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IV.2.1.4 “NOVOS DISCURSOS” PRATICADOS PELOS CAPS

No documento A criança (páginas 187-200)

INFANTO-JUVENIS X CRENÇAS FAMILIARES RELATIVAS À “CRIANÇA- PROBLEMA”

Ao adentrarmos nesse tópico de investigação, pudemos verificar que há por parte

dos profissionais dos CAPS is um esforço no sentido de mudanças nas concepções negativas dos familiares sobre suas crianças; entretanto, vimos que essa meta torna- se muito laboriosa, pois discursos convencionais se encontram culturalmente arraigados, assim como as próprias limitações profissionais e institucionais também se constituem como um empecilho neste sentido. Com efeito, tudo isto acarreta um

difícil rompimento com esse modus operandis institucionalizador, como confirmaremos mais adiante.

Em primeiro momento, iremos ver que existe uma fixação na matriz discursiva de que a medicação e os médicos são coisas que são essenciais à criança, tendo como consequência a pouca absorção do que representa os atendimentos psicoterápicos e psicossociais nos CAPS is. Isto se traduz em uma crença de que, embora estejamos considerando a infância, existe a necessidade inevitável de medicação para que possa existir o controle da criança. Além do mais, é denotada igualmente uma valorização dos cuidados mais objetivos, quando se observa a relevância dada aos cuidados médicos prescritivos, assim como aos cuidados maternais no sentido corretivo; com efeito, quanto aos cuidados mais subjetivos enaltecidos pelos CAPS is, é visível a dificuldade em colocá-los em prática. Detectamos claramente este aspecto no primeiro e no último relato, por intermédio de estruturas textuais coesas, sendo que no segundo, apesar de ser privilegiada a medicação, há como que um acreditar tênue em ser possível a ausência desta:

O trabalho aqui é importante porque meu filho fica sempre em observação pelas meninas, as profissionais: elas passam para o médico para ele ver o comportamento dele. Por isso que as atividades aqui são boas, porque a criança está sendo estudada para que o médico receite a medicação correta. E essa observação deve ser tanto do CAPS como da família. Porque são pessoas que devem está em constante observação. (Pai adotivo de L.)

O médico daqui é uma rapidez tão grande que não sei não: num instante atende todas as crianças! Mas, de todo modo, o que é importante é que agora ele tá tomando a medicação; ainda mais os atendimentos com as profissionais terminam acalmando mais um pouquinho, pelo menos aqui no CAPS ele se comporta. O médico disse que ele vai deixar de tomar a medicação. (Mãe de S.)

Com G. eu queria a medicação para ver se ele relaxava mais, pois os atendimentos não estão surtindo muito efeito não. (Mãe de G.)

Continuamos a constatar nas narrativas, o fato de que os familiares tendem a valorizar outras atuações em detrimento dos atendimentos psicossociais e psicológicos dos CAPS is, haja vista que verbalizaram querer prioritariamente tipos de atendimentos que não os oferecidos pelos “outros” profissionais do CAPS is, demonstrando, em razão disto, a ausência de acatar sobre o que quer os outros atendimentos:

Hoje ele tá melhor. Às vezes penso em deixar de trazer ele pra cá... Porque acho que era bom ter alguém aqui para falar de alimentação com ele, pois ele não come nada. Eu queria também que ele melhorasse a fala aqui no CAPS. (Mãe de S.)

O que pode melhorar aqui é que poderia ter mais amparo médico. [...] Agora mesmo já consegui os exames da menina de forma rápida. Agora já abriu mais convênio com a rede de saúde. Mas precisa

melhorar cada vez mais [...]. Antes era a questão neurológica e nada mais. (Pai adotivo de L.)

Porém, nesse contexto de apreciação, ver-se uma tímida consideração de que os atendimentos não médicos do CAPS i são positivos para a criança. Mas, torna-se claro que para uma mobilização da “ordem de discurso” hegemônica da medicina, seria necessário uma ênfase veemente sobre os recursos interiorizados mais subjetivos dos profissionais não médicos. É o que uma mãe nos elucida:

Eu gosto das oficinas daqui. No começo ele não entrava de jeito nenhum, até já bateu nas tias, mas agora ele fica. Até as tias falaram que se ele continuasse daquela forma, não teria como atender ele. Agora ele mesmo me chama para vir ao CAPS. (Mãe de J.)

