O investimento social tende a ser realizado, cada vez mais, a partir da própria realidade onde ele é necessário. Organizações latino-americanas, por
exemplo, não devem mais aguardar por investimento estrangeiro em suas iniciativas. O desenvolvimento deve ser mais participativo, nativo, gerado a partir das nações onde as necessidades foram geradas.
Hoje há 14 bilionários na Rússia, oito na Índia, sete no Oriente Médio, três em Hong-Kong e um na América Latina.
E o que eles querem? Eles querem ver a transformação social acontecer enquanto estão vivos. São pessoas que conseguiram enriquecer durante sua vida profissional. Não são herdeiros de fortunas. Para eles, o tempo é agora. Suas decisões são baseadas em valores humanos. Percebem que o investimento social é um bom negócio tanto para aliar credibilidade a sua marca quanto para promover mudanças sociais.
É nesse contexto que surge o conceito de filantropia 4.0, criado pela russa Olga Alexeeva, diretora da CAF Global Trustees. (…) A filantropia 4.0 é a evolução de uma filantropia tradicional. Assim, a filantropia 1.0 representa a filantropia dos primeiros doadores que buscavam contemplar a sociedade com uma infra-estrutura que atendesse as necessidades de escolas, universidades, museus, bibliotecas. A filantropia 2.0 representa a filantropia introduzida pelos grandes doadores do inicio do Século XX, em que fundos patrimoniais foram alocados para cobrir as necessidades sociais presentes e futuras que estivessem no foco de atuação de uma fundação. Ela teria permanência no tempo, e fundos para garantir a sua sustentabilidade futura. A filantropia 3.0 é uma filantropia feita pelas mesmas organizações doadoras descritas no item anterior, e que decidem assumir uma face mais global, internacionalizando suas operações para países ou regiões do mundo, porém com o viés de ser uma atuação do Norte para o Sul. A filantropia 4.0 que está no título deste artigo é uma filantropia que se caracteriza não mais pelo fluxo de fundos de países desenvolvidos para o Sul Global, mas pelo desenvolvimento da filantropia autóctone dos paises em desenvolvimento gerando modelos e transformações sociais que podem ser úteis numa escala global.
(…)
É isso que é a filantropia 4.0: é o investimento social global, na qual recursos do Sul Global são investidos na própria região e que a maior troca entre o Sul e o Norte é a de conhecimento. É a globalização da economia gerando a globalização do conhecimento e, em conseqüência, a globalização da filantropia. (KISIL, 2007) Nesse contexto, aos poucos as corporações brasileiras verão aumentada a sua responsabilidade sobre o destino de suas comunidades, pois é delas que se esperará o investimento, não apenas financeiro, mas de esforços e recursos outros que poderão trazer impacto para as comunidades e, num pensamento mais estratégico do ponto-de-vista corporativo, para o próprio desenvolvimento da economia e dos negócios brasileiros.
Os questionamentos éticos ao comportamento de pessoas, organizações e instituições estão na ordem do dia no Brasil e no mundo, neste início do século XXI, como era previsível. Chegou-se a esta situação pela convergência de pelo menos dois fatores independentes: de um lado, a busca de qualidade de vida para as atuais e futuras gerações e, de outro, o grande avanço de tecnologia na área da informação e comunicação. O primeiro fator tem sua origem temporal na revolução dos jovens pela liberdade, no final da década de 60, à qual se somaram outros vetores com a mesma direção nos anos 70: a proteção do meio ambiente, deflagrada pela Conferência de Estocolmo; o sucesso do movimento de defesa do consumidor iniciado por Ralph Nader; as exigências de ética e transparência política e empresarial nos Estados Unidos a partir do caso Watergate e do escândalo Lockheed, e a conseqüente proliferação de organizações não-governamentais e órgãos públicos com esses focos. O segundo fator – avanço da tecnologia – possibilitou a transmissão e o conhecimento muito rápido (às vezes em tempo real) da atitude e do comportamento de pessoas, organizações e instituições, gerando julgamentos e posicionamentos da opinião pública que podem comprometer o futuro de quem foge aos padrões aceitáveis pela maioria ou por parcelas significativas da sociedade. (NASSAR, 2005, p 104)
Por essa razão, é importante que as organizações sociais estejam preparadas para a demanda de corporações que estarão, legitimamente ou não, interessadas na evolução de seus empreendimentos. Principalmente, essas organizações precisarão estar fortemente capacitadas para enfrentar certa “concorrência”, se é que se pode utilizar esse termo no campo da assistência social. Devem ser capazes de obter espaço, alcançar boa exposição perante a sociedade, ser reconhecidas pelas pessoas, apresentar excelência na gestão, ter coerência na condução dos projetos, demonstrar transparência e boas práticas. Enfim, para essas organizações, não bastará “parecer” que são bem geridas. Elas deverão, de fato, ser bem geridas, pois a sociedade criará mais e mais mecanismos para observar a condução dessas organizações.
Dois fenômenos, a nosso ver, passaram a ditar necessidades de um modelo mais completo de comunicação nas empresas: a) o despertar da consciência de participação do cidadão comum, num esforço de elevação do espírito individual e b) a tentativa dos dirigentes empresariais e governamentais em iniciar uma nova fase na vida de suas instituições, a fase da informação responsável, necessária para a obtenção do consenso entre os empregados, liderados, comunidades e consumidores em geral.
Percebeu-se que os fenômenos sociais e a maneira de viver não se regem apenas pela economia, como por muito tempo se acreditou.
Dentro deste novo universo de relações, a expressão “crescimento econômico” vem cedendo, progressivamente, lugar ao termo “desenvolvimento socioeconômico”. No lado das organizações, os dirigentes começaram a tomar consciência de que os objetivos de suas empresas não são apenas o lucro, na medida em que o exercício de sua responsabilidade social garante e viabiliza a continuidade e a expansão organizacional, sem as pressões e resistências sociais. Constatam, igualmente, que são tributários do meio ambiente, dependem de consumidores que, eventualmente, podem contestar o produto fabricado e, deste modo, passam a relacionar a sobrevivência e o crescimento de suas empresas a aspectos fundamentais da vida (a destruição da natureza ou da paisagem, as condições da vida do meio ambiente, a urbanização das cidades, a promoção cultural, etc.). (TORQUATO, 1986. p. 73) Assim, pode-se dizer que foi-se o tempo em que produzir boa imagem era suficiente para obter atenção de interessados e possíveis financiadores. Hoje, é necessário recriar a identidade das organizações, para que estejam alinhadas aos objetivos da economia de mercado e consigam realizar bons negócios com o primeiro e o segundo setores.
Da mesma forma que muitas empresas já selecionam seus parceiros e fornecedores de acordo com a maneira como operam práticas com funcionários e com a comunidade, as instituições sem fins lucrativos também serão selecionadas com base não apenas na forma como conduzem seu negócio, mas em como esse negócio está alinhado às práticas do mercado.