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ITAN DE EJIOKO

No documento Buzios 16 (páginas 33-37)

(1) Naquele tempo, os macacos não sabiam trepar em árvores e por este motivo viviam assustados e inseguros, pois eram presas fácil dos outros animais.

Resolveram consultar um Babalawo e na consulta surgiu Ejioko, que lhes determinou um ebó, composto de dois preás e comidas caseiras de vários tipos.

No mesmo dia, os macacos ofereceram o sacrifício e logo começou a chover copiosamente. O rio que passava perto do local onde se encontravam, avolumou-se e transbordando, inundou toda aquela região.

Apavorados, os animais corriam de um lado para outro, sendo irremediavelmente apanhados e arrastados pelas águas revoltas.

Foi então que os macacos, pela primeira vez, escalaram as árvores para não serem arrastados pelas águas e a partir deste dia, sempre que se sentem em perigo, é nos galhos mais altos dos arvoredos que encontram refúgio e segurança.

Este Itan indica que a pessoa passa por grandes dificuldades, insegurança e intranqüilidade. O ebó indicado trará ótimos resultados, com a proteção dos Ibeji.

Ebó: dois preás, arroz, feijão, farinha, etc., (comida preparada normalmente, como a que se faz para as pessoas da casa), duas velas, dois alguidares, cachaça. Os preás são sacrificados a Elegbara, no igba, as comidas são servidas nos dois alguidares e arriadas ao lado. Os preás são limpos e seus couros permanecem na casa de Eshú depois que o ebó tenha sido despachado no mato.

(2) Ha muito tempo, dois príncipes disputavam entre si, o trono de Abeokuta. O primeiro príncipe, chamado Kun, foi consultar Ifá, para saber de que forma poderia resolver favoravelmente a questão e na consulta surgiu Ejioko, que determinou que fosse oferecido um sacrifício a Eshú, de um etu e vários pregos, além de todas as coisas que fazem parte dos sacrifícios oferecidos a Eshu. Kin, no entanto, afirmou para si mesmo: “Não preciso oferecer nada a Eshú para que o trono de Abeokuta me seja entregue. Sou mais forte que

meu concorrente e vou derrota-lo numa luta corporal, resolvendo a questão definitivamente”.

O segundo príncipe, conhecido pelo nome de Koogun, também foi se ver com Ifá, saindo na sua consulta o mesmo Odu, que lhe recomendou oferecer o mesmo ebó.

Feito o ebó, Elegbara surgiu diante de Koogun e mandou que, no dia da decisão sobre quem iria ocupar o trono, vestisse uma roupa inteiramente branca e levasse consigo uma pequena bandeira da mesma cor.

No dia da decisão, os anciãos da tribo se reuniram na praça da cidade e todo o povo também se fez presente naquele local.

Kun foi o primeiro a chegar, trazendo nas mãos suas armas de guerra, completamente despido, com o corpo untado de óleo de palma, o que fazia ressaltar sua esplêndida musculatura.

Logo em seguida chegou Koogun, trajando asho funfun e acenando para todos com uma pequena bandeira branca.

Ao ver aquilo, Kun foi acometido de fúria incontrolável, lançando-se sobre seu adversário com a intenção de terminar logo com a questão.

Os anciãos, que a tudo assistiam, ordenaram que os guardas detivessem o impetuoso Kun e que o expulsassem da cidade por não saber respeitar os sinais de paz ostentados por Koogun.

Foi assim que, tendo seguido as orientações de Ifá, Koogun pode ser coroado rei de Abeokuta.

Este Itan indica que existe luta acirrada por bens ou posições e que o consulente deve, além de oferecer o ebó determinado, proceder com muita cautela e diplomacia, evitando qualquer tipo de confronto direto.

Ebó: Um etu, dois pregos de cumeeira, dendê, mel, oti, farinha crua, pano branco, efun. Prepara-se pade de mel, dendê e oti num mesmo alguidar, sacrifica-se o etu sobre Eshú e coloca-se arrumado no alguidar com o pade, cobre-se tudo com pó de efun. Os pregos de cumeeira recebem eje do etu e são colocados no igba de Eshú. Prepara-se uma bandeira branca, envolvendo-se o ebó em pano branco e despacha-se numa praça, com a bandeira branca espetada em cima.

