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Parte I Fundamentação Teórica

Capitulo 2 Espinha Bífida

2.4. Risco de recorrência

2.8.4. Intervenção

Existem três níveis de intervenção em função da idade da criança: Estimulação precoce, Jardim-de-infância e Escola Primária. Estas são as fases fulcrais para o desenvolvimento e estimulação das suas capacidades e aptidões, a partir destas fases continua-se o trabalho até então realizado (adolescência e adulta), mas sabendo que as três fases iniciais da sua vida são as imprescindíveis e mais favoráveis ao seu desenvolvimento e estimulação.

Na intervenção precoce reconhece-se um empobrecimento de estímulos que a criança recebe desde a sua 1ª infância: ―Para além dos estímulos relativos aos défices motores, a coordenação visual e motora, atenção, desenvolvimento da linguagem, socialização, etc, podem ser melhorados com uma estimulação adequada‖ (Herreros, 1984, p. 54).

A cooperação dos pais é fundamental, pois grande parte das atividades será no âmbito da vida quotidiana da criança.

Ao nível da linguagem os problemas de respiração e sobretudo de deglutição devem ser corrigidos o mais cedo possível antes que afetem o desenvolvimento da criança. São úteis exercícios de sopro, movimentos da língua e dos lábios, a mastigação, a identificação de imagens, sempre com a supervisão do pai e da mãe. Um grande número das atividades realizadas em casa poderão adquirir um valor educativo se lhes for atribuído um significado que se torne inteligível para a criança. Deve-se incutir – lhe, o mais cedo possível, que deverá tentar fazer o maior número de coisas sozinha. Mas é na motricidade que a criança com espinha bífida apresentará maiores dificuldades, daí que sejam importantíssimas a reabilitação terapêutica e a estimulação da mobilidade em prol de uma maior autonomia na exploração do espaço: Exercícios de controlo da cabeça, do tronco e das extremidades, bem como o rastejar estão indicados neste sentido.

Este processo de estimulação precoce será lento, gradual e dilatado no tempo, com o grande objetivo de se prevenir o quanto antes, ou minimizar dificuldades no processo de desenvolvimento do bebé ou da criança.

A estimulação essencial irá dos 3 aos 12 meses e segundo A ASBHIB, publica (1990) os principais objetivos da estimulação precoce são: favorecer o melhor desenvolvimento psico-motor da criança, prevenir o aparecimento de deformações e prestar apoio aos pais.

Como Bautista (1997) refere, ainda é necessário evitar o aparecimento de escaras e melhorar a circulação sanguínea.

A estimulação precoce pode significar um aumento de experiências sensoriais e motoras básicas para o desenvolvimento psico-sensorial da criança.

Esta estimulação deverá ser feita por uma equipa multidisciplinar, também com os pais, orientados por um profissional, para estarem melhor preparados para gerir as dificuldades e estimular as potencialidades dos seus filhos. A estimulação deve ser permanente e fazer parte da rotina doméstica e diária.

De acordo com Speck (1978) o meio contribui de uma forma determinante para a aprendizagem da criança. Os primeiros anos da infância são considerados, o período mais importante para a estimulação, não sendo necessário tanto esforço educativo. As peças basilares para despoletarem a ação educativa, serão todos aqueles que fazem parte do seu ambiente familiar: pais e familiares mais próximos.

Logo, a pertinência para que possam usufruir de uma série de orientações úteis para o desenvolvimento da criança nos seguintes níveis: motricidade; perceção; linguagem; socialização e afetividade.

Em qualquer circunstância, a reabilitação física deve estar muito presente para que se mantenha a mobilidade dos membros e se fortaleçam os músculos que funcionam. Exercícios de marcha útil, educação postural (posição em pé) são fundamentais para a independência que poderão obter se se moverem sozinhas.

O posicionamento correto é um dos aspetos centrais da estimulação da criança com Espinha Bífida. O desenvolvimento do controle postural inicia-se pela cabeça, seguindo a direção próximo-distal e céfalo-caudal.

