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CAPÍTULO 3 AS INICIATIVAS EM PORTUGAL EM PROL DO

3.1. Investimentos Nacionais e Estrangeiros – IDE

O Investimento Directo Estrangeiro (IDE), como é geralmente entendido, traduz-se no controlo maioritário ou minoritário e na participação nos órgãos directivos de uma empresa. O investimento estrangeiro tem sido um dos principais motores desta indústria.

O IDE, para além da transferência de recursos financeiros, constitui um instrumento essencial no processo de globalização das empresas portuguesas não só pelos seus efeitos directos, essencialmente quantitativos, de aplicação de capital em projectos potencialmente rentáveis, mas também pelos efeitos indirectos, mais qualitativos:

• transferência de tecnologia para melhorar a inovação nacional;

transferência de know-how de gestão e competências de desenvolvimento do capital humano;

• estímulo à competição na economia nacional para melhoria da produtividade;

• a integração da nossa economia em cadeias internacionais de fornecimento, incrementando as exportações e promovendo economias de escala47.

Estas transferências destinam-se a unidades produtivas, na vida das quais o investidor estrangeiro intervém directamente. O investidor é uma empresa que visa a extensão geográfica, horizontal ou vertical, das suas actividades e que permite um certo grau de influência (Guerra, 1990). No caso das multinacionais americanas, a transferência realiza-se entre os OEM’s e as suas filiais. O sentido deste fluxo sugere uma grande centralização das actividades de I&D por parte dos construtores.

Nos últimos anos, os investimentos na indústria automóvel têm registado em Portugal uma dinâmica muito positiva, sendo fortemente apoiados pelas autoridades nacionais.

Quadro 9 - Investimentos estrangeiros em anos recentes em Portugal na I. A.( AICEP, 2000 e Inteli, 2000)

Após um longo período de ausência dos grandes grupos económicos internacionais no nosso país, os projectos de investimento estrangeiro na indústria automóvel (Renault e AutoEuropa) contribuíram para o estabelecimento e dinamização de redes de fornecedores. Dessa rede faziam parte empresas de componentes de capital nacional ou estrangeiro.

Foi sobretudo na indústria de componentes (p.e. no segmento da electrónica de consumo) que se verificou o regresso do investimento estrangeiro: a Ford escolheu a região de Palmela para implantar a sua segunda unidade de auto-rádios da Europa. A GM através de duas associadas, INLAN e CABLESA criou duas novas unidades industriais viradas para a exportação. A BENDIX fez um investimento de uma unidade para produção de 4.000 travões/dia e a DBA instalou uma fábrica de eixos.

No período entre 1988 e 1992 foi a Renault que realizou, no âmbito do PEDIP I, o maior volume de investimentos na indústria automóvel nacional sobretudo no que respeita às missões de produtividade, de qualidade, design e protecção do ambiente.

Quadro 10 – Pedip 1 – Investimentos na Indústria Automóvel – 1988/1992 (milhares de escudos)

Com o anúncio do projecto FORD-VW, as expectativas dos industriais de componentes foram-se dissipando. O projecto foi mobilizador, na medida em que deu lugar a estratégias de cooperação entre empresas nacionais e investidores europeus, que instalaram trinta e cinco novas unidades de produção de componentes automóveis, das quais doze eram joint-ventures.

Este princípio de aliança estratégica, conduziu a um grau de especialização das empresas, que dificilmente seria possível alcançar em tão curto espaço de tempo pelos seus próprios meios.

Todavia, o investimento da AutoEuropa constituiu o culminar do período de boom do investimento estrangeiro na indústria automóvel em Portugal, com implicações na globalidade da economia (tendo representado em 1997 2,5% do PNB). A AutoEuropa induziu um conjunto de investimentos por parte de empresas estrangeiras, a maior parte das quais necessárias ao fornecimento de componentes ao sistema AutoEuropa.

No âmbito da Operação Integrada de Desenvolvimento da Península de Setúbal (OID/PS), o montante de investimento apoiado atingiu os 555 milhões de contos, dos quais cerca de 116 milhões de contos corresponderam a incentivos.

O investimento realizado pela AutoEuropa representou cerca de 82% do investimento total (454 milhões de contos) e 77% do total dos incentivos (89 milhões de contos).

Quadro 11– Investimentos no âmbito da OID/PS – 1989/1992 (Vale – 1999:352)

Estes investimentos atraíram investidores estrangeiros e permitiram que grupos como a Continental, a Delco-Remy (GM), a Samsung, a Cofap-Brasil, a Pepsico (EUA), a Valmet (Finlândia), a Ford Motor Co. e a Sommer-Allibert investissem em Portugal. Após a instalação da AutoEuropa verificou-se uma onda de investimentos estrangeiros na indústria de componentes, que resultou do facto desta empresa aconselhar os fornecedores estrangeiros a instalarem-se em Portugal tendo em vista o abastecimento sequencial da linha de montagem. São exemplos desta deslocação de IDE para Portugal os investimentos da Ford Electrónica Portuguesa, actual Visteon, e da Lear Corporation.

Quadro 12 48 – O projecto AutoEuropa:principais investimentos estrangeiros no fabrico de componentes

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Enquanto as negociações do Projecto AutoEuropa ainda decorriam, outros construtores europeus abordaram Portugal com a mesma intenção. De salientar os exemplos da Daimler Benz e da Swatch para a realização de uma joint-venture na construção do chamado swatchmobile, apesar de as localizações oferecidas por Portugal terem sido preteridas a favor da Lorena francesa.

A importância dos investimentos induzidos pela AutoEuropa justificam a relevância dos concelhos da Península de Setúbal nos investimentos ao abrigo do PEDIP II e POE (Chorincas, 2002).

Figura 14- Investimentos no foco do cluster automóvel no âmbito do POE (Ministério da Economia)

Por fim como projecto mobilizador importante identificámos uma iniciativa estratégica e estruturante para o desenvolvimento da indústria automóvel em Portugal. Referimo- nos ao projecto P3 potenciador das competências e capacidades das empresas portuguesas em concepção e engenharia de produto (CCDRN, 2004) e que tinha como objectivo a captação de IDE em áreas de design e desenvolvimento, mas entretanto abandonado.