(3) Um certo casal, apesar de se amarem muito, viviam brigando por absoluta falta de compreensão.

A desarmonia superava o amor e a convivência já era insuportável, por este motivo, foram procurar o Bokono do lugar, em busca de orientação.

Feita a consulta, surgiu Ejioko, que determinou um sacrifício composto de um casal de eyele funfun, fitas de várias cores, ori da costa, igbi meji, etc.

Como o casal não possuísse recursos suficientes, foi preciso que a mulher preparasse muito mingau de acaça, que o marido ia vender no mercado para obter dinheiro para o material do ebó.

Oferecido o ebó, o que só foi possível pelo trabalho conjunto do casal, voltou a reinar a paz e a compreensão entre os dois, que continuaram a trabalhar da forma que fizeram para obter o dinheiro do sacrifício.

Ebó: Um casal de pombos brancos, vários pedaços de fitas de cores diversas, dois igbi, mingau de acaça, um alguidar de tamanho médio. Unta-se o alguidar com bastante ori da costa, sacrifica-se os igbi deixando o soro escorrer sobre Elegbara, coloca-se os igbi dentro do alguidar, cobre-se com o mingau de acaça, sacrifica-se os eyele a Elegbara (eje no igba), arruma-se em cima, mel, dendê e oti, enfeita-se a gosto com as fitas coloridas, deixando-se no pé de Eshú por algumas horas e depois se leva a beira de um rio.

Este ebó deve ser feito com muito carinho, para reunir casais que estão separados, ou trazer paz aqueles que vivem brigando.

(4) Tela Oko era o nome de um príncipe que, apesar de ser um dos pretendentes ao trono de Arara, era muito pobre, sendo por este motivo, muito humilhado e desprezado pelos demais pretendentes a coroa.

Para poder sobreviver, Tela Oko tinha que trabalhar na roça como qualquer lavrador humilde, apesar de sua descendência nobre.

Certo dia, foi procurar o Oluwo do local, para fazer uma consulta, durante a qual surgiu Ejioko, pedindo, para Eshú, um ebó com galinhas, orogbo, um avental e uma enxada usada. Feito o ebó, passaram-se alguns dias, até que, ao roçar perto do local onde havia oferecido o sacrifício, Tela encontrou um poço muito fundo. Imediatamente convocou os companheiros que trabalhavam nas cercanias, que o ajudaram a descer ao fundo do poço. Ao chegar no fundo, qual foi sua alegria ao deparar com uma imensa fortuna. Voltando a superfície e indagado pelos colegas, Tela Oko, muito excitado, afirmou haver encontrado muito “owo ila” (dinheiro-quiabo). motivo pelo qual foi dado como louco por seus companheiros, que imediatamente voltaram aos seus afazeres, deixando-o sozinho.

Tela Oko amarrou a corda em sua cintura e novamente desceu ao fundo do poço, de onde voltou carregado de muitas moedas de prata, tornando-se então imensamente rico.

Este Itan determina que a pessoa que está passando por sérias dificuldades financeiras, deverá oferecer o sacrifício indicado, para que seus problemas sejam resolvidos e seus caminhos de dinheiro abertos.

Ebó: Adie Meji, orogbo meji, avental novo, uma enxada usada. Com a enxada cava-se um buraco dentro de uma mata, sacrifica-se as adie dentro do buraco, coloca-se um orogbo no bico de cada uma, cobre-se com o avental e coloca-se um punhado de moedas por cima. O buraco deve permanecer aberto depois de entregue o sacrifico. rega-se tudo com dendê, mel e oti.

(5) Quem faz um filho deve carrega-lo às costas. Oturu fez dois filhos e carrega os dois. Como é possível uma só pessoa carregar duas crianças?

Quatro Babalawo consultaram para Abi Maku (Eu fiz um filho imortal), e este era o nome da montanha. Abi Maku ofereceu um sacrifício; a Montanha ofereceu um sacrifício e ela gerou um filho que é imortal.

