desenvolvimento de novas políticas e o lançamento de programas de intervenção resultaram do repensar do conceito e do próprio processo que configura a pobreza e a exclusão social, associadas ao realojamento e aos bairros sociais. Ora, no que se refere às Câmaras Municipais e Autarquias, mais próximas dos cidadãos, reconhece-se hoje uma importância fundamental na promoção e elaboração de políticas de cariz económico e social.

O desempenho do Poder Local em Portugal tem assumido um interesse particular em termos de investigação, numa perspectiva da organização local do combate à pobreza e à exclusão social. Como representantes dos interesses das populações locais, as autarquias devem ter um papel fundamental na adequação das respostas aos referidos problemas.

A par de programas de realojamento, as intervenções sociais locais são distintas, de acordo com a avaliação que as autarquias fazem das situações de pobreza e de exclusão social e do desenvolvimento de formas de associativismo e alianças locais . Se por um lado existem Municípios que apostam numa intervenção positiva e articulada por parte dos diversos actores locais, entre os quais se destaca a Câmara Municipal, noutros casos as intervenções são desarticuladas, registando-se apenas algumas acções restritas por parte dos agentes locais240 implicados no combate à pobreza e à exclusão social. Existem, portanto, diferentes graus de envolvimento na intervenção social e que reflectem diferentes posturas sobre o papel a desempenhar por parte do Poder Local.

Relativamente a políticas de enquadramento e de combate ao fenómeno da exclusão social, convém assinalar que a sua diversidade tem a ver com a configuração socio-cultural própria de cada local. A este propósito, o Poder Local pode, por um lado, assumir uma atitude passiva, enquadrada na legislação omissa quanto ao seu papel na luta contra fenómenos locais de exclusão social, por outro, a assunção de um papel mais central, mais interventor em

RUIVO, Fernando - Poder Local e Exclusão Social. Coimbra: Quarteto Editora, 2000, p. 18.

«Não se concebe a acção local como capaz, por si só, de resolver os problemas de pobreza e carências mais ou menos extensas, contudo, ela tem demonstrado poder contribuir de um modo crucial para a (re)elaboração de estratégias e a apresentação de respostas activas designadamente face a condições de precaridade económica e social.» RODRIGUES, Fernanda; STOER Stephen - Acção Local e Mudança Social em Portugal. Lisboa: Fim de Século Edições, 1993, p.19.

situações do mesmo tipo (na luta contra os referidos fenómenos). Encontramos, assim, duas posturas para um mesmo Poder.

Há já algum tempo que grupos de cidadãos e várias instituições têm vindo a constituir- se como interlocutores privilegiados no estabelecimento de relações com as populações em situação de pobreza. Voluntariamente ou por incumbência legal têm desempenhado um papel fundamental no apoio e prestação de serviços a nível pessoal, social, educativo e cultural.

Referente a este aspecto, merece reflexão o facto de o Estado tender a ser cada vez menos Estado-Providência241, transferindo para o sector privado a resolução de problemas que eram considerados competência da Administração Central.

O sucesso dos projectos sociais e/ou intervenções na luta contra a pobreza depende da capacidade de mobilizar vários parceiros de diversas áreas e de coordenar uma multiplicidade de agentes sociais e económicos.

As Câmaras Municipais têm vindo, apesar de tudo, a desempenhar um papel mais activo em termos de participação e envolvimento em projectos locais e comunitários de combate à pobreza. A motivação é tanto maior quando já atingiram um nível evolutivo no domínio do bem-estar básico242. Efectivamente, quando as questões relacionadas com infra- estruturas e equipamentos básicos estão praticamente resolvidas, as Câmaras Municipais demonstram um maior dinamismo e uma preocupação em participar a vários níveis nomeadamente recursos materiais, pessoal.

Os interesses diversificaram-se, ultrapassaram a área das infra-estruturas materiais, conservação de edifícios, de ruas, etc. e passaram a abarcar outras áreas, nomeadamente

241 A um Estado-Providência fraco corresponde uma sociedade-providência forte. Neste sentido, registe-

se a grande diversidade de intervenientes no terreno de que salientamos: as IPSS's, os Centros Regionais de Segurança Social, Escolas, Centros de Saúde, Associação de Moradores, redes informais de parentes e de vizinhança, empresas e as Autarquias Locais. RUIVO, Fernando - Poder Local e Exclusão Social. Coimbra: Quarteto Editora, 2000, p.80.