Sublinhamos mais uma vez essa positividade, embora que relacionada aos atendimentos dos próprios familiares nos CAPS is, demonstrando ter este um funcionamento do tipo grupo de auto-ajuda; todavia, não expressaram em suas falas aspectos relativos aos “novos discursos” relacionados aos atendimentos nos CAPS is:

No Grupo de Família a gente se sente ajudada pelos outros familiares. (Mãe de G.)

Eu venho aqui para as reuniões que têm. A gente vê que outras pessoas têm problemas como os nossos e aprendemos com elas. (Pai adotivo de L.)

Nos Grupos de Família eu acho bom, porque a gente desabafa e ver que tem outras pessoas passando por mais dificuldades que a gente. Nós dividimos o problema. (Mãe de J.)

Outro tópico de análise importante que continuou a transparecer a pouca assimilação dos familiares dos discursos mais singulares, diz respeito a existência de uma equiparação que a sociedade faz dos CAPS is com hospitais psiquiátricos, condizente com um discurso da “não normalidade” que prega que “lugar de louco é no hospício”. Então, percebe-se que os “novos discursos” dos CAPS is preocupados em transmitir ser este um “lugar de vivências positivas”, com suas oficinas de socialização, de vínculo entre a criança e os familiares, entre outras, além das psicoterapias em grupo e individuais, obtêm em pouca efetividade. Vejamos o que um membro familiar relata, ao privilegiar o CAPS i em detrimento de certa clínica filantrópica da cidade, tendo em vista que ao fazer uma equivalência entre o funcionamento da primeira com a da segunda instituição, está indiretamente entendendo que ambos possuem um objetivo em comum, que é tratar o doente:

Eu achei melhor aqui, porque eu levei M. naquela clínica que parecia mais o hospital “Y” (um hospital psiquiátrico da cidade que ainda funciona) e o hospital “Z” (outro hospital psiquiátrico da cidade que foi

interditado pelo Ministério da Saúde em 2005). Porque eles gritam mesmo e se mordem! Aqui no CAPS todas as tias são boas e trabalham bem. Ele melhorou muito e a escola já não nos chamam mais. (Avó de M.)

Já a mãe de outra criança, considerando que tinha se deparado com a afirmativa de ser o CAPS i um lugar de tratamento de “crianças muito difíceis”, fica meio que em cima do muro, como se estivesse ainda na dúvida sobre esse tipo de discurso estigmatizante, o qual aponta que há um lugar específico para a “não normalidade” infantil:

Mas já teve gente que disse que eu era louca porque trazia ele ao CAPS, pois diziam que ele iria piorar quando se juntasse com outras crianças mais difíceis. Mas ele mesmo disse: “mãe tem um menino aqui que dá um trabalho”. Aqui eles são separados por grupos, então não sei não. (Mãe de S.)

No caso do relato do pai adotivo de um menino em atendimento em um dos CAPS i verifica-se que o mesmo buscou o serviço porque precisava de apoio, tendo em vista que se encontrava em uma situação de muito estresse por causa do comportamento do filho; logo, deixa subentendido que encontrou o lugar certo, ou seja, uma instituição para “crianças-problemas”; embora que encontramos também, neste contexto, a possibilidade de estar sendo assimilados alguns conceitos inerentes à Reforma Psiquiátrica. Reiteramos a presença também de uma “defesa identitária” neste pai em detrimento da deste mesmo tipo de embate quanto ao desenvolvimento identitário da criança. Vejamos, portanto, o depoimento que se segue:

Antes a gente achava que ele era ruim. Mas os vizinhos, amigos e familiares nos aconselharam a vir ao CAPS, dizendo que lá ele seria bem recebido e melhoraria. Acho que todos os pais pensam assim como eu pensava: “só vai com uma lapada!”. Chega a um ponto em que a situação fica tão difícil que recorremos a quem pode nos ajudar. Eu agradeço muito a estrutura do CAPS: sem ela eu não sei onde iria chegar! (emocionado) A gente estava pedindo “socorro” e encontramos aqui. Porque eu não esperava isso, na minha casa éramos 7 irmãos e nunca tínhamos passado por isso não. (Pai adotivo de L.)