Montanha imutável, imutável montanha! Foi Oturukpon Meji quem engendrou esta criatura que não morrerá jamais!

Montanha imutável, imutável montanha! A ira é impotente diante de ti! Imutável montanha! inalterável montanha!

(Aquele que encontrar este signo perderá muitos filhos sob o estigma de Abiku. Deve ser feito um ebó para que um de seus descendentes possa sobreviver com força e saúde, mas antes perderá dois gêmeos, cujos espíritos retornarão em filhos que sobreviverão.

O consulente e a mãe de gêmeos que padecem com terríveis dores lombares, deverão oferecer um ebó composto de duas jarras, dinheiro e dois panos estampados nas cores brancos, preto e vermelho. Um amassi é preparado e colocado nas duas jarras, o consulente e sua mulher guardarão as jarras envolvidas nos panos e tomarão banhos diários com o seu conteúdo.

Receita de amasi: Tritura-se folhas de cedro em água de poço, depois de quinadas as folhas, sacrifica-se eyele dudu meji, deixando o eje correr dentro do banho; pega-se uma brasa viva de carvão vegetal e atira-se dentro do banho, junta-se um pouco de efun, dois pedacinhos de ori da costa., um pouco de mel e açúcar mascavo. Divide-se nos dois potes e completa-se com água de poço. O banho deve ser tomado diariamente, inclusive na cabeça.

(6) Ifa chegou a este mundo antes de seus mensageiros Legba, Miñona e Abi, que estão sob suas ordens, ao contrário de Igbadu que esta acima dele.

Criado por Mawu, Ifa desceu do céu trazendo para a terra todas as arvores, todas as plantas, todos os animais, todos os pássaros e todas as pedras.

Naquela época, existia sobre a terra somente um protótipo de ser humano, muito pequeno, negro e muito parecido com o homem.

Ao chegar ao Aye, Ifa transmitiu todo o seu conhecimento a este estranho ser, a que, deu o nome de “Koto”.

Logo que Mawu criou os seres humanos, Koto transmitiu-lhes toda a ciência que havia recebido de Ifa: o conhecimento de todas as coisas e principalmente, o conhecimento do próprio Ifa.

Koto, que sabia o nome de tudo quanto existia, ensinou-os aos homens, esquecendo-se, no entanto, de transmitir o nome de uma única arvore, a qual os homens chamaram de “Kotoble” e depois de Wugo.

Assim, foi apenas a uma única arvore, dentre as coisas que existem no mundo, que os homens deram nome.

(7) Num tempo em que Ifa era pobre, consultou seu Kpoli para saber de que forma poderia mudar de vida e conquistar a simpatia de Metolõfi, que não gostava dele.

Na consulta, surgiu Oturukpon Meji, que mandou que pegasse um cabrito, uma cabaça, todas as frutas redondas que encontrasse e preparasse um ebó, que deveria ser levado a sua mãe e entregue com as seguintes palavras: “Veja minha mãe, eu nunca recebi desta vida qualquer alegria. O rei deste pais não gosta de mim. Oturukpon Meji me disse que oferecesse este sacrifício, pois de ti depende minha sorte nesta vida”!

Ifa, no entanto respondeu: Isto é impossível. Minha mãe não está aqui. Ela partiu ha algumas semanas para uma reunião em lugar muito remoto. De que maneira, estando ela ausente, poderei oferecer-lhe o ebó?

Legba intervindo disse: “Em troca de alguma coisa que me ofereças, reaproximarei tua mãe de ti. Em pagamento quero um galo e alguns bolos”.

Ifa pagou o exigido a Legba que, durante a noite, procurou sua mãe e lhe disse: “Seu filho está morto já fazem quinze dias e não há ninguém para oficiar seus funerais. Anda, vá ao pais de Metolõfi para fazer a cerimônia”.

Desesperada a velha pôs-se a chorar, dizendo: “Que fazer? Sou tão velha, mal posso andar...”

“Dá-me qualquer coisa que te transportarei”, disse Legba.

