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C APÍTULO III – D ESCONSIDERAÇÃO DA P ESSOA J URÍDICA NO D IREITO E MPRESARIAL

7. D IREITO A MBIENTAL

Conforme salienta ALEXANDRE DE MORAES353, não obstante a

preocupação com o meio ambiente seja antiga em vários ordenamentos jurídicos, inclusive nas Ordenações Filipinas, as Constituições brasileiras anteriores,

352 Bruschi, Gilberto Gomes. Op. cit., p. 71.

diferentemente da atual que destinou um capítulo para sua proteção, com ele nunca se preocuparam.

Para ÉDIS MILARÉ354, essa previsão representa um marco histórico de inegável valor, dado que as Constituições que precederam a de 1988 jamais se preocuparam com a proteção do meio ambiente de forma específica e global. Nelas sequer uma vez foi empregada a expressão “meio ambiente”, a revelar total despreocupação com o próprio espaço em que vivemos.

Segundo RAUL MACHADO HORTA355, com o objetivo de possibilitar a ampla

proteção do meio ambiente, a constituição previu diversas regras, divisíveis em quatro grandes grupos:

“Regra de garantia: qualquer cidadão é parte legítima para a propositura da ação popular, visando anulação de ato lesivo ao meio ambiente (CF, art. 5°, LXXIII); Regras de competência: a Constituição Federal determina ser de competência administrativa comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (CF, art. 23) proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos (inciso III); bem como proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas (inciso VI); preservar as florestas, a fauna e a flora (inciso VII). Além disso, existe a previsão de competência legislativa concorrente entre União, Estados e Distrito Federal (CF, art. 24) para proteção das florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição (inciso VI); proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico (inciso VII); responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao

354 Milaré, Édis. Legislação Ambiental do Brasil, p. 3.

consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (inciso VIII). Igualmente, o Ministério Público tem como função institucional promover o inquérito civil e a ação civil pública, inclusive para a proteção do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (CF, art. 129, III); Regras gerais: a Constituição estabelece difusamente diversas regras relacionadas à preservação do meio ambiente (CF, arts. 170, VI; 173, § 5°;174, § 3°;186, lI; 200, VIII; 216, V; 231, § 1°); Regras específicas: encontram-se no capítulo da Constituição Federal destinado ao meio ambiente.

Apesar do ordenamento jurídico brasileiro já contemplar diversas normas que têm por fim a proteção do meio ambiente356, apenas dez anos após a promulgação da Constituição Federal de 1988, o Congresso Nacional editou a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que estabeleceu sanções penais e administrativas para as condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, especialmente no seu artigo 4º, adotando a teoria da desconsideração da personalidade jurídica para os casos em que a pessoa jurídica se coloque como um obstáculo ao justo ressarcimento dos danos causados ao meio ambiente.

Segundo VALDIR SZNICK357 a lei ambiental seguiu quase que integralmente o quanto disposto no artigo 28, § 5º, do Código de Defesa do Consumidor, colocando como parâmetro a necessidade de reparação dos prejuízos causados ao meio ambiente, especialmente nos casos de falência,

insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica.

Já para FÁBIO ULHOA COELHO358, a legislação ambiental não contempla

os mesmos equívocos encontrados nas legislações consumeirista e antitruste,

356 Lei n° 4.771/65 (Código Florestal), Lei n° 5.197/67 (Lei de proteção à fauna) e a Lei n° 6.938/81 (que dispõe sobre a política nacional de meio ambiente).

357 Sznick, Valdir. Direito Penal Ambiental, p. 109.

uma vez que inexiste confusão entre a desconsideração e outras figuras do direito societário:

“Desta feita, não cabe criticar o legislador por confundir a desconsideração com outras figuras societárias, impropriedade em que incorreu ao editar o Código de Defesa do Consumidor e a Lei Antitruste.”

E arremata:

“Mas não se pode, também, interpretar a norma em tela em descompasso com os fundamentos da teoria maior. Quer dizer, na composição dos danos à qualidade do meio ambiente, a manipulação fraudulenta da autonomia patrimonial não poderá impedir a responsabilização de seus agentes. Se determinada sociedade empresária provocar sério dano ambiental, mas, para tentar escapar à responsabilidade, os seus controladores constituírem nova sociedade, com sede, recursos e pessoal diversos, na qual passem a concentrar seus esforços e investimentos, deixando a primeira minguar paulatinamente, será possível, por meio da desconsideração das autonomias patrimoniais, a execução do crédito ressarcitório no patrimônio das duas sociedades.”

Nessa linha, GILBERTO GOMES BRUSCHI359 salienta que:

“Caso os administradores de uma empresa que causar dano ao meio ambiente, tentarem se eximir de sua responsabilidade, constituindo uma nova empresa, de modo a dificultar o ressarcimento do dano ambiental, é autorizado por lei e totalmente possível que a execução recaia sobre o patrimônio pessoal daqueles que por ela responderem. Entretanto, tal

dano não pode, em hipótese alguma, ter sido imputado aos agentes, para que seja possível a desconsideração.”

Para IVAN LIRA DE CARVALHO360 muitos aspectos da lei ambiental

merecem destaque, especialmente o quanto disposto no seu artigo 4°, e, valendo- se da opinião de ANTÔNIO SILVEIRA R. DOS SANTOS, afirma que:

“Já seu art. 4° diz que ‘poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente’. Isso é muito importante, pois a aplicação desse instituto permite à Justiça inibir a fraude de pessoas que utilizam as regras jurídicas das sociedades para fugir de suas responsabilidades ou mesmo agir fraudulentamente.”

No que se refere à efetiva proteção ao meio ambiente e à legislação ambiental nacional, WILLIAM FREIRE361 faz importante ressalva:

“A efetiva proteção do meio ambiente exige a conjugação de esforços dos três poderes: O legislativo, dotando o país de novos instrumentos de proteção ambiental; o Executivo, criando aparelhamento administrativo suficiente para exigir o cumprimento das leis; e o Judiciário, como poder auxiliar adicional para os casos em que a sanção administrativa não tenha coerção suficiente para inibir o infrator. Quanto ao primeiro aspecto, a legislação ambiental nacional, se não é perfeita, tenta acompanhar a tendência mundial e hoje já oferece instrumentos suficientes e eficazes para coibir a poluição ambiental. Resta, então, aos órgãos ambientais e ao Judiciário – respeitando os princípios da legalidade e da

360 Carvalho, Ivan Lira de. A Empresa e o Meio Ambiente, pp. 38-39. 361 Freire, William. Direito Ambiental Brasileiro, p. 15.