Em um relato específico de uma mãe, vemos que essa concepção de ser o CAPS i um local de “tratamento de doentes mentais” é latente, pois esta instituição, para ela, não ajuda muito a modificar o “problema” de seu filho, transferindo esse mérito à escola pública. Assim, fica implícita uma acepção de que esta instituição não é lugar para o seu filho; mas, mesmo assim, quando fala da violência da criança, demonstra estar ainda presa ao estigma diretivo à “criança-problema”, embora que, no caso específico, comporta-se agressivamente pelo fato de que as crianças e as pessoas

não acompanham intelectualmente suas brincadeiras. Há também nesta mãe uma “defesa identitária” em relação ao filho:

Uma parte ele melhorou, depois que ele entrou no serviço, mas outra ele não melhorou: ele continua agressivo. Quando ele vê uma criança quieta, do nada ele vai bater. Só que eu vi uma melhora grande um mês antes dele entrar aqui, depois que o coloquei na Creche. Porque ele sai daqui e chega em casa imitando as crianças, ficando agitado e eu não sei explicar o porquê disso! Eu já cheguei a pensar em não trazê-lo mais para cá. Uma dia ele ficou até meia-noite imitando uma criança daqui e eu fiquei dizendo para ele que ele não era aquele menino. (Mãe de A. S.)

Como última análise deste item, no que se refere a uma possibilidade maior de assimilação pelos familiares dos recursos discursivos interiorizados dos profissionais não médicos, captamos uma leve tendência a absorções mais atuais em termos não psiquiatrizantes, embora que articulados ao enquadramento da “normalidade”. Nesse âmbito, houve equiparações dos comportamentos da criança com os de qualquer outra criança “normal”, mesmo que, no último depoimento, esta conquista foi atribuída à creche e não ao CAPS i. Observemos:

Quando ele era pequeno, como a mãe era mais medrosa, vivia agarrando e segurando o menino, como acontece com muitas mães aqui. Eu já disse a uma aqui que deixasse o seu filho mais livre, que ficasse de olho e chamaria ou iria até onde a criança estava, caso houvesse perigo. Eu acho que esse modo de agir perturba as mães e as crianças. [...] Elas precisam saber que existem coisas que eles fazem que são naturais. (Pai adotivo de L.)

G. gosta muito de jogo de montar, ele prefere isso a qualquer outro brinquedo. [...] Quando não acha uma peça, ele fica com raiva, ai eu ajudo e peço para ter calma. Às vezes eu escondo uma peça para ele vê que não conseguiu e ele já está aceitando. (Avó de G.)

Com 3 meses ele aprendeu todas as vogais, todas as consoantes e a professora disse que esse aprendizado as crianças só conseguem em 1 ano de escolaridade. Disse que ele é muito inteligente. Veja como ele é inteligente: ele sabe quando a pessoa mente, quando a pessoa é insegura, quando está triste. [...] Eu vou lhe ser sincera: eu fiquei tranquila quando ele entrou nesta creche; lá elas são preparadas para lidar com crianças que possuem distúrbios de comportamento. São pessoas capacitadas que lidam com crianças muito inteligentes ou hiperativas. [...] (Mãe de A.S.)

Passaremos, a partir de então, a analisar mais especificamente sobre os relatos dos profissionais dos Centros de Atenção Psicossociais Infanto-Juvenis – CAPS is quanto ao grau de reflexividade a respeito de questões institucionais que repercutem

IV.2.2- A REFLEXIVIDADE PROFISSIONAL QUANTO À QUESTÕES INSTITUCIONAIS QUE REPERCUTEM NO PROCESSO SOCIAL DE ESTIGMAGTIZAÇÃO INFANTIL

De início, foi evidenciada a própria dificuldade de uma das profissionais em lidar com algumas crianças. Entretanto, tratando-se de ser um serviço do campo da saúde mental, tal obstáculo deveria ser pensado como sendo inerente a prática diária dos CAPS is, ao invés de se privilegiar o “algo a mais” encontrado na criança; nesse sentido, verifica-se a ancoragem em uma matriz discursiva mais convencional, com o uso de vocábulos que denotam esse sentido:

Veio encaminhado da escola porque estavam achando muito difícil de trabalhar com ele; realmente, ele é difícil, pois quanto mais falamos, mas ele repete o que esta fazendo. Sabemos que ele é um caso totalmente para CAPS, porque além desse comportamento, todas nós notamos “algo a mais”: ele não pode perder, uma hora está muito feliz e na outra o humor muda totalmente. (Fisioterapeuta do CAPS i B)