A velha possuía um bode que tinha doze chifres na cabeça, ao vê-lo Legba falou: “Se me deres este bode de doze chifres, te levarei, agora mesmo, para junto de teu filho”.

“Mas este bode não é meu...”Respondeu a velha. “...ele pertence a Vida. Ele me foi confiado e está sob minha responsabilidade”.

“Se não me deres o bode, sem dúvida não poderei ajuda-la”.

“Tudo bem, carrega-o! Eu já perdi tudo o que tinha para perder, o bode não fará diferença!” Legba, pegando o bode, matou-o. O sangue que escorria do corpo do animal era fogo que espalhando-se, cobriu o corpo de Legba. Aterrorizado como tão estranho acontecimento, Legba foi consultar Ifa e na consulta surgiu Oturukpon Meji, ordenando que os intestinos do bode fosse retirados e oferecidos em sacrifício, num caminho qualquer.

Naquele tempo, Legba não possuía cabeça e pegando a cabeça do bode, colocou na panela para cozinha-la. Durante dias e dias, Legba insistiu na tentativa de cozinhar a cabeça por mais que gastasse lenha, nada conseguia.

Cansado, resolveu procurar a mãe de Ifa e, para isto, transportou a cabeça e a carne do animal até o reino de Metolõfi.

Para conduzir a enorme panela, Legba derramou a água nela contida, preparou uma rodilha que depositou sobre os ombros pra servir de base a panela que estava completamente enegrecida pela fumaça. A rodilha fixou-se em seus ombros, transformando-se em pescoço e a panela transformou-se um cabeça e Legba descobriu que agora, como todo o mundo, também possuía uma cabeça. Alegre pôs-se a cantar:

Eu operei uma magia em meu caminho, Assim adquiri uma cabeça!

retorno agora para casa com cabeça!

Desta forma, chegou diante de Ifa, que também era desprovido de cabeça.

Ao tomar conhecimento do destino do bode, Ifa exclamou revoltado: “Como? Já paguei a Legba por seus serviços! Ele recebeu de mim o exigido e ainda consegui uma cabeça!...” Zangado, preparou seu ebó composto de várias frutas redondas e o entregou a sua mãe, para que o conduzisse a Metolõfi.

Entregando as frutas ao rei a mulher disse: “Eu venho de muito longe em reconhecimento ao seu nome. Como não sou rica, aceite estas coisas. É tudo o que tenho para oferecer!” Metolõfi, ordenou que a mulher pegasse um mamão e que o cortasse em duas partes iguais. As sementes negras se derramaram e o mamão, colocado sobre os ombros de Ifa, ali se fixou, transformando-se em cabeça.

Notando que a mulher estava cansada, o rei mandou que lhe oferecessem uma esteira, mas ela negou-se a sentar-se na presença de Sua Majestade. De tanto que o rei insistisse, a mulher acabou sentando-se sobre algumas almofadas.

Vendo-a acomodada e mais calma, o rei perguntou qual era o seu nome, ao que lhe respondeu, afirmando chamar-se “Nã”. Metolõfi então disse: “Nã Taxonumeto” (aquela que coloca uma cabeça nas pessoas).

Depois deste fato, pra que as crianças possam receber uma cabeça, as mães devem, durante a gestação, pedir a proteção de Nã Taxonumeto todos os dias.

É sob este signo que as crianças vem ao mundo “de cabeça”.

Ifá tornou-se muito conhecido graças a sua mãe e ao bode de doze chifres que não era outro senão o próprio Sol.

Foi através do fogo misterioso do bode, que Legba adquiriu controle sobre as chamas e visão para compreender as mensagens surgidas no Oráculo.

Foi desta forma que Legba e Ifa, conseguiram cabeças, graças a Oturukpon Meji que rege tudo o que e redondo, como redondas são as cabeças.

Aquele que encontrar este signo, deve oferecer um sacrifício para não ser perseguido pela má sorte. Sua mãe terá um papel muito importante em sua vida, cujo sucesso depende, quase que exclusivamente, dela.

SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO

No documento Buzios 16 (páginas 33-37)