Assim, o desenvolvimento da estabilidade do tronco torna-se um pré requisito para desenvolver as funções das extremidades superiores e inferiores. Dever-se começar por trabalhar primeiro próximo do ombro para depois se executarem outras funções tais como a pinça fina e outras atividades de destreza manual. Os alongamentos musculares evitam a instalação de deformidades. Mesmo se já existem deve-se evitar a sua progressão ou agravamento. O fortalecimento abdominal, far-se fazendo exercícios de flexão de tronco. A espasticidade que ocorre em alguns membros, não é completamente eliminada, mas pode ser minimizada. As massagens, o relaxamento, exercícios passivos e/ou a contração forte para gerar maior relaxamento, são técnicas usadas para este fim. A colocação da criança em decúbito lateral serve essencialmente para estimular movimentos, na linha média impulsionando o equilíbrio e a estabilidade.

No jardim de infância os educadores devem desenvolver um trabalho no jardim-de- infância, que seja a continuidade da intervenção precoce, a única alteração, será que a este nível se pretenda que a criança se saiba adaptar e integrar socialmente num grupo normalizado.

Nesta ocasião, o ensino torna-se muito mais individualizado e adequado ao ritmo que cada um for capaz de manter. Desenvolve-se um trabalho similar ao das outras crianças, contudo, trabalhar-se as questões relacionadas com a motricidade grossa, esquema corporal e motricidade fina.

Relativamente, à motricidade grossa e esquema corporal: a criança deve aprender a conhecer bem o seu corpo, as suas capacidades e incapacidades. Se precisar da cadeira de rodas para se movimentar, então deve explorar o melhor que puder a sua capacidade de movimento, fazendo exercícios em que possa experimentar o movimento do seu corpo no espaço, o movimento alternado dos membros, deve fazer corridas com a cadeira e rodá-la para vários lados, usar o travão, conseguir transferir-se da cadeira de rodas para a sanita, o chão ou para uma cadeira normal.

Não menos importantes são os exercícios que desenvolvem a motricidade fina, pois normalmente estas pessoas demonstram problemáticas associadas ao tónus muscular e ao controlo postural, mostrando-se um entrave para uma das atividades mais importantes, que é a escrita, a sua motricidade fina encontra-se portanto limitada.

Quanto ás condições de aquisição da escrita não são as mesmas dos restantes meninos, por isso será necessário conceber algumas estratégias, para lhes facilitar essa mesma aquisição, faz-se exercícios de manipulação e adaptações aos materiais escolares, assim como exercícios que provoquem uma maior destreza manual, tais como, o uso da pinça polegar indicador, segurar o lápis com bastante pressão, procurar uma posição adequada da mão em relação ao braço e dos dedos em relação à mão.

Na escola primária os problemas destas crianças não são os mesmos, no 1º ciclo ou no jardim-de-infância ou na pré–primária. Entre os 7 ou 8 anos estas crianças estabilizam a sua situação revelando no entanto um ligeiro atraso escolar, diferenciando- os pouco dos colegas do grupo onde se encontram inseridos. Nesta fase não estão tão sujeitos a intervenções cirúrgicas, por isso não faltam tanto, de qualquer forma, continuam a precisar de muito apoio ao longo do 1º ciclo para reduzir problemas psicológicos, como por exemplo: dificuldades de linguagem, de orientação, simbolização, memória e atenção. Todos estes problemas podem ser ultrapassados com exercícios simples, a realizar na sala de aula ou em sessões de apoio.

Dadas as circunstâncias estas crianças normalmente são mais lentas em termos de aprendizagem é importante que se estabeleça um sistemático contacto entre elas, o professor e os pais, para que qualquer problema que possa surgir possa ser mais facilmente ultrapassado. O tipo de exercícios a serem feitos por estas crianças é importante fazê-los de modo distinto e deve-se cuidar de todas as outras áreas de uma forma geral, o desenvolvimento da memória é fundamental.

O grandioso objetivo da ação educativa é a integração social do aluno e a sua normalização dentro um grupo. E deve-se ter sempre uma atitude realista, que não interfira nas atividades normais dos alunos, os apoios deverão ser iniciados o mais cedo possível, sendo fundamental a colaboração dos pais.

Estas crianças têm limitações ao nível motor, encontram-se privados em áreas sensoriais, cognitivas e/ou emocionais. De acordo com Pico e Vayes existe um estreito relacionamento entre o desenvolvimento das funções motoras e do desenvolvimento das funções psíquicas. ―Quanto mais numerosas e mais ricas forem as situações vividas pelas crianças, maior será o número de esquemas por ela adquiridos.‖ (Lagrange, 1977) Logo, a psicomotricidade como ciência da educação, procura educar o movimento, ao mesmo tempo que desenvolve as funções, a inteligência e o afeto.