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3.1 Os Atores Sociais no Espaço Cotidiano

3.1.3 Isidoro Vivaldino Pivetta e Dilla Pivetta

Isidoro

Nós viemos em 1981. Quando eu cheguei haviam duas casas, mas não eram boas. Uma à esquerda, depois que chega à ponte do Rio [Verde], ali tinha uma família que veio do sul e à direita tinha três ou quatro estabelecimentos do Exército, porque eram eles que cuidavam da estrada, que faziam a estrada, patrolavam.

Eu vim do Sul, vim de Caiçara, Rio Grande do Sul. No tempo que eu saí, já era município, mas pertencia à Frederico Westphalen. De Frederico Westphalen para ir à Caiçara eram doze quilômetros. Aí foi o seguinte... eu havia vendido minhas coisas lá, mas com

na outra semana, na segunda-feira.

Nós viemos para conhecer aqui, mas quando nós chegamos no Posto do Gil, havia uma porteira e os militares do Exército deixavam passar quando dava. Quando nos chegamos ali estava fechado, paramos e fomos conversar com eles, nos disseram que dava para ir, que as pessoas estavam passando, mas era difícil, se a gente quisesse ir podia ir, mas não íamos chegar. Eles falaram que iam colocar as máquinas para trabalhar na estrada em fim de maio de 1981, disseram que se a gente passasse no fim de junho estaria toda pronta a estrada. Mas mesmo assim decidimos experimentar ir, se não desse certo a gente voltava.

Então eles abriram o portão e nós viemos. Mas antes de chegar ali no Posto São João, antes de chegar naquela curva, não passamos mais, porque atolava. Tinha um jipe atrás, eles nos disseram “se vocês não passarem nós voltamos e te puxamos”, e eles foram na frente, eram uns cinqüenta metros de barro para passar. Eles já tinham uma corda dentro do carro e disseram que podiam ajudar se atolasse. Ainda, para frente tinha mais dois atoleiros para passar. Nós não aceitamos, não dava para ir de carro, decidimos voltar... Acabamos não conhecendo aqui, naquela época. Fui levar meu primo para casa e depois voltamos embora pro Sul.

Eu voltei em junho e estava tudo pronto, a estrada. E quando nós viemos olhar, só paramos ali no rio, onde era o Café da Hora, porque ainda não tinha ponte ali, e eu parei para ver, eles colocaram umas árvores, madeiras, que estavam firmes, e a gente passava por cima. Foi o único lugar que eu parei, porque o resto estava tudo certo, eles tinham arrumado tudo, a estrada estava pronta.

Nos primeiros meses nós moramos num acampamento que nós tínhamos, eles fizeram uma casinha, porque eu já tinha aqui um sobrinho, um neto e um irmão que já haviam comprado terra, e eles estavam Sorriso porque não tinha outro lugar para ir, aqui não tinha nada, e em Sorriso tinha umas trinta casas só. Eles haviam comprado terra há uns cem quilômetros para dentro e era só mato, não tinham nem picada, mas em poucos meses estava pronta a estrada para ir à terra. Então eles venderam e ficaram comigo aqui...

Dilla

Nós conhecemos primeiro, Primavera do Leste e Paranatinga, mas em comparação com aqui era caro comprar terra lá. Aquela estrada até Sorriso era difícil para passar. Se passasse com o carro podia entrar água dentro...

Os homens começaram a trabalhar e depois de dois anos nós viemos de mudança. Em 1983 nós viemos de mudança, mas em 1981 eles começaram a trabalhar, nesse tempo nós fazíamos duas viagens por ano, vinha e voltava. Até fazerem um barracão para podermos morar...

As dificuldades eram que, para comprar um quilo de carne tinha que ir á Sorriso, chegava em casa às dez da noite e tinha que fritar a carne para não estragar. Pegávamos o ônibus de madrugada, comprávamos uns quilos de carne para os peões, porque não dava para ficar sem carne, e tinha que ir comprar em Sorriso. Farinha pra fazer pão era em Sorriso, arrumar o trator, comprar parafuso ia para Primavera, comprávamos óleo em Primavera, às vezes a gente ia com uns latões no carro para buscar um pouco de óleo para o trator não parar de trabalhar. As estradas não eram boas, podia até atolar na poeira...

Nós gostamos do clima daqui, nós viemos porque meu marido tinha um problema de saúde e o médico recomendou de nós virmos morar em um lugar mais quente, para melhorar a circulação do sangue dele, por causa do derrame...

Para ir ao banco era em Diamantino, para telefonar e mandar carta pelo Correio também tinha que ir à Diamantino. Quando veio um PS em Sorriso foi uma beleza, porque passamos a fazer esse serviço por Sorriso. Por exemplo, para ir á Diamantino levava três dias para ir e voltar, porque os empréstimos no banco não ficavam prontos no mesmo dia, as estradas também não eram boas, o asfalto custou anos para chegar.

Para ir ao mercado era em Sorriso. A Lúcia Casonatto começou a vender batatinhas, repolho, abriu um mercadinho, isso foi uma beleza. Muitos anos depois um senhor começou a vender em um caminhão e nós íamos comprar carne nas sextas-feiras, mas muito depois...

Isidoro

Maquinário para comprar era só em Cuiabá, aqui não havia nada...

Dilla

Para arrumar um pneu de trator era em Primavera, antiga Primaverinha...

Para atendimento de saúde havia o SESP, era um posto bom, porque já estavam aqui os parceleiros, quando nós viemos de mudança. Então já havia sido montado um posto de

O trabalho era sofrido, na lavoura, com os funcionários, tinha que ter peão. Nós tínhamos que lavar roupa, fazer comida para os funcionários porque não tinha quem fizesse, não havia nada. Nós tínhamos água de poço, depois mais tarde compramos um motorzinho para ter luz de noite. Geladeira custou vir, porque tinha que vim de Cuiabá, e não tinha transporte, eram daquelas geladeiras que funcionavam á gás. Não era fácil...

Nós morávamos na fazenda, logo onde termina a cidade, na Fazenda Palmeira é bem pertinho. O padre vinha rezar a missa uma vez por mês nas fazendas, uma vez era no Valdemar [Aldemar Antônio Cosma], outra vez no Gemelli, nos outros, cada vez era em uma fazenda. Depois começou aqui em baixo na cidade, quando veio o Padre Lauro. Algumas pessoas gostavam jogar baralho para passar o tempo, os vizinhos se visitavam no domingo...

A vida era boa, nós saíamos, deixávamos as portas abertas, não tinha perigo nenhum. Íamos às casas dos vizinhos e quando a gente saía de casa nem fechava as postas do barracão, porque não entrava ninguém era tranqüilo, não tinha perigo nenhum. Era bom de morar aqui...

Isidoro

Aqui sempre foi bom de morar. Agora depois que abriu a fábrica, as coisas mudaram, mas antes era bom...

Dilla

Antigamente era bom, nós nem estranhamos quando viemos naquela época, acostumamos de morar aqui, era muito bom...

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