• Nenhum resultado encontrado

O PAPEL DOS MUNICÍPIOS NA POLÍTICA HABITACIONAL E A QUESTÃO DO REALOJAMENTO

03 habitação social •Disponibilização gratuita de terrenos para si e

2.2. Dinâmicas de Habitação Social estratégias de intervenção

2.2.2 A habitação social características e modos de vida

2.2.2.2 Outros aspectos

Muitas das características da habitação (como a segurança e o conforto) dependem das soluções a nível do projecto e da localização da habitação, como já referimos. Associados à habitação, aparecem também outros atributos: serviços prestados às famílias; gestão de equipamentos e espaços públicos dos bairros. Estes aspectos têm sido dos mais críticos nos programas de realojamento produzidos em Portugal, sobretudo, a inexistência destes espaços ou a falta de gestão e manutenção dos mesmos.

Outros aspectos críticos dizem respeito à questão das limitações orçamentais, ao encarecimento dos projectos, à relação entre os serviços prestados e as expectativas das famílias222, ou ainda, ao efeito estigmatizador a que, por vezes, os serviços e/ou equipamentos inseridos nos bairros podem conduzir (como por exemplo, as escolas, os infantários, campos de jogos e parques infantis).

Nos programas de habitação social é, portanto, preciso considerar-se os aspectos relacionados com os serviços e equipamentos. Perante este quadro, importa reflectir sobre algumas questões subjacentes a esta problemática:

- Que serviços e/ou equipamentos devem estar no interior do bairro?

- Que serviços e/ou equipamentos devem estar associados à comunidade em geral? - Que serviços devem ser desenvolvidos pelos moradores?

- Que serviços e/ou equipamentos podem ou devem ser promovidos pela entidade proprietária?

- Que serviços podem ou devem ser garantidos dentro de outros esquemas possíveis?

limitado do que a mobilidade habitacional em geral, este desiderato é imprescindível para melhorar a adequação dimensional entre as habitações públicas e as famílias que as ocupam». CARDOSO, Abílio - O Planeamento Municipal e a Habitação. Colecção CCRN, Escher, 1991, p. 80.

222 De um modo geral, os responsáveis pela habitação social encaram as famílias de acordo com a sua

capacidade económica. Todavia, as famílias sabem o que querem mas há um défice de comunicação entre os técnicos e os futuros ocupantes. A única experiência que, em Portugal, conseguiu integrar a participação dos moradores nas diferentes fases da elaboração e execução do projecto foi com o programa SAAL (como já referimos no cap.l) e visava garantir uma efectiva apropriação dos novos espaços residenciais pelos futuros utentes. Actualmente, o PER também, em alguns casos, tem feito algum esforço neste sentido.

São questões debatidas por vários autores que se têm dedicado à questão da habitação social. Este debate introduz as problemáticas da "integração urbanística" e da relação entre a habitação e as políticas sociais urbanas, uma vez que há características da habitação que ultrapassam o âmbito do alojamento e que têm a ver com o ambiente em que o mesmo se insere.

A análise da habitação como um conjunto de serviços ou de oportunidades reflecte uma visão de integração urbanística que engloba a actividade das pessoas, as relações sociais e económicas entre os indivíduos, famílias, grupos, não se circunscrevendo, portanto, apenas às características do edificado (que podem facilitar ou dificultar a integração).

Outro aspecto a ter em conta é a satisfação residencial. Os diversos estudos sobre satisfação residencial identificam várias dimensões que a fundamentam: dimensão do alojamento, limpeza, segurança, as características dos vizinhos, a densidade, a localização, entre outras.

De um modo geral, as iniciativas de realojamento estão alheadas do seu objecto de intervenção (as populações alvo). As respostas apresentadas pelos técnicos e políticos apontam para solicitações técnica ou definidas politicamente, muitas vezes, "afastadas" das necessidades e expectativas da população.

Não tem existido qualquer preocupação em estabelecer uma relação entre a satisfação das exigências técnicas, dos materiais, da qualidade dos projectos arquitectónicos e urbanísticos, por um lado, e as características sociais inerentes aos modos de vida, por outro, isto é, não tem havido uma atenção dada à satisfação das necessidades sociais de bem-estar das populações a que os projectos se destinam. Não foram contemplados aspectos como os diferentes estados no ciclo de vida das diversas famílias, idades diferentes, pessoas isoladas e também famílias monoparentais (cada vez mais numerosas), problemas sociais e interesses específicos. Assim, configuram-se situações de habitações sociais indesejáveis, uma vez que foram construídas para determinado nível económico e não atendendo às actividades quotidianas, desejos, aspirações e necessidades das populações.

Num estudo realizado em França , foi possível distinguir três factores fundamentais de satisfação residencial: o estatuto de ocupação (proprietário ou locatário), o tipo de alojamento (individual ou colectivo) e a localização. Tornar-se proprietário significa

BERNARD, Yvonne - Ménages et modes de vie. In ASCHER, François - Le Logement en Question - L habitat dans les années quatre-vingt-dix : continuité et ruptures. Paris : Éd. de 1' Aube, 1995, p. 13-39.

224 Por vezes, a opção por este modelo está associada à possibilidade do seu uso como suporte à

actividade profissional pois pode possibilitar a existência de um espaço para uma oficina ou uma arrecadação, por exemplo. Neste caso o argumento invocado é essencialmente funcional. Para outros, o acento é posto no

estabilidade e segurança. O desejo de ser proprietário está, igualmente, associado à necessidade de perpetuação, mesmo que a transmissão não seja uma razão consciente da aquisição. Património e família estão intimamente associados no inconsciente colectivo. Na escolha da localização do alojamento intervêm diversas dimensões. As qualidades mais referidas são a proximidade dos serviços, o prestígio e a imagem social do lugar.

A escolha da localização é, pois, o centro da questão, já que as relações se situam no espaço. A análise da escolha da localização deve ter em conta três aspectos: a reflexão sobre o significado da "casa"; a reflexão específica desse significado no contexto das famílias de menores recursos; a reflexão sobre o modo como os diferentes regimes de ocupação (proprietário ou locatário) estruturam alguns serviços associados à habitação.