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1Tradução e adaptação de Handling Failure. Publi-

cado em The Journal of Pastoral Practice. v. 6, n.3, 1983, p. 3-5.

Jay Adams foi o primeiro porta-voz do movimento de aconselhamento bíblico. Foi um dos fundadores da Christian Counseling and Educational Foundation, em 1968.

O conselheiro bíblico consciencioso costuma ter a tendência de censurar a si mesmo quando falha em um aconselhamento. "Onde foi que eu errei?" Logo em seguida a essa pergunta, tem início o que passa a ser geralmente uma busca infrutífera por respostas. Com certa freqüência, e especialmente se não for o primeiro fracasso, essa busca pode terminar em um processo mórbido de introspecção. O conselheiro está bem ciente do fato de que quando um aconselhado se afasta de Cristo, o erro básico é do aconselhado. No mais, ele está igualmente ciente de que o fracasso pode ser atribuído tão prontamente a ele como ao aconselhado. Some aqui o fato de que o conselheiro bem sabe que, vez ou outra, os fracassos ocorrem mesmo por erro

dele. Como resultado, você tem todo o potencial para fomentar um terrível estado de culpa e autocomiseração.

O que um conselheiro pode fazer para evitar esse processo? Como ele pode prevenir o abatimento? Como ele pode aprender a tomar um pouco do seu próprio remédio, traçar um caminho que o desvie das ciladas e dos mesmos buracos negros dos quais ele costuma tirar seus aconselhados? Em resumo, qual é o caminho para prevenir essa reação e, caso ela aconteça, qual a saída?

Com certeza, as reações erradas aos fracassos ou supostos fracassos não são inevitáveis. Sabemos bem disso no aconselhamento bíblico. O primeiro passo para evitar uma reação errada diante do fracasso (ou para se livrar dela) é aconselhar a si mesmo. Para começar, você precisa de esperança. E como conselheiro, você bem sabe que a esperança vem da Palavra de Deus: "Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança" (Rm 15.4).

O que a Palavra de Deus diz sobre o fracasso no aconselhamento? É claro que não há instruções diretas do tipo 'faça isso e depois aquilo' quando você falhar no aconselhamento. Mas existem alguns princípios gerais que podem ajudá-lo a encontrar uma forma de lidar com o fracasso, e são estes que vamos considerar aqui. Antes, porém, uma palavra de advertência.

Certifique-se de que o erro foi seu. Algumas vezes, embora o aconselhado o acuse, você pode não ter errado. Outras vezes, você pode estar acusando a si mesmo indevidamente. É preciso fazer uma avaliação, tão honesta quanto possível, da causa (ou causas) do fracasso. Talvez você descubra que é apenas parcialmente culpado ou que nem mesmo é culpado. Um sentimento de derrota ou culpa pode ser decorrente não do fracasso com o aconselhado, mas do fracasso em avaliar devidamente a situação. Quando levantar uma auto-acusação, certifique-se de que você está certo. Você deve se empenhar em uma auto-avaliação correta tanto quanto se empenha na avaliação do aconselhado. Alguns conselheiros são muito cuidadosos na avaliação que fazem dos outros (como, de fato, devem ser), mas falham terrivelmente na auto-avaliação.

Agora, presumindo que você fez uma avaliação precisa da parte que lhe cabe no fracasso do aconselhamento, e que não pôde chegar a outra conclusão senão que você falhou, o que deve fazer?

Vamos considerar as instruções bíblicas que podem ser aplicadas às situações de fracasso. Para começar, sempre que você reconhecer que cometeu um erro, não deve racionalizá-lo, acobertá- lo nem tentar sustentar que você está invariavelmente certo. Antes, você deve reconhecer o erro como tal. O orgulho e o

medo querem promover o acobertamento, mas não são motivações aceitáveis diante de Deus. Você não tem nada de que se orgulhar -- tudo quanto é de valor em sua vida é resultado da graça. Você não precisa temer a homens; você teme ao Deus vivo. O temor de Deus é o único temor que lança fora todos os demais.

Se você deve reconhecer seu erro, como proceder? Primeiro, tendo admitido consigo mesmo que errou, fale com Deus sobre isso e busque o Seu perdão. "O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia" (Pv 28.13).

Deus conhece sua negligência, sua falta de sabedoria, seus preconceitos ou qualquer outra coisa que tenha sido obstáculo no processo de ajudar o aconselhado. Não há nada encoberto diante dEle. Se você quer receber a misericórdia de Deus, se deseja que o seu ministério de aconselhamento prospere, então busque a misericórdia do Senhor; Ele não irá censurá-lo quando você assim o fizer. Pelo contrário, irá perdoá-lo e fortalecê-lo. Admitir sua falta de sabedoria e pedir sabedoria a Deus é o caminho para obtê-la, diz Tiago.2 Então peça; você não

tem por que não pedir (deixar de pedir é outro erro que precisa ser confessado).

Porém, isso não é tudo. Depois de buscar e receber o perdão de Deus, é hora de admitir seu erro diante do aconselhado. Esse passo não somente acerta a situação com ele, mas também permite uma mudança imediata rumo à direção certa e demonstra na prática os princípios que você deve ensinar. É possível que agindo dessa maneira você possa salvar o processo de aconselhamento o que, certamente, você

não conseguiria tentando mascarar o seu erro.

"Mas", você diz, "mesmo que eu confesse meu erro e peça perdão ao aconselhado, se não tiver sabedoria para começar de novo e caminhar na direção certa, como vou salvar a situação?".

Há duas maneiras possíveis. Primeiro, você pode dizer ao aconselhado que uma das tarefas que ele tem a fazer para a semana seguinte é orar que Deus o guie às respostas certas enquanto você estiver estudando a situação do ponto de vista bíblico.

Ou se você está tão longe da solução do problema que nem mesmo sabe onde procurar as respostas nas Escrituras, você pode encaminhá-lo para outro conselheiro bíblico. Se fizer isso, recomendo que você o acompanhe. Presencie os encontros e observe o que o outro conselheiro faz. Não há desculpa para você continuar na ignorância por mais tempo. Na verdade, o exemplo do outro conselheiro pode ser a resposta de Deus à sua oração por sabedoria.

Você só pode livrar seu coração e sua mente do fardo do fracasso após reconhecer o erro e fazer todo o possível para repará-lo. Somente então você pode deixar a questão nas mãos de Deus,

sabendo que não tem responsabilidade nenhuma por qualquer resultado negativo. Os conselheiros que se recusam a agir dessa maneira, deixando-se motivar por orgulho ou medo, carregam desnecessaria- mente, mês após mês, o fardo do fracasso que nenhum coração consegue suportar. De modo tolo, recusam confessar seu erro porque desejam evitar a dor do constrangimento que acompanha a confissão. Não se dão conta, porém, de que estão trocando uma pequena dor por outra bem maior. Tentam aconselhar outras pessoas, ainda carregando o peso de culpa e dúvida sobre suas habilidades pessoais para aconselhar. Naturalmente, o resultado é que se tornam menos capazes de aconselhar efetivamente. Quando erram de novo, suas dúvidas se confirmam e, em pouco tempo, à medida que o processo se desenvolve, a idéia de que nunca conseguirão aconselhar apropriadamente transforma-se em uma profecia cumprida. Por isso, conselheiro, não se dê o luxo de pecar quando precisar lidar com seus erros. Enfrente-os e trate-os exatamente como você orientaria o seu aconselhado a fazer. Não há remédio melhor a tomar do que o próprio remédio que você tem achado tão útil para receitar a outros. "Médico, cura-te a ti mesmo!"