Porém, de um modo geral, os profissionais destas instituições apresentaram relatos mais otimistas, os quais previram prognósticos positivos para as crianças, sendo destacados, inclusive, conceitos e vocábulos da psicanálise e afirmações de haver alguns casos de alta e de crianças que não precisariam estar em CAPS; isso principalmente quando consideram a idade precoce e uma família mais participativa, com melhores condições psicossociais:

Há uma criança que antes quebrava tudo em casa e era muito difícil na escola, não sendo mais aceita lá. Ocorre que o médico acertou na medicação e também a mãe não deixou de fazer a outra parte em casa: conversar com a criança, dar limites etc., de forma equilibrada; então, ele modificou muito. (Psicóloga do CAPS i A)

A criança já havia passado na geneticista: ela tem problemas no desenvolvimento, no crescimento. Tem os ossos muito frágeis e por isso apresenta facilidade de quebrar alguma parte do corpo. Também era tida na escola como agressiva e os colegas a apelidavam de “doidinha”. Na verdade, era isso que a fazia ficar agressiva, pois ela é sempre muito calma, é excelente! [...] A mãe mesmo diz que em casa não é agressiva, apenas na escola. Na verdade, ela não é perfil para cá não! (Enfermeira do Caps i B)

Acho que muitas crianças que estão aqui é devido a questões sociais, a problemas na sua estrutura familiar. [...] Então, é um pai ausente, uma mãe ausente, até uma falta de limite mesmo, sem haver a função paterna. Então, muitas vezes, os CIDs (Códigos Internacionais de Doenças) não condizem com o comportamento da criança, como é o caso da hiperatividade. Vemos que em casa elas se comportam mal como se fosse para “pedir a Lei” e como aqui eles têm “a Lei” de forma coerente, acabam conseguindo outro comportamento. (Enfermeira do Caps i A)

As crianças que chegam num tempo mais precoce evoluem mais porque aquele problema está no início, não estando instalado. Tem

criança que chega com um sofrimento psíquico muito grande e consegue sair do quadro. Tem criança que chega se auto agredindo, agredindo pai, que não sabe ainda falar, que a mãe a vê como um “objeto”, sem esperança alguma; mas, quando a gente começa a trabalhar, ela flui de um jeito que pensamos que é um milagre. Vejo que se chegar antes dos 4 anos, recebe alta rápido, a mãe sai feliz, a criança fica feliz, sai com desejo, falando, brincando de fazer de conta, a coisa mais linda do mundo! (Fisioterapeuta do CAPS i A)

Na próxima narrativa, é manifestada mais nitidamente a tendência dos recursos interiorizados de profissionais estarem envoltos por um discurso relativo à psicanálise, inclusive com a utilização de termos como “escuta” e “sujeito de desejo”:

Não realizo mecanicamente a minha função, ou seja, a parte motora, pois aprendi que temos que conhecer o “outro”, conhecer as estruturas psíquicas, conhecer o sentimento do outro para começar a entendê-lo. Isso faz toda a diferença, porque conhecer o “sujeito de desejo”, o seu sofrimento psíquico tem sido uma lição de vida para mim. [...] Quando dedicamos um momento para escutar ou valorizar o sujeito, tudo muda. Uso a fisioterapia de outra forma, faço exercício para relaxar, faço uma respiração e a criança tem um resultado rápido. (Fisioterapeuta do CAPS i A)

Nessa perspectiva, embora alguns profissionais achem lento o progresso quando a criança chega ao CAPS i com idade mais avançada, eles chegam a apostar em uma evolução gradual; isto porque assimilaram um discurso acerca da desestruturação familiar, havendo um deles que aponta para problemas com a paternidade, se observando, então, a inclusão da teoria psicanalítica associada a essa discussão específica. Assim, é revelada uma compreensão psicossocial da realidade da criança:

Nos “transtornos sociais” as respostas são mais rápidas; até mesmo aos 7 anos você ainda consegue muita coisa, mas a partir dos 9 anos, fica mais complicado; embora que alcançamos muita coisa, mesmo a resposta sendo muito mais devagar e o tratamento mais prolongado. (Fisioterapeuta do CAPS i A)

