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Investimento social: origem e aplicação

No documento flaviamonfort (páginas 49-52)

O investimento social tende a ser realizado, cada vez mais, a partir da própria realidade onde ele é necessário. Organizações latino-americanas, por

exemplo, não devem mais aguardar por investimento estrangeiro em suas iniciativas. O desenvolvimento deve ser mais participativo, nativo, gerado a partir das nações onde as necessidades foram geradas.

Hoje há 14 bilionários na Rússia, oito na Índia, sete no Oriente Médio, três em Hong-Kong e um na América Latina.

E o que eles querem? Eles querem ver a transformação social acontecer enquanto estão vivos. São pessoas que conseguiram enriquecer durante sua vida profissional. Não são herdeiros de fortunas. Para eles, o tempo é agora. Suas decisões são baseadas em valores humanos. Percebem que o investimento social é um bom negócio tanto para aliar credibilidade a sua marca quanto para promover mudanças sociais.

É nesse contexto que surge o conceito de filantropia 4.0, criado pela russa Olga Alexeeva, diretora da CAF Global Trustees. (…) A filantropia 4.0 é a evolução de uma filantropia tradicional. Assim, a filantropia 1.0 representa a filantropia dos primeiros doadores que buscavam contemplar a sociedade com uma infra-estrutura que atendesse as necessidades de escolas, universidades, museus, bibliotecas. A filantropia 2.0 representa a filantropia introduzida pelos grandes doadores do inicio do Século XX, em que fundos patrimoniais foram alocados para cobrir as necessidades sociais presentes e futuras que estivessem no foco de atuação de uma fundação. Ela teria permanência no tempo, e fundos para garantir a sua sustentabilidade futura. A filantropia 3.0 é uma filantropia feita pelas mesmas organizações doadoras descritas no item anterior, e que decidem assumir uma face mais global, internacionalizando suas operações para países ou regiões do mundo, porém com o viés de ser uma atuação do Norte para o Sul. A filantropia 4.0 que está no título deste artigo é uma filantropia que se caracteriza não mais pelo fluxo de fundos de países desenvolvidos para o Sul Global, mas pelo desenvolvimento da filantropia autóctone dos paises em desenvolvimento gerando modelos e transformações sociais que podem ser úteis numa escala global.

(…)

É isso que é a filantropia 4.0: é o investimento social global, na qual recursos do Sul Global são investidos na própria região e que a maior troca entre o Sul e o Norte é a de conhecimento. É a globalização da economia gerando a globalização do conhecimento e, em conseqüência, a globalização da filantropia. (KISIL, 2007) Nesse contexto, aos poucos as corporações brasileiras verão aumentada a sua responsabilidade sobre o destino de suas comunidades, pois é delas que se esperará o investimento, não apenas financeiro, mas de esforços e recursos outros que poderão trazer impacto para as comunidades e, num pensamento mais estratégico do ponto-de-vista corporativo, para o próprio desenvolvimento da economia e dos negócios brasileiros.

Os questionamentos éticos ao comportamento de pessoas, organizações e instituições estão na ordem do dia no Brasil e no mundo, neste início do século XXI, como era previsível. Chegou-se a esta situação pela convergência de pelo menos dois fatores independentes: de um lado, a busca de qualidade de vida para as atuais e futuras gerações e, de outro, o grande avanço de tecnologia na área da informação e comunicação. O primeiro fator tem sua origem temporal na revolução dos jovens pela liberdade, no final da década de 60, à qual se somaram outros vetores com a mesma direção nos anos 70: a proteção do meio ambiente, deflagrada pela Conferência de Estocolmo; o sucesso do movimento de defesa do consumidor iniciado por Ralph Nader; as exigências de ética e transparência política e empresarial nos Estados Unidos a partir do caso Watergate e do escândalo Lockheed, e a conseqüente proliferação de organizações não-governamentais e órgãos públicos com esses focos. O segundo fator – avanço da tecnologia – possibilitou a transmissão e o conhecimento muito rápido (às vezes em tempo real) da atitude e do comportamento de pessoas, organizações e instituições, gerando julgamentos e posicionamentos da opinião pública que podem comprometer o futuro de quem foge aos padrões aceitáveis pela maioria ou por parcelas significativas da sociedade. (NASSAR, 2005, p 104)

Por essa razão, é importante que as organizações sociais estejam preparadas para a demanda de corporações que estarão, legitimamente ou não, interessadas na evolução de seus empreendimentos. Principalmente, essas organizações precisarão estar fortemente capacitadas para enfrentar certa “concorrência”, se é que se pode utilizar esse termo no campo da assistência social. Devem ser capazes de obter espaço, alcançar boa exposição perante a sociedade, ser reconhecidas pelas pessoas, apresentar excelência na gestão, ter coerência na condução dos projetos, demonstrar transparência e boas práticas. Enfim, para essas organizações, não bastará “parecer” que são bem geridas. Elas deverão, de fato, ser bem geridas, pois a sociedade criará mais e mais mecanismos para observar a condução dessas organizações.

Dois fenômenos, a nosso ver, passaram a ditar necessidades de um modelo mais completo de comunicação nas empresas: a) o despertar da consciência de participação do cidadão comum, num esforço de elevação do espírito individual e b) a tentativa dos dirigentes empresariais e governamentais em iniciar uma nova fase na vida de suas instituições, a fase da informação responsável, necessária para a obtenção do consenso entre os empregados, liderados, comunidades e consumidores em geral.

Percebeu-se que os fenômenos sociais e a maneira de viver não se regem apenas pela economia, como por muito tempo se acreditou.

Dentro deste novo universo de relações, a expressão “crescimento econômico” vem cedendo, progressivamente, lugar ao termo “desenvolvimento socioeconômico”. No lado das organizações, os dirigentes começaram a tomar consciência de que os objetivos de suas empresas não são apenas o lucro, na medida em que o exercício de sua responsabilidade social garante e viabiliza a continuidade e a expansão organizacional, sem as pressões e resistências sociais. Constatam, igualmente, que são tributários do meio ambiente, dependem de consumidores que, eventualmente, podem contestar o produto fabricado e, deste modo, passam a relacionar a sobrevivência e o crescimento de suas empresas a aspectos fundamentais da vida (a destruição da natureza ou da paisagem, as condições da vida do meio ambiente, a urbanização das cidades, a promoção cultural, etc.). (TORQUATO, 1986. p. 73) Assim, pode-se dizer que foi-se o tempo em que produzir boa imagem era suficiente para obter atenção de interessados e possíveis financiadores. Hoje, é necessário recriar a identidade das organizações, para que estejam alinhadas aos objetivos da economia de mercado e consigam realizar bons negócios com o primeiro e o segundo setores.

Da mesma forma que muitas empresas já selecionam seus parceiros e fornecedores de acordo com a maneira como operam práticas com funcionários e com a comunidade, as instituições sem fins lucrativos também serão selecionadas com base não apenas na forma como conduzem seu negócio, mas em como esse negócio está alinhado às práticas do mercado.

No documento flaviamonfort (páginas 49-52)

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