242 Após 1974, o poder local em Portugal regista diversas fases de "protagonismo". No início, época de

empenhamento ideológico e partidário, à mobilização e reivindicação das populações responde com acções dirigidas à satisfação de necessidades básicas e à melhoria das suas condições de vida. Numa segunda fase sobressai a vontade de liderança no campo do desenvolvimento. Após o entusiasmo próprio da Revolução, a preocupação incide na resolução de problemas de carácter estrutural. São ensaiadas novas formas de dinamização dos agentes sociais e de utilização dos recursos disponíveis. Finalmente, a definição das suas competências por via legislativa, conduziu a uma maior autonomia e liberdade e aumento de intervenção em termos de gestão.

Do mesmo modo, o perfil do Presidente da Câmara foi assumindo diferentes configurações, a que não é alheia a experiência de gestão autárquica. Procurou criar infra-estruturas, incentivar o crescimento económico e promover actividades primárias indispensáveis às populações.

assistência às pessoas mais carenciadas, ensino, habitação social e equipamentos colectivos. Contudo, não se pode generalizar, pois existem casos em que o município é um simples executor de assuntos meramente locais. Isto é, existem diferenças entre órgãos de Poder Local no desempenho do seu papel de representantes das populações locais e como entidades próximas do cidadão.

De acordo com o que foi assinalado, atente-se desde já no papel que pode desempenhar o município no desenvolvimento, como um processo global e plurifacetado, com vista a promover a qualidade de vida do município (dos munícipes). Os problemas de pobreza e de exclusão social associados aos problemas de alojamento são multidimensionais, como já referimos, por conseguinte, as vertentes de intervenção têm de ser variadas. Em primeiro lugar, o Município tem de apostar numa política de habitação social (intensiva), cujo objectivo será a erradicação de barracas e de outras condições degradantes de habitação. Todavia, pelos motivos já apontados, os programas de realojamento não podem ser estruturados como se se tratasse dum problema financeiro e urbanístico. Sendo um problema social, os realojamentos têm de ser acompanhados de um amplo programa de apoio social a vários níveis de acção (social, cultural, desportivo, educacional, etc.). Um pilar fundamental de intervenção é a educação e a formação profissional, na medida em que pode significar ter um emprego ou desempenhar uma profissão e, consequentemente, ter acesso a um rendimento que permitirá fazer face às necessidades básicas.

Os equipamentos colectivos, outra das vertentes de acção, representam outro meio de promoção e de reinserção no meio envolvente. O incentivo ao convívio e à participação comunitária em espaços comuns, bem como o apoio às crianças são, entre outros, meios que permitem o restabelecimento de redes pessoais e a socialização. Neste contexto, é importante reforçar a ideia de que é fundamental todo um trabalho inter-disciplinar que passa como vimos, por diversas vertentes. Não basta a construção e a manutenção de equipamentos. É necessário o desenvolvimento de todo um processo, no qual o envolvimento de inúmeros actores resulte num trabalho em parceria, de modo a promover a coesão económica e social (a solucionar os problemas sociais). Trata-se de um desafio que exige um compromisso político incondicional na promoção de interfaces entre as instituições públicas entre si e entre estas e as entidades privadas.

Só em 1997, uma Resolução do Conselho de Ministros (n° 197/97) cria os Conselhos Locais de Acção Social, presididos pelo Presidente da Câmara Municipal. Deste modo, foi possível imprimir alguma dinâmica em todo o processo da luta contra a pobreza e a exclusão social, marcando, portanto, uma alteração prática na actuação e desenvolvimento de projectos até aí "emperrados" por falta de uma articulação viável.

Apesar disso, o Poder Local tem seguido uma política social modesta de parceria e não uma promoção activa de iniciativas de combate à pobreza e exclusão social. De um modo geral, as responsabilidades a este nível, isto é, as intervenções sociais, fundamentais em toda esta questão da habitação, têm sido assumidas pela sociedade civil.

A problemática do desenvolvimento local recai (apesar das ambiguidades legislativas) no âmbito de atribuições e competências municipalmente assumidas. O desenvolvimento, ao contrário do crescimento unicamente económico, é um processo global de mudança, cujo objectivo se prende com a qualidade de vida, animado pela procura de solidariedade e justiça social e sustentado pela participação colectiva como força de expressão comunitária e individual.

Sendo assim, as autarquias não podem continuar a assumir as infra-estruturas e os equipamentos básicos, domínio clássico das suas atribuições, como a preocupação fundamental da sua intervenção, o que vêm fazendo desde a alteração do Regime Político.

CAPITULO III

EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO E ESTRUTURA DO PARQUE