Noto nesta criança que além da questão da desestrutura familiar, há a questão social também, porque o vocabulário dela é muito pesado para a sua idade. Ele fala: “eu vou ali no mato pegar a faca”. [...] E a gente tenta demonstrar que não é assim, que não precisa conversar assim, mas como já é grandinho, com 8 anos, fica mais difícil de trabalhar. [...] Ele aparenta ser bem “solto na rua” e não ter limite para sair de casa nem para voltar. (Fisioterapeuta do CAPS i B)

Sabemos que a “função paterna” é muito importante: pais que não estavam presentes ou não souberam exercer esta função. [...] Outra coisa é que há muitas crianças que sofreram agressões pelos padrastos: o que ainda é muito pior! Acho que a função do pai é tudo! Quando o pai está presente é outra história. [...] No caso de “Transtorno de Conduta”, observamos que muitas crianças têm história de pai ou avó que bebiam ou que eram envolvidos com drogas ou que já havia matado alguém. Então, não é porque é hereditário, mas é porque a estória se repete, pois a pessoa só dá o que recebe e todos

nós somos marcados pela cultura, pela linguagem e ai aqueles “rótulos” vão passando de geração em geração. (Psicóloga da CAPS i A)

Uma mãe chegou aqui em um dia que não era o atendimento do filho e reclamou acusando o menino de “não saber o seu horário”. E eu falei: “calma mãe, ele é só uma criança e tem direito de se enganar”. Então lembrei a eles da festa no horário da tarde, fazendo-a resmungar o seguinte: “não sei se posso vir para trazer este menino „veio‟”. Mas ela compareceu com ele. Víamos que ele estava totalmente engajado na festa, brincando nas horas certas e interagindo bem, embora ela não demonstrava a mínima paciência com ele. (Enfermeira do CAPS i B) Observei que o pai traz sua irmã para o atendimento dela de psicologia, mas não espera pelo dele, indo logo embora. Ele próprio disse que quando vai para a feira com o pai, ele deixa-o comer de tudo, permite que abra as coisas, não paga e ainda acha engraçado. (Enfermeira do Caps i A)

Ele antes fazia atendimento individual intensivo de psicologia. Mas agora tá excelente, ele ajuda no seu grupo terapêutico, pontua os outros colegas quando estão agindo mal etc. Sabemos que está frequentando a escola, que faz o “biquinho” dele para ganhar um dinheirinho na feira e vende DVD. Antes havia queixas de agressividade e que ele andava com umas pessoas estranhas. [...] Antes ele pixava o CAPS com “aqueles símbolos”. (Psicóloga do CAPS i A)

Verificamos também que algumas falas se configuraram de maneira diversa das anteriormente expostas, tendo em vista certa descrença quanto a um prognóstico infantil melhor, o que denota a retenção de noções mais arcaicas, principalmente ao ser apontado o lado genético ou orgânico propagado pelo poder médico psiquiátrico:

Eu creio que pode ter sido pela genética, pela idade da mãe, coisas desse tipo, ficando difícil a melhora da criança. Mas eu creio que a maioria das crianças aqui é “assim” não por complicações do parto, mas por questões da mãe não aceitar a gravidez, além do mais ninguém sabe como foi essa gravidez e como a mãe reagiu ao nascimento da criança. [...] Hoje percebo que nesta relação não há afeto. (Fisioterapeuta do CAPS i B)

Eu acho que essa coisa de estar em abrigo já fala muito da carência da criança, nos fazendo perguntar elas são casos para CAPS. Mas observamos o outro lado, pois elas se estruturam muito no serviço. Mas tem outros casos que de cara vemos que há “transtorno mental”. (Psicóloga do CAPS i A)

Temos que ter boas perspectivas para a criança, porque se não acreditarmos nisso, ela nunca vai evoluir. Embora que há casos em que fico desanimada, principalmente porque estamos sem supervisão. (Fisioterapeuta do CAPS i B)

Os casos de “Transtornos de Conduta” dão maior margem de pensar em um prognóstico lá na frente, porque a gente consegue intervir com essas famílias e com a criança. [...] Mas, mesmo diante das dificuldades, temos que sempre passar que vamos tentar as coisas com a criança, porque não estamos aqui para dizer para as mães que

não sabemos o que fazer com os seus filhos. Porque temos que ter a função de acolhedor e organizador. (Psicóloga do CAPS i B)

No documento A criança (páginas 187-200)