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Práticas pedagógicas, adequações curriculares e apoios educativos no

Parte II – Estudo Empírico

Capítulo 2 – Investigação: Estudo de Caso

2.3. A história de vida da aluna

2.3.4. Práticas pedagógicas, adequações curriculares e apoios educativos no

Esta investigação científica no âmbito da inclusão de uma jovem com Espinha Bífida – Mielomeningocelo Lombo-sagrado e atraso no desenvolvimento global, numa escola regular, num Centro de Formação e reabilitação profissional (CERCIMARANTE) e depois no mercado de trabalho. A transição da escola para o emprego é uma questão importante para todos os jovens, mais ainda para os que apresentam necessidades educativas especiais.

Assim, a inclusão desta jovem nas duas instituições e no mercado de trabalho não se pode dissociar das adequações curriculares, práticas pedagógicas ou apoios educativos desenvolvidos ao longo do seu percurso escolar. Pois, as adequações curriculares, o PEI, o PIT e os apoios estruturados têm de ser realizados pensando na

discente, focalizando-se no progresso da aluna, nos interesses, necessidades e ir introduzindo as mudanças necessárias ao longo da situação escolar de modo a esta ter uma perfeita inclusão no mercado de trabalho.

Então vamos refletir sobre as adequações curriculares feitas no seu percurso escolar e o seu efeito no seu posto de trabalho (vida adulta).

Na escola regular e Cercimarante ao elaborar o seu currículo não se focaram somente no ensino dos conteúdos académicos, mas também nas competências sociais, e obviamente, nas competências vocacionais. As adaptações curriculares constituem possibilidades educacionais de atuar frente às dificuldades de aprendizagem dos alunos, neste caso tiveram de se utilizar métodos muito específicos tornando-os apropriados às particularidades desta aluna.

No decorrer dos anos na escola regular e Cercimarante, em conjunto com a equipa multidisciplinar, a aluna, a família e os profissionais trabalharam na formalização de um plano individual, pois o grande objetivo era formar no futuro uma adulta de sucesso, de modo a que ela venha a trabalhar em diferentes lugares, a completar tarefas e a assumir responsabilidades que correspondam às suas competências.

Assim, as competências aplicadas no ensino regular visaram apoiar o processo educativo, reajustar os projetos curriculares e selecionar metodologias em função das necessidades educativas funcionais da aluna. Tendo em atenção às suas principais áreas de desenvolvimento: cognitivo, motor, social e autónomo, estas foram trabalhadas da seguinte forma:

- A prioridade dos conteúdos é que garantam a funcionalidade e que sejam essenciais e instrumentais para as aprendizagens posteriores, como por exemplo, o desenvolvimento da linguagem, compreensão verbal, o conceito de tempo, manusear o dinheiro e planear a sua utilização …

- Enfatizar as capacidades e habilidades básicas de atenção, adaptabilidade e participação, como por exemplo, ter um comportamento social ajustado e com iniciativa, ser persistente, responsável e atenta nas tarefas …

- Desenvolver a parte motora passível de aperfeiçoamento, como a coordenação óculo-manual e funcionalidade dos membros superiores.

- Melhorar a sua autonomia ao nível da alimentação e higiene, principalmente na utilização da casa de banho, vestir/despir, escovar os dentes, ou seja tratar da sua aparência e cuidados a ter com o vestuário.

Todas estas áreas foram implementadas no seu PEI/PIT por entendermos a relevância destas atividades na vida diária e a importância das mesmas para a sua transição para a vida ativa. A aluna chegou ao final do terceiro ciclo com uma aquisição satisfatória das competências, obtendo assim o seu certificado de frequência.

Neste momento a equipa da educação especial contactou a Cercimarante e esta fez uma avaliação (competências e vocação) à aluna e considerou adequado encaminha- la para o curso de formação - Assistente administrativo.

Este era um curso com nível dois no quadro nacional de qualificação que foi desenvolvido ao abrigo da tipologia de intervenção 6.2 - Qualificação de Pessoas com Deficiência ou Incapacidade do POPH - Programa Operacional Potencial Humano, sendo o IEFP, IP (Instituto do Emprego e Formação Profissional, Instituto Público) o organismo intermédio.

O perfil a obter no final do curso, permite tornar-se Assistente Administrativo profissional, executar sob supervisão, tarefas administrativas relativas ao funcionamento de uma empresa ou serviço público, seguindo procedimentos estabelecidos.

Então as competências a trabalhar na aluna, além das competências sociais e de autonomia, foram as aprendizagens das atividades principais de uma empresa nesta área, impulsionando assim a jovem para o mercado de trabalho:

- Executar tarefas relacionadas com o expediente geral da empresa ou serviço público, de acordo com procedimentos estabelecidos, utilizando equipamento informático e utensílios de escritório.

- Preencher e conferir documentação simples de apoio à atividade comercial, designadamente requisições, guias de remessa e outros. Registar e atualizar dados manualmente ou utilizando aplicações informáticas específicas da área administrativa.

- Atender e encaminhar, telefónica ou pessoalmente, o público interno e externo à empresa ou serviço público, nomeadamente clientes, fornecedores e funcionários em função do tipo de informação ou serviço pretendido.

- Efetuar o serviço de estafeta interno e externo da empresa e/ou serviço público, designadamente na entrega e recolha de documentação e/ou mercadoria.

Na Cercimarante o currículo foi direcionado diretamente para o mercado de trabalho, complementando o currículo da escola regular, conseguindo-o com sucesso, pois só o facto da aluna se encontrar a trabalhar, sentir-se incluída e realizada a nível profissional, espelha que o trabalho realizado pelos técnicos, professores e familiares foram os mais adequados.

Em ambas as instituições os professores especializados com a parceria da psicóloga escolar, planificaram os programas/medidas de intervenção psicopedagógicas adequadas à discente, no entanto, na escola regular não houve um apoio mais direto devido à limitação de horário da psicóloga e por esta não considerar necessário.

Assim, estamos perante um exemplo de como os professores, os técnicos e a família enalteceram as competências da aluna e a sua autoestima.